O Diabo na Aldeia

Um conto erótico de alte welt
Categoria: Homossexual
Contém 1534 palavras
Data: 03/05/2013 18:02:11

Nossa história se passa no final do século XIV, ANNO DOMINI MCCCLXXXV, no margraviato da Morávia, parte do reino da Boêmia. A região passava por um período de relativa paz e tranquilidade, e ainda contava com os esperançosos rumores de que seu soberano seria nomeado o próximo monarca do Sacro Império Romano Germânico.

Apesar de todas as expectativas de um futuro brilhante para a marca, pouco daquilo se percebia na vida do povo aldeão, que labutava duramente pelo seu pão cotidiano e rezava para que Deus os livrasse da peste negra. E a isso se resumia a vida de Alzbeta, viúva habitante de uma aldeia apelidada "Chudí" - a aldeia dos pobres.

Alzbeta teria certamente perecido após a morte de seu esposo, não fossem a solidariedade dos vizinhos e a disposição de seu filho Antonín em ajudá-la com o trabalho desde criança. Ele auxiliava a mãe na ordenha das vacas, a bater a manteiga e a fazer o "leite dos Otomanos", o tal yoghourt. Com o passar do tempo, Antonín foi crescendo, desenvolvendo-se, tornando-se homem feito e forte, e assim pôde tomar para si um ofício mais viril: aprendiz de ferreiro na oficina do Mestre Václav.

Ele fabricava, sob supervisão do velho, diversas ferramentas para venda e aperfeiçoamento de suas habilidades. Quando ele adquirisse uma maior experiência no trabalho com o metal, Václav ensinar-lhe-ia a construir armas de guerra, momento que ele aguardava impacientemente. O velho ferreiro tinha um talento espantoso para a manufatura de espadas e escudos de aço de alta qualidade e beleza, tendo trabalhado diretamente para o Marquês Jan. Sua pobreza atual era resultado de sua paixão desenfreada pela cerveja e pelas mulheres, que o levaram a cometer um terrível erro: envolver-se com uma dama da nobreza.

Antonín esperava aprender e dominar a arte da construção de excelentes armas, para assim ir trabalhar diretamente para o Marquês Jobst. Quando este último ascendesse ao posto de imperador, Antonín almejava tornar-se o ferreiro-mestre de todo o Império.

Apesar de todas as agruras, ele tinha em sua vida um propósito, que não o deixava ser indolente nem lamuriento. Havia em sua vida também um grande segredo, que por vezes lhe era fonte de sofrimento, outras de felicidade. De qualquer forma, era mais uma das coisas que o faziam sentir-se vivo. Ele tinha um romance às escondidas com Pavel, o outro aprendiz da oficina de Václav.

A maior prioridade para os dois rapazes era manter secreto o seu envolvimento pecaminoso. Eles nem imaginavam qual seria a reação de suas famílias e vizinhos caso estes viessem a ficar sabendo daquele relacionamento, mas eles tinham certeza de que não seria agradável nem compreensiva. Todos na região eram fervorosos cristãos católicos, e condenariam severamente o seu comportamento.

Apesar de todo amor que sentia por Pavel, Antonín sofria por demais com aquele namoro, porque ele mesmo era um católico fervoroso, graças à criação que lhe havia dado sua mãe. Alzbeta, que era uma mulher lindíssima e atraía como ninguém o desejo dos homens, amava de tal maneira seu marido que, quando enviuvou aos vinte anos, jurou nunca mais se entregar a nenhum outro, dedicando o resto de sua vida a Deus e a seu filho. Ela sempre transmitiu valores cristãos rígidos na educação que deu a Antonín, que mais tarde converteram-se na certeza dele de que iria queimar no inferno por amar outro homem.

Por esta razão, Antonín e Pavel não tinham ainda consumado sua paixão com uma relação carnal plena. Todos os dias eles se beijavam e se acariciavam furtivamente, mas o primeiro não cedia aos impulsos do outro de querer penetrá-lo com seu membro. Tudo devido ao medo do fogo eterno, porque se não fosse a religião, o desejo de Antonín teria feito com que ele se entregasse sem nem hesitar. E era pela insistência de Pavel, que ele o apelidava carinhosamente de "d'ábel", ou seja, diabo.

Os dois trabalhavam o dia inteiro sob o olhar atento de Václav, mas à noite, quando o velho se retirava e deixava-os incumbidos de limpar a oficina, o casal encontrava tempo e privacidade para suas demonstrações de afeto. Além disso, sempre que possível eles saíam para "caminhar" a hora avançada, quando na verdade encontravam-se no bosque para namorar. No mato, o breu noturno não permitia que os amantes vissem a beleza um do outro, mas também os escondia dos olhares do mundo.

Pavel adorava o contraste que existia entre a tez branquíssima de seu amado e os cabelos do mesmo, que eram negros como as penas do corvo. Eram também objeto de sua veneração os lábios rosados e os olhos azul-acinzentados de Antonín. Já este último suspirava pelos ombros largos de seu "diabo", as suas mãos grandes e fortes que o acariciavam com firmeza e seus cabelos castanho-claros com reflexos dourados.

Embora não tivessem ainda experimentado a derradeira intimidade da penetração, os dois amantes exploravam livremente os corpos um do outro usando suas mãos e línguas. Não que Antonín achasse que estava seguro ao fazê-lo, pelo contrário, ele sabia que a cada vez que punha seus lábios ao redor do membro viril de seu querido Pavel, era um passo a mais que ele dava em direção à perdição. Mas ele achava que permitir ser possuído seria cruzar uma linha sem retorno, que Satanás em pessoa surgiria para arrastá-lo ao inferno.

Mas ambos eram homens, jovens, cheios de saúde e desejo. Pavel insistia frequentemente para que seu amor permitisse-lhe o acesso ao mais íntimo do seu corpo e Antonín sentia cada vez mais que estava prestes a ceder. Em meio a beijos ardentes, Antonín costumava sussurrar: "Pavel, Pavel, eu te amo, meu d'ábel!", e o outro respondia: "Deixa-me entrar em ti, meu anjo!".

Como se não bastassem as dificuldades vividas diariamente por Antonín, ele passou a ser vítima de inesperados surtos de convulsões, sem nenhum motivo aparente. Como o primeiro daqueles ataques ocorreu no bosque enquanto ele namorava com Pavel, ele logo deduziu que deveria tratar-se de um castigo dos céus pelos seus pecados. Pavel, de início, também ficou temeroso de que aqueles tremores pudessem ser intervenção divina, mas logo que os viu acometer Antonín em outras ocasiões, além dos seus momentos íntimos, logo convenceu-se de que deveria haver outra explicação.

Aqueles surtos faziam todo o corpo de Antonín tremer em espasmos incontroláveis, quedando-se ao chão. Seus olhos reviravam-se, sua boca espumava, ele empalidecia e emitia sons incompreensíveis. Eles podiam surgir a qualquer momento, no trabalho, no namoro, durante as refeições, antes de dormir ou ao acordar. E da mesma forma que eram imprevisíveis as ocorrências, também passavam-se dias sem que nenhuma se manifestasse. Alzbeta morria de preocupação, e queria que ele fosse consultar-se com o médico da região. Mas o rapaz sentia-se culpado e não queria que ninguém investigasse a origem daqueles tremores. Procurava dissuadir sua mãe dizendo-lhe que não era nada de sério e que ele não tinha tempo de fazer a caminhada até a casa do médico, que era de fato deveras distante.

Certa feita, enquanto os rapazes alternavam-se entre a limpeza noturna da oficina e suas habituais carícias, Antonín foi acometido de um fortíssimo ataque convulsivo. Pavel já havia presenciado alguns daqueles episódios da enfermidade e sabia que eles não duravam muito. O melhor a fazer era afastar todos os objetos perigosos da proximidade de Antonín e deixá-lo debater-se em segurança até passar. Como eles estavam em uma oficina de ferreiro, cheia de armas e ferramentas, Pavel achou por bem carregar seu namorado para fora.

Pavel deitou o corpo de seu amado sobre a grama e esperou. Mas começou a preocupar-se quando as convulsões ficaram retornando constantemente após tréguas de poucos segundos. Ele percebeu que a moléstia estava atacando de forma mais grave que o habitual, e deu-se conta de que precisava da ajuda de outrem. Então, ergueu o corpo de Antonín sobre seu ombro, e carregou-o até a casa deste.

Alzbeta abriu a porta de casa ao ouvir as batidas impacientes, e, ao ver seu filho sendo carregado pelo amigo, perguntou em tom de desespero: "O que se passa?". Pavel adentrou a residência e gentilmente desceu o corpo desacordado de Antonín sobre a cama, enquanto explicava o ocorrido: "Senhora, nós limpávamos a oficina do Mestre Václav quando Antonín começou a sofrer de seus tremores. Fiquei muito assustado ao ver que eles não cessavam. Veja, veja! Principiaram novamente!".

A mãe do jovem benzeu-se e juntou as mãos, consternada. Naquele ínterim, alguns dos vizinhos da aldeia aproximaram-se devido à comoção, dentre eles o velho ferreiro, que estava bebendo na taverna. A bela e desolada Alzbeta disse: "Preciso ir ao Vel'ky Hrad chamar o doutor para ver meu filho!". Václav escarneceu: "Está louca, senhora? Caminhar léguas e mais léguas até o castelo do Conde a esta hora da noite? E com todos os lobos da floresta espreitando à beira da estrada?". Determinada, a mulher respondeu: "Não há outro jeito. Se alguém pode salvar meu filho, este alguém é Herr Doktor". O velho então solidarizou-se: "Pois bem, que seja. Faço-te companhia e ofereço-te transporte na minha charrete".

"Muito obrigada, bom homem. Que Deus lhe pague e salve meu filho!", agradeceu Alzbeta. Poucos minutos depois, partiam os dois na charrete puxada a burro, rumo à última esperança daquela mãe...


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Comentários

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Nossa! Muito bom! Você tem uma perfeição em escrever que prende minha atenção. Adorei o cap. 1!

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Cara, fiquei estupefato com sua narrativa. Você é bom de mais, tem um talento louvável e invejável. E essa história, não sei nem ao certo o que dizer. É muito boa. Não, é mais do que isso. É superlativamente maravilhosa, embora redundante da minha parte dizer isso. Por favor, vê se não demora a postar a continuação não. Por mim, que já sou seu fã.

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