A Deusa Taweret - Capítulo 28 - Entrevista com uma Deusa e Capítulo 29 - Prévia

Capítulo 28 – Entrevista com uma Deusa

Aquela noite eu tenho um pesadelo estranho.

Não parecia sequer que era um sonho, pois eu estava em meu quarto mesmo. Quando então um vulto cinza como uma serpente se aproxima vindo da parece para o chão. Era uma espécie de mulher com uma cauda enorme de dinossauro. A cabeça dela aparece na beirada da minha cama como um cachorrinho assustado, porém curioso. Os olhos brilhavam vermelhos na escuridão como o de um gato que ao invés de refletir a luz na retina, produz a sua luz e vasculha o ambiente com uma visão a laser.

- Quem é você?

Ao invés de me responder ela fica cheirando a cama onde eu estava deitado e no fim dá uma lambidinha no meu rosto. A língua era comprida e áspera como uma lixa gosmenta e úmida roçando na pele da minha face.

E como se isso fosse um beijo de despedida a criatura usa a cauda de catapulta e se joga na parede e depois salta pela janela nas ruas escuras da noite inglesa.

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Fazia 3 anos que o Comitê havia perdido contato com a minha mãe e meu pai não tinha retornado para casa da sua tentativa de resgate.

Da parte da minha mãe Sarah eu já havia entendido o que havia acontecido e sabia que ela tinha se tornado a Deusa Taweret nessa tribo africana.

Mas e o meu pai?

Eles tiveram mesmo a maldade e a crueldade de matá-lo?

Hoje era o dia no qual eu seria maior de idade pelas leis britânicas e não precisaria da tutela legal do Professor Alvo’o. Foi uma coincidência estranha eu ter tido aquele pesadelo justo na noite anterior a essa data. Ainda mais considerando o fato de que eu havia voltado a usar o Selo de Salomão no pescoço a fim de me proteger das influências da Deusa egípcia.

Eu então arrumo o meu quarto para evitar que o Alvo’o reclamasse e já ia preparar o café da manhã meu e o dele. Nesses 2 anos e 9 meses que eu vivi ali o Professor em troca de lar e comida me ensinou as artes do ocultismo, da filosofia e das magias antigas.

Mas as artes que eu mais aprendi.

Foram as da culinária e da limpeza doméstica.

Só que ao chegar na sala o Professor Alvo’o já tinha feito o seu café (o que era raríssimo desde que me mudei pra cá) e estava compenetrado olhando a tela da televisão.

E quando eu foco no monitor de vidro da TV de tubo dele eu entendo o porquê.

Nele uma repórter estava entrevistando a minha mãe. Ela estava em um tronco deitado feito de banco e com uma floresta ao fundo. E de todos os lados a rodeando havia um grupo tribal de mulheres e homens negros sorridentes de saias de palha e tangas de coro. Eles pareciam aqueles civis que em uma entrevista com uma celebridade de Hollywood querem ficar como figurantes sorrindo ao fundo.

- Senhora Sarah Hayakawa, o que motivou a sua estadia por tanto tempo aqui e sem notícias ao seu filho, marido e ao seu próprio trabalho junto a um Comitê da ONU? Houveram notícias tenebrosas sobre o seu desaparecimento.

E se houveram.

Tabloides ingleses noticiaram durante um dia inteiro que uma diplomata de sua terra natal que trabalhava no Comitê de Ensinos Linguísticos da Organização das Nações Unidas estava desaparecida em uma comunidade africana isolada na Zâmbia. Teve um grande alvoroço nas primeiras horas até que o Comitê da ONU informou que já havia entrado em contato com o governo do país africano para mais detalhes.

Mas vocês sabem como é a internet.

No dia seguinte houve um atentado em um show de uma tal de Ariana Grande (nunca tinha ouvido falar) e que deixou 22 mortos no Manchester Arena, onde quando eu era bem novo eu ia com meu pai ver partidas de Hóquei no gelo.

E então para a internet o assunto ‘’Inglesa Sarah desaparecida no meio de uma tribo africana’’ já estava datado 24 horas depois. Para o público online o que importava era a nova hashtag do Twitter; a nova notícia polêmica da família real ou o novo cancelamento de uma digital influencer.

Os únicos que infelizmente continuaram a busca pela minha mãe foram os sites de extrema direita europeus de cunho racista e neonazista, que na realidade queria mais era usar o que eles achavam que tinha acontecido com ela como uma desculpa para as teses preconceituosas de supremacia branca deles.

E desde então eu me afastei de tudo isso e me alienei de qualquer notícia.

Até hoje no meu aniversário.

- Trabalhando tantos anos em comunidades isoladas eu sempre tive um interesse profundo pelas culturas e tradições locais de cada povoado na qual a ONU me enviava em suas missões de ensino linguístico e de trocas culturais. Porém esta pequena tribo neste pequeno vale me ensinou muito mais sobre a vida do que eu jamais poderia ensinar nas aulas de inglês e outros idiomas que eu ministrava. Eu entendi que eu tinha muito mais para aprender com eles, do que ensiná-los. Muito mais para dar a essa vila do que a qualquer outra que já estive antes.

- Então você se encantou pela tribo? Pela vida, digamos, exótica? – Formula a repórter balançando a mão contra os mosquitos e tentando usar os termos corretos para não ser taxada de racista ao vivo.

- Sim. Eu me apaixonei perdidamente pela vida simples, contudo mágica e envolvente do povo daqui; e também pela natureza exuberante e colorida. Eu me sinto completa e posso finalmente me doar e me dar de corpo e alma com todo o meu amor e carinho por todos que vivem aqui. Eles são os meus filhos. E eu sou a mãe deles.

- Entendo. Claramente dá para ver que você escolheu investir mesmo nessa vida alternativa em uma tribo isolada do resto do mundo.

A repórter disse isso enquanto o telespectador podia ver sendo transmitido para o mundo inteiro e no canal do jornal no Youtube a minha mãe com dois bebês no colo e com um barrigão enorme de outra gravidez. E tudo isso enquanto ela amamentava ambos ao mesmo tempo.

- Isso. Eu decidir me mostrar ao mundo para que todos fiquem calmos e vejam que isso é uma escolha da Sarah. Eu me apaixonei por este homem. Venha Zabu, meu marido. Dê um oi para esta moça branca de fora.

E um homem negro com uma cara séria e desconfiada aparece nas lentes da câmera na transmissão e faz um sinal de mãos abertas como um adeus, claramente algo que a Taweret coreografou para que ele executasse.

- Uau. E nesses 3 anos já estão caminhando para o 3º filho do casal?

- Sim. Ser mãe novamente é uma honra e uma enorme alegria pra mim. Quase como uma vocação ou um dever divino que estou cumprido. Aliás, eu gostaria de ressaltar ao telespectadores que aqui as famílias são monogâmicas e temos casamentos muito parecidos com os da cultura ocidental. Longe de quaisquer estereótipos preconceituosos que porventura tenham escutado a respeito da Sarah. Eu estou bem e saudável.

Que filha de uma puta.

A Deusa estava aparecendo na TV unicamente para evitar eventuais futuras crises diplomáticas que poderiam ou não surgir entre o país africano e o europeu. Agora a minha mãe não estava mais desaparecida e o problema acabou.

- Dá para acreditar? Os pivetes no colo dela nem tem a cara desse tal de Zabu. Ela quer evitar aquelas fanfics que fizeram nos blogs a um ano e pouco atrás, inventando essa de marido e mulher nos moldes cristãos. Quando nós dois sabemos que o corpo da Sarah já deve ter sido fodido por todo homem em condições de ter uma ereção naquela tribo no mínimo algumas dezenas de vezes. E que sendo a puta de reprodução do vilarejo inteiro essa Deusa está gerando filhos a rodo com o poder ancestral e antigo dela. Eu nem sei dizer se a gestação das crianças negras no ventre da sua mãe tendo a alma da Taweret leva 9 meses, talvez leve bem menos, talvez leve 6 ou quem sabe 3, quem sabe? Mas pode ficar tranquilo, meu pupilo. É tudo invenção o que ela está falando.

Eu adorava as tentativas que o Alvo’o fazia de me consolar.

Agora quanto às fanfics. Muitas delas surgiram depois que nem os jornais e nem as autoridades diplomáticas e de polícia tinham mais declarações ou informações oficiais a respeito do paradeiro da Sarah. Então muitos fóruns dedicados e blogs de especulação trataram de inventar teorias mirabolantes e malucas sobre o que aconteceu com a minha mãe.

Metade versava sobre ela ter sido cortada e fatiada e servida como comida na tribo, como uma espécie de sopa ou chá mágico. Nessa linha existia outros que diziam que na verdade os pedaços dela foram separados e distribuídos pelo vilarejo como uma espécie de amuleto de ritual vodu com função de proteção e também para afastar intrusos e invasores. Esses dois grupos discutiam em uma Guerra Santa dos doidinhos, eram coisas irreais e até risíveis como uma discussão de pessoas que acreditam na terra plana com aqueles que acreditam na terra convexa.

E a outra metade dizia que a minha virou uma escrava sexual e era estuprada todo dia por 10 negros pirocudos com rolas de 30 cm. Essa vertente era a que mesclava mais fantasia erótica com especulação e teoria conspiratória. Muitos dos fiéis desta fanfic faziam várias animações 3D pornográficas sobre isso. Se eu digitasse o nome da minha própria mãe no Xvideos ou no Pornhub eu veria uma centena de vídeos de uma jovem professora de inglês indo ensinar idiomas em uma tribo, e no final servindo de puta com vários nativos negros fazendo gangbangs gigantescos que duravam a noite inteira e tinham a tribo inteira como participantes.

Apesar de exageradas nenhuma delas estava totalmente errada.

Mas só eu sabia que a alma da minha mãe que serviu de refeição para essa Deusa e o corpo dela como objeto de reprodução coletivo.

- Sim, vô Alvo’o. Não se preocupe, eu estou bem. – Estava nada.

A reportagem era curta e daqui a pouco teria a sua volta para o jornalista âncora no estúdio. Ela só estava um tempo maior no ar possivelmente para justificar o gasto com equipamento, passagem e logística de se enviar uma repórter e um cameraman para um lugar tão isolado e inóspito.

- Sara, agradecemos a sua presença e a Inglaterra descansa mais tranquila sabendo que a sua conterrânea diplomata está sã e a salvo. Gostaria de deixar um recado? Aos parentes e amigos?

O rosto da minha mãe abre um sorriso irônico e ao olhar para a tela ela diz.

- Só ao meu filho que eu deixei em casa. Querido, você era novo demais para entender tudo. E eu sei que hoje é o seu aniversário. Mamãe não esqueceu e não abandonou nunca você. Iremos comemorar hoje aqui por você essa sua data especial. Venha me visitar e entender o porquê a mamãe Sarah quis ficar aqui. Beijinhos e até mais, meu filho amado.

- Obrigada, Sarah pelo recado tão inspirador. – Meio constrangida e quase gaguejando a repórter se torna o foco com uma giradinha leve por parte do cinegrafista. - Aqui foi a Sophia Taylor com a Sarah Hayakawa, diretamente da Zâmbia na Sky News, Ted é com você.

E o dia a dia do noticiário segue normalmente e eu fico ali parado processando o que foi aquilo.

- Criança. Não seja bobo. Essa Deusa não lembrou do seu aniversário, não se abale. Ela contou os dias e veio a público para dispersar as preocupações com o paradeiro da Sarah. E além disso para tentar te recrutar. Não caia nessa.

E eu lembro da minha mãe vestida de Papai Noel aparecendo em casa e eu pequeno todo feliz com isso.

- Alvo’o, eu sei. Eu não sou bobo.

- Ótimo, agora me traz mais um pão e mais café. Já que eu não tenho uma empregada latina ilegal para dar uns tapinhas no bumbum você tem que ser eficiente. Estou te ensinando disciplina e maturidade. Muitos pagariam fortunas para ouvir uma palestra do velho Professor Alvo’o, e eu te dou aqui de graça. Então para de chorar e vai trabalhar.

E a boa e velha rotina volta.

- É pra já, Professor.

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Capítulo 29 – O Mensageiro da Deusa - Prévia (⚒️⚒️⚒️ EM CONSTRUÇÃO ⚒️⚒️⚒️)

- Deusa amada, tem certeza de que ele virá?

- Sim. Eu entendo a alma do meu filho. Já que a Sarah conhecia bem o garoto, logo eu também sei que ele estará aqui em breve.

- E então seguiremos com o seu plano?

Era tão bom ter inúmeros fiéis tão dedicados e que não questionavam nada. Eles tinham pouca ideia do escopo geral do que eu estava planejando e mesmo assim obedeciam e acatavam todas as ordens. Já fazia 3 anos e era como se eu tivesse pisado ali hoje, o amor e a veneração deles estava incólume.

- Sim. Ele será fundamental. O filho da Sarah será o Mensageiro da Deusa. Eu entendi que para ser a Mãe do Mundo novamente eu preciso dominar pelo sexo e não com exércitos como antigamente. Minha influência tem que ser difundida com a Palavra da Taweret. E assim os habitantes desta era moderna irão abandonar os falsos deuses por mim. A verdadeira divindade. Aquela que dá a vida e a prosperidade.

- Perfeito! Os preparativos para a chegada do filhote da Sarah serão feitos conforme as suas instruções.

- Assim espero. Ele poderá chegar a qualquer momento. Não o assustem.

Agora eu só preciso deixar uma pergunta na mente do menino.

E eu sei que ele virá.