Poder IIIIIII
Capitulo 7
Emyr
Eu apaguei, mas voltei a tona em segundos, para uma realidade cruel, não conseguia formar um pensamento coerente, meu corpo não reagia às centenas de cortes de cacos de vidro, eu vi o dragão pairando no céu, eu gritei para ele, me arrastei pelo chão até ter controle o suficiente para levantar e mancar, então corri o quanto pude em direção a cidade.
Eu corria e chorava, berrava contra a criatura impiedosa no céu, a que matou um pedaço da minha alma e se preparava para matar as outras duas.
Eu precisava que ele parasse.
Eu precisava dos meus poderes.
Eu precisava de ajuda!
Cai de joelhos exausto, minha cabeça foi ao chão e gritei em fúria mais uma vez, mas estava exausto, eu não tinha mais forças, nem voz. Era o fim, esse era o amargo fim, esse era o carrasco inexorável, a morte impiedosa. Em desespero eu gritava mudo, eu pedia ajuda. Até o mundo ser engolido por escuridão. Eu estava de joelhos no chão e figuras luminosas começaram a surgir da escuridão por todos os lados.
Na minha frente estava eu mesmo, as asas, o cabelo, o físico, apenas as roupas eram diferentes, ele usava apenas uma calça jeans surrada e estava descalço, e os olhos, haviam algo de diferente neles, os outros ao redor eram como eu também, mas com cores de cabelo e olhos diferentes, uma marca ou outra no rosto e as roupas.
“Para responder sua pergunta: sim. Nós somos você através do multiverso, somos você de outras Terras, outras realidades, outras eras.” o que tinha asas me disse, ele estendeu a mão para que eu segurasse. “ Meu nome é Emyr, na minha Terra eu nasci um nefling, apesar de ter me tornado algo mais...” assim que tocou na minha mão ele recuou, como se tivesse queimado.
“Eu sabia que eu tinha sentido esse fedor vindo de algum lugar, você fede ao feitiço do mosaico, me surpreende que ainda esteja vivo”.
Eu olhei para ele sem entender do que ele estava falando.
“Feitiço do mosaico! Acho que você deve ter deixado alguma bruxa putaça. Eu já fui atingido por um, ele drena nossos poderes e se não for removido pode nos matar.” ele olhou ao redor para o círculo de pessoas que me rodeava. “Ah! Para nossa sorte ele está aqui, Emyr, conheça Gil!” ele fez um gesto com a mão chamando um dos rapazes, ele usava uma jaqueta de couro grande demais para seu tamanho, por baixo um pijama e sandálias felpudas.
“Emyrses” disse ele divertidamente olhando para nós e se aproximando, os dois se abraçaram como amigos de longa data. “Como você está amigo?”
“Ah, você sabe, o mesmo drama de sempre: o grande amor da minha vida quebrou o elo comigo e agora tem um elo com meu neto, eu tive que fugir da minha tribo e agora estou só pelo mundo...” Gil parou na frente do outro Emyr, passou uma mão pelo seu pescoço e o puxou para junto de si num abraço protetor, falando baixinho em seu ouvido enquanto passava a mão em suas costas, o confortando, após alguns minutos os dois se separaram, lágrimas escorriam pelo rosto do outro Emyr.
“Hehe, o que foi isso? Você pareceu um pai, você até cheira a casa.”
Gil revirou os olhos. “Não dá pra continuar sendo um porra louca pelo resto da vida né? Todo mundo amadurece, cria raízes.”
“Não!” Emyr exclamou abraçando o amigo e levantando ele no ar. Em seguida ele pegou a mão de Gil e checou o anel em seu dedo anelar. “Sério? Você se casou com ele? Meu Deus!”
“Sim, e temos dois filhos lindos, você precisa ir em casa conhecer eles!”
“Meu Deus, eu nem sei o que dizer, é tão bom saber que um de nós vai ter um final feliz!”
Gil ficou sério “Emyr...”
“Não é sério, se depender de algum dos Emyres aqui a coisa tá feia, por falar nisso, você pode fazer sua mágica e remover o maldito feitiço do nosso amigo?”
“Eu não sei fazer isso!”
“Só toca nele, foi tudo o que você fez comigo naquela vez!”
Gil veio até mim “Eu vou tentar, não prometo nada...”
Eu estava atônito, entendo muito pouco do que estava acontecendo, mas quando Gil pegou minhas mãos entre as suas um calor se espalhou pelo meu corpo, na escuridão que nos cercava flashes de luz apareciam com imagens dentro deles, eram como se fossem fotos animadas retratando cenas de uma família feliz, Gil e um cara que se parecia muito com Rodrigo, mas com a cabeça raspada. Duas crianças, mesa de jantar, clube, parque, os quatro jogando bola. Quando a última cena apareceu com os dois se deitando em uma cama e o homem parecido com uma versão mais velha do Rodrigo abraçou Gil, o amor deles irradiou sobre todos nós como uma promessa e uma lágrima escorreu pelo meu rosto eu olhei ao redor e todas as versões de mim estavam murmurando e chorando. Gil me olhou ocmos olhos transbordando de felicidade. “Acredite em mim, não é tudo um mar de rosas, não existem finais felizes.” eu duvidei muito dele, mas aceitei seu calor e senti quando o cobertor gelado que havia me encoberto nesses últimos dias dissolver, na mesma hora minhas asas voltaram, eu me senti conectar com o Nexus novamente e meus poderes voltando.
“Oh, você tem asas também!” exclamou Gil, nos levantamos juntos. “Por que eu também não tenho asas?” Ele lançou em direção ao outro Emyr que deu de ombros com um sorriso no rosto. “Bom, acho que é isso que eu vim fazer aqui, eu tenho que voltar para minha família, Drezão vai ficar possesso se descobrir que eu fugi da cama para vir para outro universo no meio da noite.” Ele segurou meu rosto me puxando para baixo e me deu um beijo suave na testa. “Seja forte, seja feliz, eu sei o que está passando pela sua cabeça, mas você merece toda a felicidade desse mundo!” Depois disso ele deu as costas e sumiu na escuridão.
Emyr pigarreou para chamar minha atenção. “Eu te ouvi pelo multiverso, sua dor atingiu todos nós, e quando sair daqui você vai ter uma galáxia de problemas nas suas costas, mas você não vai desarmado, cada um que veio aqui tem um presente para te dar. Essa é minha maneira de mandar as leis que regem esse universo, o tal de destino e tudo mais irem se fuder.” ele tinha um sorriso maroto no rosto.
Uma das figuras se aproximou, ele usava um casaco felpudo aberto que ia até os pés, mas por baixo não usava roupa alguma. Seus olhos eram cinzentos, como de um lobo, eu senti um calafrio na base do pescoço, um alerta de perigo, mas eu sabia que ele não me faria mal.
“Meu nome é Evan” ele estendeu a mão e eu retribui, apertando sua mão. Na hora um choque percorreu meu corpo. “Eu sou um lobo, um lupino, troca peles, como preferir chamar. Acho que é essa habilidade que eu vim te dar.” ele sorriu mostrando caninos afiados.
“Como?” eu perguntei.
“Não sei, isso você vai ter que descobrir sozinho, eu não nasci assim, eu recebi esse dom recentemente, quando meu rei morreu” uma sombra de tristeza cobriu o brilho do seu olhar.
“Evan...” o outro Emyr tentou se aproximar, Evan o parou com a mão erguida em sua direção.
“Eu estou bem, eu tenho uma filha, eu tenho um clã, eu tenho obrigações e tenho que voltar.”
Evan olhou fundo nos meus olhos e eu senti uma ligação, uma verdade. “Boa sorte meu irmão, que a sua trilha seja abençoada.” eu acenei e ele virou as costas indo em direção a escuridão. Antes de mergulhar nela o outro Emyr o alcançou e segurou em seu braço.
“Evan, por favor, me perdoa.” os dois se encararam por alguns segundos
“Eu não posso, ele morreu por sua culpa, você podia ter impedido tudo.” Evan com um movimento brusco se livrou de Emyr e sumiu na escuridão, o casaco esvoaçando atrás dele até sumir também.
Outra figura se aproximou de mim, esse era parecido comigo, mas era loiro, a pele cor de oliva e usava roupas não muito diferentes do uniforme do Jef. Ele tinha uma faca dourada ornada de pedras preciosas e me entregou. “Meu nome é Hector, quando entrei aqui essa faca apareceu na minha mão, eu acho que eu devo entregar ela para você. Na minha terra eu usei ela para matar um deus, que mantinha meu amor preso na forma de um monstro em um labirinto.” eu aceitei a faca. “Não tenha medo dos desafios, não tenha medo do escuro e dos obstáculos, por amor eu matei um deus, e eu sou apenas um mortal, vocês são capazes de qualquer coisa.” Ele me deu um sorriso e sumiu na escuridão.
“ACHEI ELE!” Eu me virei assustado para uma das figuras restantes, ele jogou um livro pesado no chão e uma espécie de mandala de luz surgiu sob meus pés e sobre minha cabeça. “Fica parado! Eu vou prender ele e remover ele da sua dimensão!” um grito horrendo nos fez tapar os ouvidos, exceto pelo cara do livro, que usava um robe branco e dourado, como uma espécie de mago. Ele fez gestos com a mão para a mandala acima da minha cabeça, como se enlaçasse e puxasse algo invisível, naquela área emergiram os gritos assustadores e estridentes, então uma figura macabra esquelética se formou, ele se debatia tentando se livrar de uma amarra invisível.
“Aí está você!” o mago bradou triunfante, com o pé ele fechou o livro, fazendo as mandalas e a figura sumir. Em seguida ele se abaixou ofegante. “Pronto, mais um selado, ufa!”
Ele olhou para as mãos, como se procurasse algo. “Chegou minha hora, minha dimensão está me puxando, parece que eu gastei demais prendendo aquele demônio.”
Ele me olhou “Aquilo era um demônio que me seguiu por várias vidas, ele sente prazer em torturar e matar todos aqueles que eu amo e a mim mesmo, então ele me mata e me força a encarnar, para fazer tudo de novo, ele estava tentando fazer isso com você também, eu sinto muito pelo mal que ele já te causou, mas agora você tem uma chance de ser feliz.”
Ele olhou para o outro Emyr. “Eu usei muita energia para o selo, essa dimensão de bolso não vai durar muito, você tem poucos minutos para terminar isso.”
Emyr acenou. “Obrigado Hector, fico te devendo mais essa.”
Hector já estava sumindo na escuridão “Bah, eu fiz isso só para pegar aquele demônio maldito, não se torne um também, ou eu volto atrás de você.”
Ficaram apenas eu, o outro Emyr e mais uma figura que se aproximou, ele usava uma roupa totalmente colada ao corpo, como um spandex tecnológico, ele estava ofegante e sujo de cinzas, como se tivesse saído de uma guerra.
“Meu nome é Cirus, eu devo ter atravessado um buraco de minhoca ou algo assim, eu estava tentando salvar meu… namorado… e seu clã do trabalho escravo em Marte, isso surgiu na minha mão aqui, então acho que tenho que te entregar.” ele me entregou um objeto pequeno, muito parecida com um pen drive. “Isso é uma cápsula de suspensão médica, serve para manter um corpo biológico em estado de suspensão e curar feridas mortais, basta colocar sobre o ferido, mas essa só tem uma carga, use com cuidado!”
“Obrigado...” foi tudo que pude dizer, Cirus se afastou, me deu uma última olhada, maravilhado com minhas asas “O que nos torna humanos? E o que nos diferencia de outras espécies sencientes no universo? Nada. Eu já sabia disso, mas você me tirou a ultima gota de dúvidas, eu tenho força para continuar lutando, nunca deixe de lutar, nunca desista de quem você realmente ama, não importa o quão distante o abismo entre vocês seja!” eu concordei e ele sumiu na escuridão.
“Agora somos só nós” me disse o outro Emyr, se aproximando. Ele passou a mão no meu rosto delicadamente. Éramos exatamente iguais, exceto pelos olhos, sua íris parecia estar em chamas. “Antes de tudo, você tem que entender que entender que não somos muito diferentes daquele dragão flutuando sobre sua cidade. Na verdade ele é só um fragmento do que nós somos, você pretende matar ele? ”
Eu abaixei a cabeça, fechei os punhos.
“Ele matou alguém que você ama, essa morte não pode ser revertida...”
Eu senti o ar vibrar ao meu redor com minha ira, o passado que eu me impedi de viver, o futuro que me foi roubado. “Não é minha natureza matar. Eu vou empurrar ele de volta para a fenda”
“Boa resposta. O poder que eu tenho eu não posso te passar, você precisa viver por centenas de anos para aprender ele, mas Evan te deu a habilidade de transformar, ele usa ela apenas para virar um licantropo, ele provavelmente não se deu conta do quanto mais ele pode fazer com ela, mas você irá aprender. O que eu posso te dar são os olhos do dragão, seria impossível explicar o que eles fazem, mas é muito mais do que você faz atualmente. Por enquanto você está acessando o nexus e copiando as habilidades, os olhos do dragão não são cópia, com ele você TERÁ essas habilidades.”
O outro colocou as mãos no meu rosto e eu senti quando algo passou dele para mim, meus olhos mudaram, foi como se minha visão se abrisse, eu enxergava outro mundo agora. Quando eu voltei a mim e foquei na minha frente o outro Emyr já sumia na escuridão. “Eu espero que seu futuro seja diferente, eu quero observar em você o que eu nunca vou ter a chance de viver...”
A escuridão se dissolveu ao meu redor, revelando a floresta e a cidade ao fundo com o dragão gigantesco preparando outra bola de energia. Eu flutuei alguns metros acima do solo, abri minhas asas e disparei em direção ao dragão, em dois segundos eu estava fazendo contato com a bola de energia, senti a energia que ele acumulou e usei um método reverso para dispersar ela, usando meu impulso eu acertei a gigantesca criatura no meio da testa, a cabeça balançou de um lado para outro enquanto ela recuperava o balanço, mas ele não foi ao chão como eu esperava, eu fui atirado para o outro lado, metade da força que eu apliquei no golpe havia sido devolvida contra mim, por isso superforça não havia funcionado contra ele!
Enquanto eu voava atordoado fui amparado pelos braços de Jef, ele não falou nada, apenas me olhou com olhos vermelhos e cheios de lágrimas, ele sabia da morte também. Eu o apertei forte contra meu peito. “Não pense nisso agora, temos que empurrar ele através da fenda.”
Jef me soltou e acumulou sua força.
“Só força bruta não vai adiantar.” ele me olhou e deu um meio sorriso.
“Eu não vou estar sozinho.”
“Nunca mais.” Ele disparou e eu fui ao seu lado, usando a mesma força que ele estava usando.
Nós dois acertamos o monstro ao mesmo tempo, mas a força combinada não foi o suficiente para fazer a criatura, mesmo desnorteada, perder o equilíbrio.
“Não é o suficiente!” eu gritei para Jef.
Um impacto não muito distante de nós fez com que o monstro finalmente se movesse, quando eu olhei naquela direção Drigo estava caindo, então minha ficha caiu, ele tinha a força necessária, ele só não podia voar. “Me segue Jef!”
Eu voei em direção a Rodrigo e estendi minha mão, mesmo caindo ele hesitou, eu olhei fundo em seus olhos, eu precisava da permissão dele. Quando estávamos muito perto do solo ele agarrou minha mão, eu não precisava salvá-lo, ele teria aterrissado tranquilamente, eu precisava tocar nele para copiar sua força. Já no solo Jef posou ao nosso lado.
“Prontos?” Eu perguntei, os dois acenaram. Eu fiz um pilar de pedra mais sólido que eu conseguia imaginar disparar do chão sob os pés de Rodrigo para lhe dar suporte para empurrar o dragão, ao lado dele eu e Jef íamos voando, como 3 misseis, mais rápidos que mach5.
Atingimos o monstro ao mesmo tempo novamente, só que dessa vez nós três, com fúria, com força, com determinação, apesar do rebote da força empregada continuamos empurrando, as criatura balançou e mesmo puxando contra nós começou a ser forçada através da fenda.
“Não parem, empurrem!” alguem gritou, não sei se foi Jef, Rodrigo ou eu mesmo.
Eu percebi algo naquele momento. Não poderíamos parar, se a gente fraquejasse ou parasse antes do monstro passar pela fenda ele ia voltar, eu não tinha tempo de salvar Jef e Rodrigo, essa era uma missão suicida, os três iam passar pela fenda com o dragão.
Eu olhei para Jef alguns metros de mim, ele me olhou e sorriu, e empurrou mais forte.
Eu olhei para Rodrigo a alguns metros do outro lado. Ele estava sob o pilar de pedra, seria fácil…
“Nem pensa!” ele olhava para mim enquanto empurrava.
Com um grito de esforço final eu dobrei a força aplicada e juntos nós três empurramos a criatura, mas acabamos caindo pela fenda também, para a escuridão desconhecida.