Ubirajara e o cu de Tainá: a epopeia anal

Vindo de família apagada, sem brio e sem atrativos, nasceu Ubirajara e logo foi posto de lado para não virar comida de onça. Dentre os 25 irmãos, demorou mais para largar as tetas da mãe e caminhar sozinho. Feito de bobo por outros índios: o colocavam em formigueiros para ter seu rabo mordiscado até sangrar e o comparavam a tatu bola. O chutavam com frequência. Quando adolescia, criou peitinhos por comer demais e barriguinha saliente era marca das piadas por onde passava.

Suas pescarias eram ínfimas, seu cabelo não era liso o bastante e seu pau era ridículo para o padrão dos outros habitantes. Não era fluente no Tupi Guarani, na verdade, não era fluente em porra nenhuma e grunhia em vez de falar. Era um fodido.

Estava ficando adulto e logo precisaria continuar a linhagem, as para isso cunhatã qualquer deveria se interessar em dar a boceta pra ele. Milagre se fosse real até ali.

Enquanto os outros 25 irmãos já tinham cada um 25 filhos e tamanduá de estimação, Ubirajara se contentava em lustrar a lança e suar gostoso nas plantas. Se divertia as vendo virar remédios depois. Apelidou o processo de "O Poder da Seiva".

Seu instinto o forçava a acompanhar a xerequinha das índias mais velhas e a bundinha das mais novas. Até ali já era mestre na arte de se esconder e mimetizar com os outros bichos do mato.

Este desgraçado curumim, porém, embora inútil e impotente, possuía coração puro. E era capaz de se apaixonar, como determinou Tupã.

Ubirajara sentia vontade desvairada de comer o cu de Tainá. Ele batia várias punhetas a observando cagando na mata ou tomando banho no rio. Ele, porém, por ser mal caçador e ter pintinho ridículo jamais receberia aprovação de Jurema, mãe da moça. Na concepção da matriarca, seria mau pai e péssimo procriador. Jurema não queria ter netos frouxos ou preguiçosos, incapazes de prover alimento para a tribo e para a família.

Então, certo dia, Ubirajara, desafiando as leis divinas da floresta, se aproveitou da distração de Tainá cagando e tentou a agarrar e comer seu cu à força, trazendo com isto vergonha para sua linhagem e para a tribo. Raios partiram o céu, bichos se acuaram de medo e dispersaram enquanto vento forte cortava a mata temperada. Em plena luz do dia apareceu a lua e o céu virou breu ominoso e assustador. Tainá, de rabo sujo mesmo, saiu em disparada para alertar seus pares e Ubirajara, trêmulo, observou a materialização de Moacir. Como trovão destroçando o céu e o moral do índio, Moacir o encurralou rente a árvore e bravejou:

- Então queres cu à força, Ubirajara?! Pois terás teu cu comido. Amanhã, na única noite de lua cheia desta era, à meia noite, na cabana do pajé, próximo à aldeia, vai surgir do rio Caiuá. Se comeres o cu de Caiuá, será agraciado com o direito de continuar tua linhagem e a punição não vai cair sobre teu povo. Caiuá é à prova de arco e uiraçaba, logo, não pode, em hipótese alguma, consentir ou te ver enquanto tem o cu comido por ti. Se falhar, mil lanças entrarão no teu rabo, uma a uma.

E, em meio à névoa mística rósea a pairar e se misturar com o verde da mata virgem, esmaeceu Moacir e voltou a ser um com o reino florestal. Ressurgiu no céu o sol e o dia nítido ficou outra vez.

Ubirajara estava assombrado. Além de precisar pegar Caiuá à força, não poderia ser visto e menos ainda negociar a enrabação. Seu cu seria vítima de mil lanças, ele nunca comeria Tainá, não continuaria sua linhagem e menos ainda teria a aprovação de Jurema. Estava mesmo fodido o índio. E nisto ficou pensando durante toda a manhã seguinte. Enquanto as horas passavam, estava o curumim procurando medir, em mente, seu orifício enquanto observava assustado as lanças dos outros índios. Estes debochavam se dó nem piedade.

E logo caiu a tarde. E, minuto a minuto, caiu a noite. As pombas cessaram seus arrulhos momentaneamente.

Da cabana do pajé, próximo a aldeia, se materializou Caiuá, à prova de arco e uiraçaba com sede de cu. Seu alvo estava próximo, podia sentir... Assim, ao sair do local e ser agraciado pelo maravilhoso ar da mata, olhou à esquerda... Nada! Olhou à direita... Nada! Nem sinal do rego o qual apunhalaria logo. Onde estaria o bendito índio? Iria se dar o trabalho de invadir, saquear, pilhar e atear fogo nas ocas se necessário. E a caminhada teve início, porém, logo sentiu a estrutura fétida de merda na sola do pé. Ao verificar, teve a péssima ratificação... Era sim bosta de índia, no caso, Tainá. Este sinal fez o corpo de Caiuá tremer... Dera vacilo irreversível!

Mimetizado com a mata, mestre na arte de se esconder, surgiu do breu da noite Ubirajara, de mansinho, e passinho a passinho, num pinote segurou Caiuá por trás e enfiou sem remorso pau no cu. Desvirginando ambos, com a potência de mil lanças. Embora tenha se debatido a princípio, logo Caiuá se viu impotente e a profecia se concretizou.

Moacir se re-materializou nos céus e parabenizou o curumim. Ubirajara conseguiu o título de papa-cus oficial da aldeia.

Jurema o aprovou para descabaçar Tainá e eles tiveram 25 filhos 25 vezes. Donos de 25 tamanduás de estimação. As pescas eram as melhores e alimentavam 25 aldeias. Seu pinto foi invejado pelos mais fortes curumins da tribo. Seu Tupi Guarani era muito mais fluente se comparado aos nativos. As futuras gerações a conheceram como Tribo Tatu Bola e até 1500 viveram felizes para sempre!