O que você ama quando ama? 01
[...] E naquele momento, quando ele chegou e parou atrás de mim, eu acho que não senti medo. Na verdade, eu já esperava pela sua presença, só não sabia que seria tão rápida.
- Então você está aí? Disse ele com uma calmaria na voz.
- Eu já estava indo embora... Disse eu, e esperei a sua reação.
- Você acha mesmo que eu deixaria você ir mais uma vez?
- Por quê continua atrás de mim? Perguntei ainda de costas para ele.
- Isso acaba aqui e agora. Nesse momento ele pareceu mais irritado que o comum é não respondeu a minha pergunta.
-Você vai me matar? Perguntei não transparecendo nenhum sentimento. Eu estava vazio.
-Vou ser rápido. Eu prometo. Foi a última coisa que ele disse.
Não houve tempo para mais perguntas ou respostas. Ele estava avançando na minha direção e eu conseguia ouvir seus passos cada vez mais próximos. Eu só fechei os olhos. Para mim, não havia mais o que fazer.
Passados os cinco segundos mais longos da minha vida, eu tinha cada vez mais certeza que havia chegado minha hora e então decidi abrir os olho. Virei numa velocidade que pareceu demorada. Eu estava em câmera lenta? Talvez, fosse o medo de morrer. Ou, talvez ainda, eu quisesse mais uma vez sentir os sinais de rouquidão de que eu tanto gostava em sua voz, ou sentir aquele aroma amadeirado que sempre recordava à cômoda da minha avó. Agora essa brincadeira não há tinha mais graça. Tudo tinha perdido a graça. Quem sabe talvez eu estivesse com medo do meu fim. Eu sempre sofri com finais. Então, finalmente virei e olhei fixamente naqueles olhos, e eram os mesmos olhos que me encantaram. Olhos cor de chá sabor camomila, mel e baunilha. Eu adorava aquele chá. Só aqui, me dei conta de que estava pensando de uma forma que soava o meu fim. Tudo agora era mais fácil de ser falado numa forma passada, eu estava caminhando para o passado. Pareceu uma eternidade ate ele atravessar aquele corredor mal iluminado.
O primeiro golpe veio tão rápido que eu nem consegui enxergar. Senti uma dor tão forte a ponto de me fazer cair como um boneco sem vontade própria no chão da varanda onde eu estava. Apesar da dor eu não chorei. Pode parecer loucura, mas, eu só conseguia pensar no amor que eu sentia por ele. Sentia? Agora a única coisa que eu sentia era a força das suas mãos após ele finalmente envolver meu pescoço. Ele estava mais forte, eu sentia. Suas veias pareciam querer estourar a qualquer momento. Me concentrei nelas, em como elas estariam fazendo força para aguentar tanto sangue circulando com tanta ação. Eu não chorei, eu não estava com medo. Não gritei ou me debati. Eu o amava tanto que aceitaria morrer se isso o tornasse mais feliz. Não nos dizem que amar é também querer a felicidade do amado? Eu estava provando meu “amor” mais uma vez? Eu só queria que ele soubesse que eu o amava tanto que aguentaria quantos socos fossem necessários para fazê-lo feliz. Do que adiantou tantas provas de amor? Do que adiantava aguentar tantos socos? Isso era mesmo amor?
Enquanto eu estava deitado no chão, pude observar claramente a escuridão do céu. Ele estava mais bonito do que nunca. As estrelas brilhavam tanto... Ah, lembrei do que um amigo um dia me disse. Segundo ele, as estrelas são como um refúgio. Ele sempre me dizia que as estrelas nos ajudam quando mais precisamos delas, basta pedir com toda força que existe em nós. Dado ao meu estado, a única coisa que eu consegui pensar em pedir naquele momento, não sei se tinha tanta força como meu amigo recomendou, foi para não assistirem àquilo, elas não mereciam aquela cena terrível. Eu só esperei que ele acabasse logo com aquele momento. Que ele acabe logo comigo, pensei ou pedi, eu. Por fim, pouco a pouco eu fui embora...