Anjo Bandido - Parte 07
Novamente a minha vontade era de beijá-lo. Na verdade, eu queria invadir a sua intimidade. Eu queria degustar cada pedacinho dele...
Eu estava adorando o lugar. A simplicidade das pessoas... Eu observava cada uma delas, e pude sentir um pouco de suas realidades. A humildade e a forma como se divertiam era algo fantástico! Eu não tinha palavras para descrever o carinho da mãe do Enzo por mim. A Vivi e o Victor pareciam que estavam em casa, rindo e dançando com aquelas pessoas adoráveis. Dinheiro não é tudo na vida, pois são nas pequenas coisas, que aprendemos o que é viver!
Eu e o Enzo nos aproximamos ainda mais. Nos afastamos da galera, e ele oi me mostrando um pouco da favela, da casa que ele morou na infância, do local onde cortava o seu cabelo... Eu estava adorando. Eu sei que o meu nível de vida era muito diferente do nível dele, mas eu não distinguia minhas amizades. E ele já estava no rol dos meus grandes amigos. A história de vida dele era muito triste...
- Eu sinto muito pela perda do seu pai. Deve ter sido muito difícil para você.
- Foi muito difícil! Eu tive que entrar no tráfico, para sustentar a minha mãe. Mas não escolhi por que eu gostava, e sim por falta de opção. Muitas empresas fecharam as portas pra mim. Até para trabalhar em supermercado descarregando caminhões, eu não consegui. Não me restou outra escolha... E depois que o meu filho nasceu, tudo ficou mais difícil.
Eu apenas escutava atentamente a tudo que ele dizia. Em nenhum momento, passou pela minha cabeça julgá-lo por seus atos. Eu sabia que a vida não era fácil para algumas pessoas.
- Meu filho nasceu com um problema no coração, e precisa fazer uma cirurgia. Ele tá na fila, mas tu sabe como é né? Viver num medo, todos os dias.
Ele ficou um pouco emocionado, e tentou disfarçar, mas vi que o assunto trazia sofrimento a ele. Eu precisava ajudar o Enzo de alguma forma. Me vi nesta obrigação, mais por uma questão de solidariedade.
Nós fomos interrompidos pelo Victor, que me arrastou num canto pra cochichar.
- Viadooo! Eu estou amando esse churrasco. Nem te conto. Tem um negão delicioso, que tá doidinho pra ficar comigo. Ele não para de me olhar e piscar os olhos. Ai amigo, ele é tudo de bom! E você sabe que eu tenho uma queda por negros.
- Vê lá o que você vai arranjar hein? Vai que este cara é casado e a mulher dele tá aí?
- O bofe é solteiro. Você tem camisinha pra me emprestar? – ele tava na maior agitação.
- Ai viado, toma! Vai, que eu estou conversando com o Enzo.
- Hummm... Tô de olho em você senhor Guilherme... –rimos, e ele se foi.
- O que ele queria?
- Nada! O Victor é meio maluco... Eu fiquei encantado com a sua história. Eu passei a te ver de outro jeito, sabia? É uma pena que você não tem amizade com pessoas como eu.
- O quê?Rico?
- Não! Gay! Você mesmo me disse isso há uma semana atrás.
- Eu não quis dizer isso. E se eu disse, me perdoa. Você um cara bacana. Todo mundo gostou de você e dos seus amigos... É que eu nunca tive um amigo gay, e você é o primeiro.
- Então quer dizer que você me considera o seu amigo. – eu olhei nos olhos dele, sorrindo.
- Sim. Amigos? – ele me estendeu a mão.
- Amigos! Eu o puxei para dar um abraço, e nós dois ficamos meio sem jeito com a cena.
- Vamos voltar para o churrasco. – disse ele.
Tudo ocorreu muito bem. Conheci um montão de gente, diversas histórias... Quando chegou a hora de ir embora ainda tive que procurar o viado do Victor. A Vivi tava impaciente, mas tudo estava delicioso.
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As semanas seguiam rápidas, e a minha amizade com o Enzo se solidificava. Na maioria dos lugares que eu ia, fazia questão de levá-lo. Os meus amigos adoravam ele, mas sempre existia um ou outro idiota que o discriminava por ser da favela e não ter dinheiro. Já faziam três meses a nossa amizade, e eu não queria admitir a mim mesmo, mas eu estava me apaixonando por ele. Apesar de saber que eu só teria a sua amizade, só em estar ao seu lado já me fazia bem.
- Mãe, eu não tô a fim de ir pra Angra. Tenho um monte de coisa pra fazer aqui no Rio.
- Guilherme! É o aniversário do seu tio Hélio. Ele adora você e sempre faz questão de estar presente nas suas comemorações...
- A senhora tá certa. Ele não merece esta desfeita. Mas ficaremos apenas um dia. Nada mais do que isso. Eu vou arrumar a minha mochila.
- Seja rápido, pois o seu pai vai passar aqui somente para nos apanhar.
Eu havia me esquecido do niver o meu tio, e eu já havia combinado com a Vivi e irmos numa festa. Tive de ligar desmarcando. Nós passaríamos o final de semana em Angra. O Arthur, meu irmão, iria depois, pois estava com um cliente.
Meu sobrinho e eu , fazíamos a maior bagunça no carro do meu pai, e a viagem ia ser longa.
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- Enzooooooo. Meu filho, me ajuda. – a mãe dele saiu desesperada pela rua, a procura do filho.
- O que foi mãe? Fala?
- Oooo... – ela estava em choque.
- Meu filho! – ele correu para casa, pois o pequeno João estava tento uma parada cardiorrespiratória.
- Filho. – ele começou a chorar, e o pegou no colo para levá-lo ao hospital. A comunidade ficou em estado de nervos. Meia hora depois...
- Quem é o pai do garoto?
- Sou eu doutor. – ele levantou agoniado.
- Seu filho precisa operar urgente. Aqui nós não temos assistência necessária para tal, e além do mais, existe a fila de espera. Aconselho a família buscar ajuda ao governo, para custear esta cirurgia num hospital particular. O garoto não pode esperar muito.
Aquelas palavras foram as piores que o Enzo podia ouvir. Ele socou a parede do hospital, ao ponto de se machucar. Sua mãe só chorava, lamentando pelo netinho.
- Aonde você vai meu filho? – ela o viu saindo feito um louco.
Enzo tinha um plano arriscado na cabeça. Iria sequestrar alguém rico, e fazer uma chantagem para conseguir o dinheiro e salvar a vida do filho. Ele olhou para o céu e pediu perdão a Deus. Chorou muito, mas foi à única solução que ele encontrou.
Pegou uma arma em sua casa, e ligou para um amigo de infância, no qual ele tinha total confiança. Bolaram um esquema, e partiram para o bairro mais nobre do Rio, onde o Guilherme morava.
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Arthur descia do seu carro importado, para pegar algumas roupas e ir se encontrar com o resto da família em Angra. Já era tarde, por volta das 22:30 da noite, e ele queria ir naquele dia mesmo.
Fechou a sua casa, ativou o alarme, e quando atravessou o portão até o seu carro, foi rendido por dois homens armados, que o obrigaram a entrar no carro.
Coisas do destino! Quando se poderia imaginar que o Arthur, o irmão do Guilherme, seria a pessoa que o Enzo usaria para o sequestro?
- Calma, calma! Não precisam fazer nada. Podem levar o carro.
- E quem disse que a gente quer o carro, hein seu babaca? – os dois estavam encapuzados para não serem reconhecidos. O Arthur ficou apreensivo e assustado.
Muitas coisas irão acontecer daqui pra frente.
CONTINUA...