Iminente Amor - Capítulo I

Um conto erótico de M.J. Grey
Categoria: Gay
Contém 2918 palavras
Data: 03/12/2022 10:01:05

CAPÍTULO I

**JOÃO MIGUEL**

Não sabia qual era o problema do João Lucas. Esse moleque não sabe o quer da vida, e fica se metendo em confusão. Se já não bastasse o tempo que perco na diretoria da escola da Valentina, porque minha adorável filha adorava uma confusão. Também preciso parar de resolver assuntos importantes referente as indústrias, para tirar a corda do pescoço do meu irmão caçula.

— Pare de ser chato, meu irmão. — Resmungou, tirando a jaqueta de couro surrada. — Aquele imbecil mereceu a porrada.

Esse era o problema do João Lucas. Para ele as coisas se resolviam em uma boa briga, mas meu irmão se esquecesse que devemos lealdade ao clube e principalmente respeito ao clube em memória do nosso avô.

— Não deveria ter resolvido as coisas brigando.

— Na hora me pareceu o único jeito. — Ele segurou o sorriso debochado, e perco a paciência.

— Se você não aprender a resolver seus assuntos como um homem de verdade. Eu darei a surra que nossos pais não deu em você, João Lucas.

Irritado, pegou sua jaqueta da cadeira almofadada e parou na minha frente. Continuei com as mãos nos bolsos da calça social, com cara de tédio. Eu amo meu irmão, contudo esse jeito dele de “eu sou o dono do mundo”, é uma maldita pedra no sapato da família.

— Estou cansado de todos ficarem me recriminando. Deveria estar orgulhoso de mim!

Segurei seu rosto entre minhas mãos, fitando seus olhos esverdeados, idênticos de nossa mãe, falei:

— Eu tenho orgulho de você. Porém neste momento não te reconheço. Eu, você e João Pedro sabemos as regras do clube, e principalmente respeitamos a memória do nosso avô, e honramos nosso pai por ter continuado com a obra do clube da luta. Nós somos exemplos, e agir com agressividade para resolver problemas pessoais está fora de cogitação. Só usamos o punho em último caso.

Calado, se afastou, saindo e batendo a porta atrás de si.

Ele sabia que estava errado. O ano nem começou direito e já tive que ir na universidade para aliviar a parte de meu irmão, que brigou com um calouro pelo motivo que nem sei ao certo. Felizmente, nossos pais estão em Florianópolis e não assistiram mais uma queda de caráter do João Lucas. Estou louco tentando saber o que aconteceu para ele ter mudado tanto em um ano.

— Posso saber o motivo do caçula ter saído bravo? — Indagou, João Pedro entrando sem bater no meu escritório. Típico dele.

— Não sei como ele ficou mimado desse jeito. — Murmurei pensativo, acomodando-me na minha confortável cadeira de couro.

João Pedro, entregou-me o calendário dos vinhos para este ano. Estamos produzindo como nunca, somos considerados os melhores. As indústrias de vinho Fraser, estão no mercado desde 1951, quando grupos internacionais começaram a se instalar no Brasil. Meu avô sempre contava a história da nossa família, com muito orgulho e carinho falava sobre seu pai e o quanto era aguerrido. E com a mesma coragem tenho o prazer de comandar o legado de minha família.

— Aposto que é só uma fase.

— Espero que não dure mais um ano. — Ele rir. — Você provou todos os vinhos?

Além do João Pedro, temos outros enólogos. No entanto, confio verdadeiramente no meu irmão em todos os termos, e como admirador de seu trabalho afirmo que é um excelente profissional. Mesmo toda a produção sendo acompanhada por outros profissionais, faço questão que a opinião final seja dele.

— Com certeza. O desenvolvimento da videira, e a colheita nunca foram melhores. Agora é só marcar com Marcondes para realizarmos a degustação pré-lançamento para nossos clientes fiéis.

— Maravilha. Deixarei a organização por conta da dona Liz. — Ele concorda. Sabemos o quanto nossa mãe gosta de preparar esse tipo de recepção.

**MICHAEL**

Fazia tempo que não me sentia melhor espiritualmente. Adorei a equipe daqui. Além de mim, tem outro chef especializado na culinária italiana. Marcondes disse que estavam precisando de comidas típicas brasileiras, sendo que os pedidos aumentaram e Richard o chef não dava conta de fazer todos os pratos, sendo que sua especialidade é o prato italiano.

Faz um mês que estou em Joinville, e amo a mistura de um grande centro com o ar interiorizado. Achei encantador as casas estilo enxaimel. Passei o natal em Macuco com minha família, e no outro dia voltei para cá. Passei a virada do ano ao lado de meus colegas de trabalho e clientes. Foi bacana, mas não consegui segurar a emoção. E comecei o ano lamentando a perda de Jackson, trancado dentro do banheiro do meu escritório. Assim que cheguei no meu apartamento, precisei tomar duas pílulas de calmante. Era isso ou encher a cara, preferi evitar a ressaca.

— Ei, eu vou querer um pouquinho. — Diz, Marcondes olhando a feijoada que fiz.

— Duvido que vá sobrar para o senhor chefe. — Sandra entregou os pedidos, e concluiu: — Mais da metade vão de refeição brasileira.

Sorri, para meu chefe que balançava a cabeça com um sorriso nos lábios.

— Você é dez, Michael.

— Preciso concordar, você trouxe o que faltava para o Típico daqui. — Disse Richard, sem desviar a atenção do prato fino que preparava com delicadeza.

Antes de sair da cozinha, Sandra fez joinha para mim e sorriu. Estamos nos tornando bons amigos, gosto da companhia dele. Sandra é maitre do Típico há mais de dois anos, e faz faculdade a distância. É uma boa pessoa.

Continuei fazendo os pratos, e mantinha toda minha energia e concentração ali. Só queria que no final da noite, meu corpo implorasse para descansar, e talvez eu não precisasse tomar nenhum calmante.

— Michael…O chefe está chamando você na mesa treze. — Avisou Sandra, e franzi o cenho.

Peguei o guardanapo limpo no balcão de mármore, enxugando as mãos, que havia lavado rapidamente.

— Algum cliente reclamou do prato? — Questionei preocupado. Sei que pode acontecer de a refeição não sair perfeita, mas caramba nunca ouvi nenhuma reclamação de cliente. — Fala Sandrinha!

— Parece que a cliente achou um fio de cabelo no prato, e bem…Ela está fazendo um show.

Impossível uma coisa dessa.

Emburrado sai da cozinha, disposto a resolver esse mal entendido. Quando vi Marcondes ao lado da mulher que estava o ignorando e dando ouvidos ao seu acompanhante. Que de costas percebi o quão elegante e alto, ele é.

— Sou o chef responsável pelo prato.

Me apresentei, encarando a mulher, e depois fiz a burrada de olhar para seu acompanhante, provavelmente seu marido ou namorado. Cacete, é um moreno másculo lindo. Ele ao contrário, sorriu em minha direção esticando o braço para me cumprimentar, e notei o seu olhar de cobiça logo de cara.

— Prazer. João Miguel Fraser. — Solicito, continuou sorrindo, e minha atenção ficou em sua fisionomia. Alguns fios de seu cabelo escuro e liso, caiam sobre a testa. Marcondes, limpou a garganta chamando nossa atenção, e desfiz o cumprimento de mão com João Miguel. O nome faz jus a pessoa. — Minha assistente Paola acabou se alterando, e....

— Estou inconformada. Esse restaurante é um dos mais requintados, e fui pega com essa surpresa desagradável. Deve ter mais cuidado enquanto prepara os pratos, senhor.

Ela disse, ao encarar meu anelar. Mesmo depois de tudo…Eu ainda não consegui deixar de usar minha aliança de compromisso. É insanidade, todavia é mais forte que eu.

— Com licença. — Pedi e peguei o seu prato.

Quis revirar os olhos. Essa porra de cabelo não é o meu. Pus o prato de porcelana novamente na mesa.

— Eu realmente lamento. Contudo, esse cabelo não é meu.

— Claro…É meu então. — Falou cheia de sarcasmo.

Isso pegará mal para o Típico. Esse cabelo deve ser de uma das cumim ou garçons.

— Paola, por favor! — Disse João Miguel impaciente. Sua voz é aveludada, rouca.

— Estou reclamando, pois como cliente posso. Marcondes estou decepcionada. Da próxima vez pense bem quem contrata para assumir a cozinha. Recuso outro prato feito por você, não quero mais encontrar seus cabelos em minha comida.

Que arrogante.

Sem paciência, fiz questão de tirar a minha touca mexicana, e balancei um pouco meu cabelo quase que era comprimido até acima dos ombros. Ela me encarou chocada, e não me importei. Agora pelo menos ela viu que meu cabelo não é preto. Olhei de soslaio e percebi que tínhamos chamado atenção de outros clientes.

— Agora acredita em mim, senhorita?

Sem esperar por sua resposta. Pedi licença com um ar superior, e voltei para os meus afazeres.

******************

***JOÃO MIGUEL***

Ainda estava tentando assimilar a reação histérica da Paola. Durante esses oito anos que trabalha como minha assistente nunca a vi agir com arrogância. Ela sempre é gentil, solidária. Claro, se eu encontrasse um fio de cabelo em minha comida ou qualquer outra coisa que me desagradasse chamaria o Maitre e resolveríamos o problema de forma passiva.

Somos acostumados a fazer refeições no Típico, um excelente restaurante que vem de uma família tradicional e hoje quem comanda é Marcondes e Igor, primos de segundo grau. É a primeira vez que isso acontece, que eu saiba. Paola ficou tão agitada quem nem Sandra conseguiu amenizar a situação, a saída foi chamar Marcondes. Eu tentei de várias formas acalmá-la e convencê-la de trocar o prato. Entretanto, a mesma estava irredutível.

Quando Marcondes pediu para Sandra chamar o chef, que fiquei sabendo que já estava sendo o favorito dos clientes, pois o mesmo era especializada em comidas tipicamente brasileiras. Juro por Deus que não esperava ver um deus do ébano. Eu fiquei tão fascinado, que minha atenção estava apenas nele.. Quando ele tirou a touca foi uma verdadeira cascata cor chocolate.

— João Miguel, ouviu o que eu disse? — Indagou Paola, e encaro-a sem muita paciência.

Fazia poucos minutos que tínhamos saído do restaurante. Preferi ficar calado do que falar qualquer besteira, minha educação e respeito não permitem que eu aja por impulso, mesmo quando o instinto fala mais alto. Estava mordendo a língua para perguntar a Paola qual era a porra do problema dela por ter agido daquela maneira absurda. Mas agora que estamos dentro do carro e ela fez questão de puxar assunto, é melhor eu resolver logo isso.

— Por que tratou o chef daquela maneira? Parecia uma descontrolada, isso porque já tinha destrato Sandra e Marcondes.

Ela me encarou chocada, e continuei com a mesma postura dura.

— Eu tinha motivo, não viu?

— Claro que sim. Mas as coisas poderiam ter sido resolvidas sem escândalo.

— Desculpe, eu…Fiquei estressada.

Desviou o olhar, fitando a janela escura do carro.

Se tinha algo que eu gostaria de concertar, seria a noite de sexo que tive com Paola há sete anos. Eu sou bissexual. Fazia cinco meses do falecimento da minha esposa Heluma, neste dia fiquei mais tarde na empresa. E ali me deixei levar pela luxúria carnal do momento, queria afogar a tristeza da perda do meu grande amor… Em uma noite de sexo sem sentimentalismo algum.

Cogitei a possibilidade de transferi-la para outra filial, todavia a mesma afirmou que nada ficaria estranho entre nós. No entanto, são momentos como esse que tenho certeza que Paola age com segundas intenções. Seus olhares e intromissões em assuntos particulares são a prova disso. Por ela ter sido amiga de minha falecida esposa, fiz questão de mantê-la bem no emprego.

Não estou querendo colocar a culpa na bebida, não sou o tipo que inventa desculpas pelos os erros que comete. Porém, naquela noite eu estava solitário, e Paola estava tão provocativa com suas mãos fazendo questão de tocar em mim demoradamente e quando percebi já tínhamos transado. Sexo puro. O qual me arrependo principalmente por ter sido com uma amiga da Heluma.

*******************

***MICHAEL***

Aproveitaria o dia de folga para ir ao centro. Queria deixar meu apartamento com um pouquinho de mim. E quero evitar de passar horas revirando a caixa que guardo fotos e os poucos objetos que tenho de Jackson. Confesso que durmo com a esperança de ainda estar preso em um pesadelo. Eu só queria que ele estivesse comigo, como prometeu que ficaríamos juntos para sempre.

Eu e Jackson nos conhecemos quando tínhamos 12 anos, e desde então ficamos inseparáveis. Mesmo seus pais fazendo de tudo para afastá-lo de mim, ele sempre fugia e passávamos a tarde juntos. Seu Marcos sempre controlou demais o filho, e isso acabava com o emocional de Jackson que só queria poder fazer suas próprias escolhas. Já dona Adelayde ficava entre o marido e o filho, mas no final a decisão de seu Marcos também se tornava a dela.

Eles demoraram para aceitar o filho gay e depois preferiam que o filho se casasse com um rapaz de família tradicional do que um rapaz do interior, filho de professores aposentados. Consegui fazer a terapia do meu coração dedicando-me a gastronomia. Era outra paixão que eu e Jackson compartilhávamos, e nosso segundo plano seria abrir nosso próprio restaurante.

Depois de comprar alguns artesanatos. Parei para tomar um cappuccino e comer uma fatia de bolo de fubá que me chamava desde da hora que entrei no aconchegante estabelecimento. Como o clima está gostoso, optei em sentar na mesa posta lá fora. Aproveitei para ligar para meus pais, e conversamos sobre os últimos dias. Após, disquei o número de Igor que atendeu no segundo toque:

— Pensei que tinha esquecido de mim, querido. — Eu podia sentir o sorriso em sua voz.

— Nunca. Pois além de ter sido um chefe maravilhoso também é um grande amigo. Como estão as coisas?

— Estariam melhor se você estivesse aqui. — Ele rir, fazendo-me sorrir, prosseguiu: — Está conseguindo lidar melhor ai?

Suspirei melancolicamente.

— Sim…Estou levando. Ela voltou a me procurar?

Igor tinha me ligado há quatro semanas avisando que Adelayde estava praticamente jogando facas nele, querendo saber meu paradeiro. Eu sabia o quão rude ela poderia ser, e seria questão de tempo até ela conseguir me encontrar e minha paz sumir novamente. Mesmo meu amigo proibindo todos os funcionários de falar sobre mim e principalmente onde estou residindo agora. Cedo ou tarde estaríamos batendo de frente novamente.

— Essa pergunta é velha. — Tentou adocicar a tensão que ficou. — Sim, aquela senhora precisa de um tratamento psicológico urgente. Eu entendo que ela sofre com a dor da perda, mas puta que pariu...Ela precisa deixar o Jackson descansar em paz, aliás vocês dois precisam deixar ele descansar em paz.

Fechei os olhos, segurando a vontade de chorar. Aquilo era verdade, mas eu não consigo. Eu ainda vivo por esse amor.

— Preciso desligar....

— Não fique bravo comigo. Te adoro!

Guardei o celular na bolsa, e levei um susto quando uma garota de cabelos incrivelmente ruivos, sentou-se com tudo na cadeira vazia da mesa, de duas pessoas.

— Como assim? — Murmurei tentando entender aquela situação.

— Moço, por favor, apenas me deixe ficar sentadinha aqui até a inspetora da minha escola sair daqui. — Pediu mordendo o canto dos lábios, tirando um pouco do batom rosa clarinho. — Lá vem ela.

Antes que eu pudesse olhar para trás e ver quem era a tal inspetora que essa fujona está se referindo, uma senhora de cabelos loiros, vestindo uma saia quase no tornozelo, sorriu nos avaliando com curiosidade.

— Senhorita Valentina… Que surpresa, não era para senhorita está na aula de piano?

Com um sorriso de anjo, a menina olhou de mim para a inspetora e tenho quase certeza que estava em dúvida se eu ajudaria ela nessa história.

— Sim, claro que sim, mas o namorado do meu pai resolveu me buscar para passarmos um momento juntos. Sabe como é, estamos nos conhecendo melhor. Ele não é lindo. — Minha nossa essa sapeca só tem a cara de anjo. — Essa é a inspetora da escola....

Quase rir da suplica de seus olhos verdes-claros, exigindo minha interferência em seu teatro.

— Prazer. Michael Casanova.

Sorri gentilmente para senhora que agora tinha suavizado a expressão.

— Oh, eu confesso que…Deixa pra lá. É um prazer senhor Michael, realmente é muito lindo. É novo na cidade, certo?

— Sim. Sou um dos chef do restaurante Típico.

— Pedirei ao meu marido para jantarmos em nosso aniversário de casamento lá, e faço questão de experimentar um prato feito por você.

— Que maravilha. — Falei animado. — Estarei esperando por vocês.

— Está certo. Preciso voltar para escola. E Valentina, não torne isso um costume sabe que as aulas do período contrário também são importantes.

— Ok. Até mais senhora Carina.

Ainda com um ar divertido, bebi o restante de meu cappuccino.

— Valeu por ter me ajudado. — Agradeceu, colocando uma alça da mochila no ombro.

— Nada disso espertinha. Por que está matando aula?

Bufou revirando os olhos. Ela é uma adolescente legitima, pensei rindo.

— Bem, eu apenas queria estudar na biblioteca....

— Eu quero a verdade, Valentina.

— Que saco! — Cruzou os braços. — Eu estava indo me encontrar com meu namorado, e tive a brilhante ideia de passar aqui e comprar um bolo para nós. Quase tive um treco quando vi a senhora Carina, que tinha me visto lá dentro e fingi que não tinha enxergado ela e bem, você me pareceu perfeita.

Garota esperta.

— E porque precisa ficar vendo seu namorado nos horários da aula?

— É quando posso, pois no final de semana meu pai e meus tios me trancam dentro de casa.

Ergui a sobrancelha, entendendo tudo.

— Se eu fosse você abriria o jogo para seus pais numa boa. Namorar escondido, não é bom. Adorei conhece-la, Valentina.

***********************

Após tomar um banho e vestir meu pijama, resolvi remexer novamente nas lembranças. As fotos minhas com Jackson sempre serão as minhas favoritas. Conversar com aquela menina ruiva me fez relembrar da época que eu e meu grande amor precisávamos nos encontrar as escondidas… Quando só queríamos segurar a mão um do outro sem sermos recriminados pelos seus pais.


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