Confissões de um Hetero ( 10 anos depois ) Part 7
- Estava fazendo frio aquela noite. Saio de casa as 20:50, ligo o GPS, e no caminho até o pub penso no que o Otto gostaria de me perguntar, e imagino ( pensando nas palavras do Otto ) o conflito interno que o Guilherme deva está passando. Seu ex namorado, de quase oito anos de relacionamento estava na cidade outra vez, onde tudo havia começado, deve ser complicado. O estranho disso, é que eu não estava passando por esse mesmo conflito ( caso ele realmente estivesse.) Eu sabia sim, que gostava dele, mas, sabia também que ao longo desses quase oito anos o nosso relacionamento havia sofrido um desgaste. Eu estava na minha zona de conforto, mas algo me dizia que logo logo iria sair dela.
- Recebo uma mensagem
Otto: Já chegou ? acabei de chegar.
Eu: Estou estacionando.
- Estaciono o carro e desço, seguindo para a área aberta do pub, onde fica umas mesas altas de madeira com cadeiras também altas. Perto delas, em um local mais reservado, fica outras mesas de madeira, rente ao chão, de modo que não existe cadeiras, e sim um estofado, para que você não sente diretamente no chão. Otto já estava lá.
Eu: Boa noite.
Otto: Oi Igor, boa.
- Para minha surpresa, falou ele relativamente nervoso.
Eu: Faz tempo que chegou ?
Otto: Cheguei agora, senta ai.
- Sentei e não tirei a jaqueta, estava fazendo muito frio, e a parte onde estávamos era relativamente aberta. Ele ficou me olhando e disse:
Otto: O que vai beber ?
- O garçom já estava ao nosso lado esperando o pedido. De modo que a minha resposta a sua pergunta foi diretamente ao garçom.
Eu: Uma água tônica, por favor.
Otto: Não acredito que não vai tomar um drink comigo ?
- Talvez mais tarde ( Falei não querendo ser ríspido. ) Ele pediu um drink.
Otto: Eu não sei por onde começar.
Eu: Comece pelo mais simples ( falei com um semblante ameno )
Otto: Você ainda gosta dele ?
- Ele começou pelo mais complicado.
Eu: Você esta me perguntando se gosto do homem que convivi durante 8 anos da minha vida?
Otto: Sim ( falou em tom sério, mas com o semblante calmo. )
Eu: Sim.
Otto: E você acha que ele ainda gosta de você ?
Eu: As coisas mudaram nesses últimos dois anos, acho que nada é como antes.
Otto: Isso é um sim ? ( ele deu uma risada de canto de boca )
- Fiz um sinal de sim com a cabeça.
Otto: Vocês tem conversado ?
Eu: Não. Apenas no dia em que te conheci, na cafeteria.
- Nessa hora, ele franziu o cenho
Otto: Engraçado, achei que estivessem se falando, ele tem seu numero.
- Achei que ele estivesse jogando verde, pq em nenhum momento eu dei meu numero ao Guilherme. Então o questionei.
Eu: Eu não dei meu numero a ele. Assim como não dei meu numero a você.
Otto: Desculpa, peguei seu numero através do celular dele.
Eu: Não tem problemas. A única pessoa que tem meu numero é a irmã dele. Da qual também não dei meu numero, ela encontrou minha mãe, sabia que eu estava vindo pra cá, e pediu meu numero a ela. Ou seja, no final das contas, todos tem meu numero, mas, eu não passei a ninguém. ( falei sorrindo )
Otto: Pelo pouco que te conheço, você não parece ser o tipo de pessoa que não gosta de fazer inferno.
- Nessa hora eu pedi uma bebida. Pedi um rum.
Eu: Depende do que seja fazer inferno, pra você.
Otto: Ir atrás do seu ex namorado, por exemplo, sabendo que ele está namorando.
Eu: É isso que você acha ?
Otto: Desculpe se estou sendo evasivo, mas, é que eu não sei o que pensar.
Eu: Se não tivesse passado tanto tempo e as circunstancias fossem outras, talvez eu o procurasse sim. Mas não é o caso.
Otto: Então se ele não estivesse comigo, você o procuraria ?
Eu: Talvez.
- Seu telefone começa a tocar, olho rapidamente para a tela do seu celular e vejo o nome “ Amor”. Guilherme estava ligando para ele. Num passe rápido ele vira o celular. E não atende.
Otto: Não é o melhor momento.
Eu: Vocês brigaram ?
Otto: Porque ?
Eu: Para você querer conversar comigo sobre esse assunto e não querer atendar a ligação do seu namorado, suponho que vocês tenham discutido. Não preciso ser psiquiatra para perceber isso. ( falei mais sério que o normal )
- Ele deu um gole no whisky e disse:
Otto: Sim, eu questionei ele o pq de ter seu numero no celular dele.
Eu: Acho que ele deve ter pego da Michelle. Aliás, ela é a única ( até então ) que tinha meu número.
Otto: Agora já não importa com quem ele conseguiu seu número. O fato é que, ele não me respondeu, quando eu o questionei.
Eu: Você acha que ele deva estar confuso ?
Otto: Você acha isso ? ( falou dando mais um gole )
Eu: Cara, não estamos em uma analise, eu não sei o que pensar, estou querendo entender tanto quanto você. Se Guilherme tivesse vindo falar comigo, eu teria uma noção da situação, mas esse não é o caso, então, estou confuso, assim como você.
Otto: Você voltaria pra ele, se ele te pedisse, Igor ?
Eu: Não sei, teríamos que conversar, eu não moro aqui. E pra ser bem sincero, agora, eu não sei se me sentiria a vontade a gente voltar a namorar sabendo que o ex dele mora na mesma cidade, e na mesma área profissional.
Otto: Você me passa ser sincero, ao menos isso. Digo isso, pq já lidei com pessoas dissimuladas antes.
- Eu apenas sorri. Eu estava sendo sincero, mas, mais educado do que gostaria de ser.
- O celular chama outra vez, e antes dele desligar o celular, eu falo;
Eu: O Guilherme sabe que estamos conversando ?
Otto: Estamos brigados, eu preferi não contar.
Eu: Não me sinto a vontade com essa situação. E creio que você também não se sentiria, se fosse ele conversando com seu ex namorado, do qual vocês passaram oito anos juntos.
Otto: Eu vou falar para ele, mas, não agora.
Eu: Atenda a ligação dele, por favor. Não estou me sentindo confortável.
- Ele olho para mim, em silencio e sério, e retornou a ligação dele.
Otto: Oi...
Otto: Tô em um bar
Otto: Precisava tomar algo...
Otto: Estou
Otto: Hoje não, amanha.
Otto: Pode sim, mas é sobre o que?
Otto: Ok, já imagino o que seja, amanha as 14:00 então.
Otto: abraço.
Eu: Está tudo bem ?
Otto: Sim, ele quer conversar, amanha.
Eu: Nada melhor que um dia após o outro.
Otto: Igor, preciso lhe falar uma coisa, e foi isso na verdade que te chamei aqui.
Eu: O que é ?
Otto: Eu e Guilherme acabamos o namoro.
- Eu fiquei sério, não tive reação, eu poderia ser o motivo, mas não estava diretamente ligado a isso, pois eu e Guilherme não tivemos um único momento a sós desde o dia em que cheguei, então ele realmente estava em um turbilhão de sentimentos. O que eu não entendia era, se o Guilherme acabou com ele ( e o motivo era teoricamente eu ) pq o Guilherme ainda não havia falado comigo?
CONTINUA