Sombras - 1

Um conto erótico de Beto Paez
Categoria: Homossexual
Contém 2700 palavras
Data: 07/12/2016 16:07:20
Última revisão: 07/12/2016 16:20:02

-Você tem que me ajudar a pôr um fim em tudo isso. Eu estou cansada dessa situação. Você tem noção de que isso pode arruinar nossa família? Pensa na herança se esvaindo entre os nossos dedos... - Alice falava enquanto andava de um lado para o outro da sala de estar.

- Mãe, você quer que eu faça o quê? Quer que eu mate meu pai? Eu tenho 17 anos, mas aqui nos Estados Unidos às leis são mais sérias que no Brasil. - Herbert olhava assustado para Alice.

- Filho, essa mulher é uma aproveitadora! Ela quer tirar seu pai de nós, que ficar com nosso dinheiro, nossa empresa... Você me deu uma grande ideia! Vamos para o Brasil! - Alice sentou do lado de Herbert e pegou na sua mão. - Quero voltar para minha pátria. Ainda que o Brasil seja quente, cheio de gente mal educada, foi lá que eu nasci.

- Eu tenho escola, mãe. Tenho todos os meus amigos aqui. Ainda que por causa da senhora eu seja américo-brasileiro, eu nasci aqui. Sou um cidadão americano. Eu acho que a senhora está indo longe demais. - Herbert levanta-se.

- Herbert, por favor, não me deixa sozinha agora. Seu pai vai me pedir o divórcio. Aquela mulherzinha vai assumir meu lugar como senhora Hinze. Eu preciso de você para convencer seu pai a ir para o Brasil.

- O que a senhora quer fazer lá? - Herbert, agora, olhava pela janela a chuva caindo do lado de fora da mansão.

- Matar ele! Faço-o sofrer um acidente, ser envenado, atropelado, enfim... Dou meu jeito. Só preciso do seu aval. Metade de tudo é seu.

- Mãe, me dá um tempo para pensar.

- Não mais que uma semana, meu filho.

No dia seguinte, apesar da noite chuvosa, o sol apareceu tímido.

Pela janela do seu quarto, Herbert olhava os carros em movimento na Madison Avenue. A conversa com sua mãe na noite anterior ainda o perturbava. Alguém bate na porta do seu quarto desconcentrando-o.

- Entra - Herbert vira para a porta.

- Sou eu filho. Cheguei muito tarde ontem e não tive como falar com você. Nós precisamos conversar. - Gregory entra no quarto.

- Pai, eu acho que até já sei sobre o que é. Antes eu posso te fazer um pedido? - Hebert senta na cama e olha para o pai na sua frente.

- Claro, meu filho.

- Eu gostaria de ir ao Brasil. Queria fazer essa viagem com o senhor e a mamãe. Nossa última viagem enquanto ainda somos uma família. - Herbert olha para suas mãos. Por mais que estivesse fazendo o que sua mãe queria, ele estava destruído por dentro.

- Não sei se vai ser possível. Minha convivência com a Alice está insustentável. Não posso mais adiar o divórcio.

- Pai, o senhor vai deixar a minha mãe - que sempre esteve ao seu lado em todos os momentos -, poderia, pelo menos, me deixar sonhar que tenho uma família ainda? - Os olhos de Hebert estavam marejados.

- Eu sempre estarei do seu lado. Você é meu filho, mas sua mãe... Sua mãe se tornou insuportável. Não consigo mais dizer que sou casado com ela. Herbert, você não precisa ficar entre nós. - Gregory senta e coloca a mão no ombro de Herbert.

- O senhor vai trocar minha mãe por uma mulher que eu nem sei quem é. Deve ser uma sem classe, uma qualquer.

- Você não pode falar assim da Renata. Você não a conhece, Herbert. Ela é uma mulher maravilhosa.

- Quanto o senhor paga para ela? O senhor acha que ela vai para a cama por amor? O senhor é um homem bonito, mas seu estado de saúde, esse monte de porcaria que consome, lhe deixou parecendo um retalho de quem era no passado.

- Você ainda me deve respeito, Herbert. Eu sou seu pai!

Ambos estavam de pé. Gregory apontava o dedo para o seu filho.

- Um pai negligente, sempre ocupado, que mal tinha tempo para o filho. A culpa de eu ter sido sequestrado e estuprado foi sua! Sua ganância por dinheiro, por querer sempre mais, fez você me abandonar. Minha mãe sempre ficou do meu lado. - Herbert chorava.

Após ouvir todas as acusações do seu filho, Gregory deu uma tapa no rosto de Herrbert.

- Você não tem o direito de me culpar pelo que te fizeram. - Gregory falou, chorando.

- Eu te odeio!

Herbert deu as costas e seu pai saiu do quarto.

Aos dez anos de idade, Herbert vivia muito bem. Seu pai já havia ampliado os negócios da família. A fortuna da família Dimont Hinze havia mais que quadruplicado. Tudo graças ao trabalho de Gregory.

Por trabalhar muito, Gregory começou a negligenciar o cuidado com o seu filho. Ele tornou-se um homem ocupado, sempre atarefado com reuniões, jantares e perdido entre documentos. Ele achava que por mais que desse brinquedos caros, dinheiro, o mínimo que seu filho ia querer era atenção.

Devido a posição da sua família e a beleza dele, durante seu retorno para casa, Herbert foi sequestrado por três meliantes. Um grande valor foi pedido de resgate, mas isso não impediu os bandidos de o violentarem fisicamente e psicologicamente. Ele foi abusado por quatro dias, ficou hospitalizado devido aos graves ferimentos e não conseguia perdoar o seu pai por tê-lo deixado com a mãe no hospital enquanto viajava para o Canadá a negócios.

Não digo que Gregory não sentiu dor ao ver o seu pequeno filho naquela situação, mas ele achou que sua reunião com investidores era uma prioridade maior. Não podia perder a oportunidade de expandir ainda mais sua empresa.

Como acontecia todos os dias, seu pai não estava em casa na hora do almoço. Herbert de frente para a mãe que servia um pouco do risoto para ele.

- Então, meu filho, pelo o que deu para ouvir, seu pai já falou sobre o divórcio, não foi? – Ela entregou o prato ao seu filho.

- Sim, mãe. Mais uma vez a gente discutiu. Eu não consigo perdoá-lo por tudo o que aconteceu no passado. E para a senhora saber: pedi que ele fizesse uma viagem conosco ao Brasil.

- Meu filho, que notícia maravilhosa! – Alice sorria de uma maneira assustadora.

- Eu não consigo dizer que estou feliz com tudo isso, mas eu acho que a senhora não merece sofrer por ele. Vou ajudá-la a pôr um fim nessa relação dele com a Renata. – Herbert olhava para o prato, mas estava com o estômago embrulhado para comer.

- Espero que ele aceite o seu pedido.

- Eu vou aceitar, Alice – falou Gregory chegando.

- Eu fico muito feliz que você tenha pensado na felicidade do nosso filho.

- Alice, eu gostaria de conversar com você em particular. Pode ser?

- Sim, vamos para o escritório.

Os dois foram conversar.

- Então, sobre o quê você quer conversar? – Alice encostou-se a mesa.

- Sobre nós dois. Você já deve saber que essa viagem é a última de nós dois como um casal. Se você aceitasse, eu poderia te deixar bem situada no Brasil, com uma boa quantia em dinheiro e com parte das ações do grupo Hinze. – Gregory falava com as mãos no bolso da calça.

- Tudo bem, Greg. Por tudo o que nós já vivemos, pelo nosso filho, eu aceito metade das suas ações.

- Calma! Não posso te dar metade das minhas ações. A Renata está grávida e isso vai complicar a vida dos meus filhos.

- O quê!? Aquela mulherzinha está grávida? Essa criança vai deixar o Herbert sem nada praticamente.

- Não seja exagerada, Alice. O Herbert vai ter muito mais do que eu e você juntos. Você fica com 30% de tudo o que é meu e estamos quites.

- Eu larguei tudo no Brasil por você, fiz das tripas coração, aí, agora, depois de tudo o que agente já passou, você quer me deixar. More com ela, registre essa criança, mas, por favor, Greg, não me tira o que ainda tenho.

- Você quer continuar casada comigo só pelo meu nome? Isso não é amor, Alice, isso é doença.

- Tudo bem, mas me promete que vamos ser um casal durante essa viagem. Eu prometo até esquecer tudo o que aconteceu entre nós. Pelo menos isso, tudo bem?

- Sim, Alice. Eu farei isso por todo o tempo em que você esteve ao meu lado. O Herbert já escolhe a data da viagem?

- Não sei, isso só ele pode responder.

Gregory estava muito doente. Todo o tempo em que se dedicou ao trabalho, a empresa, exposto diariamente ao estresse, o deixou depressivo e com problemas cardíacos. O cigarro e a bebida já faziam parte da sua rotina. Quando Herbert jogou na cara do seu pai as verdades que ele precisava ouvir, ele começou a se dar conta de que tinha se transformado num homem muito diferente de outrora.

Gregory sempre foi um homem bonito. Com um metro e oitenta e sete de altura, seus olhos castanhos, sua pele branca e seu cabelo preto cuidadosamente arrumado, chamavam atenção e davam a ele um ar de poderoso. Após a morte do seu pai, tendo assumido as responsabilidades no holding, ele começou a descuidar-se, a fumar e beber constantemente. Passava horas em reuniões, tomava muitos remédios para dormir, isso quando não se pegava dormindo no escritório. Ele queria fazer história nos negócios, mas sacrificou sua vida e sua família para isso,

A chegada de Renata na empresa, fez com que Gregory se sentisse jovem de novo. Aos quarenta anos, com o corpo bonito, mas acima do peso, ele reacendeu o seu lado adolescente e se entregou a uma paixão avassaladora. Era a segunda brasileira que cruzava o seu caminho. Diferente de Alice, Renata não vinha de uma família rica e influente. Renata era apenas um mulher comum, tentando a vida em outro país. Ela, no auge dos seus vinte e quatro anos, nunca imaginou que pudesse se envolver com o dono da empresa em que trabalhava. Aliás, a transferência do Brasil para os Estados Unidos foi meio a contra gosto, mas o destino têm dessas coisas. Eles se apaixonaram.

Ao voltarem para a sala, Gregory e Alice resolveram saber se Herbert tinha uma data em mente para a viagem ao Brasil.

- Filho, gostaria de te pedir desculpas antes de tudo. Sei o quanto o incidente do passado ainda te machuca. Quando você quer que façamos a viagem?

- Pai, eu também exagerei. Não sei. Semana que vem, certo? Tenho que me despedir do Bryan, dos meus amigos. Você me dá esse tempo?

- Todo o tempo do mundo.

Os dois se abraçaram, e o conflito interno pelo qual passava Herbert se acentuava ainda mais.

Herbert terminou de comer, se despediu dos seus pais e foi em direção à casa de Bryan, seu namorado.

- Surpresa! – Herbert falou quando Bryan abriu a porta.

Os dois se beijaram.

- Ótima surpresa! Meu amor, porque você não avisou que viria?

- Eu queria te fazer um convite. Vamos até o Central Park. Nós temos que conversar.

- Vou trocar de roupa para irmos.

Herbert e Bryan se conheceram há dois anos. Ambos começaram a estudar juntos quando Bryan veio do Hawaii para New York. Bryan é filho de um empresário que vende barcos e lanchas. A família precisou mudar-se para New York quando a sede da empresa foi transferida.

Bryan e Herbert formavam um lindo casal. Herbert sempre foi mais parecido com o seu pai, com pequenas diferenças como a cor dos olhos e a boca parecida com a de Alice. Os olhos verdes de Herbert sempre foram admirados. Seus lábios finos e vermelhos em sua pele branca como o da sua mãe davam a ele um charme ainda maior.

Bryan, apesar de moreno, tinha os olhos lindos também. Um castanho cor de mel, com os cabelos pretos e finos arrepiados, davam a ele um toque mais delicado, mas nada que afetasse a sua masculinidade evidente.

Herbert sempre foi bissexual. Ele já ficou com homens e mulheres o que para ele era muito natural. O mesmo também se aplicava a Bryan.

Bryan desceu ainda mais lindo. Uma calça jeans colada ao corpo, com um suéter listrado verde e branco e um par de botas que deixaram Herbert louco de excitação e vontade de tirar a sua roupa ali mesmo.

- Será que é possível você ficar menos lindo ao menos uma vez na vida? – Falou Herbert passando a mão no rosto de Bryan.

- Será que é possível você ficar menos provocante e irresistivelmente gostoso? – Bryan, respondeu.

- Como se você não me provocasse toda hora, não é mocinho?

- Deixa de conversa e vamos passear.

Os dois beijaram-se mais uma vez e de mãos dadas entraram no carro de Herbert.

O motorista os deixou na entrada do Central Park e eles começaram a caminhar.

- Sobre o quê você queria conversar, meu amor?

- É um assunto delicado, meu bem. Mas eu preciso que você seja forte.

- Você agora me deixou preocupado.

Ambos estavam sentaram em um dos bancos ali perto, quando foram interrompidos por uma maluca com voz estridente.

- Vejam se não é o casal mais lindo de New York! Pelo fogo da tocha da Estátua da Liberdade, não vão nos cumprimentar? – Falou Katty, chegando com John e Yve.

- Sua maluca! Ainda nos mata de vergonha! – Bryan levantou-se e abraçou sua amiga.

Katty, John e Yve são os melhores amigos de Herbert e Bryan.

Katty, sempre com seu senso de humor nada discreto, sempre faz os amigos passar vergonha.

Ela é filha de uma ex-modelo americana, que é dona de uma das mais conceituadas agências de modelos de Manhattan. Seu cabelo ruivo, de origem paterna – seu pai é alemão – chama a atenção e causa inveja. Além do seu corpo magro e em forma.

John é filho de um dos sócios do pai de Herbert. Seu pai atua também no ramo hoteleiro, gastronômico e imobiliário. Ele é alto, forte devido a pratica de futebol americano, é branco e tem o cabelo loiro e os olhos azuis e é um dos pegadores da escola. Ele e Yve já tiveram um lance há pouco tempo.

Yve, filha de uma famosa âncora norte-americana e de um diretor de TV americana, parece um anjo de tão linda. Negra, da mesma altura de Katty, ela faz sucesso entre os rapazes e tem o sonho de trabalhar com moda.

- Olá, pessoal! Eu trouxe o Bryan aqui para conversar com ela, mas, graças ao destino, vocês estão aqui. É até melhor que vocês ficam sabendo de uma vez e me poupa o trabalho de conversar com vocês depois.

- Pela cara do Bryan, ele também está assustado. – Yve falou olhando para Herbert.

- Vai, fala logo de uma vez! – Falou John, impaciente.

- Não apressa o garoto, idiota. É difícil revelar que ele traiu o Bryan.

- Katty, pelo amor de Deus, você não consegue ficar sem fazer piada pelo menos uma vez.

- É força do hábito.

- Às vezes, eu acho que é falta de noção mesmo.

- Vocês vão ficar discutindo? – Bryan olhou sério para os dois. – Você me traiu, Peter? – Seus olhos agora olhavam para Herbert.

- Você me chamou de Peter, então deve estar acreditando nas loucuras da Katty. A resposta é não. É sobre outra coisa que quero falar.

- Então, pode falar, meu amor. – Bryan pegou na mão de Herbert.

- Eu e meus pais vamos fazer uma viagem ao Brasil.

- Sim, e qual o problema nisso? Quanto tempo vocês pretende ficar? Duas semanas?

- Eu não sei se eu volto para os Estados Unidos, meu amor.Talvez seja definitiva.

- O quê? Você não vai voltar? – Bryan falou com os olhos marejados.

Continua...

Explicando brevemente o nome do conto. O conto se chama Sombras porque os erros cometidos por Herbert no passado virão à tona quando Diego, jornalista brasileiro, começar a escrever a biografia dele nos dias atuais. Os dois se apaixonarão e eles vão ter que enfrentar todas as sombras do passado de Herbert para ficarem juntos.

Não faria sentindo para mim, começar contando a estória nos dias atuais sem entendermos o contexto de como ela começou.

Não sei se vou conseguir postar todos os dias, mas prometo que tentarei sempre que possível.

E antes que me perguntem, o nome do protagonista é Herbert Peter Dimont Hinze. Quando Bryan fica bravo ou nervoso, sempre chama ele de Peter. Herbert não gosta muito.

Obrigado desde já.

Não consegui colocar a frase inicial, estava dando erro no site. Antes da fala de Alice seria: New York. Dezembro de 2002.


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