A LUA QUE EU TE DEI - CAP 11 - PROXIMIDADE

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2200 palavras
Data: 30/12/2024 03:07:58

— Vamos! — exclamou Beto me ajudando a colocar o Benê na cama.

— Como ele deixou isso acontecer? — questionei, mais para mim mesmo do que perguntando para alguém. Com dificuldade, repousamos o Benê na cama.

— Tem que tirar as roupas dele. Está ensopado. — disse Beto, tirando a camisa do meu irmão.

ALGUMAS HORAS ANTES

A vida em um motorhome é uma constante prova de improviso. Cada dia traz um novo desafio, e viajar no Leopoldo significa estar preparado para tudo: desde problemas mecânicos até as surpresas do clima. Mas, ultimamente, parecia que a Argentina estava decidida a testar nossa paciência.

Naquela semana, a chuva não dava trégua. Estávamos em Villa Epecuén, um lugar que Benê descrevera como "um cenário de filme pós-apocalíptico". Era fascinante e desolador ao mesmo tempo: ruas destruídas, esqueletos de construções emergindo de um lago salgado, que carregava histórias de um passado glamouroso antes da tragédia de 1985. Fizemos vários registros para o canal, e até Beto, que raramente aparecia, participou ativamente dos vídeos.

— Gente, vocês precisam ver isso. — expliquei, apontando a câmera para uma rua parcialmente submersa. — Villa Epecuén tinha águas dez vezes mais salgadas que o oceano. Tipo o Mar Morto, no Oriente Médio.

— E agora virou uma atração turística. — acrescentou Beto, com a voz grave e aquele sotaque gaúcho que fazia qualquer frase soar importante.

Benê entrou na frente da câmera com seu sorriso convencido:

— É uma beleza estranha, né? Algo que a gente não vê todo dia.

Enquanto explorávamos, fiz fotos incríveis de Beto. Ele tinha aquele tipo de beleza que não precisava de esforço: olhar intenso, sorriso sincero e uma presença que preenchia qualquer cenário. Mas, como se quisesse lembrar que a vida não é só estética, a chuva voltou com força total.

Tentamos sair com o Leopoldo antes que a situação piorasse, mas o motorhome atolou. O pânico começou a me consumir. A chuva castigava, trovões rugiam, e raios cortavam o céu com frequência assustadora.

— E se a água começar a subir? — perguntei, mais para mim mesmo.

— A gente precisa empurrar. — disse Benê, já se preparando para enfrentar o dilúvio.

Beto lançou um olhar preocupado para Benê.

— Guri, cê tá bem? Tá tremendo.

— Só um pouco de frio... — respondeu Benê, sem convicção.

Coloquei a mão na testa dele e senti o calor quase imediato.

— Você tá com febre, Benê! Como você esconde isso da gente?

— Não é nada. — insistiu ele, mas sua voz já começava a fraquejar.

Apesar disso, ele insistiu em ajudar. Saíram os dois na chuva, tentando desatolar o Leopoldo com pedras e pedaços de madeira. O plano não funcionou, e o motorhome afundou ainda mais. Enquanto os raios iluminavam a cena, ouvi o grito de Beto.

Corri para fora, com o rosto quase sendo chicoteado pela chuva, e vi os dois no chão. Benê tinha desmaiado.

— Ele apagou! — gritou Beto, o desespero evidente em sua voz.

Com muito esforço, conseguimos levá-lo para dentro. O corpo de Benê estava molhado e frio, mas sua febre queimava. Tiramos suas roupas encharcadas e o vestimos com roupas secas.

— O que fazemos agora? — perguntei, tentando pensar, mas minha mente estava um caos.

— Vamos ficar aqui até amanhã. Não tem como sair desse lugar agora. — respondeu Beto com a calma firme que eu precisava. — Mas primeiro, vá se trocar. Você tá tremendo mais que ele.

Obedeci e, depois de me vestir com roupas secas, mediquei Benê com o que tínhamos no armário. Graças a Deus que não economizei nos remédios. Sério, fiz uma sessão de A a Z com todos os medicamentos possíveis, inclusive, vitaminas.

Porém, o começou a murmurar como uma criança irritada, o que me trouxe alívio. Se ele estava reclamando, era porque não estava tão mal assim.

Enquanto Beto preparava uma sopa de batata com frango, nos sentamos para conversar. Falar com ele sempre tinha um efeito estranho em mim. Aquele sotaque misturado com o jeito pragmático e gentil me deixava à vontade, mas também fazia meu coração bater mais rápido.

— Sempre cuidei da Vanessa. — disse ele, referindo-se à irmã. — A gente cresceu num ambiente difícil, sabe? Um pai rígido, machista... Mas eu nunca deixei de protegê-la. Ela é a única coisa boa que aquele lugar me deu.

— Eu sei como é. — comentei, olhando para Benê, que dormia na cam. — Ele é a única família que me resta agora. A gente briga o tempo todo, mas ele é meu irmãozinho, sabe?

Beto assentiu, com um sorriso compreensivo.

— Eu percebo isso. Tu cuida dele, mesmo que às vezes pareça que quer socar ele.

Rimos juntos, enquanto a chuva continuava batendo no teto do Leopoldo. Era um som constante, mas de alguma forma reconfortante. Ali, naquela noite tempestuosa em Villa Epecuén, percebi que, mesmo com todos os problemas, estávamos seguros. E, de certa forma, era isso que importava.

A rotina que eu e Beto criamos no motorhome era uma espécie de alívio no caos da viagem. Sempre jantávamos assistindo a um episódio de MasterChef. Era engraçado como nossos comentários sarcásticos sobre os participantes pareciam tornar o ambiente mais leve, apesar dos perrengues. Mas naquela madrugada, tudo desmoronou. A febre do Benê piorou. Ele tremia tanto que parecia estar em um iglu, e murmurava palavras que eu não conseguia entender.

Desesperado, liguei a internet via satélite e chamei o tio Alberto, médico da família. Apesar da situação, sua voz calma trouxe um pouco de ordem ao meu caos interno.

— Quando a febre começou? — ele perguntou.

— Acho que hoje, tio. Não sei ao certo, mas ele está tremendo muito e falando coisas sem nexo. — expliquei, tentando manter a compostura.

— Água. Dê bastante água para ele. E você tem remédios mais fortes? — perguntou.

— Tenho. — respondi, colocando o celular no ombro de maneira desengonçada, enquanto procurava a lista de remédios.

— Ótimo. Dê uma pílula agora e outra daqui cinco horas. Se a febre continuar amanhã, vocês vão ter que levá-lo ao hospital. E não se preocupe, Joaquim, febre é uma reação do corpo. Ele vai melhorar.

Mesmo com as orientações, não consegui pregar o olho. Fiquei em vigília ao lado do Benê, acordando-o a cada duas horas para dar água. Ele reclamava, mesmo delirando, como quem acha injusto ser acordado no meio de um sonho ruim. Na terceira vez, aproveitei para trocar o pijama dele, agora completamente encharcado de suor. Enquanto fazia isso, notei que até o Piccolo, nosso gato rabugento, parecia preocupado, observando tudo de cima da mesa.

— Acho que você ganhou um fã, Benê. — murmurei, sem resposta.

Quando finalmente cochilei, um raio cortou o céu e iluminou o motorhome como se fosse dia. O barulho me fez saltar da cama. Fui até a janela e olhei para fora, mas não via quase nada além da chuva torrencial. Liguei a lanterna do celular e iluminei os degraus da entrada. Felizmente, a água não tinha subido tanto quanto eu temia. Meu coração desacelerou um pouco, mas a tensão continuava.

— Ei. — ouvi a voz de Beto e me virei tão rápido que quase caí.

— Ah! — exclamei, a mão indo direto ao peito. No mesmo instante, outro raio iluminou tudo. — Meu Deus, Roberto! Quer me matar?

Ele riu.

— Roberto? Nossa, agora é sério. Tô encrencado? — ergueu as mãos, fingindo rendição.

— Idiota. — murmurei, mas a tensão deu lugar a um sorriso involuntário.

Ele entrou na cozinha e se aproximou.

— Não consigo dormir. Estranho não ter aquele tagarela enchendo o saco. Até o Piccolo tá sentindo falta dele. — apontou para o gato, que permanecia vigilante perto de Benê.

Eu suspirei, me sentindo mais vulnerável do que gostaria de admitir.

— Ele é tudo que eu tenho agora. — soltei, e as lágrimas vieram sem que eu pudesse controlar.

Beto não hesitou. Ele me puxou para um abraço apertado, e naquele momento, senti uma segurança que há muito tempo parecia distante.

— Ei, ele vai ficar bem. Você não está sozinho, Quim.

Fechei os olhos e me permiti aproveitar aquele instante.

— De verdade, eu não sei o que seria dessa viagem sem você.

Estávamos tão próximos que nossas respirações se misturavam. Meus braços estavam ao redor dele, e por um momento, o mundo parou. Olhei para o rosto de Beto, nossos olhares se cruzaram. Nossas bocas estavam a poucos centímetros. Parecia inevitável.

Mas, claro, Benê escolheu aquele momento para delirar novamente.

— Não, Piccolo. No rosto não... — murmurou, enquanto o gato, ironicamente, permanecia estático. Eu ri nervosamente e me afastei.

— Obrigado por tudo, Beto. Sério.

Ele sorriu, mas não insistiu. Apenas passou a mão no Piccolo.

— Tá vendo, garoto? Até o gato traumatizou o Quim.

Voltei para a cama, mas o calor daquele abraço e o quase beijo ficaram marcados na minha mente. O caos do dia ainda pairava, mas naquele instante, senti que talvez não estivesse tão perdido assim.

A chuva parecia nunca cessar em Villa Epecuén. As gotas grossas martelavam o teto do motorhome como uma sinfonia desajeitada. Eu agradecia aos céus que o nível da água não tivesse aumentado. Cada minuto que passava sem alagamento era um alívio. No entanto, dentro do motorhome, outra batalha acontecia: a febre do Benê.

Ele estava pálido, os cabelos grudados na testa. Durante o dia, Beto preparou um mingau para ele, mas Benê torceu o nariz assim que sentiu o cheiro.

— Eu não quero isso, Joaquim. — Ele fez bico.

— Ninguém quer, Benê, mas precisa. — falei firme, segurando a tigela.

— Isso é tortura. — reclamou, mas acabou cedendo.

Depois de vê-lo comer e finalmente cair no sono, eu e Beto decidimos encarar outro problema: o motorhome atolado na lama. Mesmo com a chuva torrencial, saímos. Eu tremia, mais de ansiedade do que de frio. O pneu traseiro estava submerso em um mar de lama pegajosa. Olhei para Beto, encharcado, examinando a situação como se fosse um engenheiro.

— Isso não vai sair daqui tão cedo. — ele concluiu, tirando a lama do pneu com as mãos.

— E o que a gente faz? — perguntei, sentindo o peso da frustração.

— Vou até o posto mais próximo pedir um guincho. — Ele limpou as mãos no jeans, agora irreconhecível de tão sujo.

Voltamos ao motorhome, onde Beto pegou uma capa de chuva e preparou-se para a caminhada. Antes de sair, ele olhou para mim.

— Cuida do Benê e do Piccolo, tá? Volto o mais rápido que puder. — ele pediu. Assenti, tentando ignorar o nó que se formava na garganta.

Enquanto Beto enfrentava a tempestade lá fora, eu me encarreguei de manter o Benê confortável. Piccolo continuava em seu posto ao lado do meu irmão, os olhos felinos observando cada movimento. Quando Benê acordou, encontrou o olhar penetrante do gato.

— Esse gato tá me julgando. — murmurou, a voz rouca.

— Ele tá garantindo que você não fuja da sopa que eu vou fazer agora. — brinquei, mexendo na panela. Benê resmungou, mas acabou tomando. Quando terminou, cruzou os braços.

— Tô hidratado demais. Cheio de mingau, sopa e água. Daqui a pouco viro uma piscina ambulante.

Sentei ao lado dele e suspirei. Aquele humor azedo era tão típico dele que até me confortava.

— Sabe, eu tava lembrando de como a mãe sempre sabia o que fazer quando a gente ficava doente.

Benê sorriu, melancólico.

— E o pai? Sempre sério, como se nada o abalasse. Mas eu sabia que ele ficava mal por dentro.

O silêncio caiu entre nós, pesado, mas reconfortante. Peguei o celular e coloquei uma playlist que os dois adoravam. Era nossa maneira de lembrar deles, de sentir que ainda estavam aqui, de alguma forma. Aos poucos, Benê parecia melhorar, o rosto ganhando um pouco mais de cor.

Já era fim de tarde quando Beto retornou com um guincho. Estava molhado e exausto, mas com um sorriso no rosto. A equipe do guincho levou quase uma hora para desatolar o motorhome, mas, finalmente, estávamos livres da lama.

— Acho que mereço um prêmio por isso. — Beto disse, provocando.

— Vou te pagar uma rodada de cerveja assim que a gente parar. — prometi, genuinamente grato.

Seguimos viagem até o hospital mais próximo. Lá, Benê foi atendido, medicado e logo voltou a se queixar do excesso de atenção. Ele ficaria internado para observação.

— Vai descansar. — ele pediu. — Eu vou ficar bem. A enfermeira é uma gatinha. Vai embora.

— Obrigado pela delicadeza. Vou comer algo com o Beto. Volto amanhã cedo. — avisei. — Qualquer coisa me liga.

Saímos do hospital e encontramos um barzinho para relaxar. Pedi duas cervejas e as entreguei para Beto.

— Obrigado, de verdade. Não sei como teria lidado com tudo isso sem você.

Ele ergueu a garrafa num brinde improvisado.

— É pra isso que servem os amigos, né? — ele questionou, tomando uma boa dose da bebida.

Após um lanche e várias rodadas de cerveja, voltamos para o Leopoldo. A gente ficou conversando na cama e rindo das últimas aventuras. Beto contou sobre a sua ida até o guincho e como pensaram que ele era um pedinte

O calor do momento, o alívio por tudo ter dado certo, e a proximidade dos últimos dias criaram algo palpável entre nós. Antes que eu pudesse pensar muito, uma coisa levou à outra. Nossos olhares se encontraram, e então nos beijamos. Foi calmo, mas intenso, como se o mundo finalmente tivesse encontrado uma trégua na tempestade.

Naquele momento, Villa Epecuén, a chuva, os problemas... tudo desapareceu. Só existíamos nós dois, ali, sob a luz fraca do mothorhome. Infelizmente, a tranquilidade não duraria muito tempo.


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Comentários

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Até que fim aconteceu o beijo deles.que lindo.

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Que alívio o irmão mais novo se salvou.

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