UMA AMIGA ESPECIAL
UMA CLIENTE ESPECIAL
Quase não podia acreditar que estivesse vivendo uma situação tão especial como aquela. Casada há alguns anos, mesmo tendo experimentado algumas experiências fora do casamento, aquela situação era de fato inusitada por envolver uma pessoa uma amiga, na verdade uma cliente. Trabalhando numa instituição bancária, tenho a incumbência de gerenciar a conta corrente e aplicações de dezenas de clientes, dentre eles Márcia, uma mulher também casada, psicóloga, bonita e gentil, que ao longo do tempo passou a manifestar atenção especial por mim. A princípio imaginei tratar-se de mera reciprocidade ao zelo que habitualmente dispenso aos interesses de todos os clientes. Aos poucos fui notando que a atenção que Márcia me dispensava ultrapassava os limites da simples cordialidade, pois mesmo cercando-se de total discrição, quando ela me cumprimentava o fazia de forma efusiva e carinhosa, afagando minhas mãos por alguns segundos a mais do que seria razoável. E quando me olhava o fazia sorrindo com ternura, deixando perceber algo mais no brilho de seus olhos castanhos. Com freqüência ela telefonava apenas para saber o saldo de suas contas, aproveitando para falar sobre trivialidades, terminando por dizer que estava com saudades de mim. Aos poucos fui sentindo que estava sendo assediada, mesmo sem nunca ter emitido um qualquer sinal que pudesse lhe servir de estimulo, especialmente porque nunca alimentei a expectativa de ter um relacionamento íntimo com outra mulher. Por isso mesmo me mantinha serena e atenciosa, na certeza de que a sua expectativa se dissiparia com o passar do tempo. Num final de tarde, minutos antes de se encerrar o expediente bancário, percebi que Márcia entrava na agência. Depois de ser abordada por uma das moças que fazem a recepção dos clientes na entrada ela avisou que aguardaria para ser atendida por mim, pois já havíamos conversado por telefone. Minutos depois ela sentou-se a minha frente, e sorrindo me cumprimentou, acariciando minha mão com discrição, como habitualmente fazia, indagando sobre a conveniência de promover mudanças nas suas aplicações em razão de algumas modificações impostas pelo Banco Central que tornaram confusas as aplicações nos Fundos de Investimentos. Profissionalmente procurei dissipar suas dúvidas:
- Olha Márcia, sugiro que você aguarde mais alguns dias. Deixe que o mercado se acalme um pouco e as novas regras se tornem mais claras. Neste momento qualquer mudança pode ser precipitada.
Sem contestação ela acatou minha sugestão, comentando:
- OK. Vamos deixar como está para ver como as coisas ficam. Afinal tudo na vida tem seu tempo certo e sua razão de ser, não é mesmo?
- Claro, respondi sem ter tido tempo de avaliar a malícia contida no seu sorriso e em suas palavras.
Durante alguns minutos conversamos sobre trivialidades. Antes de se despedir perguntou-me em voz baixa, quase sussurrante:
- Posso lhe convidar para tomar um drink comigo após o trabalho, quem sabe um chá, se você preferir?
Seu convite me deixou ligeiramente tonta e desconcertada. Não podia esperar que naquele momento ela fosse tão explicita e decidida. Quase sem tempo para retrucar, procurando ser simpática, respondi:
- Puxa Márcia, seria um prazer, mas hoje não posso. Tenho um compromisso de família. Quem sabe outro dia? Hoje realmente não é possível...
- Claro, não tem problema. Como já disse, tudo tem seu tempo certo, concordou sorrindo.
Antes de partir discretamente retirou da bolsa um pequeno envelope branco recomendando que o lesse o conteúdo quando fosse possível. Em seguida nos despedimos trocando beijos na face. Nessa troca de cumprimentos deliberadamente ela deixou que seus lábios tocassem meu rosto, fazendo-me enrubescer. Logo após a sua partida dirigi-me ao banheiro e pude perceber através do espelho uma leve mancha de batom no meu rosto, encoberta pelas mechas do cabelo. Depois de apagar a marca por ele deixada, abri o envelope e encontrei um cartão contendo a seguinte mensagem:
o amor só dura em liberdade.
E logo embaixo o seguinte verso:
o seu amor, ame-o e deixe-o
ser o que ele é
o seu amor ame-o e deixe-o
livre para amar (C. Veloso & Gil)
A partir daquele momento não tinha mais dúvidas: Márcia me assediava e fazia questão de explicitar o seu interesse por mim.
Passaram-se alguns dias sem que ela fizesse qualquer contato. Cheguei a pensar que tivesse se arrependido do seu gesto e por isso me evitasse. Imaginei até que ela pensasse em retirar suas contas da nossa agência, o que não seria bom para mim. Isso de certa forma me incomodava e cheguei a pensar em lhe telefonar para esclarecer as coisas. Quando já estava decidida a fazer isso, numa tarde de quinta feira ela chegou à agência, elegantemente vestida, sorrindo e acenando para mim, sinalizando que aguardaria que eu estivesse livre para atende-la. Minutos depois ela aproximou-se sentando à Mesa. De certa forma aliviada com sua presença, estendi-lhe a mão comentando:
- Puxa, você sumiu... eu já estava preocupada...
- Que bom que você sentiu minha ausência... ficou com saudade de mim? - indagou rindo, quase murmurando.
- De certa forma sim, retruquei um pouco desconcertada.
- Necessitei fazer um rápida viagem a BH... inevitáveis problemas de família, explicou.
Durante algum tempo relatei a situação de suas aplicações, recomendando que ele mantivesse as posições atuais diante da normalidade do mercado financeiro. Enquanto eu falava podia perceber que ela me acompanhada atentamente, olhando-me nos olhos de forma contemplativa e interessada, umedecendo ligeiramente os lábios bem delineados e sensuais. Antes de se despedir aproveitou para reiterar o convite que já fizera, falando de forma mansa, quase inaudível:
- Senti saudades de você durante esses dias... por isso novamente lhe convido para tomarmos um drink e conversarmos... o que você acha?
Sentindo meu corpo se inquietar, com a voz tremula indaguei:
- Hoje não é possível, pois sairei tarde daqui...respondi.
- Amanhã seria um bom dia... meu marido está participando de um congresso médico em São Paulo e depois do almoço as crianças seguem com os avós para a fazenda. Já avisei que tenho clientes para atender à tarde e à noite e por isso só irei ao encontro deles no Sábado. Assim ficarei sozinha e posso preparar alguma coisa bem gostosa para nós. Prometo que você não se arrependerá de conhecer meus dotes culinários, concluiu rindo com malícia, cheia de esperança.
- Tudo bem... fica combinado... quando sair do trabalho passo na sua casa, concordei quase sem alternativa.
Antes de sair ela retirou da bolsa outro pequeno envelope igual ao que antes deixara, depositando-o silenciosamente em minha frente, olhando-me enternecida como a implorar que eu não mudasse de idéia.
Após sua saída levantei-me e já no banheiro comecei a ler o conteúdo de sua nova mensagem.
Sobre o amor.
Todo o tempo é tempo de sonhar
Todo dia é dia viver
Toda hora é hora de amar
Sonhar sem limites
Viver sem temor
Amar sem medo...
Sem receios...
Apenas amar...
Trêmula e excitada com o conteúdo do que estava lendo, compreendia em fração de segundos a profundidade daquela mensagem. Márcia deixava claro o seu desejo por mim, e com aquela declaração tão explícita dava-me uma oportunidade de desistir de ir a sua casa. Diante de tudo o que estava acontecendo não conseguia mais racionar com clareza, profundamente chocada com os acontecimentos. Passei mesmo a considerar a possibilidade de desistir de ir ao encontro programado, receosa do que poderia acontecer. Preferi, no entanto, deixar para tomar a decisão definitiva no dia seguinte.
Antes de voltar ao trabalho após o almoço me arrumei com esmero incomum para um dia de trabalho. Afinal se eu tivesse que ir ao encontro de Márcia que fosse bem produzida, bonita mesmo. Escolhi as minhas melhores jóias e as guardei na bolsa para usá-las no momento adequado. Ao sair de casa sentia-me confusa e assim permaneci a tarde toda, esforçando-me para que algum colega não percebesse meu embaraço. No meio da tarde tomei uma decisão: ligaria para Márcia e cancelaria o compromisso, oferecendo uma desculpa de última hora. Disquei o número do telefone de sua casa e ninguém atendeu. Imaginei que ela estivesse ausente, certamente tomando alguma providência, quem sabe fazendo compras. Percebi então que não me restava outra alternativa se não ir ao seu encontro. A final, o que de pior poderia acontecer? A tentativa de sua parte de manter um relacionamento íntimo comigo? Isso só seria possível com o meu consentimento e até poderia ser uma experiência interessante. Como meu marido se encontra viajando e só chegaria no dia seguinte, telefonei pra casa e avisei à empregada que ao sair do trabalho iria visitar uma amiga e estaria chegando após as 22 horas.
Finalmente às18:30 horas segui para a casa de Márcia numa área nobre da cidade. Ao me aproximar de carro o portão da garagem se abriu lentamente e ela acenava para que eu entrasse e ali estacionasse. Logo que desci do veículo Márcia me cumprimentou, convidando-me para entrar. Já dentro de casa pegou minha bolsa colocando-a sobre uma cadeira, e num gesto largo, com os braços abertos, falou sorrindo com um brilho de felicidade nos olhos:
- Fique a vontade... a casa é toda sua...
- Obrigada Márcia... que bela casa - comentei tentando disfarçar o nervosismo...
- Tenho me esforçado para torná-la confortável e aconchegante,respondeu.
- Pois conseguiu... está linda - retruquei.
Guiando-me pela mão mostrou-me todos os cômodos, explicando os detalhes de cada ambiente, tudo decorado com requintado bom gosto. Saindo por uma porta lateral passou a mostrar os jardins, delicadamente ornamentados com plantas variadas e muitas flores. Ao fundo um lindo tapete verde de grama bem tratada, separado da casa por uma piscina e uma área de lazer.
- Tudo está muito lindo, Márcia...parabéns... você tem realmente muito bom gosto, comentei.
- Dá muito trabalho conservar tudo isso, mas vale a pena, respondeu convidando-me a sentar numa cadeira próxima à piscina, indagando se gostaria de tomar alguma coisa.
- Sim, alguma coisa para relaxar- respondi.
- Um instante só - falou afastando-se fagueira em direção à cozinha...
Olhando-a por trás eu percebia o quanto ela estava sensual, discretamente envolta num leve vestido de seda que fazia realçar suas formas a cada movimento do corpo, deixando à mostra as coxas torneadas, os quadris bem desenhados e o bum-bum levemente empinado dentro de uma insinuante e delicada calcinha branca. Por instantes sozinha me indagava o que poderia acontecer naquela noite, consciente do interesse que Márcia tinha por mim. Em silêncio me indagava: será que ela pensa que já tive alguma experiência com outra mulher? Como vou dizer isso para ela? E se o interesse dela não for exatamente isso? Enfim me dava conta de que de nada adiantavam minhas indagações. Tinha de esperar para ver o que poderia acontecer. Estava perdida nessas indagações quando Márcia retornou, falando de forma efusiva.
- Pronto, trouxe um champanhe para brindarmos nosso encontro. Afinal o champanhe é o símbolo dos bons e proveitosos momentos ela falou sorrindo
- Que maravilha - respondi, tomando a taça que ela acabara de encher. Isso me faz lembrar uma música italiana: champanhe... para brindar um encontro...Então vamos fazer tim-tim, prossegui sorrindo, encostando minha taça na sua, num gesto de fraterna saudação.
Enquanto nos deliciávamos com a bebida ela explicou que fizera alguns tira gostos e preparara um juntar, esperando que eu gostasse.
Levantando-se ela se dirigiu à cozinha enquanto eu a acompanhava com o olhar, observando seu andar, a beleza do seu corpo, seus cabelos soltos ligeiramente revoltos pela brisa que soprava leve. Ao chegar à porta virou-se para mim e levando a mão à boca, num gesto jovial mandou um beijo na minha direção. Sorri agradecida e tomei mais uma gole do champanhe na tentativa de me manter minimamente serena. Instante depois percebi que ela ligara o som de onde irradiava a música sobre a qual eu comentara. Em poucos instantes retornou trazendo uma bandeja de prata fina com alguns tira gostos, copos, balde e gelo. Colocando a bandeja sobre a mesa pegou um canapé e ofereceu-me gentilmente:
- Experimente isso... veja se está bom...
Abrindo a boca recebi a iguaria que ela me oferecia, comentando:
- Maravilhoso Márcia... realmente divino.
Continuamos por algum tempo tomando champanhe e saboreando as iguarias preparadas com esmero, até que ela, tentando parecer descontraída comentou:
- Você ficou chocada com as mensagens que eu lhe deixei? É importante que eu saiba a sua impressão...
- Olha Márcia... não posso negar que fiquei um pouco embaraçada... isso nunca me aconteceu antes... por isso mesmo, como não poderia deixar de ser, fiquei um pouco confusa... mas achei tudo muito lindo...
- Na verdade os textos, ainda que não tenham sido escrito por mim, expressam meus sentimentos. Eu compreendo o seu embaraço e cheguei mesmo a pensar que você não aceitaria o meu convite. E se você não tivesse vindo eu também entenderia...
- Pois é, pra ser sincera, pensei em não vir mesmo...mas enfim estou aqui - respondi procurando ser natural, na tentativa de quebrar o tom delicado daquele momento...
- Com a sua disposição de vir aqui...posso compreender que você entendeu minha mensagem...?
- É... Mais ou menos....- respondi ainda embaraçada, sem muita convicção..
- Que bom - comentou ela num suspiro de alívio.
Fazia uma noite bonita, o céu pelas enfeitado pelas estrelas e por uma lua crescente. Chamei a atenção de Márcia para o brilho intenso do planeta Marte destacando-se em meio de tantos astros menores. Ela aproveitou minha observação para comentar em tom suave e romântico.
- Pois é, temos um lindo céu como única testemunha de nosso encontro. Poucas vezes temos a oportunidade de apreciar tanta beleza e tanta paz, não é verdade?
- É verdade, mas a temperatura já começa a cair, trazendo um pouco de frio. Vamos entrar?- sugeri com receio de que ela me agarrasse e me beijasse naquele instante.
- Vamos. Aproveitarei para arrumar nosso jantar, replicou.
Ao nos dirigirmos para dentro da casa Márcia colocou o braço em volta da minha cintura, fazendo com que nossos corpos se aproximassem. Instintivamente correspondi enlaçando sua cintura, apoiando minha mão nos seus quadris. A proximidade permitia que eu pudesse sentir agradável perfume do seu corpo. Aproveitei para comentar que me achava necessitando de um banho, já que passara a tarde inteira no trabalho..
- Vou preparar um banho para você - respondeu solícita.
- Mas tomar banho e vestir a mesma roupa não é muito agradável - respondi.
- Isso não é problema...deixe que eu vou arrumar alguma roupa para você
Enquanto ela preparava o banheiro fiquei ouvindo música. O aparelho de som continuava rodando um disco de músicas italianas e naquele momento tocava A Casa de Irene, na voz sensual de Nico Fidenco. Ironicamente me via na casa de Márcia, inteiramente exposta, como nunca imaginara fosse possível, sem consciência plena do que poderia acontecer, mas possuída um leve pressentimento do desfecho inevitável. Depois de minutos Márcia voltou e pegando-me pela mão levou-me ao banheiro.
- Pronto, pode tomar seu banho. Deixei uma roupa para você usar depois. Fique inteiramente à vontade e use tudo o que precisar.
- Obrigada -, respondi lacônica entrando no banheiro.
Márcia preparara o banheiro do casal, contíguo a um quarto imenso, mobiliado com discrição e bom gosto, onde se destacava uma enorme cama tipo king size, coberta com impecável lençol de cetim creme, e sobre ele quatro lindos travesseiros. Ao lado da imponente cama repousavam dois criados mudos e sobre cada um deles um castiçal com uma vela cor de rosa já acesa exalando um agradável aroma. Observava o cenário, imaginando se seria ali o desfecho de tudo naquela noite. Depois de ter tomado um refrescante e oportuno banho refiz a maquiagem, passando perfume e creme pelo corpo. Vesti a roupa que Márcia separou para mim, composta de uma baby-doll transparente de seda preta que se ajustou perfeitamente ao meu corpo, pondo por cima uma capaz de cetim da mesma cor que fazia realçar minhas formas e a brancura de minha pele. Em seguida dirigi-me à sala, descalça, sentindo-me leve e provocante. Ao chegar verifiquei que tudo estava preparado, o ambiente envolto em agradável penumbra, iluminado por uma linda vela colocada no centro da mesa e pela luz tênue dos abajures estrategicamente dispostos nos cantos. Márcia me esperava ao lado e ao ver-me saudou-me efusiva:
- Você está linda assim de preto... Exatamente como eu imaginei...
- Você é muito gentil, comentei.
Segurando minha mão levou-me à mesa, oferecendo-me um lugar próximo à cabeceira.
- Sente-se... vou servi-la, falou em tom afável.
Em seguida preparou-me um prato com legumes e uma fatia de salmão, colocando por cima molho de alcaparras e de uvas desidratadas. Acompanhava enternecida sua gentileza, esperando que ela também se servisse. Após se servir servir, ela comentou:
- Só falta uma coisa...
Dirigindo-se ao carrinho de bebida que estava próximo e pegando a garrafa de champanhe preparou duas taças, entregando-me uma delas, e levantando a sua em minha direção, exclamou:
- Ao amor! que ele seja livre, para ser duradouro... mas se tiver que seja apenas uma chama, que seja infinito enquanto dure, como disse Vinicius de Morais.
Levantando minha taça correspondi ao seu gesto procurando ser generosa:
- que assim seja...
Começamos a comer silenciosamente, nos comunicando através de monossílabos. A comida estava divina e podia-se perceber que Márcia realmente possuía elogiáveis aptidões culinárias. Depois que terminamos continuamos à Mesa nos olhando numa atmosfera de indisfarçável cumplicidade. Depois de ter tomado algumas taças de champanhe me sentia liberta da tensão inicial, pronta para encarar a que estava por vir. Verificando que o disco havia terminado Márcia levantou-se e colocou um outro de Luis Miguel, mantendo assim o ambiente envolto em gostoso romantismo. Pegando nossas taças e o balde com o champanhe convidou-me para sentar no sofá no outro lado da sala. Em seguida começou a falar sobre um livro de uma escritora italiana estudiosa da sexualidade humana, que trata explicita e cientificamente da natureza bi-sexual das mulheres. Depois de formular algumas considerações sobre o assunto, perguntou-me de forma provocativa:
- o que você pensa sobre isso:
Percebendo que ela procurava compreender o meu sentimento e sobretudo o meu grau de receptividade a cerca da questão, respondi procurando ser compreensiva:
- Olha Márcia, na verdade eu não tenho uma opinião definitiva sobre o assunto. Sei que é uma questão extremamente séria da qual depende a felicidade das pessoas. Disso não tenho dúvida...
- Mas você, enquanto mulher, já pensou na possibilidade de sentir prazer com outra pessoa do mesmo sexo?
- Já pensei sim, mas nunca me senti preparada para isso... Sempre achei uma coisa muito distante de mim... certamente por uma questão de formação moral....
- Mas isso não tem nada a ver com a moral, querida... é uma questão de libido... de prazer... de emoção que aflora e que se bem cultivada pode ser imensamente boa. Eu por exemplo sou casada, adoro meu marido, minha família... mas aprendi a sentir uma grande atração física por algumas pessoas do mesmo sexo... claro que são sempre pessoas especiais... como você...
- Ai, que loucura, exclamei rindo... mas é bom a gente se sentir assim desejada... sobretudo por uma pessoa tão especial como você... Seu marido sabe disso? - indaguei,
- Claro que sabe. E sabe também que eu adoro sexo com homem... com ele, claro. Já tivemos algumas experiências juntos... e foi maravilhoso, pode crer. Imagine a seguinte situação: você está num quarto totalmente escuro, inteiramente nua, deitada na cama... de repente você percebe que alguém entra no quarto e você não tem a menor possibilidade de saber quem é... e essa pessoa aproxima-se da cama e começa a beijar seus pés... vai subindo beijando e lambendo suas pernas... suas coxas... você somente sente o contato daquela boca que se aproxima do seu sexo... começa a beija-lo... lambe-lo... penetrá-lo... descobrindo toda sua intimidade... alcançando seu clitóris e colocando-o entre os lábios... e de repente seu corpo vai sendo tomado de tesão... de frenesi... e aquela boca continua descobrindo seu corpo... sua barriga... seus seios, chupando-os com carinho... até alcançar sua boca, beijando-a docemente, introduzindo nela a língua até encontrar a sua. E bailam juntos, boca com boca, língua com língua, as salivas se misturando. E aos poucos você vai se entregando, até que aquela boca retorna ao seu ventre e a faz gozar intensamente. De repente você explode num forte e indescritível orgasmo. E você vai recobrando os sentidos até que a luz se ascende e você percebe que tem ao seu lado uma mulher, que lhe fez gozar como nunca. Aí vem a pergunta inevitável: este prazer é inconcebível, é inadmissível, é impuro?
- Não... certamente não é, respondi de forma direta.
- Esse é o mistério a ser desvendado... E Esse mistério faz parte de uma geração de mulheres que está aprendendo a superar tabus, que sabem que para experimentar a delícia de outro corpo feminino não é necessário abrir mão de sua própria feminilidade. Pelo contrário, o que uma mulher assim busca na outra é exatamente a delicadeza, a suavidade, a maciez do corpo e a leveza da alma, o que nem sempre o homem pode proporcionar. E quando se trata de mulher casada, muitas vezes os homens têm um papel importante nesse processo, pois quase sempre elas são incentivadas pelos maridos, cuja cumplicidade funciona como uma espécie de atestado de feminilidade de suas parceiras. Tenho várias clientes que já passaram por essa experiência e a maioria delas confessam que sozinhas não teriam coragem de colocar em prática suas fantasias. É claro que nem sempre funciona assim, pois muitos homens tremem só em imaginar sua mulher transando com outra. Isto porque em sua extrema insegurança sentem-se mais do que traídos: sentem-se inferiorizados. Claro que no fundo tudo é fundamentalmente uma questão cultural, que não é fácil de ser resolvida, concluiu convidando-me a escolher um disco, já que o som parara novamente.
Levantei-me e escolhi um disco de Maria Bethânia interpretando músicas de Roberto Carlos, que freqüentemente escuto com meu marido. Márcia o pôs para rodar e num gesto natural, convidou-me para dançar. Começamos a nos movimentar soltas, nossos corpos lentamente se movimentando, nossas mãos se tocando vez em quando. E quando isso acontecia me acariciava com ternura, cantando baixinho, de forma quase inaudível. E. fugindo da letra da música às vezes dizia: é o amor... é o prazer...é a vida. Ao iniciar a música Eu Preciso de você, ela não mais se conteve e pegando minhas mãos me abraçou com emoção, gemendo no meu ouvido:
- Eu preciso de você... eu desejo você... muíto....intensamente...mas só se você também quiser...
E aproximando seu rosto do meu colocou sua boca na minha, fazendo-me tremer. Pela primeira vez sentia-me beijada por uma mulher de forma tão íntima, tão sensual. E pude então perceber que era bom, que era gostoso. Aos poucos fui correspondendo, retribuindo e desejando mais aquela boca com gosto de champanhe, a língua quente e macia. Enternecida com o que estava acontecendo e surpresa com o prazer que aquela intimidade me causava, percebi que Márcia deixou cair o vestido de seda que cobria seu corpo e os seios soltos se encontraram com os meus. Sem parar de me beijar, com as mãos levantou a parte de cima do baby-doll, fazendo com que meus seios encontrassem os seus e se misturassem numa massagem excitante, murmurando baixinho:
- Deixe-me acariciar você... sinta como é gostoso...apenas sinta....
Procurando seguir a vontade natural dos desejos, assenti com a voz trêmula:
- Deixo sim... Acaricie-me... Faça-me gostar mais ainda...
Com a minha concordância ela colocou cada uma de suas mãos macias e quentes nos meus seios, acariciando-os com ternura.
- Assim... siga as suas sensações... deixe fluir a sua vontade... o seu desejo... sinta seus seios vibrando em minhas mãos...
Eu já não tinha forças nem desejava mais interromper suas carícias e sentia o enorme prazer que suas mãos me causavam, deslizando pelo meu corpo trêmulo, enquanto nossas bocas se encontravam, nossas línguas se enroscando num beijo cheio de volúpia. Tomada de incontida excitação não me contive:
- Aí que loucura... que gostoso... acho que estou sonhando...delirando...
- Não querida... é tudo maravilhosamente real...como o cheiro do seu corpo... como o gosto da sua boca... como a maciez e a sensualidade da sua pele...
Lentamente, no ritmo da música Márcia começou a beijar meu rosto, o pescoço, descendo até os seios, beijando, lambendo e chupando-os com uma ternura que eu nunca antes experimentara. E deslizando mais até ficar ajoelhada em minha frente retirou com delicadeza a parte de baixo do baby-doll, deixando-me inteiramente exposta. Continuando na sua trajetória foi descendo a boca pela minha barriga, lambendo com carrinho, enquanto suas mãos finas e macias exploravam meu dorso, deslizando pelos quadris, pelas pernas, até se encontrarem sobre meu ventre latejante, acariciando a protuberância do meu sexo, fazendo com que sua língua acariciasse timidamente os grandes lábios, fazendo minhas pernas bambearem de excitação. Contornando ajoelhada meu corpo, começou a percorrer o caminho inverso, beijando e lambendo minhas pernas, detendo sua boca nas dobras de minhas nádegas, fazendo nelas penetrar sua língua inquieta e macia. Com as mãos acariciava a parte da frente de minhas coxas, o meu regato, a minha barriga, até levantar-se devagar e com as mãos enlaçar novamente meus seios. Com a boca percorria minhas costas, meu pescoço, a nuca, arrancando-me gemidos de prazer. Lentamente virou-me de frente, olhando-me extasiada. Não segurando mais o desejo falei quase gemendo:
- Deixa eu te beijar...
Antes que ela respondesse tomei a iniciativa e colei minha boca sua, sugando seus lábios, língua, até sentir que nossas salivas se misturavam abundantemente. Estávamos as duas a ponto de gozar em pé, no meio da sala, tal era o nosso estado de excitação, quando Márcia pegou minha mão conduzindo-me em direção ao quarto, dizendo:
- Vem querida... vem comigo... vamos nos amar... vamos aproveitar o prazer supremo...
Em fração de segundos estávamos na cama, nossas bocas unidas, os corpos colados, os sentidos misturados num frenesi indescritível. Com ternura Márcia reiniciou a exploração do meu corpo com suas mãos e sua boca, detendo-se na minha bocetinha úmida e quente, já possuída de intensa lubrificação. E abrindo minhas pernas passou a lamber minha gruta com sabedoria e carinho, demonstrando conhecer cada detalhe da daquele espaço, proporcionando em mim um choque delicioso de sensações até então desconhecidas. Soltei um gemido profundo indicando que aquilo me alucinava e levantei as nádegas expondo ainda mais minha intimidade para que ela a beijasse, lambesse e chupasse cada vez mais. Colocando seu corpo em posição contrária ao meu, ofereceu-me seu sexo também latejante e úmido, esfregando-o no meu rosto até que minha boca o alcançou, permitindo que meus lábios e minha língua o explorasse intensamente.
Aos poucos fui descobrindo sua intimidade até alcançar seu grelo, sentindo-o macio e saliente aumentando de volume, prendendo-o entre os lábios, nele roçando levemente a língua, conscientemente desejando que ela fizesse o mesmo comigo. Rapidamente ela alcançou meu clitóris fazendo as mesmas carícias que eu lhe proporcionava, silenciosamente, cada uma pedindo mais, até explodirmos juntas num gozo arrebatador. Continuamos por alguns minutos fazendo leves carícias em nossos sexos, até nos ajoelharmos e ficarmos frente a frente, nossas bocas coladas transmitindo uma para a outra o gosto do nosso intenso prazer, nossos corpos fundidos num abraço cheio de ternura, iluminados pela luz das velas que ardiam de forma incessante testemunhando os nossos desejos realizados.
Naquele instante não sentia nenhuma rejeição ou censura pelo fato de trocar beijos e carícias com uma mulher, adquirindo enfim plena consciência da minha feminilidade, compreendendo ser possível fazer sexo sem culpa, sem restrições, consciente de que isso podia ser maravilhoso.
Depois de parcialmente refeitas, Márcia indagou-me:
- Então, gostou?
- Claro... achei maravilhoso - respondi.
- Eu não disse que valia a pena? Como se sente depois de descobrir um pedaço do paraíso?
- Sinto-me feliz... leve...jamais senti tamanha excitação e tanto prazer...pensei que ia enlouquecer de tesão.
- Pois é... tudo tem sua hora certa para acontecer...posso dizer que você é maravilhosa... doce...deliciosamente suave...
Às 22 horas nos despedimos com um abraço apertado e um longo beijo, e parti levando comigo as novas emoções despertadas por aquele amor diferente.
Na segunda feira seguinte Márcia esteve comigo no Banco e depois de trocarmos lânguidos olhares de cumplicidade ela saiu deixando sobre minha mesa a sua última mensagem.
Gostei muito de beijar sua boca macia, carnuda, sensual.
Beijo suave...beijo leve...beijo com fúria...
Gostei de juntar a sua boca na minha...
Adorei tocar seus lábios...roçar sua língua... misturar nossas salivas...
Gostei de beijar o seu pescoço...sua nuca... deslizar a língua no seu corpo macio..
Gostei de beijar seus ombros... morder de leve...alisar seus braços...
Gostei de beijar seus seios...lambe-los... acariciá-los....
Gostei de sentir seus mamilos endurecidos entre meus lábios...
Adorei beijar suas coxas....deslizando entre elas....
Gostei de beijar seu ventre...lentamente....deixando um rastro de saliva na sua pele...
Adorei beijar seu sexo... deliciei-me com o seu cheiro... com o seu gosto...
Gostei de beijar e ver cada detalhe...
Gostei desvendá-lo com meus lábios... com a minha língua quente e macia...
Gostei de apreciá-lo como se fosse uma flor de grandes pétalas...
Gostei de deslizar a língua de cima para baixo...de baixo para cima...
Gostei de explorar cada saliência... cada reentrância...
Gostei de fazer tudo com calma...sem nenhuma pressa...sem medo...
Gostei muito de envolver seu sexo com minha boca...
Gostei de chupá-lo como quem chupa um fruto maduro e suculento...
Gostei de amar...de gozar... de fazer gozar...de tudo gostei intensamente...!
(Ladyrj)