encontros furtivos: nenhuma gota de bom senso

Menos de um mês depois desse encontro (leia dois anos e alguns minutos), ela posta no face: relacionamento sério com fulano. Então ela já estava namorando quando me colocou contra a parede? Não era só do pai que ela se escondia. Isso me leva ao tema dos encontros furtivos. Li num outro conto: se as mulheres são proibidas de tudo, só lhes resta mentir; os homens falam mais do que fazem e as mulheres fazem mais do que falam. E eu tive a felicidade de testemunhar alguns desses atos secretos de mulheres que fazem de tudo nas brechas dos matrimônios ou pelas costas da família. E ninguém fica sabendo. As esposas corretas e as moças recatadas que nunca deixam de fazer o que desejam.

Confessa, vai: alguns dos momentos mais verdadeiros que você já viveu foram aqueles em que você traiu. Os maiores prazeres, as mais aceleradas palpitações, as mais gostosas palavras, os mais saudáveis suores, e aquela profunda sensação de estar fazendo o certo ao fazer o errado. É isso que faz um encontro de dez minutos ser inesquecível.

Vi isso nos olhos das mulheres que se esquivam das famílias por apenas duas horas, que cravam um intervalo a mais no serviço, que colocam aquela calcinha bordada assim que os maridos saem – que dão o jeito que for para ter o prazer negado. E o mundo todinho nem imagina o que elas fizeram. Só nós dois sabemos.

Foi assim numa capital distante. A moça diz para a mãe que vai dormir na casa da amiga de sempre. Pega um ônibus. Desce na rodoviária de outra cidade. Pega outro ônibus. Chega ao meu hotel. Nervosa. Eu também, no quarto, esperando. A gente se conheceu pela internet. Dezenas de fotos trocadas. Depois torpedos. Pouco perigo para mim. Muito risco para ela. Todas as mil coisas que poderiam dar errado. E não dão. Nenhuma gota de bom senso. Só vontade. A campainha toca. Abro a porta e a menina da foto está ali. Fecho a porta e o mundo lá fora desaparece. Duas pessoas capazes de fazer o mundo parar.

A conversa vai meio sem jeito. Ela vem por trás de mim, e toca no meu peito. Eu sinto os seios apertando as minhas costas. As roupas começam a sobrar. Mãos por dentro da minha camisa. Aquele cabelo encaracolado dela foi uma das coisas mais macias que já senti – engraçado o que acaba ficando na memória.

A maior proteção dela talvez tenha sido exatamente a loucura da coisa toda. A jornada que ela fez jamais passaria pela cabeça dos pais dela.

Uma noite e uma manhã juntos. Vou com ela até a rodoviária. Ela volta para almoçar com a família.

Ela nunca mais me ligou nem respondeu. Ela só disse que chegou bem. Posso especular seus motivos mas pouco adianta. Mesmo assim acabei pensando que, realmente, virgindade não se perde numa noite só. Talvez essa frustração a tenha feito sumir de mim. Ela conseguiu se esquivar de tudo mas certas algemas seguiram a gente até o quarto. E a minha falta de jeito também.

Mas eu também escolho acreditar que ela se lembra bem do universo que a gente fez. Tanta pele se tocando. Tanto toque represado. Aquela penumbra e as roupas caindo pelo chão, pra todo lado, como se a gente estivesse explodindo. Ela dizia: “que loucura”, mas não conseguia parar de sorrir.

Na minha imaginação, ela decidiu que era hora de virar mulher, de romper uma etapa. Cansou de imaginar como seria o sexo. Cansou de procurar alguém que nunca aparecia na escola, na vizinhança. E encarou todos os perigos para pegar um estranho que ficaria só uma semana na capital.

Se quiser compartilhar experiências, me escreve :