Fiquei em silencio todo o caminho até a área de trabalho, durante o trabalho permaneci quieto, enquanto levantava bacias enormes de roupas sujas e fedidas pude perceber alguns olhares mirados para mim, não dei importância, nada mais me importava, parei um pouco para limpar o suor que descia de minha testa, o local era abafado e um cheiro insuportável impregnava toda a sala, todos os que estavam ali também trabalhavam na mesma área, portanto não eram melhores nem piores que eu, peguei um punhado de roupas e fui ajeitando no interior de uma maquina grande e barulhenta, meus braços estavam doloridos e minhas pernas já não aguentavam mais meu próprio peso, tudo o que eu queria no momento era voltar para minha cela imunda, deitar no meu colchão fino e esburacado, e dormir durante longas horas, mas ainda estava de tarde e demoraria algumas horas ate que eu pudesse voltar para a cela, queria poder tomar um banho refrescante e longo mas os banhos do presidio eram rápidos e poucas vezes por semana, fiquei pensando em Edgard, devia ser um porco repugnante, me dava nojo só de pensar em sua aparência, eu nao suportaria passar novamente pelo que passei em minha cela, se eu pudesse ter ao menos uma cela só minha, mas isso seria impossível. Voltei a trabalhar recolhendo meias e cuecas, para colocar pra secar na centrífuga, então cogitei a ideia de ir para a solitária, eu conseguiria adiar o encontro com Edgard e ficaria o dia todo deitado, o que no momento me parecia uma opção tentadora, mas como eu faria para ir pra solitária ? Isso é bobagem, devo tirar essa ideia da cabeça, talvez seja pior do que eu imagine, despejei uma bacia de roupa sobre um tanque d'água e deixei de molho enquanto dava prioridade para outras tarefas, queria que o tempo passasse mais rápido, mas ele parecia estar fazendo pirraça comigo e demorando de propósito, eu estava com sede e queria muito um pouco de agua mas não achava nenhum bebedouro por perto, andei um pouco pela área de serviço procurando algum bebedouro ou filtro mas não achei nada, voltei para meu compartimento e bufei de cansaço parando um pouco o trabalho, passeei os olhos pelos arredores novamente e pude ver Rodrigo separando roupas em um outro compartimento, eu imaginava que ele operasse em uma área mais leve, e não na lavanderia, pelo visto ele era tão inferior quanto eu dentro daquela cadeia, então compreendi que ele nada podia ter feito por mim, me colocando no lugar dele eu também não defenderia um novato de um veterano, mau sei brigar, não luto nem minhas batalhas quanto mais as de outros, decidi esquece-lo e voltar ao meu trabalho
A campainha soou e larguei todo o trabalho pendente do jeito que estava e fui logo para o refeitório novamente para o jantar, de acordo com os horários das campainhas aquela hora seria cinco da tarde, peguei a mesma cadeira que eu me sentara horas antes, já havia pegado meu prato de comida e era a mesma refeição que a anterior, logo Henrique se sentou junto a mim
- esta melhor ? - ele perguntou com preocupação
- acho que sim
- o que deu em você daquela hora ?
- meu irmão não vai me tirar da cadeia, ele passou aqui para me visitar apenas para me notificar que estaria de mudança para outra cidade
- é sempre assim, eu entendo
- o que faço Henrique ?
- eu não sei Lucas, mas acho que sua única opção é aceitar Edgard, você deve começar a ser realista e parar de pensar que todos vão querer te ajudar, aqui ninguém se importa com ninguém exceto consigo mesmo, e quem esta la fora se esquece de quem esta aqui,
Fiquei em silencio refletindo sobre o que Henrique dissera
- você já passou por isso ? - perguntei tentando buscar alguma experiência
- sim, ninguém havia me avisado nada e de repente fui surpreendido por dois prisioneiros em minha cela, fui forçado a transar com os dois e depois disso passei a ser deles
- e onde estão agora ?
- um foi transferido para outro presidio e o outro foi solto, passei de mão em mão por um tempo e por sorte depois disso ninguém mais se interessou por mim, eles preferem carnes frescas e digamos que eu já passei do ponto, não sou mais novidade por aqui
- com quantos você teve que ficar ?
- isso não importa, o que você deve saber é que todos passam por isso uma hora ou outra - ele exibiu um sorriso leve com intenção de me tranquilizar - tenta relaxar, Edgard não é feio, não vai ser tão ruim quanto pensa
Eu imaginava Edgard igual ao meu companheiro de cela barbudo, mas Henrique disse que ele não era feio, seria ele bonito ? Independente de sua beleza eu o odeio, mas confesso que era mais um pouco confortante saber que ele não era tão nojento quanto eu pensava, fiquei pensando em como ele seria
- ei vem, o sinal tocou, vamos para o pátio - Henrique me puxou pelo braço
Pensei em pedir para Henrique me apontar Edgard no pátio para eu saber com que tipo de pessoa lhe daria, mas achei melhor evitar este assunto o máximo que eu pudesse.
desci para o pátio com Henrique e fomos nos encontrar com Vinicius e Joao, me encostei na parede junto a eles e conversamos durante um tempo, perguntei sobre meus companheiros de cela, se eram muito perigosos
- aqui as coisas acontecem muito rápido, qualquer pequeno motivo é faísca na gasolina, se você for inteligente deve ficar quieto e evitar brigas, não importa se seja com alguém perigoso ou não, é o que aprendi a fazer para poder acordar vivo no outro dia - disse Joao com uma voz fraca
- bom, seus companheiros de cela não são os mais perigosos da cadeia e nem mesmo chegam perto de ser, porem é melhor não comprar confusão - acrescentou Vinicius
O assunto foi rolando e eu acabei ficando a maior parte do tempo, calado, onde estaria meu irmão em uma hora dessas, eu precisava dele mais do que nunca, como eu sairia dali ? Não queria passar tanto tempo preso, na verdade eu não suportaria, esse meu ultimo dia foi um inferno, não aguento tanta pressão, era tudo muito novo para mim e eu estava sem noção em relação ao que fazer, queria tanto poder voltar as ruas e andar como uma pessoa normal, estar ali e ver todos aquele detentos passar de um lado para o outro, alguns mais atrevidos me mandavam olhares maliciosos, aquilo me deixava enojado, queria poder escapar apenas por um minuto e deitar na minha cama, que saudades que eu tinha da minha cama
O sinal soou e fiquei feliz em poder voltar para minha cela, andei em passos rápidos tentando encurtar o tempo que me separava de meu acabado colchão, a cela estava vazia então aproveitei para ir me deitando logo, apoiei minha cabeça em meus braços e adormeci sem nem mesmo notar quando meus companheiros também entraram na cela
Uma voz grossa me acordou pouco tempo depois, as luzes ainda estavam acesas, um homem forte se prostrava a minha frente, ele tinha cabelos lisos, pretos e curtos, seus olhos também pretos e um corpo musculoso, olhei para os lados tentando achar mais alguém dentro da cela, mas estávamos sós
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