Há um velho ditado que diz que é melhor cortar o mal pela raiz. Digo isso porque, hoje, lembrando daquele tempo, vejo o quanto fui um tolo. Aceitei certas coisas porque estava perdidamente apaixonado pelo Lucas. Eu o desejava, e tê-lo ali, aos meus beijos, no meu abraço, era tudo o que eu queria. Queria consumi-lo por inteiro, me perder naquele mar e explorar cada pedaço dele. Essa era a minha vontade.
Mas, infelizmente, por mais que ele tenha se declarado para mim da forma mais bonita possível, começamos errado. Talvez, se eu tivesse sido mais maduro e cortado aquele mal pela raiz, poderia ter evitado muitas coisas.
Quando terminamos o beijo, Lucas inclinou-se e sussurrou no meu ouvido:
– Um dos melhores beijos que já dei na vida.
Meu coração ainda estava acelerado, e eu, sem pensar muito, respondi:
– Digo o mesmo.
Por um breve momento, senti que o mundo poderia parar ali. Mas as palavras que vieram a seguir foram como um tiro no meu peito:
– Mas, infelizmente, eu não estou pronto, Rafinha. Não posso simplesmente segurar a sua mão e sair de mãos dadas aqui do quarto. Estou de rolo com a Sandy, e ela está me esperando.
O impacto daquelas palavras foi imediato. Meu peito apertou, como se o ar tivesse sido arrancado. Eu sabia que me envolver com o Lucas seria complicado, mas não estava preparado para essa realidade. Não soube o que fazer, muito menos o que dizer.
Ele olhou para mim, com um misto de culpa e desejo, e completou:
– Não posso deixá-la na mão, por mais que eu queira estar aqui com você. Só peço que tenha um pouco de paciência.
Ele me puxou para um beijo rápido e saiu do quarto. Fiquei ali, completamente perdido, tentando processar tudo o que tinha acontecido: o beijo, a declaração e, agora, o fato de que ele estava com a Sandy. De repente, pensei: será que tudo isso é um karma pelas coisas que fiz com o Bernardo? Seria algum tipo de castigo divino? Eu estava pagando pelos meus pecados? Essas perguntas martelavam na minha cabeça, mas logo decidi que não adiantava me prender a elas. Estávamos em um feriadão com os amigos, e eu precisava tentar relevar esses pensamentos. Afinal, tudo tinha acontecido rápido demais.
Fui até o banheiro, lavei o rosto e voltei para a área de lazer. Juntei-me a um grupo de amigos que estavam conversando, entre eles JP, que logo percebeu que eu estava estranho. Olhei em direção à piscina e vi Lucas e Sandy. Eles estavam aos beijos, em uma pegação intensa, e aquilo parecia um espetáculo montado por ele. Lucas gostava de se exibir, de ser o centro das atenções, de provocar desejo. Não era à toa que, na roda onde eu estava, o assunto era ele.
– Nossa, olha lá o Lucas. Como é gostoso. Sortuda essa Sandy – comentou Marcella, uma colega da sala.
– Nem fala. Acho que ele faz de propósito, usando essas sungas só para a gente reparar – disse Paulo, outro colega.
– Não vejo graça nele – falei, tentando desviar o assunto.
– Você só fala isso porque ele é seu amigo, seu best. Se não fosse, aposto que estaria caidinho por ele – provocou JP, com um sorriso de canto.
– Exatamente. Só vejo ele como amigo.
– Meu Deus, olha aquele beijo! Como eu queria me meter ali. Até a Sandy eu toparia beijar – continuou Marcella, rindo.
Os comentários me incomodavam e despertavam um ciúme que eu tentava disfarçar. Mas não era fácil. Eu podia sentir os olhares atentos de JP, como se ele estivesse percebendo a minha inquietação. Ele era perspicaz, sempre notando os detalhes. Além disso, Lucas, vez ou outra, lançava olhares rápidos na minha direção, mesmo enquanto estava com Sandy. E JP, com aquele jeito observador, parecia captar esses momentos tanto quanto eu.
A noite seguiu, e eu evitei beber para não dar vexame. Lucas, Sandy e outros amigos se juntaram ao nosso grupo. Os olhares entre mim e Lucas se intensificaram, cada vez mais carregados de tensão. Depois de um tempo, decidi dizer que iria para o quarto. JP se ofereceu para ir também, mas foi Paulo quem soltou uma piada que fez Lucas me lançar um olhar cheio de raiva.
– Eita, os dois vão aproveitar a noite, melhor que a gente – disse Paulo, com um tom malicioso.
– Vamos sim – respondeu JP, entrando na brincadeira.
Lucas me olhou sério, como se fosse capaz de atravessar minha alma.
– Deixa de falar besteira, JP – falei, tentando contornar a situação.
Fomos para o quarto. Assim que entramos, JP me abraçou por trás e começou a beijar meu pescoço.
– Jota, hoje não. Não tô com cabeça pra isso – disse, afastando-o suavemente.
– Você recusando meus beijos? Posso saber o que está acontecendo?
– Sei lá, só tô cansado.
– Cansado ou apaixonado? – Toc, toc
Antes que eu pudesse responder, ouvimos uma batida na porta. Ao abrir, era Lucas.
– Atrapalho? Me empresta a chave do seu carro, quero pegar uma coisa que deixei lá – disse ele, com os olhos indo de mim para JP.
Eu sabia que era mentira. Ele só queria se certificar do que estava acontecendo.
– Vou com você – respondi.
Peguei a chave e saí em direção ao carro. Quando chegamos, Lucas olhou ao redor e, sem hesitar, disse:
– Entra no carro.
Obedeci. Assim que me sentei, ele fechou a porta e me puxou para um beijo intenso.
– Você mal me dispensou e já vai dormir com o JP? – perguntou ele, com o tom cheio de provocação e ciúme.
– Você mal me beijou e já foi ficar com a Sandy?
– É diferente.
– O que é diferente, Lucas?
– Ela é mulher. JP é homem.
– Lucas, entenda uma coisa: eu gosto de você. Mas as chances de isso dar certo são mínimas.
– Rafa, tudo que eu mais quero é você – ele disse, me puxando novamente para um beijo. – Por favor, não fica com o JP ou qualquer outro cara, pelo menos não aqui, comigo. Eu tô com a Sandy, mas só penso em você. Não posso largar ela agora, não aqui, mas quando esse feriado passar, a gente conversa. Só não fica com ninguém. Eu não vou suportar.
Eu respirei fundo, tentando absorver tudo aquilo.
– Tudo bem, Lucas. Eu não ia ficar. JP me abraçou, mas eu disse que não estava com cabeça pra isso.
– Bom garoto – disse ele, com um sorriso breve. – Vem cá.
Ele me abraçou novamente, e nos beijamos. Os beijos foram rápidos, intensos, mas discretos, porque não podíamos dar bandeira. Antes de sairmos do carro, ele fez um pedido.
– Acorda cedo amanhã. Vamos na praia, só eu e você.
Quando voltei ao quarto, ainda estava com a cabeça a mil. JP estava deitado, mas logo disparou:
– E aí, o Lucas achou o que estava procurando?
– Sim, sim. Achou.
– Rafa, me fala a verdade. Você e o Lucas estão se pegando, né?
– Claro que não. Deixa de viagem, Jota.
– Rafa, eu te conheço. Não é de hoje. Tenho certeza que vocês estão se pegando. Ele teve uma crise de ciúmes por causa da brincadeira do Paulo e veio aqui só pra checar.
Suspirei, cansado de esconder.
– Quer saber, JP? Vou te contar tudo.
E contei. Desde quando me apaixonei pelo Lucas, nossas conversas, minhas confusões, a declaração e o beijo. Falar tudo isso em voz alta foi como tirar um peso enorme das costas. Era um alívio finalmente compartilhar aquele segredo com alguém em quem eu confiava, era completamente diferente do que eu falava nas sessões de terapia.
JP me abraçou forte, e sua voz era cheia de compreensão.
– Rafa, você sabe que pode contar sempre comigo, né? Não devia ter guardado isso por tanto tempo.
Conversamos por mais um tempo, e o assunto acabou recaindo sobre Bernardo. Eu confessei que estava gostando do Lucas, mesmo ainda estando com Bernardo. JP me olhou sério, de um jeito que parecia me atravessar.
– O Bernardo não merece isso, Rafa.
Foi então que ele me contou que conversava frequentemente com Bernardo. A verdade é que havia uma proximidade entre eles. Além das vezes em que ficamos nós três, havia momentos em que JP e Bernardo ficaram sozinhos. Naquele instante, me ocorreu que poderia haver algo entre eles, talvez até um romance no futuro. Por mais que um pouco de ciúmes tenha me incomodado, fiquei feliz em imaginar que, se isso acontecesse, um faria o outro feliz.
Na manhã seguinte, acordei cedo. Algumas pessoas já estavam espalhadas pela sala. Dei bom dia a todos, e foi então que vi Lucas, já de pé, com energia de sobra.
– Bom dia, dorminhoco. Simbora fazer um cardio na praia? – disse ele, com um sorriso desafiador.
– Ainda tá cedo, Lucas. Deixa eu despertar mais um pouco – retruquei, tentando me fazer de difícil por causa das pessoas ao redor.
– Nada disso. Bora logo.
– Tá bom, tá bom.
Fui até o quarto para pegar a chave do carro. Tinha em mente irmos para uma parte mais isolada da praia, e meu carro 4x4 seria ideal para isso. Quando entramos no carro, Lucas não perdeu tempo. Ele me puxou para um beijo intenso e cheio de desejo.
– Cara, não vejo a hora de matar toda essa sede que eu tô por você – ele sussurrou.
– Eu também quero o mesmo – respondi, quase sem fôlego.
Dirigimos até uma praia afastada, um lugar que só era acessível de carro. Assim que estacionei, saímos e ficamos lado a lado, olhando para o mar. O som das ondas parecia amplificar o momento. Lucas olhou ao redor, certificando-se de que estávamos sozinhos.
Então, ele me puxou para um beijo. Dessa vez, era diferente. Um beijo calmo, mas carregado de intensidade. Estávamos sem camisa, e eu sentia o calor do seu corpo contra o meu. Suas mãos percorriam meu corpo com segurança, como se conhecessem cada centímetro dele. Fiz o mesmo, explorando o dele com o mesmo desejo e urgência.
Ficamos ali, envolvidos um no outro, sem nos preocupar com o tempo. Era como se o mundo tivesse parado. A sede que tínhamos um pelo outro era insaciável, e aquilo era só o começo.
Lucas me puxou para mais perto, nossas respirações se misturando enquanto o som das ondas nos cercava. Seu olhar me prendia como se nada mais existisse. Ele passou os dedos pelo meu rosto, descendo pela minha nuca, e sussurrou próximo ao meu ouvido:
– Eu sei que você me deseja, Rafa. Sei que quer que a gente vá além...
Meu coração acelerou, e antes que eu pudesse responder, ele continuou, sua voz baixa e rouca:
– Mas eu quero mais do que isso. Quero que a gente faça amor de verdade, com calma, sem pressa. Quero te ter por inteiro, do jeito que você merece.
Eu fechei os olhos, sentindo a intensidade de suas palavras e o calor do seu toque. Ele beijou meu pescoço devagar, subindo até minha orelha, onde sussurrou:
– Promete pra mim que a gente vai esperar o momento certo?
Abri os olhos e o encarei, vendo em seus olhos algo que ia além do desejo: era cuidado, era amor.
– Eu prometo, Lucas – respondi, minha voz tremendo pela emoção. – Eu só quero você, seja como for, no tempo que for.
Ele sorriu, aquele sorriso que sempre desmontava qualquer defesa minha, e me beijou novamente, agora de um jeito doce e tranquilo. Suas mãos continuavam explorando meu corpo, e puxava meu corpo pra sentir seu pau duro, e ficava sarrando o pau dele com o meu enquanto me beijava e passava a mão pela minha bunda.
Nos abraçamos, nossos corpos colados, e ficamos assim por alguns minutos, em silêncio, apenas sentindo a excitação um do outro.
Nos beijamos mais uma vez, um beijo cheio de promessas, como se o futuro estivesse ali, ao nosso alcance. O mar continuava batendo ao fundo, mas agora era apenas um detalhe. Tudo o que importava éramos nós dois, naquele momento.
— Se eu pudesse, passaria o dia inteiro aqui com você, mas acho que está na hora de voltarmos. Prometo que, em breve, teremos todo o tempo do mundo — disse Lucas, enquanto me puxava para mais um beijo.
— Não sei se vou aguentar passar o dia vendo você e Sandy se pegarem — confessei, com uma pitada de ciúme que tentei disfarçar.
— Prometo que não vou ficar com ela na sua frente, e hoje mesmo vou começar a dar um perdido nela.
— Tudo bem...
Voltamos para a casa. Quando chegamos, ninguém pareceu se importar com a nossa ausência ou com o fato de termos chegado juntos. Para todos, éramos apenas amigos inseparáveis. Nosso círculo de amigos sabia como era nossa dinâmica, então qualquer coisa fora disso passava despercebida.
Durante o resto do dia, Lucas cumpriu sua promessa. Ele evitou Sandy a todo custo, mas à noite, para minha surpresa e frustração, já estava ficando com outra menina. Senti meu estômago embrulhar. Mais tarde, ele veio me explicar que fez aquilo apenas para provocar Sandy, para que ela ficasse com raiva e ele pudesse dispensá-la de vez.
Era um jogo complicado, e eu sabia que não estava preparado para todas as implicações do nosso romance. Eu queria Lucas, mas, ao mesmo tempo, não tinha certeza de nada. Será que estávamos prontos para encarar o que viria? Ou melhor, será que ele estava? As dúvidas me consumiam, e parecia que, quanto mais nos aproximávamos, mais perdido eu ficava.
No domingo, voltamos para a capital. Apesar dos altos e baixos, o fim de semana tinha sido incrível. Passei momentos maravilhosos com meus amigos, algo que, com a rotina intensa da faculdade, estava aprendendo a valorizar mais a cada dia. Aos poucos, fui perdendo o interesse em festinhas aleatórias e na ideia de transar com vários caras. Só queria Lucas. Pensava nele o tempo todo e sentia que ninguém mais conseguia me atrair da mesma forma.
Lucas voltou comigo no carro. Estávamos eu, ele, JP e duas amigas. Deixei todos em suas casas, e quando ficamos a sós, Lucas me puxou para um beijo inesperado, daqueles que parecem derreter todas as inseguranças.
— Vamos para o seu apartamento? — ele pediu, com um sorriso malicioso.
Fui em direção ao meu prédio. No caminho, a cada semáforo, ele me beijava e alisava minha perna de um jeito que me fazia querer esquecer de tudo e de todos.
— A partir de agora, as coisas vão mudar — disse ele, com uma convicção que me desarmou. — Vamos tomar um banho, jantar e, finalmente, conversar. Vamos colocar todos os pingos nos "is".
Chegamos ao meu prédio. Abri a porta e Lucas veio logo atrás de mim, mas ao entrar no apartamento, uma visão inesperada me paralisou. Bernardo saiu do meu quarto com um sorriso largo e exclamou:
— SURPRESA!
O choque tomou conta do ambiente. Eu e Lucas nos entreolhamos, sem saber o que fazer ou dizer. Já fazia um mês e 15 dias que Bernardo havia ido para São Paulo fazer o curso. Nunca imaginei que ele estaria ali, justo no momento em que eu estava prestes a resolver minha vida com Lucas.
Bernardo se aproximou e, antes que eu pudesse reagir, me beijou. Senti a tensão no ar enquanto tentava corresponder ao beijo, mas meu corpo estava rígido, completamente desconfortável.
Lucas, com a expressão fechada, deu um passo para trás e disse:
— Acho que não vou atrapalhar os pombinhos. Melhor eu ir. Me dá a chave do teu carro, que amanhã eu trago.
Não consegui responder. Apenas entreguei a chave, como se estivesse em piloto automático. Lucas saiu sem olhar para trás, deixando um vazio no apartamento e em mim.
Fiquei parado, encarando Bernardo, enquanto minha mente girava em um turbilhão de emoções. Como tudo na minha vida podia ser tão complicado? Quando finalmente parecia que eu estava prestes a encontrar um caminho claro com Lucas, Bernardo reapareceu, como um furacão, bagunçando tudo de novo, por mais que a gente tenha acabado antes dele viajar, eu não sabia qual era o motivo daquela visita, e daquele beijo.
Seria essa a minha sina? Uma montanha-russa emocional sem fim?