Amor que nunca acabará - Capítulo 222

Um conto erótico de Cadu
Categoria: Homossexual
Data: 19/08/2022 22:12:45

- Reclamei um monte e casei, claro!

- Me conta direito essa história, vou repassar para meu namorido, vai que ele se inspira. - ela falou rindo

- Vai quê, né? Bom, na época que nos casamos, não tinha casamento homoafetivo aqui no Brasil. Aí, o Caio resolveu aproveitar a dupla nacionalidade para casarmos lá na cidade natal dele, Bruxelas. A gente já morava juntos aqui no RJ…

- Aaaah, não, gente… aquele homem precisa acordar e me pedir logo em casamento. - ela riu

- Joga logo a direta para ele!

- Vou fazer isso, pode apostar…Antes de casar, você e o Caio se conheciam há muito tempo?

- Nossa, ponha tempo nisso! A gente se conhece desde a adolescência.

- Não me diz que vocês são o primeiro namorado um do outro…

- Pois é exatamente isso! - eu disse rindo

- Gente, e isso ainda existe no século XXI?

- Existe sim! Não diz que não existe que aí você ferra comigo.

- Você é a única pessoa que eu conheço que casou com o primeiro namorado.

- Eu também não conheço outros doidos como nós, mas tem aos montes por aí, pode ter certeza. Topa dividir uma sobremesa?

- Só um Nutri para querer dividir uma sobremesa. - ela riu - Mas eu topo, sim!

- Se você quiser pedir uma só para você, não tem problema.

- Não, não… não é isso, é que com meu marido a gente sempre pede duas: uma e meia para ele e meia para mim.

- Aaaah, disso eu entendo também. Até que aqui no Rio o Caio não faz isso, mas quando a gente viaja ele esquece que é médico e que eu sou nutricionista, ele mete o pé na jaca com vontade.

- Ele vai se dar bem com o João!

Eu chamei o Edivan e pedi uma sobremesa para mim e para a Ju.

- O seu namorido é de Petrópolis também?

- Sim! Nós nascemos e crescemos lá, a gente está aqui no RJ só há três anos. E você, está há quanto tempo aqui?

- Nossa, há muito tempo! Já tem mais de 10 anos...

- Aaah é por isso que você parece ser carioca da gema.

- Minha gema é falsificada, viu? - eu falei rindo

Nossa sobremesa chegou, nós a comemos conversando. Antes de voltar ao trabalho, eu fui até a sala da administração, dei um beijo na minha mãe e falei com meu irmão-Tonho, mas eles nem me deram muita atenção por estarem até às orelhas de tanto problema para resolver.

Ju e eu chegamos na clínica e começamos a trabalhar logo em seguida. Ela, organizando o consultório da Barbara e eu lendo os relatórios dos meus pacientes. Às 15h, eu já estava com meu primeiro paciente em sala e eu só fui acabar minhas consultas às 19h. Ao sair do consultório, eu passei para jantar com minha mãe, mas foi coisa rápida. Eu estava morto de cansaço! Para mim, depois de tanto tempo o Caio morando em São Paulo, voltar para casa não era mais algo prazeroso. Eu sempre amei estar na minha casa, mas por me sentir extremamente sozinho, eu passei a vê-la com tristeza. Eu sempre gostei de ficar sozinho, sempre, sempre, sempre… só que ficar sozinho é diferente de viver e estar o tempo todo sozinho em casa. Para mim era muito ruim todo dia dormir e sentir a casa vazia, acordar e não ter com quem falar, fazer comida para uma pessoa… ainda mais a minha casa sendo tão grande como ela era. Cheguei em casa, tomei banho, vesti pijama e caí na cama.

- Oi, amor! - ele disse assim que atendi a videochamada

- Oi!

- Você já está pronto para dormir?

- É, acabei de deitar. Eu jantei com a mamãe hoje.

- Que bom! Não gosto de te ver sozinho aí em casa.

- Eu sei... E você?

- Cheguei em casa agora também, estava tendo uma aula barra pesada.

- Muito cansado?

- Mortinho! Eu queria muito você aqui agora.

- Você precisa arranjar um jeito para descansar, Caio, e pra gente ficar um pouco juntos.

- Eu sei, amor… eu não tô conseguindo. Ontem eu até briguei com meu professor, eu preciso ir em casa, mas não tô conseguindo ser liberado.

- Mas esses seus professores querem médicos vivos ou mortos? Porque desse jeito…

- Pois é… às vezes eu tenho vontade de mandar todos eles tomarem no cú. Eles acham que a gente não tem via além da residência.

- Como foi o dia para você estar assim?

- Uma loucura! Hoje eu fiz uma cirurgia, fiz umas quinhentas biópsias, tive reunião na pesquisa, tentei resolver aquele problemão no laboratório, assisti aula...

- Deu tudo certo na cirurgia?

- Deu! Meu professor me parabenizou!

- Que bom, amor. Que bom que seu esforço e dedicação estão sendo reconhecidos. Sabe o que eu comprei hoje?

- O quê?

- Aquele chocolate que você ama. Quando você voltar para casa, você come.

- Aaaah, amor… Não vale! Eu fiz a mesma coisa aqui. - ele disse sorrindo - sabe aquele chocolate belga que você adora?

Esse era o único chocolate no mundo que eu gostava. Por ser belga, era difícil de achar. Quando a gente ia para a Bélgica, eu trazia uma mala cheinha de lá.

- Você precisa vir em casa de um jeito ou de outro, eu preciso desse chocolate! - eu falei sorrindo

- É lindo ver você sorrir assim!

Naquela época eu ficava sempre dividido entre cuidar dele/entender a situação, querê-lo em casa/me irritar com o exagero e o esquecimento dele. Quando eu tendia a cuidar dele, a rotina dele era tão pesada, tão estressante que, sempre que possível, eu tentava fazer algum tipo de carinho, por menor que fosse. Eram coisinhas que faziam ele sorrir, desestressar e se aproximar de mim por um curto tempo… eu tentava ser o mais compreensível possível, pois eu via que era muito puxado para ele lá no hospital/universidade. Quando eu estava no período de conclusão de curso e preparação para o Processo Seletivo do Mestrado, ele também foi muito compreensível comigo. É o que eu disse, nós sempre fomos o apoio do outro. Acho que o nosso diferencial, na maior parte do tempo, era tentar compreender o que estava acontecendo com o outro nos momentos difíceis, turbulentos, estressantes. Um dia desses eu estava ouvindo uma música em francês e ela diz exatamente o que Caio e eu fazíamos: “pouse sobre meus ombros sua tristeza, sua dor, suas feridas. Se for preciso, eu as curarei. Pouse sobre meus ombros suas lágrimas, se for preciso eu as secarei”. ** Sempre foi assim… se a gente não considerar os anos de residência em São Paulo. Acredito que o que mais me doeu naquele período foi o fato dele ter parado de olhar para mim com o mesmo carinho que eu ainda olhava para ele. Eu via como a rotina dele era pesada, mas ele não via como a minha era pesada também, até mais pesada que a dele se duvidar. Se ele tivesse continuado me olhando com carinho, me dando um pouco de atenção e se preocupando comigo, talvez, eu tivesse aguentado até o final. Talvez, eu não me sentisse tão sobrecarregado.

Quando eu deixava a mesa pronta para ele de manhã, antes de sair para o trabalho, quando eu o lembrava de comer/dormir, quando eu comprava o seu chocolate favorito, quando fazia uma massagem (mesmo quando eu mesmo estava precisando de uma)... eu fazia por dois motivos. 1. Não fazia por ser visto como uma “obrigação” dentro de um relacionamento, eu fazia porque eu gostava de vê-lo sorrir. Eu gostava de poder amenizar um pouco o cansaço e o sentimento de culpa. Culpa por ter que se dedicar tanto à residência e precisar deixar nosso casamento em segundo plano. Eu me sentia bem ao fazê-lo se sentir mais perto de mim, porque eu sabia que ele queria ficar comigo, mas não podia. Ele estava fazendo muita burrada, mas eu nunca duvidei do que ele sentia por mim. Mesmo sem se preocupar comigo, eu sempre acreditei que ele ainda me amava. 2. Eu tentava lembrá-lo que ele tinha uma casa, que tinha um marido e que eu estava esperando por ele. Eu tentava lembrá-lo que por mais que eu estivesse esperando por ele, eu já não estava mais dando conta de tudo. Nós já estávamos há muito tempo nessa situação e por mais que eu fosse compreensível, eu não era um Buda e por isso, uma hora eu cansaria. Isso tudo eu pensava durante os dois primeiros anos. No terceiro ano, tudo foi mudando dentro de mim…

O que eu disse ao Rui e à minha mãe era verdade, eu me sentia extremamente sozinho em casa. Era muito raro o Caio estar comigo, mesmo quando ele estava em casa, ele estava estudando para algo. Foi a época que eu mais saí de casa, que eu mais almocei e jantei fora. Eu quase nunca comia sozinho, porque eu sempre ia no restaurante da família ou com o Pietro, no entanto, eu saía muito sozinho; balada, livraria, museus e cinema era onde eu mais ia sozinho. Eu via que isso não fazia muito bem ao Caio, pois ele se sentia mal por me ver saindo sozinho para esses lugares. Ele se sentia mal por querer ir junto e por se sentir culpado ao me deixar sozinho tanto tempo. Eu também me sentia mal por vê-lo desse jeito, mas eu não podia fazer nada. Se eu não fizesse algo para respirar, eu ficaria doido, e aí mesmo que as coisas não dariam certo. Óbvio que eu não fazia isso todos os finais de semana, eu só saia para a boate, por exemplo, quando eu estava quase surtando. Ao contrário de mim, lá em São Paulo ele não saía. Ele repetia o que me falava na época que ele morava e estudava Medicina lá em São Paulo: ele não tinha tempo para nada. Ele sempre falava também que os amigos dele estavam todos no Rio. Eu estava no Rio. Ele me dizia que ele não foi lá para se divertir, ele foi lá fazer a residência e ele realmente focou totalmente nela. Se ele saiu lá, eu nunca soube. Ele nunca me falou nada, nunca vi ou soube nem um sinalzinho sequer de que ele tenha saído com alguém para alguma festa lá. Eu tive todas as possibilidades para descobrir algo, caso ele tivesse mentido para mim, mas a vida dele realmente se concentrava na residência e na pesquisa. Eu falava para ele que se ele continuasse daquele jeito, ele ficaria igual ao professor estranho dele, foi esse professor que fez a cabeça dele para ir para São Paulo.

Saber que a vida dele se centrava no objetivo profissional dele me irritava, claro, mas também me fazia ter um pouco mais de calma com ele, porque se ele estivesse lá, me sobrecarregasse e ainda por cima fosse para balada, a gente já teria se separado há bastante tempo. Eu era besta, mas não tanto! Apesar dele também tentar compreender a minha situação, o fato de eu sair sozinho para esses lugares e até sair com meus amigos, nos gerou algumas brigas. Aquele primeiro semestre do último ano de residência foi o mais cruel conosco e foi o semestre que mais brigamos em todos aqueles anos de casamento.

O período da residência como um todo, de todo o nosso casamento, foi o período mais complicado para nós e foi o momento onde tivemos que usar o máximo possível nossa compreensão, usá-la até ela se esgotar. Eu nunca pensei que eu precisaria saber administrar meus sentimentos e principalmente minha saudade. Em grande parte do tempo, eu conseguia administrar tudo. Durante o R1 e o R2 (R1, R2, R3 são os anos de residência) eu consegui administrar, mas eu não podia administrar tudo para sempre. Logo no R1, houve meses que eu só faltei subir pelas paredes, pois eu fiquei sem saber o que era sexo; eu estava acostumado a ter uma vida sexual bastante ativa com meu marido e de repente, eu tive que ficar muitos dias sem nem poder beijá-lo. Eu também tive que aprender a controlar a vontade de transar, mas isso até que não foi difícil, pois a minha líbido simplesmente desapareceu.

Com o tempo, eu perdi totalmente a vontade de transar. Com tudo o que aconteceu, eu aprendi que entre entender e viver há um abismo gigante! Eu entendia perfeitamente o que ele estava passando, mas era difícil viver isso. Eu queria estar com ele, eu queria o cara carinhoso que ele sempre foi, eu queria a ajuda dele na clínica, na casa, na vida… ele estava ausente para quase tudo, o foco dele foi única e exclusivamente a residência. Eu não sou médico, só acompanhei a formação dele, mas nós éramos muito parecidos e por sermos parecidos, eu via ele agir muito parecido com a forma como eu mesmo agia. Eu achava que ele exagerava bastante, além do limite. Ele exagerava além do meu exagero e limite, porque no início da minha carreira eu também exagerei. Ele também se sentiu como eu estava me sentindo. Só que eu sempre falava para ele: por mais que eu tenha exagerado, eu nunca saí de casa, ele nunca se sentiu sobrecarregado em casa e quando ele pediu para eu dar mais atenção à nossa vida e a ele, eu me analisei e tentei mudar. Eu consegui controlar meu exagero com a ajuda dele. Ele estava completamente sem controle no exagero e isso estava me fazendo mal. Ele pegava muito pesado na residência! Por exemplo, o Lucas não tinha tantos plantões quanto o Caio. Até porque os plantões da dermato eram super tranquilos. Eu sabia que era o Caio que pegava todos os plantões possíveis em outro hospital, mas ele sempre me dizia que eram os professores que o escalavam para os plantões. No início, eu acreditei, mas aí conversando com o Lucas em uma das vezes que fui a São Paulo, ele deixou escapar que ele pegava muito menos plantões que meu marido. Eu fiquei puto da vida quando eu descobri que ele mentia para mim. Era impossível ele tirar tantos plantões, eu não sabia a maracutaia que ele fazia para ficar tanto tempo no hospital, mas eu sabia que ele fazia algo porque o exagero era visível para qualquer um.

Eu também cheguei a reclamar bastante do fato dele estar em casa, estar no quarto comigo e mesmo assim estar ausente. Isso acontecia devido à enorme quantidade de coisas que ele tinha que estudar. Apesar da residência de dermato ser mais tranquila em comparação às outras especialidades da Medicina, ela é muito (MUITO!) densa em conhecimentos e óbvio que o melhor profissional é aquele que possui mais solidez no domínio dos conhecimentos, técnicas, procedimentos, patologias, etc que envolvem a prática do dermatologista. Nós conversamos sobre isso e ele me disse que era devido a nossa clínica que ele tentava ter todo o conhecimento necessário para atender os seus pacientes quando abríssemos a nossa tão sonhada clínica. Ele me viu formado, tendo sucesso no consultório e sentiu que não estava preparado para trabalhar na nossa clínica como ele achava que eu estava. Ele esquecia que a minha formação era mais curta que a dele e tinha menos vertentes que a dele.

Ele queria se sentir tão preparado quanto eu me senti ao entrar no mercado de trabalho e começar minha carreira. Foi só a partir daí que eu tentei adicionar uma camada a mais de compreensão sobre o nosso relacionamento; eu pude me preparar o máximo possível enquanto eu estava na universidade, agora era a vez dele. E aí eu repito: entender e viver são coisas muito distantes uma da outra. Eu entendi, durante todo o R1 e R2 eu não reclamei… só que isso não mudou o que eu sentia e as necessidades que eu tinha.

Quando ele me disse que iria para São Paulo, eu tive certeza de todos os conflitos que nos esperavam durante toda a formação dele. Eu fui contra a ida dele, pois ele tinha passado nas provas de São Paulo e do Rio. Eu fui contra ao ponto de deixar bem claro o quanto eu era contra. Falei claramente que eu não queria que ele fosse porque eu fiquei com muito medo de perder o que nós tínhamos. Eu sabia que poucos relacionamentos sobrevivia à distância, eu sabia que nós dois éramos muito apegados um ao outro e que a distância nos faria sofrer demais. Mas, ele não me ouviu!

Foi um professor (que me fez criar ranço da cara dele. Tenho ódio desse homem até hoje! E o ódio aqui é mais maneira de falar só que sentimento em si. Não guardo nada ruim dentro de mim, mas eu não quero passar nem perto desse homem e muito menos ouvir falar dele.) que fez a cabeça do Caio falando que a residência em São Paulo era uma das melhores do país e blablabla. A residência em São Paulo até poderia ser melhor do país, mas para o nosso casamento… Eu nunca pensei que o período de formação fosse tão complicado para um relacionamento, não sei se era porque nós somos da área da saúde, não sei se as outras áreas são mais tranquilas. Eu, particularmente, acho que toda área é complexa! Então, eu acho que o que agravou um pouco mais foi a distância. Um casal que é acostumado a estar sempre juntos, que são parceiros para tudo de repente se vê longe um do outro, geraria conflitos com certeza.

Foi tendo consciência de tudo isso que eu tentei ser o mais compreensível que eu consegui. Por isso também, eu tentava aliviar um pouco a tensão que ele sentia e por isso eu tentava fazer o máximo possível de carinhos para ele nos momentos que ele estava em casa ou que eu ia a São Paulo. Esses conflitos todos nos acompanharam durante toda a residência. No momento atual da história, ele já estava no ano final da residência e tudo estava um pouco mais caótico e eu estava tentando segurar todas as pontas do nosso casamento, eu não podia deixar nada cair. Quem não tinha consciência de todo esse contexto, dizia que eu mimava o Caio ou que eu era submisso a ele por fazer esse tipo de carinho, as pessoas adoram julgar aquilo que não conhecem. Eu era duramente criticado por alguns amigos (amigos que não apareceram e não aparecerão nos contos). Cansei de ouvir que eu era muito besta para o Caio, que se estivessem no meu lugar, já teriam se separado há muito tempo. As pessoas adoram se meter na vida dos outros e falar coisas que não conhecem. Eu não jogaria todos aqueles anos de casamento no lixo porque ele estava para São Paulo e ausente de casa. Se ele estivesse curtindo a vida para lá, se ele tivesse me dado o menor indício de traição que fosse, com certeza eu me separaria. Como nunca existiu isso, eu tentei entender o lado dele. Ele estava correndo atrás dos sonhos dele, eu tive a oportunidade de correr atrás do meu e eu não podia tirar aquilo dele.

Eu não me sentia mimá-lo, muito menos que eu era submisso (uma ideia residual do filho da puta do patriarcado instaurado na nossa sociedade. Sim, sou um viado feminista! As causas LGBT e Feminista se cruzam e ninguém solta a mão de ninguém na luta contra o patriarcado. Alguns héteros sempre tem a ideia de que em um casal gay sempre tem um macho machão e um outro totalmente submisso. Gostam de refletir a estrutura patriarcal de um casal hetero em um casal gay). Eu cuidava dele porque eu o amava, porque ele sempre cuidou de mim, sempre houve reciprocidade entre nós. Mas, como eu disse, eu sou besta, mas não tanto. Com o passar dos anos e ao aumentar o peso da ausência dele, eu fui cansando. O que me dava prazer em fazer, eu passei a ver como sobrecarga. Ao me verem cansar, as pessoas mudaram o discurso. Antes falavam que eu o mimava demais, agora já falavam que eu era incompreensível por não entender o ENORME sacrifício que ele estava fazendo ao ir para São Paulo estudar. Eu preferia ouvir as primeiras críticas, pois me chamar de incompreensível depois de tudo o que eu já tinha feito por nós dois me dava uma raiva de outro mundo.

Nós continuamos nossa conversa...

- Amor, eu preciso te contar uma coisa… - eu disse

- Problema aí em casa?

- Depende do ponto de vista…

- Quando você fala isso, geralmente não é problema. - ele sorriu

- Mas isso talvez possa ser…

- Então, você poderia falar logo ao invés de ficar rodando sobre o assunto.

- Eu tô no doutorado…

- Isso eu já sei!

- Pois é, tô no doutorado e a Suzana me apresentou, há algum tempo, um processo seletivo para uma bolsa muito interessante.

- E você passou?

- Ainda não saiu o resultado. Já era para eu ter falado com você há mais tempo, mas ou eu esquecia ou não dava para falar devido a correria.

- Que bolsa é?

- Doutorado Sanduíche.

- Esse não é aquele programa que…

- Que eu tenho que passar de 6 meses a um ano em alguma universidade do exterior realizando um estágio doutoral. É, esse mesmo!

Ele ficou em silêncio, sem me olhar.

- Você não vai falar nada?

- Você tomou essa decisão sem falar comigo?

- Tomei…

- Não gostei disso, Cadu.

- Eu já imaginava que você não gostaria. Desculpa por não ter falado antes… ainda não saiu o resultado, então, pode ser que eu nem passe.

Eu nem me sentia culpado, pois ele decidiu ir para São Paulo sem me falar nada. Chumbo trocado não dói e meus seis meses era chumbinho perto dos 3 anos dele.

- Você mesmo disse que nós não tomaríamos esse tipo de decisão sem falar com o outro. É uma decisão que impacta a nossa vida.

- Eu sei… Mas, primeiro, você mesmo não ouviu o que combinamos, não é mesmo? Segundo, quase nunca a gente consegue conversar.

- Você vai jogar a culpa em mim?

- Espera, em que momento você ouviu eu dizer que a culpa é sua?

- Bom, você diz que a gente não consegue conversar…

- Você jogar o seu sentimento de culpa sobre isso não vai ajudar em nada. Eu não disse que você era o culpado por algo, eu só disse que não conseguimos conversar.

- Você disse que eu não fiz o que combinamos…

- E eu tô mentindo? Você não decidiu passar por cima do que combinamos e se mudou para São Paulo? Isso é alguma mentira por acaso?

- Você acha que boa parte da culpa é minha, né?

- Você falou certo, parte da culpa.

- Eu sei que não tem sido fácil…

- Você tá tentando conduzir a nossa conversa para um ponto onde você me ouça reclamar da nossa atual situação e da sua ausência? Se for isso, não vai rolar. Eu já falei tudo o que precisava ser dito… se você não ouviu…

- Não é isso… é que eu sei que você fica incomodado com a minha ausência.

- Se você sabe, pra quê conduzir a conversa a esse ponto? Só para me ouvir repetir? Acho que é mais interessante você se fazer presente do que ficar me ouvindo reclamar.

- Não, amor, não é isso…

- Então, pra quê falar disso?

- É que eu fico incomodado em não poder estar com você aí em casa.

- Eu também fico, Caio, e muito! Mas como você mesmo sempre diz: o que a gente pode fazer? Você fez a sua escolha. Você decidiu ir para SP. É isso...

- Mas eu vejo como você fica por eu estar aqui em São Paulo ou quando estou aí em casa e preciso estudar.

- Bom, se você quer me ouvir repetir, então vamos lá… Não vou negar nada do que você disse, você sabe o que eu penso e como me sinto. Gosto de ver você do meu lado e eu não poder sequer te beijar? Não, eu detesto! Gosto de ficar o tempo todo sozinho aqui em casa? Não, eu odeio! Gosto de estar há um tempão sem saber o que é transar? Com toda certeza, eu odeio essa parte também. Gosto de ter que sair o tempo todo sozinho porque meu marido está absorvido pelo trabalho? Não, eu também detesto isso. Gosto de você estar morando em outra cidade e eu sentir saudade de você durante o dia inteiro? Isso é o que eu mais odeio. Gosto de você estar há dias sem vir aqui em casa? Odeio também! Você consegue mudar isso agora?

- Apesar de querer muito mudar tudo isso, de querer muito voltar para casa e ficar mais com você, infelizmente, ainda não consigo.

- Então, temos novamente a resposta que a gente já sabia, não é? Não dá para fazer nada por enquanto e teremos que ter paciência. - acho que eu falava isso mais para mim mesmo do que para ele - você já pode reduzir esse sentimento de culpa.

- Você ficaria do mesmo jeito se estivesse no meu lugar?

- Provavelmente sim.

- Eu não quero ficar 6 meses longe de você. Eu já estou esses anos todos… Eu tô aqui em São Paulo, de vez em quando consigo voltar para casa. Mas se você for para outro país, é impossível eu visitar você com frequência.

- Você tá sofrendo por antecipação, eu só me inscrevi.

- Para você estar me falando, significa que o resultado sai em breve.

- Não, ele vai demorar a sair. Eu fiz a minha inscrição recentemente.

- O que a Suzana disse?

- Que tenho chances de passar, ela me orientou em cada detalhe da seleção.

- Para onde você vai?

- Escolhi a Université de Liège como primeira opção e como segunda, eu escolhi uma universidade de Paris.

- Caramba! Se você passar para Liège, é perto de casa lá na Bélgica. Até mesmo se for para Paris, fica pertinho de casa…

- Isso! Por isso escolhi Liège ou Paris.

- Se você passar, você vai quando?

- Só em junho-julho do ano que vem.

- Eu já vou ter terminado a residência.

- Sim, foi por isso que eu me inscrevi nesse processo seletivo. - eu tinha uma esperancinha que ele viesse comigo, mas eu não poderia forçá-lo afinal ele estava cheio de projetos.

- O Bibete se inscreveu também?

- Não, ele não se inscreveu e nem sabe que eu me inscrevi.

- Por quê? Vocês vão juntos para tudo…

- Ele não quis se inscrever, quer dar mais atenção ao Rafa, está querendo casar, morar junto… essas coisas.

- Se você passar, você vai sozinho?

- Vou!

- Se eu quiser ir, eu posso?

- Que pergunta, Caio!

- É que você não disse: “não, eu vou com você”.

- Porque eu não posso te arrastar para o meu projeto… Óbvio que se você quiser ir comigo, eu vou amar, é o que eu mais quero, na verdade. Ficar mais seis meses longe de você não seria nada fácil, esses anos têm sido horríveis.

- Eu não quero ficar longe de você, eu pensava…. Eu não quero ficar longe de você, amor. Mas…

- Mas, você está terminando a residência e começando a carreira. Eu entendo…

- O que a gente vai fazer?

- Como assim?

- Eu não posso ir, você precisa ir…

- Não tem o que ser feito! Se eu passar, eu vou e você fica.

- Você fala isso assim, no seco.

- Tem outro jeito de se falar?

- Você não pensou em ficar aqui comigo?

- Desculpa, mas não. Se rolar, vai ser uma oportunidade única! Você escolheu ficar três anos longe de casa, eu não posso ficar seis meses?

- Então, você só fez me comunicar?

- Não entendo o motivo de você falar assim.

- Como não entende? Você tomou uma decisão sem conversar comigo, você só tá falando que vai embora para outro país… poxa, nós somos casados.

- Você esqueceu disso quando resolveu ir para São Paulo, né?! Não esquece que você também não conversou comigo, você só comunicou que passaria três anos longe. Você não tem porque ver problema no que eu fiz…

- Você nunca vai me perdoar, né?!

- Credo, como você repete essa pergunta… Deus me livre!

- Minha opinião não conta mais?

- Claro que conta, Caio. Se não contasse, eu não estava conversando com você. Se não contasse, eu só arrumaria minha mala e iria embora. Foi assim que você fez, né?! Você também não me falou nada sobre São Paulo, quando eu soube, você já estava praticamente de mala pronta. Você só me disse "tchau", minha opinião não valeu de nada. Por que agora na minha vez teria que ser diferente?

- Se eu te pedisse para ficar, você ficaria?

- Você sabe a resposta.

- Você decidiu ir para Bélgica só para me castigar por eu ter vindo para São Paulo?

- Para você não ouvir uma resposta bem escrota, eu vou fingir que nem ouvi o que você falou. - se eu analisar hoje essa situação, eu acredito que tinha um pouco disso que ele falou, sim. Mas não era somente por isso que eu queria ir, eu queria viver algo novo. Queria sair um pouco daquela rotina esgotante que eu estava vivendo, eu realmente não estava mais aguentando. Eu precisava de coisas novas! Eu precisava me sentir bem de novo!

- Por que você quer ir?

- Pelo mesmo motivo que te levou a São Paulo.

- Se eu quiser ir, eu posso?

- Nossa conversa tá ficando meio maluca… você já me perguntou isso e eu já disse que é o que eu mais quero, só que eu não posso te arrastar junto comigo já que você tem a sua vida.

- Eu só tô querendo achar uma solução.

- Não tem solução, amor. Primeiro, o resultado ainda nem saiu; deixa pra gente se preocupar se eu passar. Segundo, você não pode ir comigo. Ou pode?

- Eu não sei te falar, ainda nem terminei a residência.

- Você tá cheio de projetos após a residência, então, é óbvio que você não vai poder ir e eu não quero que você vá só por minha causa.

- Mas por qual outro motivo eu iria se não fosse você?

- Pois é, não gosto disso. Você deixar seus projetos por mim… sei lá, depois você se arrepende… Eu não deixei tudo para ir com você para São Paulo, não tenho porque te cobrar deixar tudo para ir comigo.

- Você tá falando assim comigo só por causa da minha ausência em casa?

- De novo eu vou fingir que nem ouvi isso!

- Sério, Cadu, é por isso?

- Também!!

- Não curto muito o jeito como você tá falando…

- Acho que a gente tá catando motivo para brigar. Eu tô falando normal com você, você que tá vendo coisa onde não tem nada.

- Amor, você decidiu algo assim sem falar comigo.

- Eu sei que era para eu ter falado com você… mas como eu disse, você não considerou o que eu falei quando você decidiu sair de casa.

- Nossa vida vai mudar completamente, de novo.

- SE eu passar!

- Você se dedicou ao mestrado e ao doutorado, sua professora adora você, você publica desenfreadamente, produz como ninguém… a gente já sabe o resultado dessa seleção.

- Não é bem assim.

- Claro que é, Cadu.

- Você não fica feliz por isso?

- É claro que eu fico feliz com o seu sucesso, mas é que eu achei que depois de todos esses anos de residência, anos que a gente não esteve no nosso melhor momento… eu achei que enfim a gente iria conseguir ficar mais perto um do outro.

- Eu sempre estive aqui.

- Acho que eu concordo com você, estamos procurando motivos para brigar. Ou achando espaço para falar o que está nos incomodando. Você vem incomodado e não é de hoje, né?

- Eu não quero continuar sendo o marido chato e incompreensível, já venho sendo nos últimos meses.

- Você falar o que te incomoda não vai fazer você ser incompreensível.

- Acho que vai sim… pelo menos é o que todo mundo aqui no Rio acha. Eu também não quero fazer algo que você nunca fez comigo.

- Odeio quando você fala em códigos. Vai, fala o que você realmente quer falar.

- Eu quero transar, Caio. Eu quero você aqui! Eu tô com saudade de você. É isso! Há muito tempo não sei o que é transar porque você vive só para a residência, nem lembra mais que existe vida fora dela, muito menos que tem marido e que esse marido precisa de algumas coisas. Quando você está aqui em casa, você vem num dia e volta no outro e o pior de tudo é que você não vem me ver, você vem estudar aqui em casa. São raras as vezes que ficamos juntos e fazemos amor!

- Você está chateado por isso? - ele perguntou rindo da minha cara

- E você ainda ri de mim?

- Claro! Que motivo mais besta!

- Besta para você! Isso só me mostra que você esqueceu que está casado.

- Se você queria transar, por que não falou antes?

- Bom, acho que isso a gente não fala, né? Eu não iria chegar em você, enquanto você estuda, e falar: “ei, vamos dar umazinha ali?”.

- Você é muito bobo, amor.

- Eu tô falando sério, Caio.

- Era só você ter me falado. Eu teria parado qualquer coisa.

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Surpresinhaaaaa! :)


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Comentários

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Estou achando a Ju cada vez mais companheira, amiga mesmo....

Eu estou achando que a ficha do Caio ainda não tinha caído quanto a gravidade do que vocês estavam vivendo e de como você estava se sentindo. Particularmente não curti esse meio deboche quando você falou da falta de sexo. Será que ele ainda não tinha entendido queno fato dele não dar um tempo nem pra isso, parecia uma grande falta de interesse por você??

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Adorei

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Cada vez mais a imaturidade do Caio e latente

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Tá bem difícil a situação. Preocupado agora.

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Amoooo kkkkk transem mt pfv

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