Anciosa pra esse desenrolar
O NOVO NORMAL (pt.4)
Anteriormente em O NOVO NORMAL:
- Dê uma chance pro menino, filha - diz dona Vilma - você sabe que ele é um bom filho.
Denise beija a testa da mãe.
- … Eu preciso ir pra casa, mãe, te amo.
………………………
(Atenção: NÃO TEM SEXO AINDA, então não adianta reclamar comigo, porque estou avisando de antemão! Eu prometo que no próximo episódio consigo fazer essa mulher pelo menos dar uma boa mamada no filho, ou alguma outra coisa, mas não achei que era o momento ainda. Boa leitura).
……………………
Depois daquele evento constrangedor com o filho, Denise ficou um pouco arrependida da forma como reagiu. O filho já era tímido para chegar em uma garota, e receber um fora daqueles só dificultaria mais as coisas para ele. Além disso, ela precisava parar de dar murro em ponta de faca, achando que tudo aquilo era um absurdo, quando já tinha entendido que era simplesmente o normal para todos. Ela se lembrou também de como foi receber um fora quando tinha a mesma idade que o filho. Na época ela estava apaixonada pelo rapaz, que se chamava Luiz. Iludida, achou que o moço também estava a fim dela. Quando finalmente tomou coragem de dizer-lhe, a coisa não saiu muito bem. Ela podia lembrar, mesmo sendo tanto tempo atrás…
…….
- Luiz … Por que estamos conversando aqui na arquibancada? - diz Denise ao lado do moço, enquanto todos os outros alunos se divertiam na quadra.
- É que só eu e você não gostamos de futebol - diz Luiz
- … Mas… Olha… Luiz … eu quero te dizer que…
- Que o quê?
- Eu também gosto de ficar perto de você…
- Ãn?
- Você quer me dizer alguma coisa, Luiz?
- Eu não, oxi kkk
- … Por que você está rindo? - diz Denise, encostando sua mão na mão de Luiz.
Ele retira rapidamente.
- Oxi, kkkk Tá doida, Denise? Que porra é essa??? Kkk
Denise sentia seu mundo interior desabar. O rapaz agora ria mais e mais, até virar uma gargalhada. Então ela começa a chorar e corre para o banheiro.
……………...
"É incrível como fiz a mesma coisa com meu filho." - pensa, arrependida.
O café da manhã estava pronto, mas não sabia se devia chamar Beto para unir-se a ela. Talvez fosse melhor deixar ele dormir mais. Talvez estivesse ainda chateado. Enquanto ponderava, se pegou pensando no fato de o filho estar gostando dela. Embora tentasse evitar, de ontem para hoje caíra algumas vezes nesse mesmo pensamento.
"Será que ele está apaixonado mesmo? Claro que não tenho interesse nenhum nisso... Primeiro porque não faz sentido, sou a mãe dele. Mas claro, provavelmente ele só queria mesmo era 'ficar' comigo, como os jovens de hoje fazem… Sim, acho que nem estava pensando em algo sério… então não deve estar sofrendo é nada. Hoje em dia ninguém quer nada sério, essa é a verdade." - Denise pensava - "Mas eu melhor que seja assim, porque claro que eu não quero nada com ele".
Logo ao primeiro gole do café, Beto chega à cozinha, dá um bom dia tão baixo que só mesmo por leitura labial se percebe. Em silêncio, senta-se à mesa e começa a se servir. Denise o observa.
- Tá tudo bem, filho?
- Uhum
- …
Silêncio de alguns minutos.
- Vai ficar assim comigo o dia todo? - Denise puxa assunto.
- Estou normal - ele diz sem olhar pra mãe
- É, tô vendo, super normal...
- … De boa, mãe, esquece isso.
- Eu não quero que pense que você não é uma pessoa interessante, ou um rapaz bonito… Eu não quero que você pense que … Beto, é sério, qualquer menina da sua idade ia…
- Mãe, para. Eu cheguei do meu pai pensando uma coisa e simplesmente não foi como pensei, só isso. Já passou, deixa pra lá.
"Hum, se já passou não era sentimento de verdade, era só essa coisa de 'ficar'. Melhor assim mesmo… Embora eu não entenda os rapazes de hoje em dia, parece que não eles têm sentimentos, só querem curtição. Mas não importa, melhor que seja assim".
Em seguida, ela continua:
- Mas é você que não está deixando pra lá, filho. Está quieto, cabeça baixa. Como eu fico me sentindo?
- E eu, mãe, como fico me sentindo? - ele retruca.
- Eu já pedi desculpas pela minha reação, filho. Aquilo me pegou de surpresa e…
- Não estou mal por aquilo. Fiquei mal na hora, mas já passou.
- Então, por quê?
- … Ué, eu estava... gostando de você… É sempre difícil receber um "não" quando estamos gostando de alguém, né?
"Estava, quer dizer que não gosta mais..." - ela pensa.
- Mas isso passou, certo? - ela o observa.
- Isso o quê?
- Isso… essa… sei lá, estar gostando de mim.
- … Não. Mas vai passar.
Denise tem confusas sensações. Por um lado, havia muito tempo que ninguém dizia algo assim para ela, e ouvir fez sua autoestima melhorar, se sentir mais jovem e bonita, afinal, toda mulher gosta de saber que tem um admirador.
- Sim, filho, vai passar, você só está confuso, logo aparece uma garota mais nova e…
- Mãe, para. Eu estava a fim de você e você não estava a fim de mim… pronto, não precisa se desculpar.
- Ok.
Alguns dias depois a situação entre mãe e filho se normaliza. Denise às vezes se pegava pensando se o filho ainda sentia algo por ela ou não. Não que ela estivesse interessada, claro, mas achava muito estranho essa coisa dos rapazes, de gostar e desgostar tão rápido.
Havia ainda algo que Denise queria ignorar no começo, mas que agora a estava fazendo sentir-se culpada. Ela se deu conta dias atrás, enquanto penteava o cabelo, que estava preocupada se estava bonita ou não, mesmo que ia passar o dia todo em casa. Por algum motivo se preocupou com a aparência, mesmo estando só ela e o filho na casa. E uns dias depois, enquanto pintava as próprias unhas dos pés, perguntou-se por uma fração de segundo se o filho ia reparar, como da outra vez. Ela então afasta esse pensamento da cabeça, mas sente-se culpada por algo que nem sabe direito o que é.
Mas a gota d'água veio mais tarde, quando Roberto não estava em casa e ela foi olhar no notebook dele para descobrir se o filho estava conhecendo alguma garota ou algo assim.
"Eu não estou fazendo nada demais, oras. Preciso saber se meu filho está namorando, ficando, conhecendo alguém… Toda mãe faz isso… Sim, não estou fazendo nada demais."
Porém, ao término de sua pesquisa, sabia que na verdade estava preocupada se o filho ainda estava a fim dela ou não. Mas por quê? O que isso importava? Denise estava confusa e aflita.
"Eu não quero nada com ele, óbvio que não, jamais... nunquinha mesmo, nem faz sentido, sou a mãe dele… Realmente, não quero nada, nada mesmo, óbvio… Nem preciso dizer isso a mim mesma, porque é tão óbvio, aff, é meu filho, jamais eu ia querer algo com… Não, jamais, jamais mesmo, aff… Pode esquecer, chance zero, não mesmo."
Mais tarde o filho chega cansado de sabe-se lá onde. Denise estava preparando o jantar, picando alguns alimentos.
- ...Onde você estava, Beto? - pergunta Denise fingindo não estar muito interessada.
- … Por aí.
- Por aí, onde? - ela insiste
- Uma amiga me pediu uma ajuda…
- Que amiga?
- …
- Tudo bem, não precisa dizer, só perguntei por perguntar.
Roberto senta-se à mesa e começa a descascar uma laranja. Denise fica ansiosa com o silêncio do filho, que parece que está com a cabeça em outro lugar. Quando ela já ia quebrar o silêncio, é surpreendida:
- Ela se chama Valquíria, você não conhece - ele diz
- Hum…
Denise sente vontade de fazer mais e mais perguntas, mas sabe que isso soaria mal. Não tinha a menor vontade de "ficar" com o filho, claro que não, isso seria um absurdo ridículo e impensável, mas o que a deixava puta da vida era como uma pessoa pode estar apaixonada e, em questão de dias já estar pensando em outra, e…
- Mãe???
- ??? Oi, desculpa, eu estava pensando em outra coisa aqui.
- Você ouviu o que falei? Eu disse que ela é aluna nova no curso de inglês.
- Ah, sim… claro que ouvi - ela mente, constrangida - e… ela é bonita?
- Por que está perguntando isso? Eu só fui arrumar o PC dela.
"Duvido que iria se fosse uma menina feia…" - ela pensa.
- Só perguntei, ué..
- Sim, ela é bem bonita
Denise detesta ouvir isso. Não que ela tivesse ciúme do filho, claro que não, jamais, óbvio que não, nunca mesmo, mas esses rapazes se iludem muito com a beleza, e às vezes a menina não vale nada e…"
- Mãe??? Você tá bem???
- Eu? L... lógico, eu ouvi tudo.
- E o que eu falei, então?
- Olha, Roberto, eu tenho mais o que fazer… Eu disse que ouvi o que você falou e pronto. Eu tenho que lavar roupa, me dê licença!
Denise sai visivelmente alterada e vai assistir TV na sala. Alguns minutos depois Beto senta no sofá junto a ela.
- Não ia lavar roupa?
- EU NÃO TENHO DIREITO DE ASSISTIR TV??? SÓ SIRVO PRA LAVAR ROUPA? OLHA, ROBERTO, QUALQUER DIA EU VOU SUMIR DESSA CASA, ESCREVE O QUE ESTOU TE FALANDO!!
"Ôxi, que porra é essa? Não fiz nada e ela tá demais. Eu, hein?"
Alguns minutos se passam e então ele vê os pés da mãe, que estavam sobre o sofá, ela com as pernas encolhidas, calça legging azul marinho, com uma camiseta grande o suficiente para tampar tudo na altura do quadril.
- Ficou bonito, hein?
- … Quê? O que foi? - Denise pergunta sem entender
- Seu pé, ficou lindo.
- Ahn… - ela cobre os pés com uma almofada - não ficou tão bom, fui eu mesma que fiz.
- Posso ver?
- N…
"Não tem nem sentido não deixar ele ver, não é nada demais."
- Pode - mas ela não tira a almofada, continua assistindo TV normalmente.
Beto tira a almofada que cobre os pés da mãe, enquanto Denise sente um pouco de vergonha, já que ela não era profissional.
- Nossa, ficou lindo mesmo - ele diz pegando e manipulando cada dedo, para ver as unhas com atenção.
- Eu estou aprendendo ainda…
- Mas já ficou lindo - seus movimentos se tornam mais e mais leves, até que ele já não está mais movendo seus dedos para olhar, errado movimentos quase que de massagem, ainda que tímidos, e apenas nos dedos.
- Bom, pronto, já viu - ela cobre novamente com a almofada.
- Ok…
"Você fez a mesma coisa, Denise, disse que ia agir diferente, mas fez como antes." - ela pensa.
Um minuto se passa, eles olhando para a TV.
"Mas também, o que ele queria, ficar acariciando meus dedos? Cada uma! Se bem que… com aquele fora que dei nele ontem dificilmente ele esteja querendo algo… De repente só quis ser gentil comigo, como filho mesmo… Ele até prometeu que não ia insistir naquilo, então provavelmente foi apenas gentileza. Merda, já não sei mais discernir entre uma coisa e outra. Meu filho sempre foi carinhoso comigo, mas agora não sei mais o que é carinho e o que é outra coisa. Que inferno!"
Mais algum tempo se passa quando o programa da TV chama bastante atenção. O programa de fofoca dizia:
- ...Sim, mais um ator de Hollywood que será papai e avô ao mesmo tempo!!! haha - dizia o homem, aplaudindo e sorrindo.
- Sim - continua a mulher ao lado dele - olha que barriga linda dela - a imagem da moça toma a tela, sorrindo feliz ao lado do pai - e eles nem são casados ainda! Uau!
- É, mas agora acho que vai casar hahaha - ele conclui, mostrando outra foto na tela, dos dois dando um beijo na praia, que algum paparazzi havia conseguido - felicidades para o casal!
Denise não fala nada, nem troca de canal. Espera para ver se o filho comenta algo, mas ele nada diz.
"Dê uma chance ao rapaz, minha filha, você sabe que ele é um bom filho" - lembra Denise do conselho da mãe.
- Você gosta desse ator? - Denise puxa assunto.
- Gosto sim, ele só faz filmão.
- Meio velho pra filha dele, não?
- Ah, não acho.
- Como não, é a mesma diferença entre nós…
- Pois é, mãe, eu não acho muita diferença assim entre nós. Você é bonita demais… você sabe disso.
"Dê uma chance ao rapaz, minha filha, você sabe que ele é um bom filho" - o coração pulsando.
- Mas a pergunta é: será que ele quer algo sério? Porque atores só gostam de curtição, difícil um deles levar relacionamentos à sério
- Ah, mãe, quando é entre família geralmente há muito mais amor… você sabe.
"Dê uma chance ao rapaz, minha filha, você sabe que ele é um bom filho"
- Será? Eu acho que pessoas, principalmente as da sua idade, não querem algo sério, não.
- Com você eu seria sério, engraçado, introvertido, extrovertido… o que você quisesse.
Denise fica sem jeito, suas bochechas não escondem.
"Dê uma chance ao rapaz, minha filha, você sabe que ele é um bom filho" - Denise sentia baita calor, e o coração quase saindo pela boca.
- Não é simples assim, filho…
- É simples, mãe. Você é que está complicando.
- Filho…
- Mãe…
- O quê?
- Por favor, fica comigo... - Beto diz com a voz mais macia, carinhosa e mais convidativa que Denise jamais ouvira. Estava inseguro, mas apaixonado.
- Filho, eu...
- Por favor, mãe, eu sempre vou te respeitar! Por favor!
"Dê uma chance ao rapaz, minha filha, você sabe que ele é um bom filho"
- Eu…
- Me dá uma chance, mãe, só uma chance, é só isso que peço!
"Dê uma chance ao rapaz, minha filha, você sabe que ele é um bom filho..."
(Continua...)