Delicioso Pecado 15

Guto cai no chão devido ao golpe. E Tavinho sobe em cima dele e começa socá-lo. Os gritos de Guto ecoam pela casa.

Ao ver a cena, Murilo sente um ponta de pena do rapaz e puxa Tavinho para separá-lo.

_ Calma, Tavinho. Calma!

Tavinho está tomado pelo ódio. A fera que ele tanto tentava domar havia ganhado força.

Murilo arrastou Tavinho até a cama e o abraçou.

_ Calma! Vai ficar tudo bem.

_ Como você pode fazer isso, Guto?

_ Eu já disse que não fiz nada. Mas já que prefere acreditar nele do que em mim, então foda -se. Eu só te digo uma coisa, esse Mijão vai te levar para o buraco e eu vou bater palmas para isso. Você pisou no meu coração por causa dele e o amor que eu tinha por você morreu aqui mesmo.

Guto saiu chorando.

Ao chegar perto da porta, arranca a chave da maçaneta e a põe no bolso.

Alguns vizinhos olhavam para a casa. Sentiu-se envergonhado.

_ Estão olhando o quê?

Entrou no carro e pôs as mãos no volante para chorar.

Sempre provocou nos outros a dor da humilhação e essa era a primeira vez que sentia.

Estava atordoado com o fato de Tavinho ter se apaixonado por Murilo, o garoto pobre e esquisito que ambos já riram e humilharam na infância. E que agora não passava de um sonso manipulador.

Chorou por alguns minutos. Sentiu-se como um depósito de porra, como Murilo havia falado e sentiu muita raiva de Tavinho. Dedicou o seu amor por anos ao louro e foi tratado daquela forma?!

Enxugou as lágrimas e dirigiu sem rumo pela cidade.

Tavinho, mais calmo, cuidava das feridas de Murilo.

_ Eu não sei o que dizer. Contratei o Guto para te proteger e aconteceu isso.

_ Ele tem ciúmes de você. Aquilo que ele disse sobre vocês ontem no carro era verdade?

_ Claro que não! O Guto estava com ciúmes por isso inventou essas coisas.

Murilo sentiu-se um pouco decepcionado com Tavinho. Como pode ter a coragem de se deitar com o outro homem estando com ele? O ciúme por Tavinho o causava mal estar. Era um sentimento que não queria sentir. Foda -se se Tavinho quisesse se deitar com outras pessoas, o importante era focar na vingança. Era o que a sua mente dizia, mas o coração era divergente a isso.

Tavinho econtrava-se totalmente arrependido de ter se deixado seduzir por Guto. Olhando para Murilo, sentiu-se sujo. Como se não merecesse o amor do ruivo. Como a se fosse a pior das criaturas.

Tavinho de fato queria mudar. Se tornar uma nova pessoa merecedora do amor de Murilo, mas era difícil se desapegar da besta fera que habitava em seu interior. Foram anos de educação o induzindo a ser egocêntrico, presunçoso e arrogante. Não era fácil se livrar desses adjetivos.

Contudo, estava disposto a mudar.

Um misto de emoções guerrearam no seu peito. Sentiu raiva, medo, tristeza e culpa. Um tremor dominou o seu corpo e os sentimentos se libertaram como uma bomba que acabara de explodir. As lágrimas foram inevitáveis.

Chorava descontraladamente, lavando a alma. Murilo o olhava espantado. Nunca na vida imaginara ver Tavinho naquele posição.

O louro o abraçou e foi deslizando até chegar a sua cintura e permanecendo de joelhos, abraçando Murilo.

_ Me perdoa? Por favor, me perdoa? Eu te fiz sofrer muito. Sempre te tratei mal. Você passou por situações horríveis. Foi estuprado e desacreditado pela cidade inteira, perdeu a sua mãe e eu ainda te humilhei! Pus o Guto na sua vida.

Eu não sei se você merece está comigo.

Murilo recordou das tristezas que havia vivido. A dor deu sinal de vida com uma intensidade maior. As lágrimas vieram aos olhos. Soluçava por medo de tudo que passou.

Queria dizer a Tavinho tudo que estava sentindo. O quanto estava magoado com ele por tudo que passou.

Ao ver Tavinho naquela posição, quis apagar o passado. Desejou que nada daquilo tivesse acontecido.

Abraçou Tavinho buscando proteção.

Suas dores se fundiram se tornando um só corpo.

Decidiram tomar banho juntos e se deitaram na cama abraçados na posição conchinha, em que Tavinho abraçava Murilo por trás, encaixando os seus corpos.

Permaneceram em silêncio por uma hora.

As inquietações perturbavam Murilo. Seu coração batia acelerado, sedento por respostas.

_ Por quê?

_ Por que o quê?

_ Por que você me tratava daquele jeito? Como você se sentia fazendo todas aquelas maldades?

Tavinho respirou fundo e beijou a cabeça de Murilo.

_ Eu sempre carreguei uma raiva muito grande dentro de mim. Eu não me aceitava. Me achava uma aberração por ser como sou.

'A vida inteira eu ouvia que isso era uma aberração. Pecado. Até cogitei está possuído pelo demônio. Eu orava durante dias, jejuava... Fazia de tudo para mudar e nada. E quando chegava na escola, me via atraído por você.

Eu queria te tocar. Mas, a minha consciência dizia que aquilo era errado. Sabe, eu ficava com muita raiva por fazer de tudo para mudar e aí vinha você e me arrastava de volta para o pecado que eu tentava fugir. '

_ Eu não tinha culpa de nada. Não fazia ideia de que você sentia essas coisas por mim. Eu só queria ser o seu amigo. Ser aceito pelas outras pessoas da escola. Você não tem noção do quando me fez sentir um lixo…_ nessa hora as lágrimas de Murilo voltaram a cair.

Tavinho o virou para frente e o envolveu nos seus braços.

_ Eu me sinto péssimo por isso. Há algo que eu possa fazer para reparar esse dano?

_ Eu não sei.

_ Eu já depositei o dinheiro na nossa conta. Não depositei tudo para não dar na pinta. Vou fazer aos poucos. Como você é corretor, pode pesquisando um lugar para vivermos. Assim que dê faremos a compra.

'Quando tudo isso acabar, eu vou procurar um psicólogo para te ajudar. Você sofreu muito, meu amor. Sempre foi só na vida. Mas, isso acabou. Eu estou aqui com você. '

Murilo sentiu uma ternura no coração. Sentiu-se confortável com as palavras de Tavinho.

_ Eu...

Tavinho interrompeu a frase de Murilo o beijando.

_ Vamos descansar? O dia foi difícil para você.

Murilo fez um sinal positivo com a cabeça.

Decidiu relaxar. Esquecer por um instante as dores do passado e focar no presente em que estava protegido nos braços de Tavinho.

Eles passaram o resto do dia juntos.

No dia seguinte, Tavinho voltou para casa a pedido do seu pai, porque teriam uma reunião sobre assuntos da igreja.

Você vai voltar a noite? Foi o que Murilo perguntou na esperança de obter um sim. E foi correspondido.

Murilo tirou o dia para se dedicar a cuidar da casa. Ainda estava triste por recordar do passado. Sentia-se pesado e isso o incomodava.

Decidiu cuidar da horta. E pelo seu quintal observava as crianças correndo na rua, brincando com uma bola.

Lembrou-se da sua infância, época em que não era refém do ódio que o consumia. Recordou de como gostava de imaginar histórias, de se imaginar um explorador do mundo, que desejava brincar com as proibidas bonecas e fazia isso as escondidas com Verônica. Eles eram grandes amigos.

No começo, Verônica o entendia na sua feminilidade, mas aos poucos foi induzida pelos pais e o pastor a achar esse comportamento errado e a reprimir o primo, o que fez Murilo a se fechar um pouco para a prima, temendo sofrer rejeição.

A morte da sua felicidade aconteceu quando teve o seu corpo invadido por Valdemar e foi desacreditado por todos.

Os pesadelos ainda os atormenta.

Olhando as crianças na rua, sentiu saudade do Murilo que fora morto na infância. Sentiu falta de ter a alma leve, livre das tristezas e rancores. Desejou sentir-se amado e até de amar também.

Chorou por pelo luto da esperança de dias melhores.

Valdemar caminhava em direção à sua casa.

O que menos queria era encarar aquele ser abjeto, mas permaneceu forte, o encarando.

_ Boa tarde, Murilo.

_ Vai embora!

_ Calma! Eu preciso falar com você.

_ Eu não tenho nada para falar com você.

_ Eu tenho uma boa proposta. Me escute.

_ Vai embora, Valdemar!

_ O negócio é o seguinte, eu sei que você está magoado comigo por tudo que aconteceu, mas a gente pode resolver isso. Eu tenho um apartamento em São Paulo, posso passar para o seu nome e te oferecer uma boa quantia de dez mil reais. Você pode reconstruir a sua vida. E a gente não precisa remoer o passado.

'Podemos ir embora e …'

_ Vai se fuder, Valdemar. Pega a porra do seu apartamento e dinheiro e enfia no seu cu.

_ Você ainda vai continuar me rejeitando? Eu faço de tudo por você! Te ofereço o meu amor e uma boa vida e você me trata desse jeito. O que você prefere? Bancar a putinha do Marcelo? Você acha mesmo que aquele imbecil vai te levar a sério?

Murilo soltou uma gargalhada, deixando Valdemar sem entender o que estava acontecendo.

Murilo gargalhava com tanta vontade que foi perdendo as forças e apoiou as mãos nos joelhos.

_ Do que você está rindo?

_ Da sua… (risos) da sua cara (risos) . Eu nunca fiquei com o Marcelo. Nunca houve esse possibilidade. (Risos) eu odeio aquele cara (risos), e ele é hétero. Como você pode ser tão burro, senhor prefeito?

_ Mas você me disse que ele era o seu amante!

_ Eu menti. (Risos)

_ Por que mentiu?

_ Porque eu sou um mentiroso, uai! E você tropeçou nas próprias pernas e o tiro saiu pela culatra. Por se sentir o meu dono, quis agredir o Marcelo e acabou cavando a sua própria sepultura. Agora o delegado te odeia, os seus filhos te odeiam, o pastor te virou as costas e todo mundo sabe que você é um pedófilo imundo.

Mas isso é só o começo Valdemar Bastos. Logo, logo você vai cair de vez.

Valdemar o olhava com ódio. Sentia-se burro por ter sido enganado por Murilo, que ele sempre julgou ingênuo.

_ Quem é o seu amante?

_ Isso não é da sua conta.

_ Eu vou descobri. E tanto você quanto ele vão me pagar muito caro.

_ Vai embora, ou vou começar a gritar e cagar ainda mais a sua imagem.

Valdemar saiu e voltou para o carro, foi embora furioso. Deixando Murilo aliviado.

No seu gabinete, Miranda digitava o seu sermão do culto da noite, quando recebe um e-mail desconhecido. Clica e se choca ao ler a mensagem.

Prezado, pastor Miranda.

Venho como um amigo secreto para lhe alertar sobre o seu filho Otávio. Informo que o seu filho está desviando dinheiro da conta bancária da igreja para a sua própria conta pessoal.

Ele comete esse delito, movido pela paixão que tem por outro homem e pretende fugir da cidade, com o amante.

Caso duvide, das minhas palavras confira o senhor mesmo a contabilidade da igreja e vá hoje à noite ao seguinte endereço: Rua Xavier Dutra, casa 56.

O dono da residência atende pelo nome de Murilo. O mesmo garoto que foi abusado sexualmente pelo prefeito da cidade.'

Miranda pôs as mãos na boca. Não queria acreditar que estava sendo roubado pelo próprio filho e que o mesmo era homossexual, esses são os dois fatores que para ele era inadmissíveis.

Decidiu ir à sala de Tavinho para verificar os arquivos de contabilidade da igreja. Aproiveintando que o filho saira para almoçar.

Guto amargurou a raiva desde o dia que apanhou de Tavinho.

Não iria deixar barato a humilhação sofrida.

Diante do computador fez uma chamada de vídeo para Verônica.

_ Oi, Guto. Quanto tempo! Como você está? O que é isso no seu rosto?

_ Oi, Vê. Temos muito que conversarmos.

Tavinho regressou a noite à casa de Murilo. O ruivo o recebeu com a casa limpa e um delicioso prato de sopa de legumes.

_ Que cheiro maravilhoso! Você sempre caprichando.

Tavinho se aproximou de Murilo por trás e o abraçou, beijando o seu pescoço.

_ Não vejo a hora de está com você no nosso apezinho. Com a vidinha de casado. Eu, você e os nossos petis.

Murilo lembrou do cachorrinho que Tavinho quebrou a pata.

_ Eu também não vejo a hora.

_ O advogado já deu início aos processos. Logo o Valdemar e o delegado vão ter o que merecem. O advogado me disse que o delegado Amâncio será afastado do cargo até o fim das investigações. E pelas fofocas que rolaram no corredor da igreja, a prefeitura deu início ao processo contra o delegado.

_ Como assim?

_ Valdemar fazia vista grossa para as dívidas do IPTU dos terrenos do delegado, de acordo com tudo isso, Valdemar ficou puto e processou o Amâncio. Ou seja, ou ele quita as dívidas ou os seus terrenos vão a leilão.

Tavinho sorria com o feito.

_ Um vai comer o cu do outro. E pelo andar da carruagem, o Valdemar não vai se reeleger. Depois desses escândalos, ele perdeu o apoio do meu pai e está mal visto na cidade.

A justiça está sendo feita.

_ E o Marcelo?

_ Tá se recuperando. Ele ficou muito machucado. Creio que nem vai ficar na cidade devido a vergonha que a família está passando. Mas, foda-se eles.

_ O Marcelo não é o seu amigo?

_ Não. Fomos amigos na época da escola, mas depois que crescemos não tínhamos muito contato. Ele passou um tempo morando na Bahia com a avó. Creio que vai voltar para lá.

_ Eu nem acredito que tudo isso está acontecendo. Sabe finalmente a verdade veio à tona. Todo mundo sabe que eu não menti. Parece um sonho, sabe?

'Eu só queria voltar a ser eu mesmo. Ser leve como era antes.'

Tavinho beijou a boca de Murilo.

Após o jantar, o casal se entregou mais a uma noite de sexo.

Estavam tão cansados que adormeceram nus abraçados. Estavam tranquilos.

Até que a porta se abria lentamente. Passos se aproximavam do quarto, subindo as escadas. O ranger da porta soava. Aos poucos ela ia se abrindo revelando o rosto de Verônica atônita ao ver o ex noivo nu nos braços do primo.

Seu coração foi dominado pela raiva diante da dupla traição.

_ Seus imundos! _ gritou Verônica despertando o casal, que acordaram assustados.