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MULHERES APRISIONADAS
Eram duas mulheres lindíssimas.
Num auditório parcialmente ocupado, as duas assistiam atentamente a minha palestra sobre um assunto de Astronomia, que não tem a menor necessidade de esmiuçar aqui e agora.
Desde antes do início da palestra, acompanhei as duas beldades entrando no recinto, sentando-se em discreto lugar. Idades diferentes. A mais jovem era uma visão celestial, em sua delicadeza de traços, em seus olhos brilhantes, em seus gestos elegantes, seu andar flutuante; a saia curta deixava ver coxas perfeitas; a blusa, com seu discreto decote, insinuava seios empinados, durinhos. A outra, de mais idade, não destoava em elegância e gostosura; era uma beleza madura, um corpo que demonstrava constante cuidado. Bem íntimas – julguei mãe e filha.
Ao longo da conferência, meus olhos corriam sempre para voltar a vê-las. Pareciam concentradas, trocando opiniões, através de falas rápidas, de vez em quando acentuadas por sorrisos iluminados e iluminadores. Outras vezes, flagrava-as imóveis, sérias, atentas ao que eu apresentava. Eu então me desdobrava, procurava ser o mais loquaz e atraente possível – é como se o restante do público não existisse, e eu falasse apenas para elas.
Ao término do evento, entre alguns cumprimentos, descobri-as no palco, junto à mesa, meio sem jeito de se dirigirem a mim. Fiz-lhes sinal de que se aproximassem – meu coração já disparado, minha rola já inquieta. Sorridentes, chegaram junto. Não eram mãe e filha, mas madrinha e afilhada, e se interessavam bastante pelo assunto. A mais nova perguntou se poderíamos tirar uma selfie (que voz deliciosa!). Claro que sim, com prazer!
Ao sentir o delicioso aroma daqueles dois corpos delicados ao meu lado, roçando-se inocentemente no meu, preparando a pose, e mais outra, e mais outra (“Pra garantir uma foto massa”, brincou a madrinha – linda voz também), eu estava nas nuvens. Sentia meu pau procurando espaço, e tentava disfarçar.
Eram Fernanda e sua afilhada, Alice. Prazer em conhecê-las! Obrigado pela presença e pela atenção. Abraço apertadinho em cada uma, sentindo o perfume e a maciez dos corpos... Ah, se eu não fosse tímido...
Esvaziado o auditório, saí para tomar um suco. Ao fazer o pedido, e enquanto esperava, meus olhos vadiaram displicentemente pelas mesas. Não é possível! Lá estavam as duas, numa mesa do canto; no encontro de nossos olhares, os sorrisos de cumprimento. Num impulso, levantei-me e fui até lá.
Posso ficar com vocês?
Claro! – sorrisos e encantos...
A conversa foi rolando. Começou, naturalmente, pelo tema da palestra, mas, em pouco tempo viajava pelos mais diversos assuntos. Eu estava encantado com a desenvoltura daquelas duas moças. Lindas, gostosas e inteligentes, em dose dupla. Eu tentava, meio que desesperadamente, captar se havia alguma chance de algo mais que conversa, e com qual das duas. Na verdade, meu corpo ansiava pelas duas. Eu estava mesmo numa senhora enrascada.
Fernanda tinha 38 anos (“Isso tudo?!” – ela sorriu, tímida, com meu espanto) e Alice acabara de fazer 18. Quando Lice nascera, Fê tinha 20 anos – a razoável proximidade da idade foi salutar à convivência, já que os pais de Lice brigavam muito e a família se desfizera logo após o nascimento da menina. A madrinha, encantada com o bebê, não hesitou em aceitar tomar conta dela. Sempre foram tudo uma para outra: as confidências, as descobertas, as dificuldades, as transformações foram vividas sempre em parceria.
Eu cada vez mais me interessava pelas duas, e cada vez encontrava mais dificuldade na decisão de em qual investir. Eu estava na média de idade entre elas, 28 anos (engraçado: tínhamos exatamente uma década de diferença entre nós – rimos juntos da coincidência). Em pouco tempo, éramos os mais íntimos: toques discretos, mãos esquecidas sobre mãos e coxas – uma vez que arrisquei um avanço, Lice reagiu, fechando discretamente as pernas (“porra, vamos devagar...”, repreendi-me), mas continuou agindo normalmente, maior simpatia.
Não poderia deixar de ser, a conversa chegou em relacionamentos sexuais. Mostraram-se super avançadas, cabeças abertas. Curtiam sexo se houvesse mais de uma cabeça presente na relação. Vi chance. Eram despidas de tabus e preconceitos, o prazer era o principal ingrediente numa relação. Sendo prazeroso, “toda forma de amor vale a pena” (Fê cantarolou). Vi mais chance. “Inclusive a três?” – arrisquei, morrendo de medo da reação. Elas se sorriram, graciosamente, e foi Lice que falou um enigmático “depende!”...
Seguiu-se a explicação, alternadamente entre as duas: “Adoramos transar. Entre nós duas e com convidados. Ou convidadas. Zero preconceito. Parceiros precisam também ser completamente abertos. Sem qualquer frescura. Única coisa que não rola é violência. O resto vale tudo para sentir prazer.”
Tudo que eu queria ouvir! Assino embaixo do rol de condições, porque concordo com todas. São também os meus critérios.
Eu podia sentir a energia do tesão circulando naquela mesa de lanchonete.
Mas parecia haver ainda algo a ser dito. Alguma coisa incomodava as duas. E foi Fê que tomou a iniciativa, e foi direta:
“Somos duas mulheres aprisionadas em corpos masculinos. Houve um descompasso na nossa concepção. A gente se sente mulher, em todos os sentidos, comportamentos, desejos e atitudes, mas a natureza nos presenteou, a cada uma, com um corpo de homem. Optamos por não nos mutilarmos, mas desenvolver o que a natureza já esculpira em nós, e nos aproveitarmos sexualmente de tudo que temos. Então, não odiamos nossos paus; pelo contrário, os utilizamos para nosso prazer”.
Eu estava completamente incrédulo. Devia estar também com a maior cara de abestalhado do universo. Impressionante como tudo naquelas duas criaturas era extremamente feminino, e, o mais importante, naturalmente feminino. Nenhum gesto, atitude ou entonação vocal, nada era artificial, forçado.
Diante do rosto de ansiedade, de expectativa das duas, olhando-me fixamente, e obviamente esperando uma resposta, fui também direto:
“Duas mulheres gostosas, corpos esculturais, inteligentes, desenroladas, carinhosas, espirituosas, cheirosas, exalando tesão... E ainda têm rola?! Estou no paraíso, gente!”
A tensão desfez-se em tesão. O sorriso lindo de cada uma espalhou-se pelos seus rostos, enquanto desabavam as últimas barreiras que ainda nos impediam de cairmos nos braços um do outro, e vivenciar o mais torrencial encontro que poderíamos imaginar.
Aliás, falando em imaginar, é tudo que vocês podem fazer, por enquanto, que encerro por aqui a narrativa de nosso encontro. Vou pensar se conto a loucura que rolou a partir daí...