A LUA QUE EU TE DEI - CAP 12 - TENSÃO

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2103 palavras
Data: 31/12/2024 03:51:05

Depois que a saúde do Benê finalmente estabilizou, voltamos à estrada com um misto de alívio e animação. Entramos na Patagônia Argentina, onde a paisagem começou a se transformar de forma dramática. O verde deu lugar a extensões áridas de deserto e, ao longe, a Cordilheira dos Andes despontava como um gigante adormecido. Claro que esse cenário surreal rendeu dezenas de imagens incríveis para os nossos seguidores na internet. Cada clique parecia uma pintura.

Mas nem tudo eram flores. O frio começava a apertar, cortante e constante, nos lembrando de que morar em um motorhome tinha suas desvantagens. Comprei vitamina C para todo mundo. Se já era complicado ficar doente em casa, imagina dentro de um espaço tão pequeno.

Apesar disso, as estradas se tornaram tranquilas e até bucólicas em alguns trechos. Passei a tomar mais café do que nunca para me manter alerta. De tempos em tempos, surgiam pequenas cidades ao longo do caminho, e sempre aproveitávamos para parar, esticar as pernas, fazer imagens e descobrir algo interessante nos mercadinhos locais.

Depois de muitos quilômetros, chegamos à Península Valdés, um paraíso natural famoso por sua fauna exuberante, falésias impressionantes e paisagens únicas. Era o parque mais caro que visitamos na Argentina, mas valia cada centavo. Nosso primeiro destino dentro da península foi Puerto Pirámides, uma vila costeira charmosa e ponto de partida para observação de baleias.

Benedito estava no modo turbo. Com o entusiasmo que só ele tinha, despejava informações sobre a península e não via a hora de chegar ao mar. De acordo com ele, estávamos prestes a assistir baleias bem de perto, algo que parecia tirado de um sonho.

Mas antes da diversão, sempre vinha a parte prática: organizar nossa "casa". Cada nova parada exigia um ritual de limpeza e reabastecimento, que decidimos organizar em uma lista de tarefas para evitar injustiças. Era uma rotina que funcionava, mesmo com reclamações ocasionais.

Nossa primeira parada foi em um posto de gasolina. O primeiro trabalho do Beto era levar o Piccolo para passear, deixando o gato explorar os novos terrenos com curiosidade infinita, eu por outro lado, me encarreguei da parte ingrata: limpar a latrina. O banheiro químico removível era um dos aspectos menos glamourosos da viagem, mas pelo menos os sachês solúveis tornavam o descarte mais suportável.

Benê ficou com a tarefa de recarregar o tanque de água para banho, enquanto Beto varria o chão e passava pano no motorhome. Era engraçado como essas atividades simples, que muitos considerariam irritantes, haviam se tornado parte do nosso ritmo, um tipo de rotina que mantinha tudo funcionando.

Depois de completar as tarefas, nos reunimos no motorhome para decidir os próximos passos. Benê mal cabia em si de tanta empolgação. Ele praticamente pulava de um lado para o outro, mostrando imagens das baleias que poderíamos ver no local.

— Você sabia que as baleias-francas podem chegar a 17 metros? — ele perguntou pela décima vez, os olhos brilhando de entusiasmo.

— Sim, Benê, você já me disse isso umas cinco vezes hoje. — respondi, rindo.

— Mas é muito incrível, né? 17 metros! — Ele ergueu os braços como se tentasse demonstrar o tamanho.

Beto observava tudo com aquele sorriso contido de sempre, enquanto Piccolo ronronava ao seu lado, parecendo satisfeito com o passeio. A empolgação de Benê era contagiante, e, apesar do frio, não havia dúvidas de que estávamos prestes a viver algo memorável. Mesmo com toda a tensão que se instalou no ambiente.

Sim, a tensão entre mim e o Beto estava quase palpável. Desde aquela noite, em que beijos e carícias tinham se desenrolado no silêncio do motorhome, as coisas entre nós não haviam sido as mesmas. Cada toque acidental parecia carregar uma descarga elétrica, cada troca de olhares durava um pouco mais do que deveria. Com o Benê por perto, a situação ficava ainda mais complicada.

Principalmente que meu irmão, como sempre, estava no modo falante sem pausa, tagarelando sobre baleias e a promessa de vê-las saltando no mar. Sua empolgação era uma bênção e uma maldição ao mesmo tempo. Servia como distração, mas também nos lembrava de que qualquer escorregada poderia levantar perguntas que não estávamos prontos para responder.

— Vocês estão me ouvindo? — Benê perguntou, virando-se para nós enquanto guiávamos Leopoldo até a praia.

— Claro, Benê. Baleias, 17 metros, blá blá blá — resmunguei com um sorriso, tentando parecer o irmão relaxado de sempre.

— Blá blá blá? Você não entende a grandiosidade disso, Joaquim. Esse é o ponto alto da viagem!

Beto, no banco do passageiro, olhou pela janela, fingindo estar distraído com a paisagem, mas eu sabia que ele estava tão desconfortável quanto eu.

Quando finalmente estacionamos, o vento gelado nos atingiu assim que saímos do motorhome. A praia era ampla e desolada, com o mar cinzento quebrando contra as falésias. Outros motorhomes estavam espalhados por ali, formando uma pequena comunidade nômade.

Enquanto Benê corria na frente, apontando para o horizonte como se as baleias pudessem surgir a qualquer momento, eu e Beto seguimos mais devagar. O silêncio entre nós era pesado, mas ao mesmo tempo cheio de coisas não ditas.

— Joaquim! — Benê chamou. — Tem gente vindo pra cá.

Um casal se aproximava pela areia. Eles acenaram antes mesmo de chegarem perto. Eram mais velhos, na casa dos 40, talvez. Tereza tinha cabelos curtos e loiros, enquanto Salamão, alto e com uma barba desalinhada, carregava uma energia descontraída.

— Oi! — Tereza disse, sorridente. — Vocês também estão explorando a Argentina?

— Sim! — respondi, tentando parecer animado. — Acabamos de chegar na Península.

A conversa fluiu rapidamente. Eles contaram que eram do Rio de Janeiro e estavam viajando pela América do Sul em uma Kombi adaptada. Era impressionante como faziam funcionar com tão pouco espaço.

— Dá pra acreditar que vivemos aqui dentro? — Salamão riu, apontando para a Kombi estacionada mais adiante.

— Bah, vocês têm coragem. O perrengue faz parte, principalmente com cenários como esses. Uma recompensa e tanto. — Beto comentou, sorrindo, enquanto olhava para o veículo compacto.

Em seguida, fomos até o Leopoldo. Tereza parecia fascinada pelo motorhome, especialmente pelo Piccolo, que se espreguiçava preguiçosamente em cima de uma cadeira.

— Ele é lindo! — ela exclamou, estendendo a mão para acariciar o gato.

— Odiável, você quer dizer. — Benê interveio, cruzando os braços. — Ele me odeia.

— Ele não te odeia, Benê. — falei, rolando os olhos. — Só não tem paciência pra você.

— É sério! Olha a cara dele, me julgando. — Benê insistiu, apontando para o gato, que parecia completamente indiferente.

Tereza e Salamão riram, enquanto eu trocava um olhar breve com Beto. Foi só um segundo, mas carregava um peso que nenhuma brincadeira poderia aliviar.

Quando terminamos de trocar dicas e perrengues de viagem, o casal voltou para o seu motorhome. O vento lá fora ficava cada vez mais forte, cortando nossas bochechas com o frio. Enquanto Benê estava carrancudo por não ter visto as baleias, Beto e eu nos jogamos no sofá, exaustos.

Não tivemos a sorte de avistar as tão esperadas baleias, mas a Península Valdés nos surpreendeu de outras maneiras. Encontramos pinguins caminhando desajeitadamente pela praia, focas relaxando preguiçosamente sobre as rochas, e até um tatu desastrado que deu um belo susto no Benê, arrancando risadas de todos nós.

É incrível observar esses animais vivendo livremente em seu habitat natural, tão distantes do caos humano. Cada encontro reforçava a magia desse lugar, onde a natureza parecia comandar tudo com serenidade e equilíbrio.

Outro lado positivo da viagem foi conhecer os vizinhos do Rio de Janeiro. Eles foram tão calorosos e gentis conosco. Essa vida nômade é cheia de surpresas.

— Eles parecem legais. — comentei, tentando parecer casual.

— Sim. Acho que o Piccolo gostou mais deles do que do Benê. — ele respondeu com um sorriso torto, mas sem me olhar diretamente.

O silêncio voltou a reinar entre nós. Enquanto Benê cantarolava no fundo, me perguntei como seria possível seguir viagem assim, com tudo o que estava acontecendo entre nós sem dizer uma palavra.

Benê tentou disfarçar a decepção, mas era óbvio que ele estava frustrado. Ainda assim, ele não perdeu a animação completamente, prometendo que no dia seguinte teríamos mais sorte.

O céu já começava a se tingir de laranja e lilás, anunciando o fim do dia. Tereza e Salamão voltaram ao Leopoldo, carregando um embrulho coberto por um pano de prato.

— Fizemos bolo de chocolate. Vocês precisam provar. — Tereza disse, com um sorriso largo.

— Sério? Vocês são incríveis! — Benê pegou o prato como se fosse um troféu. — Isso vai melhorar meu humor em 100%.

De repente, o cheirinho de bolo 'invandiu' o Leopoldo. Beto assumiu a tarefa do jantar, colocando água para ferver enquanto moldava almôndegas com uma rapidez impressionante.

— Alguma chance de sobrar espaço pra sobremesa? — perguntei, tirando sarro enquanto ele manuseava a panela.

— Com Benê por perto? Nenhuma. — ele respondeu com um sorriso de canto, sem tirar os olhos da comida.

O macarrão com almôndegas era simples, mas perfeito. Benê devorou duas porções e ainda foi o primeiro a atacar o bolo. O clima no motorhome parecia mais leve, como se o cansaço do dia tivesse dissolvido a estranheza entre mim e o Beto, pelo menos por algumas horas.

Depois do jantar, seguimos a rotina de sempre: um episódio de MasterChef enquanto Piccolo se acomodava preguiçosamente no colo de Benê, algo que ele fingiu detestar.

— Esse gato tá planejando algo... eu sinto. — Benê resmungou, tentando manter a pose de inimigo do bichano.

— Ele tá é confortável. É mais do que posso dizer de você. — Beto brincou, arrancando uma risada geral.

Naquela noite, o frio apertou de verdade. Ligamos o aquecedor e puxamos os cobertores mais grossos. Mesmo assim, o ar gelado parecia se infiltrar pelas frestas, fazendo cada cantinho parecer ainda menor e mais aconchegante.

Deitados em nossos respectivos espaços, o silêncio caiu. Eu podia ouvir a respiração tranquila de Benê e o ronronar baixo de Piccolo. Entre mim e Beto, apenas o som distante do vento lá fora. Aquele espaço compartilhado, cheio de detalhes e histórias não ditas, parecia ao mesmo tempo grande demais e pequeno demais.

Adormeci com a sensação de que, no dia seguinte, a viagem continuaria carregada de perguntas que ainda não sabíamos como responder.

O barulho começou antes mesmo de eu perceber o que estava acontecendo.

— ACORDA! VOCÊS PRECISAM VER ISSO! — Benê praticamente gritava, batendo na porta do banheiro e puxando as cobertas da cama ao mesmo tempo.

— Que foi agora, um terremoto? — Beto resmungou, ainda de olhos fechados.

— Não é terremoto! — Benê exclamou, e sua voz subiu mais um tom. — É MELHOR QUE ISSO!

Antes que eu pudesse entender, Benê já tinha aberto a janela do motorhome. A luz forte do sol inundou o espaço, e o frio da manhã entrou cortando qualquer resquício de sono.

— BALEIAS! ELAS ESTÃO LÁ!

Isso foi o suficiente para me colocar de pé em segundos. Não tive nem tempo de pensar em trocar de roupa; apenas joguei uma jaqueta sobre o pijama e segui Benê, que já disparava porta afora.

Lá fora, o dia estava tão claro que o céu parecia pintado de azul. O vento ainda era frio, mas havia algo mágico naquela paisagem. A praia estava logo ali, e Benê apontava freneticamente para o mar.

— Olhem! Ali! — ele pulava como uma criança, quase escorregando na areia úmida.

Segui seu dedo e, então, vi. Próximas à costa, várias baleias nadavam em grupo, suas nadadeiras cortando a água. Algumas delas saltavam, mostrando toda a imponência de seus corpos gigantescos antes de mergulharem novamente.

— Uau. — foi tudo o que consegui dizer.

Beto chegou logo depois, esfregando os braços contra o frio, mas com um sorriso impressionado.

— Elas são maiores do que eu imaginava.

Por um momento, ficamos apenas parados ali, descalços e de pijama, admirando aquelas criaturas. Era como se o mundo tivesse parado.

— Esperem aqui! — disse, lembrando-me de algo. Corri de volta para o motorhome, praticamente tropeçando na porta enquanto buscava o drone na gaveta.

— Joaquim, o que você tá fazendo? — Benê gritou lá de fora.

— Imagens, Benê! — respondi, saindo novamente com o equipamento em mãos.

Preparei o drone rapidamente e o fiz decolar. Ele subiu pelo céu azul, captando o espetáculo das baleias de um ângulo que nem eu podia imaginar. A tela do controle mostrava tudo: os movimentos sincronizados, o reflexo do sol na água, e a vastidão daquele mar.

— Isso vai ficar incrível. — murmurei, ajustando o drone para pegar uma visão panorâmica.

Benê e Beto continuaram observando, mas agora sorriam para a câmera como se fossem crianças em um passeio de escola.

E ali estávamos nós, três pessoas tão diferentes, mas unidas por um momento que parecia maior do que tudo. A Península Valdés nos presenteava com algo mais do que baleias: era um pedaço de paz em meio ao caos das nossas vidas.


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Comentários

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O ciúmes ,o medo e a dor impedem dese amor vencer?

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Um como medo.de sofrer novamente? E o outro sem coragem de aceitar o amor? O que irá acontecer com esse sentimento?

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Por que os dois fingem que nada aconteceu,que medo é esse meu Deus?

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