Pensar que Max pudesse ter feito isso me deixou muito preocupado, em partes ele poderia tentar de novo e por outro lado era difícil pensar que o cara que um dia disse que me amava tentou me matar, o que eu faria se o culpado fosse ele mesmo, minha cabeça estava a mil, torcia para que não fosse ele, para que Max não tivesse ido tão longe dessa forma e eu conheço o carro dele, teria reconhecido o carro.
Ryan quis ir até o Max para cobrar satisfações, mas Di o convenceu de que isso só pioraria as coisas agora, e que tínhamos que confiar nele e na polícia, tínhamos uma pista boa, ele havia mentido sobre como ficou sabendo do acidente, o que quer dizer que agora ele era o principal suspeito, fiquei sem saber o que pensar sobre tudo isso, me concentrei em manter Ryan calmo e a mim mesmo também.
— Ryan, agora temos que confiar no Di.
— Mas se ele se safar eu acabo com ele, juro por Deus.
— Amor não podemos piorar as coisas agora.
— Você tem razão é que isso me deixou verdadeiramente irritado.
— Eu sei. — Abraço ele.
Ryan ficou inquieto o dia toda, tinhamos que esperar noticias do Di, que já tinha nos falado que isso poderia demorar e que tínhamos que ser pacientes, tudo isso parecia demais para mim, tinha sorte de ter o Ryan comigo, sem ele já teria pirado com certeza, Fabim passou a tarde para ficar com a gente e dar um suporte, meus amigos eram minha rocha, sem eles nem sei o que seria de mim agora.
Os dias se passaram e Ryan estava cada vez mais inquieto com toda essa história, sempre que falava com o Di ele nos pedia mais tempo, essas investigações levam tempo mesmo, não éramos ricos e como ninguém morreu tínhamos sorte a polícia não ter simplesmente arquivado o caso, porém precisávamos de uma resposta, as contas já estavam no limite, gastamos muito com a fisioterapia do Ryan e minhas crises de ansiedade estavam aparecendo de novo, só que estava me esforçando para esconder do Ryan.
Ryan notou algumas vezes que não estava tão bem, no entanto desconversei, não ganharia nada preocupando ele e conheço meu namorado bem o suficiente para saber que ele ficaria ainda mais puto com o Max, não queria me sentir assim, mas depois de saber que ele poderia ser o culpado sair de casa e até mesmo atravessar a rua viraram um desafio para mim.
Já era domingo quando acordei no meio da noite, tive um pesadelo horrível com aquela noite, no meu pesadelo Ryan não sobrevivia, isso me fez acordar com uma puta crise de pânico, Ryan que estava deitado do meu lado me acordou e me acalmou, ficou comigo até que eu conseguisse respirar de novo, foi horrível, mas pelo menos ele estava ali por mim e isso de alguma forma me confortou.
— Chega Chigo, vamos procurar uma psicóloga para você hoje ainda.
— Amor, estou bem, foi só um sonho ruim. — Me apressei a falar.
— Francisco, eu te amo demais para te ver definhar dessa forma, é como se a luz tivesse deixado seus olhos, não é de hoje que percebo que você não está legal, mas quis respeitar seu momento e estava esperando você me falar. — Amo esse cara muito.
— Ryan, não podemos pagar. — Insisto enquanto lágrimas teimosas insistem em descer pelo meu rosto.
— Amor, a gente pode mudar para um lugar mais barato, eu vou arrumar um outro emprego agora que posso ficar de pé, vou diminuir minhas sessões de fisio.
— Não, sua terapia é necessaria. — Falei.
— A única coisa realmente importante para mim é que você fique bem, sabe que tive muitas pessoas na minha vida, mas nunca me importei com ninguém da forma como me importo com você, no dia do acidente só que se passava na minha mente era saber se você estava bem.
— Você só ficou assim por minha culpa. — Falei externalizando o que estava preso em meu coração, mesmo me esforçando para fingir que não.
— Nunca mais repita isso. — Ele disse sério. — Você não tem culpa, me jogo na frente de um trem antes de deixar que algo assim aconteça com você Chico, você tem que se acostumar com sua vida nova meu amor, você tem pessoas que te amam e você pode relaxar.
— O que você está falando. — Agora minhas lágrimas já eram um choro, era como se Ryan estivesse me lendo.
— Chico, você tem que aceitar o meu amor, o amor dos nossos amigos, não vamos embora, eu não vou a lugar nenhum. — Ele segurou meu rosto com força e me fez olhar em seus olhos chorosos. — Eu não vou embora, me deixa te amar.
Aquelas palavras entraram na minha mente e foi como se meu maior segredo fosse revelado ali, me senti exposto, porque era realmente meu maior segredo, mesmo amando ele, mesmo tendo dito sim, lá dentro sempre tive medo de perdê-lo, já não achava que ele pudesse me trair, entretanto achava que ele perderia o interesse, uma vez cheguei a agradecer internamente o acidente porque assim ele precisaria de mim e não iria embora, me senti a pior pessoa do mundo por pensar assim, me senti egoísta, já tinha perdido tanto, não queria mais perder nada, Ryan está me pedindo para deixá-lo entrar no meu coração e não estou sonhando, abraço ele com a maximo de força que consigo.
— Vamos procurar ajuda para você, tem coisas que não se pode curar assim, mas independente de qualquer coisa eu não vou sair do seu lado, entendeu Chico?
— Entendi.
Chorei até cansar e pegar no sono de novo, quando acordamos já perto da hora do almoço, Ryan fez umas ligações, e conseguiu marcar uma consulta para mim, Jaque uma amiga dele e meio que minha agora, estava namorando um psicólogo, ele disse que na universidade eu poderia ter um acompanhamento gratuito e que ajudaria a arrumar uma vaga pra mim, pelo menos até Ryan arrumar mais um emprego isso serviria.
Na terça tive minha primeira consulta, não foi tão interessante para mim, tem coisas que não estou pronto para acessar ainda, só que não vou parar ainda, vou me permitir mais um pouco, até que a consulta não foi toda perdida, ele me fez pensar em pontos que não estava enxergando, tipo a minha busca por aprovação das pessoas próximas a mim está ligada ao dia em que fui chutado de casa, por isso a traição me pegou em um lugar tão sensível e me fez permanecer em negação por tanto tempo.
Na quarta Di finalmente tinha novidades, mas não era o que estávamos esperando, o que meu amigo nos contou não respondeu nossa grande pergunta.
— Como assim. — Ryan perguntou transtornado.
— Confirmamos a história, testemunhas falaram que Chico esteve lá de um barraco, quando o expediente dele acabou ele foi para casa, só que de um amante dele, o melhor amigo lá que até o Chico já suspeitava que eles se pegavam.
— ELE ESTÁ MENTINDO. — Ryan grita exaltado.
— Não pode ser. — Estou em choque.
— Consegui intimar ele para depor, o advogado dele apresentou um álibi sólido, ele pediu comida pelo aplicativo, tem o registro, tanto o entregador quando o porteiro do prédio falaram ter visto ele lá, o cara só saiu de lá pela manhã.
— Ele pode ter comprado o porteiro e o entregador. — Ryan insisti.
— O prédio forneceu as filmagens Ryan, a câmera da portaria pega o Max chegando e também quando ele desceu para pegar o lanche, até por isso o entregador concordou em depor a favor dele, por ele ser um cara “consciente”.
— Mas e agora Di? — Perguntei com lágrimas nos olhos.
— Vou fazer o possível para que a investigação continue. — Meu amigo garantiu.
— Não. — Ryan falou.
— O que, mas amor? — Falei.
— Não, não temos tempo, precisamos do dinheiro. — Ryan estava derrotado.
— Gente. — Di tentou argumentar.
— Di, por favor, só encerra o caso e pede pro advogado entrar com o pedido do seguro o mais rápido possível, por favor.
Aquele foi um dia triste em nossas vidas, ninguém estava feliz e assim o dia mais traumático de nossas vidas ficou no passado sem uma resolução, o caso foi encerrado como acidente, Di queria levar adiante, mas Ryan estava muito preocupado em como essa história estava me afetando, não foi o final que eu estava esperando, mas foi o final que tive, com as consultas os dias foram ficando mais toleráveis, até que com o tempo as coisas estavam voltando ao normal, um mês depois já estava trabalhando de barman no buffet e de barista em um café chique da cidade, trabalhando feito um corno, mas só assim para pagar tudo que estávamos devendo.
Ryan arrumou trabalho numa gráfica e ainda continuou com os freela, quando o tratamento dele finalmente acabou ele já estava surfando de novo e foi um alívio para nosso bolso, tanto que arrumei uma psicóloga ótima que me passou a me ajudar a lidar com minhas bagagens do passado, a vida seguiu e seguimos nos virando da nossa maneira.
— Amor vamos logo, Di e Fabim estão em tempo de pôr um ovo. — Ryan me apressando para me arrumar.
— Já estou indo.
Quando chegamos na casa de acolhimento de crianças e adolescentes, pudemos ver de primeira mão os papais finalmente levando o Maike para casa, o garoto até parecia um pouco com o Di, Maike estava numa felicidade contagiante, já tínhamos conhecido ele em uma dos passeios, ele era ótimo e muito sortudo, ele tem os melhores pais do mundo.
— Vou te ensinar a surfar, já até comprei uma prancha pra você. — Disse Ryan.
— Sério Tio Ryan? — Maike mal conseguia se conter de tantas surpresas.
— Gente nosso filho vai para casa. — Essa foi uma das raras vezes em que vi Di chorando de tanta emoção.
O dinheiro do seguro ainda não tinha saído, mas com o tempo nossas vida foi normalizando, conseguimos pagar nossas contas sem pegar dinheiro com nossos amigos e já estávamos avaliando formas de pagar tudo que nos foi emprestado, a cada dia o trauma ficava mais superado, tanto para Ryan quanto para mim.
Sempre que podia ia surfar com Ryan, acabei ficando bem amigo do André e do Fred, eles eram muito gente boa, não faltava a nenhuma noite de jogos quando nos chamavam, Fred até estava no nosso pé perguntando quando iremos oficializar o nosso casório, mas tínhamos pagar nossas dívidas antes de pensar em algo assim, a minha sogra e minha enteada maluquinha também ficam próximas de mim, elas ajudaram tanto cuidando do Ryan e isso nos fez conviver, a família dele é meio louca e muito fora do termo tradicional, mas são família, dessas que briga, mas quando precisa eles chegam junto, até o Di gosta da minha sogra, parece que ele já morou na casa dela por um tempo, enfim depois de tanto tempo um dia simplesmente acordei e percebi que o acidente tinha me curado, não o acidente em si, claro, mas o que aconteceu depois, os presente que recebi.