Contratados: A Rendição - Capítulo 05

Um conto erótico de KaMander
Categoria: Gay
Contém 6406 palavras
Data: 06/05/2023 02:00:49
Assuntos: Gay, Homossexual, Filha

CAPÍTULO 05

*** MARCOS VALENTE ***

O homem à minha frente fala sem parar, no entanto, cada palavra sua entra por um dos meus ouvidos e, quase imediatamente, sai pelo outro. Zero é, provavelmente, alguns níveis acima do meu estado de concentração hoje. Me descobri completamente incapaz de manter o foco em qualquer coisa, apenas por saber que, enquanto estou aqui, Anthony está se mudando para o meu apartamento.

E por que isso importa ao ponto de eu não ser capaz de fazer meu próprio trabalho? Não faço ideia. É a primeira vez desde que saí da casa dos meus pais, mais de dez anos atrás, que vou morar sob o mesmo teto que outra pessoa. E sinceramente, não sei o que esperar. Logicamente, não é como se fôssemos estar confinados em um apartamento de quarenta metros quadrados, há espaço o suficiente na cobertura para que Anthony, Isabella e eu nem mesmo nos vejamos pelos próximos dois anos, se assim quisermos.

Isabella.

Uma criança. Como isso vai funcionar? Não faço ideia. Realmente, não faço. Mas gostaria. Brinquedos espalhados? Choro constante? Minha televisão vai ser dominada por desenhos de cães e porcos falantes? Porra...

— Marcos, você está me ouvindo? — Marcelo passa a mão na frente do meu rosto para chamar minha atenção.

— Não, Marcelo, me desculpa, mas eu realmente não ouvi nada...

— É, eu percebi. Você está bem, cara? — abro a boca para responder, mas, de repente, me dou conta de que não me fiz essa pergunta.

Quer dizer, eu estou bem? Eu não deveria estar bem, deveria? Afinal, tem um cara e uma criança se mudando para o meu apartamento nesse exato instante. Meu apartamento. Minha fortaleza da solidão. Meu santuário másculo.

Eu não deveria estar bem, então, por que raios me sinto tão fodidamente bem? Como se isso fosse natural? Como se nada de extraordinário estivesse acontecendo, quando, na verdade, meu mundo está sendo virado de cabeça para baixo com a minha permissão?

— Marcelo, eu acho que vou encerrar o dia por hoje. Nós podemos remarcar essa reunião pra amanhã?

— Claro, claro que sim! — responde já se levantando da cadeira diante de mim e abotoando o paletó. — Nós só precisamos resolver isso antes da festa, tudo bem?

— Festa?

— O baile de arrecadação, Marcos... — Franze o cenho, confuso com a minha confusão: — Eu achei que você iria... Sábado... Em menos de duas semanas, Marcos?

— Puta que pariu, o baile... — Esfrego a mão pelo rosto. Eu tinha me esquecido completamente depois de todo o drama da última quinta-feira. — Tudo bem, Marcelo, nós resolvemos tudo amanhã sem falta. E, sim, sábado eu estarei lá.

**************

A primeira coisa a me atingir quando as portas do elevador se abrem, é a gargalhada infantil. É doce, gostosa e antes que eu possa me dar conta, estou rindo também. Depois, o cheiro de biscoitos. O mesmo que o apartamento de Anthony tinha, agora está por todo o meu hall de entrada e, eu imagino, dentro da cobertura.

Sigo o som, é um sentimento estranho o que me domina. Definitivamente, não sinto que estão invadindo meu espaço, na verdade, sinto-me repentinamente nervoso com o encontro que me aguarda. É a primeira vez que vou encontrar Isabella acordada.

— Assim! Faça as bolinhas e depois amasse! — a voz de Anthony soa cada vez mais próxima conforme avanço pelo corredor. Deixo minha pasta sobre o aparador logo na entrada da casa e tiro os sapatos. Da sala consigo vê-los, mas eles, de costas para mim e sentados diante do balcão, ainda não se deram conta da minha presença.

E, no instante em que meus olhos alcançam as coxas nuas de Anthony, puta que pariu!

Engasgo com minha própria saliva à medida que meus olhos sobem pelo corpo, exibindo quadris largos, uma cintura nem muito fina, nem larga.

Esposo bebê, Marcos! Esposo bebê! Pode tirar o cavalinho da chuva!

Brigo comigo mesmo, expulsando da minha mente as imagens nada apropriadas que a tomaram. Puta que pariu!

Vai ser essa a minha vida pelos próximos dois anos? Viver expulsando pensamentos inapropriados da minha cabeça com o meu próprio marido? Porra! Se existe um deus que pune homens filhos da puta, ele, com certeza, concluiu que já tinha passado da hora de me punir, mas que porra!

O som surpreso que escapou da minha garganta atrai a atenção de Isabella, que se vira, encontrando-me. A menina é pequena, tem pele clara, cabelos loiros escuros, um pouco mais claros que os da mãe, mas mais escuros que os meus, e olhos castanhos cor de mel. Ela inclina a cabeça, me estudando. Anthony, distraído em modelar biscoitos, só se vira também quando Isabella fala.

— Você é o Marcos? — pergunta e é a minha vez de estudá-la.

— Sim, eu sou.

— O marido da papai? — pergunta também. Anthony e eu combinamos de dar nomes a ela, afinal, crianças são imprevisíveis e tudo de que não precisamos é que Isabella solte, sem querer, que sua mãe e eu somos apenas amigos, por exemplo.

— Isso mesmo. — concordo, sorrindo. Isso aí, Marcos. É só uma criança acordada, não é nenhum bicho de sete cabeças. Você é um advogado, porra! Lida com criminosos de colarinho branco todos os dias, consegue lidar com uma criança…

— E você vai ser meu outro papai? — Isabella dispara a pergunta e eu respiro completamente errado, mandando a saliva para onde não devia, perdendo o ar e tossindo desesperadamente.

— Isabella! — Anthony briga antes de descer da banqueta em que estava sentado e vir em meu socorro. Ele bate em minhas costas, sem se importar com as mãos sujas e engorduradas pela massa de biscoitos. E eu não sei se agradeço pela ajuda, ou se me lamento pela morte precoce de um terno Tom Ford. Caralho!

— Eu vou pegar uma água pra você! — Anthony avisa antes de correr na direção da geladeira. Me apoio com os braços esticados e as mãos segurando as bordas da ilha da cozinha, abaixo a cabeça e me esforço para retomar o controle sobre a minha própria respiração. Puxo uma, duas, três, doze vezes antes de me sentir minimamente capaz de respirar sem morrer afogado.

— Aqui. — me entende um copo com água e eu aceito. Meus olhos ardem e enquanto engulo pequenos goles, sinto lágrimas de agonia escorrerem pelos cantos dos meus olhos.

— Me desculpe... — ele pede, parecendo muito constrangido. Suas bochechas estão vermelhas e seu peito sobe e desce, acelerado pela movimentação súbita em me socorrer e pegar o copo d’água rapidamente.

— Está tudo bem... —forço as palavras pela gconstrangide não teve culpa, afinal de contas. Nem a criança teve, não importa o quão fodido tenha sido esse momento. A parte boa é que esse é o pior que poderia ter acontecido. Então, daqui para frente, as coisas tendem, apenas, a melhorar.

Anthony passa por mim, indo na direção de Isabella, que continua no mesmo lugar, sentada sobre a banqueta, atrás de mim.

— Isabella! O que o papai falou? Que não era pra fazer esse tipo de pergunta!

— Mas papai, eu quero saber se vou ter irmãozinhos! — a menina diz e dessa vez, é com a água que eu tinha na boca que eu me engasgo. Puta que me pariu! Quem foi que disse que não dava para piorar mesmo, hein?

— Ok, Bella! Por hoje chega! Vamos lavar as mãos e ver o filme da princesa e do dragão? — Anthony soa desesperado e eu quase agradeço por não ser o único a me sentir assim.

— Mas e os biscoitos, papai?

— A gente termina os biscoitos mais tarde, Bella! Agora, vamos ver o filme que você gosta na televisão grande, pode ser? — Anthony pergunta, claramente comprando a criança com o tamanho da tela da televisão.

— Pode! — responde e, instantes depois, ele passa por mim com a menina agarrada ao seu corpo, como um pequeno macaquinho.

— Tchau, Marcos... — diz sorridente, acenando para mim, ainda com as mãos completamente lambuzadas de massa de biscoito.

— Tchau, Isabella...

************

— Foi um primeiro encontro interessante... — digo ao chegar à cozinha horas mais tarde e encontrar Anthony. Sim, eu me escondi no meu próprio quarto por horas e, não, eu não me orgulho disso. Mas eu precisava de um tempo antes da chance de qualquer outra pergunta embaraçosa ser feita a mim.

Anthony desvia os olhos de sua tarefa, arregalando-os ao me encontrar. Els tem uma série de embalagens e latas dispostas sobre o balcão e olha para elas como se estivesse tentando montar um quebra-cabeças. Agora, é direcionado a mim esse olhar e eu franzo o cenho, sem entender o porquê, até me dar conta de que estou sem camisa e vestindo apenas um short de dormir.

— Porra... — digo fechando os olhos e passando a mão pelo rosto. Eu não tinha pensado nisso. Quando volto a concentrar minha atenção em Anthony, ele abre e fecha a boca duas vezes antes de realmente dizer alguma coisa.

— Me desculpe por hoje mais cedo... — pede, escolhendo ignorar o assunto da minha seminudez, mas seus olhos vagam sem destino, movimentando-se em todas as direções e jamais se fixando em nenhuma. — Ela me fez aquelas mesmas perguntas quando conversei com ela e eu a enrolei, achei que ela esqueceria. Claramente, eu estava enganado, porém, não vai se repetir, eu prometo... — garante, com as bochechas levemente avermelhadas.

— Está tudo bem. Ela é só uma criança... — o acalmo, apesar de calma ter sido tudo o que não senti naqueles momentos. Ele balança a cabeça, concordando, — Por que você está olhando para essas latas e embalagens como se fosse um jogo de tetris? — Abro a geladeira e retiro de lá uma garrafa de água. Vou na direção em que Anthony está para pegar um copo e percebo que o armário da ilha da cozinha está completamente vazio e aquilo que eu via era apenas parte de um caos muito maior.

— Você sabe que a Carmem não vai ficar nada feliz com isso, não sabe? — questiono, realmente preocupado que minha governanta assassine meu noivo antes que eu possa me casar com ele, apenas por ele ter tocado na organização de sua cozinha.

Noivo. Tenho vontade de testar a palavra em voz alta, mas não o faço. Anthony ri baixinho.

— Eu pedi permissão à excelentíssima senhora toda poderosa dessa cozinha.

— O que você está fazendo? São... — Olho para o relógio em meu pulso — onze e meia da noite... — Pego o copo e encho-o até a metade antes de devolver a garrafa à geladeira.

— Isabella dormiu há pouco tempo. O sono dela está um pouco bagunçado pelos remédios e pela mudança de rotina também. Estou tentando encontrar um jeito de guardar o leite e as farinhas da Bella de maneira que elas não fiquem muito à vista, mas que fiquem fáceis de pegar.

— Mas por que elas não podem ficar à vista? — questiono, franzindo minhas sobrancelhas e bebendo alguns goles de minha água.

— Bem, eu imagino que você não vá querer abrir o armário pra pegar seu Whey protein, ou qualquer outra coisa, e dar de cara com um mucilon...

Não consigo evitar. Gargalho.

— O que te faz pensar que eu tomo Whey protein, Anthony? — nenhuma palavra deixa sua boca, mas seus olhos passeiam pelo meu tronco nu e els engole em seco.

Timidamente, sua língua molha os lábios e eu, completamente pego de surpresa, sinto um espasmo entre as pernas ao reconhecer nos olhos dele algo que um esposo bebê não deveria sentir, desejo. Estreito meus olhos, mas ele quebra nosso contato visual, provavelmente, envergonhado, como sempre.

Pigarreio, limpando a garganta e reorganizando meus pensamentos.

— Semana que vem, no sábado, nós temos um evento pra ir... — mudo de assunto, é o melhor para nós dois.

— Que tipo de evento? — Mantém a cabeça baixa, completamente concentrado nos mantimentos que, magicamente, parecem ter encontrado uma ordem ideal, pois ele os devolve ao armário como se soubesse, há muito tempo, o lugar onde os colocaria.

— Um baile de gala... — Isso ganha sua atenção e ele levanta a cabeça, com os olhos arregalados.

— O quê? Mas isso é em menos de quinze dias! — protesta.

— Eu sei, você deve precisar de ajuda pra encontrar o que vestir, na verdade, você precisa fazer compras... — comento e só me dou conta de como isso deve ter soado quando já é tarde demais. Ele abaixa a cabeça, outra vez concentrando-se nas embalagens.

— Anthony...

— Está tudo bem, Marcos. Eu sei que as minhas roupas não são adequadas pros ambientes que você circula... — reconhece e eu respiro com alívio. Eu realmente não preciso de mais drama hoje. — Mas eu não quero a ajuda de ninguém, quero escolher minhas próprias roupas, se estiver tudo bem pra você...

— E as da Isabella...

— O quê?

— Ela também vai precisar de um novo guarda-roupa. É bastante coisa, tem certeza de que não vai precisar de ajuda?

— Tenho, está tudo bem. Amanhã mesmo eu posso começar essa missão... — ri para si mesmo, antes de balançar a cabeça para um lado e para o outro, negando.

— Tudo bem, você recebeu seus cartões?

— Carmem me entregou... — pausa por alguns segundos, olha concentrado para dentro do armário, apoia o dedo indicador sobre os lábios, chamando minha atenção para eles. — Bella também vai ao baile? — Penso por um instante.

— Você gostaria de levá-la?

— Sim, mas..., a que horas começa?

— As nove da noite...

— Eu não acho que seja uma boa ideia...

— Tudo bem, podemos pedir a Carmem que fique com ela. Mas, talvez, você deva começar a procurar por uma babá... — aviso.

— Uma babá?

— Sim, nós teremos muitos eventos pela frente e por mais que eu não tenha dúvidas de que Carmem vai adorar ter uma criança por perto, ela já não é mais tão jovem... — Anthony parece ponderar por uns instantes, antes de balançar a cabeça, concordando.

— Tudo bem, eu vou pedir a ela que me ajude a encontrar alguém de confiança, mas pode demorar... — responde, ainda concentrada na organização.

— Você tem até o nosso casamento...

— Até o casamento? — Franze as sobrancelhas, mais ainda não me olha.

— Sim, até a nossa lua de mel... — Isso finalmente traz seus olhos aos meus e eu tenho vontade de rir, porque eles estão do tamanho de pratos. — Pra todos os efeitos, nós somos um casal apaixonado, Anthony, uma lua de mel é esperada... — Seus dentes afundam no lábio inferior e ela pisca, freneticamente.

— Por quanto tempo?

— Como Isabella ainda é muito pequena, acho que uma semana é aceitável...

— Tudo isso? — arfa, parecendo genuinamente preocupado.

— Vocês nunca se afastaram por tanto tempo?

— Nós nunca nos afastamos, nunca... — a última palavra sai num sussurro e, imediatamente, tenho vontade de cancelar os planos. Franzo o cenho pelo impulso repentino, não entendo sua origem ou motivação. E, ao invés de segui-lo, faço exatamente o contrário.

— Vai ficar tudo bem, serão poucos dias... — Ele me olha, ainda parecendo perdido, e o impulso de dizer que não se preocupe, se torna ainda mais forte. Fugindo dele e do olhar de Anthony, viro o restante da água em meu copo garganta abaixo, deixo-o na pia e me despeço. — Boa noite, Anthony...

— Boa noite, Marcos...

A meio caminho para fora da cozinha, me lembro de que algo importante não foi esclarecido:

— E, Anthony... — chamo por cima do ombro. Els levanta cabeça, seus olhos encarando os meus: — Eu realmente não me importo em ver mucilons! — Pisco antes de lhe dar as costas e voltar para o meu quarto.

******************

*** ANTHONY RODRIGUES ***

— É um belo quarto... — Grazi comenta enquanto lhe dou um tour pela videochamada. Sim, é... É um belíssimo quarto.

A decoração em cores claras é genérica e sem personalidade, afinal, tratava-se de um quarto de hóspedes, mas, ainda assim, é muito bonita. A cama é imensa e tem a cabeceira estofada até o teto, um tapete felpudo ocupa quase todo o chão, os móveis ao redor são belíssimos e a melhor parte do ambiente é a parede lateral, toda em vidro, escondida por cortinas brancas.

Mas, o que me conquistou e me fez escolher essa como minha, entre as quatro suítes disponíveis na cobertura, foi um pequeno cantinho de leitura na decoração. O lugar perfeito para Bella adormecer em meus braços. Mesmo que ela realmente os tenha dispensado esta noite, animada demais em ter o próprio espaço pela primeira vez desde sempre. Mesmo durante os três anos que moramos com Grazi, ela dormia comigo, primeiro, porque era muito pequena e isso tornava as coisas mais fáceis.

Depois, porque eu já estava acostumadO e imaginei que ela também, portanto, não fazia sentido mudar. Aparentemente, eu imaginei errado, afinal, Isabella nunca esteve tão ansiosa para dormir quanto hoje. Dispensando até mesmo a televisão gigante, outra coisa que a deixou muitíssimo empolgada sobre sua nova casa “grandona”, como ela apelidou a cobertura.

Há alguns momentos na vida que se gravam em nossa mente à ferro quente. Não importa quanto tempo passe, eles sempre estarão lá. Nem todos são bons. Na minha, há um pouco de cada. Hoje, sem dúvida alguma, a reação de Isabella ao chegarmos aqui, sua felicidade ao me mostrar o quarto que havia escolhido e tudo mais na liberdade que ela sentiu em ter tanto espaço à sua disposição, certamente, são alguns desses momentos inesquecíveis. E, mesmo que Marcos não estivesse tendo atitudes completamente inesperadas, só por esses momentos, eu já lhe seria grato.

— Como tem sido a experiência de morar com Marcos babaca?

— Não sei se posso chamar de experiência. Só faz um dia e ele passou praticamente o dia todo fora, ou trancado no quarto, depois que Bella perguntou se ele seria seu papai.... — A lembrança me faz rir e Grazi gargalha alto.

— Quê?

— Oh, Grazi! Você precisava ter visto a cara dele! O homem ficou branco igual papel e se engasgou com a própria saliva! Um desastre! — acabo gargalhando, sem poder me conter também. — Ele chegou quando Bella e eu estávamos fazendo biscoitos. Bella o viu primeiro e perguntou se era ele o Marcos, o marido da papai, ele confirmou e então, ela solta essa pérola, “e você vai ser meu papai?” Eu juro que se o homem não tivesse quase morrido sufocado, eu teria morrido de rir na hora! Deus, cheguei a sentir minhas bochechas quentes de tanto que precisei me esforçar pra não cair na gargalhada!

— Minha afilhada é perfeita!

— Sim, ela é! — concordo, sorrindo ao olhar para a babá eletrônica resgatada do tempo em que morávamos em um apartamento maior do que uma caixa de fósforos.

— Limpa, Thony... — Grazi chama minha atenção e, imediatamente, levo o polegar ao canto da boca, apesar de não fazer ideia do que ela está falando.

— Limpar o que, Grazi? — questiono, ao não encontrar nenhum vestígio de nada em minha pele.

— A baba que está escorrendo pelo canto da sua boca!

— Ah, vá à merda, Graziella!

— Tudo bem, tudo bem. Você tem o direito de babar! Ela é a criança mais incrível que existe... — diz, com cara de boba.

— Depois sou eu quem precisa limpar a boca babada... — resmungo e Grazi ri.

— Mas fora isso, como tem sido as coisas? Desculpe por ter furado, realmente não consegui sair do Rio esse fim de semana...

Mas no próximo eu estarei aí sem dúvida alguma!

— Está tudo bem, você não perdeu nada além de caixas e mais caixas pra encher, lacrar e empilhar... E sobre as coisas, estão estranhas, sabe? Eu não esperava que Marcos babaca fosse tão... — faço uma pausa, procurando a palavra certa — decente... Sim... Acho que é isso. E o fundo pra Bella... Eu achei que ele surtaria quando descobrisse que eu tenho uma filha, não que, de alguma forma, acharia justo se responsabilizar pelos transtornos que o fim do nosso acordo causará a ela. Foi estranho... — Ainda hoje pela manhã, enviei fotos para Grazi do contrato que assinei, então ela está ciente de tudo.

— Até eu preciso admitir que isso, talvez, tenha deixado o último “a” de “babaca” acinzentado... — rio.

— Não sei, tenho a impressão de que, muito em breve, Marcos fará uma explosão de cores chover sobre essa palavra.

— Ele vai, não vai?

— Provavelmente...

— É bom que você esteja blindado, então... — celebra e eu sorrio fraco. Quer dizer, não é como se eu tivesse qualquer sentimento além de diversão e senso de oportunismo com relação à Marcos babaca, mas se há algo que já ficou claro para mim, é que meu corpo não tem a mesma opinião.

Basta pensar nisso para que a imagem de seu torso nu encha meus pensamentos. Deus! O homem é bonito, gostoso e, aparentemente, tem o hábito de andar seminu pela casa.

Mas é claro que tem! É a casa dele, Anthony, onde, até cinco minutos atrás, ele morava completamente sozinho!

— Anthony!

— Oi! — respondo, assustado pelo grito de Grazi, virando o rosto em diferentes direções, antes de realmente voltar a me concentrar na tela do celular em minhas mãos.

— Você ouviu alguma coisa do que eu disse?

— Eh... não... — admito, sentando-me na cama, e ela torce os lábios.

— Onde sua cabecinha estava?

— Na faculdade... — minto.

— Verdade! O que você vai fazer agora? Você não precisa mais estudar à noite...

— Não, não preciso, mas ainda não tenho onde deixar a Bella e não seria justo pedir à Carmem que a olhasse todos os dias por tantas horas. Marcos sugeriu que eu encontre uma babá. Mas, sinceramente, não faço ideia de por onde começar, onde encontrar alguém de confiança?

— Espera, uma coisa de cada vez! Como a Carmem reagiu? Quer dizer, num dia você era subordinado dela, no outro, o chefe...

— Eu não sou chefe de ninguém, Grazi! Não surta!

— Claro que é! Pelos próximos dois anos, você é o dono dessa casa, amigo! Não importa se o casamento é com separação total de bens, se você mora aí, a casa é sua!

— Isso não importa e a Carmem reagiu naturalmente, como se isso acontecesse todos os dias, o que é muito estranho se eu parar pra pensar. Mas ela conhece o Marcos desde que ele era criança, acho que foi babá dele. E, mais de uma vez, me disse que mal podia esperar que ele finalmente tomasse jeito na vida. Eu tenho quase certeza de que ela sabe que tudo isso é uma farsa, mas acho que ela tem esperanças de que se torne algum tipo de história de cinderela... — rio. — Ela, provavelmente, está esperando que abóboras se tornem carruagens pro baile...

— Que baile?

— O que aconteceu com uma coisa de cada vez, Grazi?

— A culpa é sua, que fica soltando todos os assuntos interessantes de uma vez! — acusa e eu rio. — Vou te ajudar com a procura por uma babá! Agora me fala da faculdade pra gente poder conversar sobre o baile!

— Acho que vou trancar por esse semestre. Vou demorar até confiar em deixar alguém sozinha com a Bella, não posso colocar mais essa função nos ombros da Carmem, seria o mesmo que pedir a ela que tomasse conta de Isabella e não faz sentido colocá-la numa creche se eu posso estar em casa. No próximo semestre eu volto.

— Eu sinto muito... — diz, sabendo o quanto a faculdade é importante para mim.

— Tudo bem, é uma escolha, né? E agora o mais difícil eu já tenho, dinheiro para pagar as mensalidades e tempo para estudar, o resto se ajeita!

— Isso! Pensamento positivo!

— Sempre!

— Podemos falar do baile agora? — pede, com olhinhos do gato de botas.

— Ah! — Fecho os olhos, me dando conta de que ela, provavelmente vai querer ser algo como minha fada madrinha. — Semana que vem, no sábado, aparentemente, eu tenho um baile pra ir. Marcos me avisou agora à noite. — Grazi inclina a cabeça para o lado, pensativa, e depois de alguns instantes em silêncio, seus olhos se arregalam, como se ela tivesse acabado de fazer uma grande descoberta.

— O evento beneficente da Valente & Camil?

— Não sei, ele só disse evento de gala. Mas se há um evento do escritório dele no mesmo fim de semana, eu imagino que seja para onde vamos...

Graziella dá um gritinho. Sim, um gritinho, e eu franzo o cenho, totalmente perdido em sua reação. Quer dizer, eu esperava empolgação no nível “oba! Vamos às compras!” Não no nível de gritinhos agudos e incompreensíveis.

— Eu tenho um convite! — se apressa em explicar. — Nós fomos convidados, meus pais não vão e, obviamente, eu também não tinha qualquer intenção de ir, mas agora, não perco por nada! Quero ser sua fada madrinha! — Não me decepciona.

— E como, exatamente, eu vou explicar pro Marcos que te conheço sem explicar todo o drama da minha vida, Grazi? — Ela apoia o queixo entre os dedos polegar e indicador, pensativa.

— Nós podemos nos conhecer no baile! Eu, com a minha personalidade incrível, vou me apaixonar pelo doce e submisso Anthony... — comenta, instantes antes de gargalhar.

— Você é terrível...

— Só eu?

— Tanto faz. Enfim, parece um bom plano. Quando você chega?

— Sexta pela manhã... — É a minha vez de franzir a testa.

— Você não trabalha na sexta? — o sorriso do gato da Alice em seu rosto me diz que Grazi está, definitivamente, tramando alguma coisa.

— Ah, sim! Eu deveria! — gargalha — Na verdade, tenho um trabalho importantíssimo e muito, muito inútil pra entregar. Meu chefe está contando comigo...

— Eu não entendi... — sua explicação não ajuda em nada minha confusão.

— Acontece que o meu querido chefe me pediu pra fazer um trabalho inútil e, mesmo depois de eu ter explicado pra ele um milhão de vezes que existe uma forma muito melhor de resolver o problema, ele insiste que o jeito dele é o que deve ser usado. Então, subitamente, eu vou adoecer na sexta-feira... e ele que lute...

— Graziella!

— O quê? Não é nada realmente importante, eu não seria irresponsável a esse ponto. É só um protótipo pra uma simulação. Ele vai sobreviver...

Balanço a cabeça, negando...

— Sério, eu realmente fico cada vez mais curioso pra saber onde essa guerra de vocês dois vai parar...

— Em lugar nenhum, Thony! Em lugar nenhum! Mais dois meses e eu estou fora do setor dele, graças a Deus! Ou eu juro que teria que gastar meu réu primário com aquele infeliz e você ainda nem pode me defender!

— Unhum... Sei... Então você vem à São Paulo por dois fins de semana seguidos?

— Vou! Nas próximas semanas eu, provavelmente, estarei por aí todos os fins de semana, caso você tenha se esquecido, nós temos um casamento pra planejar... — Suas sobrancelhas se erguem durante sua pausa dramática e eu reviro os olhos. — O seu...

— Eu não faço ideia de por onde começar... Sério...

— Então que bom que eu sim, né?! Abre o bloco de notas, pega um papel e uma caneta, sei lá, mas você precisa fazer algumas perguntas ao seu noivo...

*******

— Eu não sei, Grazi... Isso parece um pouco ousado demais pra alguém que deveria ser doce e submisso... — comento, de pé sobre o tablado no provador de uma das boutiques mais exclusivas de São Paulo. Usamos o sobrenome de Grazi para conseguir agendar um horário, já que ainda não sou oficialmente o senhor Valente e abandonei a outra chave para essa porta cinco anos atrás.

É seu terceiro e último dia na cidade antes de ela voltar para o Rio e passamos o últimos dois refazendo meu guarda-roupa e o de Bella. Enquanto hoje, minha filha chorou para não sair de casa e eu só consegui vir porque Carmem é um anjo e se ofereceu para ficar com ela, mesmo sendo domingo, Graziella parece estar na Disneylândia...

Rio com o meu próprio pensamento, mas logo em seguida franzo o cenho, ao me dar conta de uma coisa.

Agora eu posso levar Bella em uma viagem para a Disney. Ver os castelos, as princesas, esse é o tipo de coisa que a enlouqueceria...

Desvio os olhos que ardem do espelho. É estúpido, eu sei. Mas saber que vou poder dar à minha filha tudo aquilo que eu tive...

Respiro fundo, colocando minhas emoções em seus devidos lugares e, ao me concentrar outra vez no espelho, encontro o olhar interrogativo da minha amiga, focado em mim.

— Eu só estava pensando na Bella, no quanto tudo isso vai mudar a vida dela, sabe? Ela vai poder ir à Disney... — as palavras saem da minha boca e, junto com elas, aparentemente, o controle, porque uma lágrima teimosa escapa pelo canto do meu olho.

Grazi se levanta e sobe no tablado. Seus braços envolvem minha cintura e ela apoia o queixo sobre o meu ombro.

— Eu nunca vou ser capaz de perdoá-los, sabia?

— Quem? — pergunto, confusa.

— Seus pais... — sorri triste e balança a cabeça para um lado e para o outro. — Eu me perguntava se, talvez, quando eu fosse uma adulta com responsabilidades, eu os entenderia pelo menos um pouquinho... — Pelo espelho, enxergo em seus olhos tantos sentimentos, sentimentos que são meus e que, ao longo de toda essa vida que foram os últimos cinco anos, ela me permitiu dividir. Sentimentos por mim, que nem eu mesmo seria capaz de ter, mas sei que ela é, porque os tenho por ela. — Mas quanto mais eu cresço e amadureço, quanto maior é o número de responsabilidades que eu tenho, Thony, menos eu entendo e mais certa eu fico de que eu nunca, nunca mesmo, vou conseguir perdoá-los por terem feito isso com você ou com a Bella. Eles...

— Não, por favor, não... — sussurro. É um pacto antigo que temos.

Não falamos sobre como os meus pais estão, sobre o que estão fazendo. Eu sei que desde que voltou para o Rio, Grazi voltou também a conviver com eles. Mas até hoje ela vinha mantendo nosso pacto e eu não sei se suportaria quebrá-lo. Não sem me quebrar um pouco junto.

Nos primeiros dias em que fui expulso de casa, eu senti tanto medo, tanta raiva, que eu soube que aquilo poderia me destruir. Tranquei esses pensamentos e sentimentos dentro de uma caixa escura no mais íntimo de mim e eles permanecem lá desde então. Não voltei a procurar pelos meus pais, não pesquisei notícias e, se eles estivessem mortos, é provável que eu não soubesse. Ativei um bloqueio em meus aparelhos eletrônicos e nenhuma notícia sobre seu sobrenome me é mostrada há anos, não importa que notícia seja.

Todo mundo desenvolve mecanismos para lidar com a própria dor, esse foi o meu. Se eu não vejo, não penso, se eu não penso, não sinto. Funciona e eu preciso que continue assim. Porque eles eram meus pais, eles não apenas não tinham o direito de fazer o que fizeram, como tinham o dever de fazer tudo diferente. Eu tenho Bella em minha vida por apenas três anos, quase quatro, e a simples ideia de feri-la como fui ferido, me destrói.

— Me desculpa, eu só... — pede e eu deito a cabeça em seu ombro.

— Tudo bem... Acho que essa roupa está nos deixando emocionados... — brinco e ela beija minha bochecha, antes de voltar a me olhar pelo espelho com um olhar maldoso. A melancolia completamente substituída por deboche.

— E ainda nem é a de noivo...

— Ah, me poupe, Grazi! Não é como se fosse de verdade!

— Toda roupa de noivo é de verdade, não importa que o casamento não seja! E o seu será um Vera Wang...

— E eu posso saber como você vai conseguir isso em menos de um mês? — Abandono nossa troca de olhares pelo espelho, virando o rosto para encará-la. Ela se afasta alguns milímetros e pisca para mim, como se soubesse de alguma coisa que eu não sei.

— Alguma vez eu te desapontei?

— Nunca!

— Então, apenas confie e vamos cuidar de uma roupa de cada vez! — Aperta os braços ao meu redor uma última vez antes de se afastar e voltar a se sentar na chaise em que estava. — É sério! Essa é perfeita!

Expiro e reviro os olhos antes de voltar a me concentrar no meu próprio reflexo.

— Eu sei que é perfeito, só acho que não é modesto como deveria...

— E qual seria a graça de uma roupa dessa, Thony?

— Não importa se teria graça ou não, Grazi. Importa que é isso que eu preciso parecer. Pelo menos, até o casamento...

— Até o casamento... — repete as palavras, parecendo ponderar sobre elas, mas rapidamente dispensa esses pensamentos, quaisquer que fossem, — Não importa! Eu não vou deixar você sair daqui sem essa roupa!

— Grazi...

— Não me venha com Grazi. Eu queria ser uma mosquinha pra ver a cara do Marcos babaca quando te vir nessa roupa! Porra, ele vai infartar!

Pelo espelho, olho para minha amiga com as sobrancelhas franzidas.

— Nós não estamos tentando infartá-lo, Grazi! Já basta que eu o esteja enganando... — ela estreita os olhos para mim.

— Não me diga que você está se sentindo culpado, Anthony! — é muito mais uma acusação do que uma pergunta.

— Talvez... Toda essa mudança pela qual eu sou grata, Grazi... Tudo isso só está acontecendo por causa dele… — admito.

Faz apenas seis dias desde que me mudei, ainda assim, Marcos foi nada além de impecável. Ele passa o dia inteiro fora, quando chega, faz questão de me procurar para saber se preciso de alguma coisa e, trata Isabella muito bem, mesmo que pareça sempre apavorado com a perspectiva de ela lhe fazer alguma outra pergunta inapropriada. É difícil não me sentir culpado. Quer dizer, o Marcos que eu conhecia merecia ser enganado... Esse que ele tem se mostrado..., talvez não...

— Ah, pelo amor de Deus, Anthony! Pra começar, não vamos romantizar o que está acontecendo aqui! Marcos não é um bom samaritano que se importou em ouvir sua história e decidiu te ajudar! Ele precisava de alguém pra interpretar um papel e por acaso, você servia. E, depois, não é como se você fosse uma serial killer, ou, literalmente, guardasse esqueletos dentro do armário! Você tem um passado conturbado, uma família problemática e, definitivamente, uma personalidade bem diferente da que sabe que ele procura, mas sejamos honestos! Quão boa você tem sido em esconder a parte da personalidade?

— Mediano, pra dizer no mínimo... — reflito.

— Exatamente! Se ele não percebeu, é porque tá com a cabeça enfiada no cu. Não faz o menor sentido que você se sinta culpado por ele ter um ego tão grande que o torna incapaz de enxergar coisas óbvias...

— É..., talvez, você esteja certa...

— Talvez? Eu estou sempre certa, Anthony!

E, como se para contradizê-la, seu celular toca. Ela tira o aparelho moderno da bolsa, olha o visor, contrai os lábios em desgosto e volta a guardá-lo.

— Não vai atender?

— Não. É só o Bernardo... — diz, referindo-se ao próprio chefe. — Ele já tinha mandado algumas mensagens, aparentemente..., agora chegamos às ligações...

— E você vai ignorar o homem?

— Eu já avisei que estou doente, ele quer mais o quê? — leva a taça de champagne à boca e eu não posso me impedir de rir da cara de pau da minha amiga.

— Tudo bem, Grazi, vou levar essa... — decido. Eu sempre acreditei que roupas podem ser uma declaração silenciosa de quem nós somos. Faz algum tempo que as minhas não diziam nada além de “estava em liquidação”, ou, “é o melhor que consegui fazer com o que eu podia pagar.”

Mas essa roupa, sem dúvida alguma, grita cada um dos adjetivos que eu quero que as pessoas vejam ao olhar para mim. Se, ainda assim, Marcos não for capaz de me enxergar, talvez Grazi esteja certa e eu realmente não deva me sentir culpado, afinal.

— Ótimo! Você já tem as respostas das perguntas que pedi pra fazer ao Marcos babaca?

— Não. Eu não o vi por muito tempo nos últimos dias...

— Você entende que nós estamos correndo contra o tempo aqui, certo?

— É um casamento falso, Grazi. Não é o da rainha da

Inglaterra...

****************

Com o celular em mãos, bato na porta diante de mim.

— Um minuto! — Marcos grita e eu posso ouvir seus passos cada vez mais próximos. Instantes depois, a porta é aberta e eu não estava preparado para o que há do outro lado, ah porra!

Qual é o problema dele?

Marcos não tem nada cobrindo o corpo além de uma toalha enrolada na cintura, seus cabelos estão molhados e há algumas mechas espetadas para cima. O peito, musculoso, liso, tem uma única gota de água escorrendo e eu, simplesmente, não consigo desviar meus olhos dela por, pelo menos, cinco segundos, mesmo sabendo que isso é tempo mais do que o suficiente para se considerar inapropriado.

Deus do céu...

Sacudo a cabeça, expulsando a chuva de pensamentos muito além do inapropriado que tomaram conta da minha imaginação, limpo a garganta, e foco meus olhos nos de Marcos. Seu rosto sério me diz que ele não faz a menor ideia de que não deveria atender a porta vestido assim, quer dizer, sem estar vestido, na verdade.

— Eu... — começo, mas me distraio com a maldita gota, ainda parada em seu tórax. Será que ela vai escorrer? Culpa da visão periférica! Droga, para o que precisamos dela mesmo? Anthony, se controla, porra! Você veio aqui com um objetivo! Eu vim, eu vim! Qual era o objetivo mesmo? O casamento, Anthony! A porra do casamento! Oh, isso!

— Anthony? — me chama no mesmo segundo em que consigo me lembrar o que vim fazer aqui.

— Desculpe... Hãn... Eu preciso conversar com você sobre o casamento... Eu... Nós...

— Ah, sim! Eu ia mesmo te procurar. Entra, por favor. — Sai da frente da porta, abrindo espaço para mim. Pisco, desconcertada com a naturalidade com que ele faz o convite. Quer dizer, é o seu quarto e, ele, provavelmente, está nu por baixo daquela toalha.

— Você está bem? — questiona e eu me pergunto se não fiquei verde, sinceramente, é perfeitamente possível.

Abro a boca, me perguntando como dizer para ele que não me acho capaz de manter meus níveis de concentração altos o suficiente para manter uma conversa coerente enquanto ele estiver pelado na minha frente.

— Eu...Você... — Será que ele está fazendo isso de propósito? Porque não é possível! Expulso o ar dos pulmões e, junto com ele, as palavras. — Você não acha que seria melhor se vestir antes?

Marcos olha para baixo e parece genuinamente surpreso, como se só agora estivesse se dando conta de seus trajes, ou da ausência deles.

— Puta que pariu! — o xingamento sai sonoro por seus lábios e aguça a minha imaginação. Outra vez, esforço-me para mantê-la livre daquilo que não interessa.

— Me desculpe! Eu estava no telefone quando você bateu...

e... e... — Apenas aceno com a cabeça, concordando e fazendo um esforço hercúleo para manter meus olhos nos seus e não na maldita gota que finalmente começou a deslizar. — Um instante. Eu..., eu já volto... — avisa e, sem qualquer cerimônia, fecha porta na minha cara.

Levo um segundo para processar o que acabou de acontecer aqui e, então, sem conseguir me conter, gargalho.


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Comentários

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Porque não conta a verdade para o Marcos sobre sua família, garante uma esperança para que a criação de sua filha seja mais assegurada e quem sabe quebrar o estigma do Marcos sobre você.

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Desejo que volte a escrever o garoto de luxo.

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Esse conto tem totalmente outra narrativa do anterior. As nuances o deixam cada vez mais incrível e sedutor. Cada canada te faz saber mais do que passa na cabeça do outro.

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O desejo que ambos têm fará que aproximação seja forte

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