UM BRUTAMONTES E SEUS GAROTOS, cap. 5
As aulas começaram e não demoramos para estabelecer uma rotina. Os meninos estudavam durante a manhã e a tarde e eu no período noturno, então só nos víamos lá pras 23h. Logo arrumei um emprego numa oficina mecânica perto de casa. O salário era menor que o do meu antigo emprego, mas o custo de vida em uma cidade do interior é bem menor então estava até bem de grana.
Todo dia eu acordava, comia e corria pra academia. Lá tomava banho e ia direto para o trabalho. Saía às 17h, passava em casa pra tomar outro banho e jantar (já fazia comida a mais para os meninos comerem quando chegavam da aula) e depois ia direto pra faculdade. Era um dia-a-dia cansativo mas eu estava feliz pelas pessoas que estava conhecendo e pelas coisas novas que estava aprendendo.
Eu estava cada vez mais próximo de Lorenzo e Heitor. Eles aprenderam coisas sobre mim que até então minha timidez deixava escondidas, como a forma como sou controlador na cozinha, a religiosidade com que levo minha rotina de alimentação e malhação e o fato de eu ter cócegas no corpo todo - eles descobriram isso da pior forma possível haha.
Aos poucos fomos nos tornando melhores amigos e o meu senso de proteção com eles crescia cada vez mais. O primeiro semestre passou cheio de surpresas e coisas. Percebi também que sou um pouco ciumento, apesar saber muito bem esconder isso. Vira e mexe os meninos trazem caras para casa, homens que eles conhecem no Grindr ou da faculdade. É algo sobre o qual eles conversam às vezes, mas eu sempre fico calado nesses momentos.
Hoje estou tendo um dia horrível. Chego exausto da faculdade, é uma noite horrível de quente e sinto que minha cabeça vai explodir. Estou no meio de uma semana turbulenta de provas e, entre estudo e trabalho, acabo tendo que me multiplicar por 15.
— Boa noite! — me esforço para ser educado. Heitor está vendo TV.
— Boa noite, grandão. Como foi a aula?
— Péssima, tô fudido. Só vou tomar um banho e ver se estudo mais, esse curso não é de deus.
Vou na lavanderia pegar minha toalha do varal e aproveito para tomar um remédio para a dor de cabeça. É quando ouço a porta se abrir, deve ser Lorenzo.
— Oi, gente! — ele cumprimenta
Ando em direção ao hall de entrada para cumprimentá-lo quando percebo que ele não está sozinho. Um garoto negro e alto, provavelmente de uns 20 anos e com cara de acanhado, está de mãos dadas com Lorezno enquanto eles caminham em direção ao quarto. Outra transa casual, será que esse moleque não cansa? A gente vive muito bem aqui, não precisa de outro macho na casa. Que porra que raiva.
Tento me acalmar enquanto dou um gole na água para o comprimido da dor de cabeça descer mais fácil. Acho que aplico muita força no copo ao colocá-lo na pia, pois ele se quebra assim que entra em contato com a superfície.
— Mas que MERDA!
Sinto que essa é uma daquelas situações em que as veias da minha testa estão saltando. Não era pra eu estar com tanta raiva disso. O Lorenzo trás gente aqui sempre e eu nunca liguei. Será que agora eu ligo? Ou será que isso tudo é só stress pela semana de prova? Foda-se, ele tá errado. Que bosta.
Percebo que estou sendo observado por Heitor, que está parado na entrada da cozinha com uma expressão pensativa e parece estar se preparando pra dizer algo. Mas nem dou essa oportunidade pra ele, passo reto por ele e saio do cômodo. Me enfio no banheiro, tiro a roupa e ligo a água na temperatura mais baixa.
Passo uns 30 minutos embaixo do chuveiro, tentando entender o que se passa na minha cabeça. Aceito que não é a primeira vez que sinto isso, essa vontade de sumir toda vez que um dos meninos chega com um cara diferente pra transar. Quando desligo o chuveiro sei exatamente o que sinto, mas não me deixo admitir nada disso. Me enrolo na toalha e saio pro meu quarto.
Quando acendo a luz para me trocar, me assusto com Heitor sentado na minha cama. Ele parece sério e diz que precisamos conversar. Ele não é o mais extrovertido e brincalhão dos garotos, mas mesmo assim estranho seu tom grave.
— O que foi aquilo na cozinha? — ele pegunta, enquanto me sento ao lado dele na ponta da cama.
— Não foi nada, só tive um dia ruim.
— Não foi isso, Igor.
— Foi sim, cara. Dá licença que eu preciso me trocar — digo, apontando para a porta.
Ele ignora e volta a me questionar.
— Olha, se você tem algum problema com a vida sexual do Lorenzo, então nos realmente temos que conversar sobre essa sua caretice
— Não é isso, eu…
— Eu sei que você é mais na sua, mas o Lorenzo é livre sexualmente e…
— Heitor, é outra coisa.
— É o que então? — ele pergunta, impaciente por eu ter interrompido seu discurso.
— É que…
— FALA, IGOR
— Eu acho que gosto do Lorenzo e… — falo olhando para o chão — fico com ciúmes. É isso.
Heitor parece chocado demais para falar qualquer coisa. Imediatamente me arrependo do que acabei de contar, estou ansioso demais pra ficar parado. Me levanto, vou até meu armário e visto uma cueca por baixo da toalha, de costas para ele. Pego uma camiseta regata lisa e seco o cabelo. Heitor quebra o silêncio.
— Eu não fazia ideia.
É nesse momento em que sinto que todo esse tempo me mantendo longe de outros homens acumulou um monte de coisas de mim, com as quais são faço ideia de como lidar porque sempre as evitei.
Sem falar mais nada, me viro e vou em direção à cama. Me sento ao lado de Heitor, puxo sua nuca e o beijo. Não uso força, mas ao mesmo tempo sinto que há uma urgência no que faço. Ele retribui o beijo, que dura alguns segundos até que eu caio em mim.
— Foi mal. Desculpa, eu não devia… — digo, me afastando.
— Agora eu tô confuso — ele fala, claramente sem entender muita coisa. Mas não parece bravo.
— Você tá fazendo um jogo ou algo assim?
— Não.
— Então que porra é essa? — ele ainda não parece bravo, mas sei que ele exige respostas claras — Você acabou de me falar que gosta do Lorenzo. Até aí tudo bem, Ig
or. Mas pra que você faria algo assim?
Continuo olhando para o chão. Tenho que parar de ser covarde.
— Se você gosta do Lorenzo, por que me beijou?
Olho nos olhos dele pela primeira vez.
— Porque acho que gosto de vocês dois.
Ele fica em silêncio e eu já começo a pensar em outros lugares pra morar porque com certeza os meninos vão querer que eu me mude depois de falar essas bostas e se sentir ciúmes e beijar um deles sem permissão.
— Olha, Igor. Eu gosto MUITO de você. Por isso preciso pensar no que você disse. Mas não se preocupa, a gente segue normal. Você é o presente que eu e Lorenzo recebemos da vida esse ano, então vou pensar com muito carinho.
Respiro aliviado. Talvez dê pra gente esquecer a noite de hoje e seguir como se nada tivesse acontecido.
— Mas tem uma coisa que eu preciso deixar claro. Sabe o ataque de ciúmes que você teve na cozinha? — eu sinalizo que sim — Esse tipo de comportamento é abusivo. Por mais sexy que tenha sido a cena — ele sorri — não acho que seja apropriado uma explosão violenta daquela por ciúme. Se você gosta mesmo da gente, vai entender isso que tô te dizendo.
Ele é muito inteligente, como pode?. Heitor se levanta e me preparo para ficar sozinho com meus pensamentos. Antes de fechar a porta do quarto atrás dele ele diz:
— Ah, e você beija muito bem — ele sorri de novo e bate a porta.
**
A semana segue normal. No começo senti um pouco de vergonha de olhar na cara de Heitor, mas ele leva as coisas com tanta naturalidade que logo me sinto à vontade de novo. Nesse sábado os meninos têm uma festa para ir na parte da tarde e, depois de acordarem, eles logo começam a se arrumar.
Depois de dar mais alguns rolês além do meu primeiro, acabei entendendo que aquelas festas não eram tanto a minha praia, apesar de eu ter me divertido. Saio só de vez em quando e já está de bom tamanho. Eles saem lindos como sempre, mostrando as pernas e com roupas coloridas e estilosas.
Lá pras meia-noite ouço risadas e o som da fechadura. Estranho eles não terem me ligado pra buscá-los no local da festa, algo que já deixei claro que eles devem fazer por ser mais seguro. Estou na sala vendo TV, só de shorts por causa do calor.
— Precisamos conversar — eles dizem, juntos, desligando a TV e se sentando cada um de um lado do sofá. Me sinto meio intimidado estando entre os dois quando SEI que estão tramando algo. Conheço meus meninos.
— Beleza, manda — digo, fingindo tranquilidade.
— O Heitor me contou o que você disse. Sobre gostar da gente… — Lorenzo diz, escorregando um pouco nas palavras devido ao álcool.
— Igor me desculpa eu tive que contar eu não consigo esconder nada dessa gay você sabe — Heitor está igualmente bêbado.
— Heitor para de se desculpar. Foi bom você ter me contado. A gente conversou sobre isso hoje, grandão.
— Sério? — meu coração vai sair pela boca.
— Seríssimooo — Heitor fala, rindo — Decidimos um negócio importantíssismo.
— O que? — pergunto.
— Decidimos que tudo bem você gostar da gente. Porque a gente sente que… — Lorenzo diz.
— A gente sente que é possível que a gente goste de você também. Mas não temos certeza ainda. por isso queremos tentar.
— Tentar o que? — só sinto o mundo girar, estou confuso e nervoso.
— Tentar te namorar — Heitor responde e eles ficam sérios de repente.
— Mas vocês são amigos, gente.
Eles se levantam do sofá e pedem pra eu sentar direito no sofá. Faço isso. Eles se sentam no meu colo, um em cada perna minha, e começam a se beijar. Acho que nunca senti tanto tesão e medo ao mesmo tempo na vida toda. Parecem que eles ensaiaram direitinho como me convencer.
— Lembra quando te falamos que a gente não ligava de se beijar porque éramos amigos demais pra deixar isso estragar nossa amizade? — Lorenzo falando.
Aceno a cabeça indicando que sim.
— Então, você é um príncipe tão carinhoso e carinhoso com a gente que resolvemos colocar a amizade em risco por isso. Por você, no caso.
E é aí que percebo. Eles estão bêbados. Locassos. Nem vão se lembrar disso amanhã. Devem estar com tesão pós-festa e me armaram essa. Por isso não protesto mais.
— Pensamos que hoje podíamos dormir juntos — Lorenzo diz.
— Dormir junto é a coisa mais íntima do mundo. É uma forma de ver se vai dar certo. — Heitor completa.
Nem falo mais nada, só me deixo ser puxado para o quarto de Heitor. Eles tirar meu short, me deixando só de cueca, e me jogam na cama. Eles ficam só de cueca também e se deitam, um de cada lado meu. Apoiam suas cabeças no meu peito e, depois de um “bom noite, grandão”, já estão dormindo profundamente por causa da bebida.
Eu continuo acordado por algumas horas, pensando em como vai ser estranho eles acordarem amanhã sem saber o que fizeram direito. Tenho certeza que essa noite vai se apagar da memória deles e, se não se apagar, eles vão fingir demência. Não sei como tenho tanta certeza, só tenho.
Faço carinho na cabeça dos meus meninos, aproveitando o momento e sabendo que não terei essa oportunidade de novo.
Amanhã é outro dia.
**
Então é isso, galera! Agradeço pelos comentários e pelo apoio de todo mundo. Continuem comentando suas críticas e elogios, nos vemos no próximo capítulo.
nayarah: sim, eu tô tentando muito construir essa relação de confiança como base do romance deles.
tiopassivo: acho que não tem como não vir treta por aí né haha os próximos capítulos prometem
Geomateus: estamos caminhando pra isso haha
arrow, Guigo e Luhenrique: obrigado pelos elogios e por continuar acompanhando a história do igor