No Enterdecer - Capítulo 8 (O Jantar)

Um conto erótico de Kimi
Categoria: Homossexual
Contém 2503 palavras
Data: 28/09/2019 17:15:21

[16h]

Já era tarde e nada do Eduardo aparecer, o que era ótimo, porque eu ainda não tinha terminado de arrumar a casa, que na verdade já estava arrumada graças ao senso de organização dele, mas que eu estava dando o toque só pra não perder o costume. E, ainda por cima, era um ponto positivo porque eu queria me arrumar pra ele, como se fosse uma ocasião super especial... E era... Só não era agradável. Arrumei a mesa da cozinha do jeito mais lindo que eu pude fazer naquele momento, afinal as lojas ficavam muito longe do rancho então não dava pra fazer muita coisa. Mas se tinha um detalhe que deixava meus olhos brilhando, era que a lâmpada da cozinha era regulável, dava pra deixar meio apagada, tipo vela. Sonho! Mas eu ainda sim ia usar velas pra deixar tudo bem romântico.

Varri a casa muito lentamente porque, afinal de contas eu não estava com tanta pressa assim, principalmente por saber que ele não voltaria tão cedo, pois o trabalho do Edu era na cidade e demora muito para ir, demora muito para voltar, então eu estava com tanta pressa assim. Tempo vem tempo vai e a casa finalmente estava completamente arrumada, menos eu, pra variar, atrasado como sempre.

Corri para o banheiro tomar um banho mais quente e relaxante da minha vida porque afinal de contas eu iria precisar de muita calma pra ter que dar uma notícia tão devastadora como a que eu ia dar naquele dia. Quando eu liguei a torneira da banheira lembrei do primeiro dia em que tomei banho no rancho, que tinha sido preparado pelo Edu e comecei a sentir um peso na consciência de como aqueles momentos iriam ser só passado um resquício da minha memória para sempre ou quem sabe não... A única coisa que senti quando deitei meu corpo na banheira foi dor, dor por ter me atrasado, dor por ter, talvez, jogado fora meu primeiro e único amor até aquele dia.

Depois de muito tempo eu conseguia sentir uma lágrima descendo do meu rosto, escorregando lentamente por ele, capaz de descrever quão devastador era aquele momento para mim e como eu não podia imaginar como seria quando a verdade viesse à tona. O mineirinho que um dia me fez sentir a maior raiva, o maior desgosto, mas que agora era a minha maior razão para amar teria o coração partido em pedaços, seria talvez só minha lembrança.

Eu fiquei horas e horas naquele banho, mas como nem tudo é para sempre eu tive que sair de lá. Vesti a minha melhor roupa, bem galanzinho, para quando ele chegasse sentisse que eu não sou desleixado completo (risos). Uma calça preta, um tênis estiloso, uma blusa comprida branca e um suspensório porque eu sou desses. Muito principezinho. Só faltava o meu perfume, mas eu decidi que dessa vez eu usaria o dele para lembrar como cheiro dele é gostoso aos meus sentidos.

Peguei meu celular que estava carregando e desci para esperar o meu operário de fazenda favorito. Sentei no sofá e resolvi chamar a minha resolvedora de problemas, vulgo Natália. Claro, que, para variar, naquele momento ela não aparecia para me socorrer de jeito nenhum, então não tinha muito o que fazer, fiquei sentado assistindo um programa aleatório da TV até Eduardo chegar.

[18h34]

Naquele dia de muita espera e numa noite nada, nada, nada fria, o meu operário de fazenda favorito chegava num carro e eu me preparava para recebê-lo com todo carinho e amor. Quando ele abriu a porta eu sabia que minha missão ia ser muito difícil porque a carinha dele tava tão cansada, tão abatida, tão reprimida que senti que se eu o magoasse naquele momento eu com certeza acabaria estragando toda a minha história junto dele.

— Oi meu amor, que carinha é essa? — eu perguntei todo meloso porque realmente me dava dó — Vem aqui — eu cheguei perto e o abracei e ele retribuiu com um beijo no pescoço e apoiou a cabeça no meu ombro.

— Essa carinha é carinha de "se quiser me colocar no caixão já pode porque eu tô morto" — respondeu e eu me aliviei pelo humor dele estar intacto ainda — Eu tô tão cansado Lipe, você não tem ideia.

— Imagino

— Hey! — ele exclamou

— O que foi? — perguntei

— Por quê tá tão lindo assim? É pra mim? — ele continuou curioso e começou a respirar fundo — Esse cheiro não me é estranho...

— Surpresa! — eu disse empolgado e ele, pela reação, não estava entendendo nada — Du, eu fiz um jantar pra gente, tipo um encontro — ele continuou com cara de surpresa e depois sorriu bem forte.

— Owwn que fofo, Lipe — ele me abraçou — Então tabom, vou tomar uma ducha e já volto pronto pra você, ok?

— Tem energia pra isso? — perguntei

— Pra você eu arranjo mais um pouco — respondeu

Era incrível como ele conseguia me fazer sentir mais culpado ainda por ter que dar a notícia da minha despedida. Mesmo assim eu teria que continuar na minha meta e assim o fiz. O jantar estava maravilhoso, eu não sabia cozinhar aquilo tudo mas dava pro gasto, tinha um pouquinho de talento no que se refere à habilidades culinárias. Separei os pratos, desliguei as luzes dos outros cômodos e acendi as velas, bem no clima romântico.

Quando ele voltou eu juro que eu quase chorei de tão lindo e fofo que ele tava naquela roupinha meio que no mesmo estilo que eu, para combinar. Aqueles cabelos penteados, seus olhos brilhando e aquela boquinha rosa prontinho para ser beijada. E foi a primeira coisa que eu fiz beijá-lo.

— Você está lindo — eu disse

— Você que tá, finalmente penteou esses cabelinhos loiro — respondeu sorrindo

— E você finalmente tá usando uma roupa que não esteja toda suja de gramínea! — respondi

— E você finalmente deixou essa barbinha crescer, agora sim tá decente! — debochou

— Tá me chamando de desleixado?

— Tô te chamando de meu! Só meu! — respondeu e me tascou um beijo com direito a um aperto na bunda

— Hey, isso só depois, segura!

— Cê que manda!

Aquele que era para ser o jantar mais charmoso e chique foi o mais jogado possível, porque os pratos acabaram em menos de 20 minutos... É... parece que a gente era meio ogro no que tange a tentar ser fino, mas o que conta é a cara de felicidade e satisfação que eu recebi.

— Cê não vai acreditar no que aconteceu hoje — começou a fofocar como sempre

— Uhmm diga que eu te ouço

— Estava eu, atendendo os importadores né, tranquilo, coisa simples, daqui a pouco me vem uma criança subindo no caminhão as frutas, tipo, literalmente invadindo

— Oshh que loucura

— Pois é, mas eu não ia ser babacão né, deixei ela pegar, vai que morasse na rua, sei lá, mas depois eu vi que ela tava me sacaneando porque jogou a fruta no chão, acredita?

— Que filha da puta!

— Foi o que eu queria ter dito mas a mãe dela estava esperando ela lá na frente — balançou a cabeça — Mas e você, trabalhou duro hoje? Aposto que deu muito trabalho

— Que nada, adoro cozinhar, principalmente se for pra você

— Cê fez curso?

— De culinária?

— Não, de fofura porque é o que eu tô sentindo umas 3 semanas — ele disse e eu mais uma vez virei um tomate vermelhão de tanta vergonha — Mas já que estamos falando de culinária, não seria exagero dizer que você tem uma habilidade incrível

— Obrigado, mas e suas habilidades, aposto que sabe fazer alguma coisa diferente — comecei a tentar entrar um pouco na vida dele antes da fazenda — Seu sobrenome não me parece que vem de uma periferia, Sr. Oliver

— É — ele respondeu olhando pra baixo — Cê tá certo... Eu sou de uma família boa, pelo menos em questão de grana sim, mas se estivermos falando de caráter, é bem mais embaixo

— Eu só queria que você me falasse mais da sua infância — continuei dizendo

— Bem, eu era um aborto planejado mas como já disse, eu fui morar com minha tia, que, foi quem insistiu pra minha mãe não fazer tal cagada

— Sim, isso eu meio que entendi quando me disse

— Depois que eu nasci, fui criado em BH com ela e meus primos, que eu amo demais, demais mesmo — ele falou aquilo com um sorriso tão marcante que imaginei como eram especiais pra ele — A gente estudava na mesma escola e tal, tudo o que eles faziam eu também estava junto

— Tipo.... — eu curioso como sempre

— Natação, futebol, tênis e eu sei tocar violão e piano meu amigo — ele disse meio que tentando lembrar de mais coisa

— Uaau! Você é um burguês puro!

— Era um burguês puro, agora eu sou o que você vê

— Pobre?

Demos risada

— Um operário de fazendo que adora estar onde está e que não pretende voltar pra cidade — ele respondeu sorrindo

— Mas e seus primos, sua tia e tal? — perguntei

— Ainda os vejo de vez quando, normal — respondeu — Foi bem duro pra eles receber a notícia que eu tinha sido baleado mas acabaram entendendo que era melhor eu ficar aqui, tranquilo

— Você sabe o por quê dos seus pais te odiarem tanto?

— Eu agradeço sempre por não saber, porque se eu soubesse o que se passa na cabeça de doentes como eles talvez morresse de tanta escuridão que existe dentro de cada um — o olhar de tristeza tomou conta do Eduardo naquele momento — Mas não quero falar sobre eles, não fazem parte da minha vida, não me importa

— Isso amor, deixa isso pra lá — concordei — A única coisa que eu realmente queria agora era você tocando violão ou piano!

— Então você vai! — ele disse

— Ué, como? Eu não vi instrumentos nessa casa

— É porque eu não deixo ninguém entrar no meu "quarto secreto"

— Filho da mãe! Eu sabia que tinha alguma coisa alí dentroo

— Vem! — levantou da mesa e me puxou pela mão, me conduzindo até o bendito quarto que eu nunca podia entrar.

Quando ele abriu eu me surpreendi de tão lindo que era aquele cômodo, todo clássico, bem parecia que estávamos numa casa no meio do mato. Muito épico. Tinha piano, violão e ainda tinha um palquinho no canto. A vida me surpreende de maneiras que eu nem sei como descrever nesse momento.

— Senta aqui do meu lado — o banquinho do piano era lindo, branco e de couro — Se eu errar é porque meu namorado tá me intimidando — ele disse

— Bobão — debochei

A melodia que saia dos dedos dele era simplesmente incrível. O fazendeiro que na verdade deveria ter as mãos mais brutas e calejadas tinha mãos macias e super habilidosas no piano. Ironia da vida novamente. Enquanto ele tocava eu admirava a concentração do Eduardo em cada sequência que ele fazia. Estava evidente que queria me impressionar, o que não estava dando errado porque eu fiquei muito impressionado.

Ele terminou e me olhou parecendo querer uma crítica.

— Uau! Por essa eu não esperava mesmo

— Cê gostou mesmo? Eu errei umas notinhas...

— Shhh você arrasou — eu tapei a boca dele e me levantei pra sentar no colo dele de frente — Na verdade você arrasa em tudo — eu o beijei e ele segurou na minha cintura.

— Agora que eu já fui premiado, eu ainda não entendi porque esse jantar de repente — ele disse — Não tô reclamando, só estou tentando achar um motivo especial — deu uma risada tímida

Era o momento. A droga daquele momento tinha chegado e eu estava morrendo de medo mas sabia que se não fizesse, seria o mesmo que dizer "eu não te amo tanto pra te falar toda a verdade". Eu saí de cima dele e me posicionei de joelhos, do lado dele, segurando sua mão e infelizmente ele percebeu que era uma notícia muito ruim.

— Meu amor — comecei

— Uhmmm lá vem.... — ele suspeitou

— Você sabe que eu amo você, não sabe?

— Bom, pra você ter ido comigo todas os dias limparbos estábulos das vacas por vontade própria, não tem como isso não ser amor

Eu sorri.

— Sabe que eu nunca iria magoar você né?

— Tirando o dia que você me abandonou depois de ter me beijado...

— É sério Dudu! — eu disse dando risada

— Tabom estressado, eu sei que nunca me magoaria, mas aonde você quer chegar?

— Essas semanas foram incríveis e eu não me arrependo de nada, nada mesmo, só queria dizer que você me fez mais feliz do que qualquer outra pessoa poderia fazer — ele continuou me olhando estranhando meu jeito de falar — E foram dias tão bons que eu nem percebi o tempo passar e eu fiquei tão abitolado que tinha esquecido que não moro aqui.

Eu parei de falar e ele continuou sem falar, esperando que eu continuasse dizendo alguma coisa. Mas não rolou. Simplesmente. Depois de sair do transe ele começou a falar.

— Você vai embora? — ele perguntou meio bravo e eu me senti muito intimidado que só balancei a cabeça em afirmação — Cê vai embora e nem passou pela sua cabeça de me contar em nem um mísero dias desses 21 que passamos juntos?

— Eduardo

— Cala a boca! — ele gritou soltando minha mão e se levantou andando de um lado pra outro — Eu não acredito que você fez isso comigo!

— Edu!

— Não quero que você fale, eu simplesmente não quero ouvir sua voz mais! — ele mordia os lábios de raiva e eu só conseguia chorar, nunca tinha o visto daquela maneira e eu sabia que era a única coisa que eu podia fazer — Mas estava tão óbvio que você ficaria aqui, mas eu tava tão apaixonado que me deixei levar pela paixão ao invés de suspeitar que você não mora aqui!

— Eu nunca quis te iludir, Eduardo!

— Mas você iludiu Felipe, você conseguiu quebrar meu coração em muitos pedaços — ele ficou de costas pra mim e permaneceu olhando pro lado de fora da janela.

— Não era minha intenção

— E qual era sua intenção então, fingir que ficaríamos juntos pra sempre? Uau que demais sua ideia

— Eduardo, eu tô aqui de férias, eu não planejava me apaixonar por você, eu não planejava esquecer que eu tinha um prazo pra estar aqui, você tomou conta dessas coisas, eu juro

— Okay — ele ironizou — Então você quer que supere isso rapidamente

— Eu quero que pare de ficar nervoso comigo e me perdoe

— Nisso você tem razão, eu tô puto, muito puto com você! — ele cruzou os braços e eu me atrevo a chegar mais perto dele.

— E eu entendo, só quero que você me perdoe — insisti

— É claro que eu te perdoo Felipe, o problema é que eu amo você e não vou poder continuar fazendo isso, é foda! — ele se jogou no chão e começou a chorar muito, chegou a soluçar. Me agachei e sentei do lado dele, sem falar nada, só abracei pra tentar aliviar a dor que estava sentindo.

— Eu juro que eu vou dar um jeito — eu disse

— Eu espero que você dê seu filho da mãe porque eu te amo pra caralho!

Mesmo chorando, conseguimos dar risada daquele momento devastador.

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Genteeeeeee, acho que esse foi meu melhor capítulo eveeeer!

Que cês acharam?

Kimi


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Comentários

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Estou amando ,nossa o amor é complicado de mas .

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Muito bom man, seu conto está emocionante! Tomara que os dois fiquem juntos, seria muito triste vê-los separados. Continue please Rsrs

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POXA. ATÉ QUE NÃO FOI TÃO DRAMÁTICA ESSA REVELAÇÃO AO EDUARDO. PENSEI EM COISA PIOR. EM RAIVA, ÓDIO, MAS MENOS PARA A MORTE~, PARA TODO RESTO HÁ UMA SOLUÇÃO. ESPERO QUE OS DOIS ENCONTREM UMA SOLUÇÃO. O AMOR DESSESDOIS NÃO PODE PARAR DESSE JEITO. JÁ DEI UM PALPITE NO CAPÍTULO ANTERIOR. EDU PODERIA IR EMBORA COM FELIPE. VEREMOS...

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Incrível amigo, impossível não se emocionar com esse capítulo, quem passou por isso de dizer adeus a quem ama que sabe a barra que é!!! Muito triste, mas o conto não acabou, espero que eles resolvam e de um jeito para ficarem juntos, pq o amor supera tudo. Continua amigo, seu conto é perfeito!!! Abç

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