Coração Ferido - Capítulo XLIII
* Quanto ao desenrolar do capítulo tentei me manter o mais fiel possível em uma consequência de traição, mas sem exageros e na minha visão. Boa leituraNa porta eu estava e na porta eu fiquei. Minhas lágrimas começaram a cair e pela minha cabeça se passaram todos os anos e amizade com Luciano, não só isso, mas também depois, quando passamos a nos envolver sexualmente. Agora tudo tinha acabado.
- Fabrício! – Luciano mal terminou de falar meu nome e bateu com a perna na quina da mesa. A cena era patética. Luciano ainda de pênis de fora tentava a todo custo se recompor do susto, supostamente ele não tinha se dado conta de que cheguei no dia marcado, ou então nem se importou, tinha coisa melhor para fazer, mas ao me ver parado a porta vendo a cena grotesca o pegou de surpresa.
- NÃO CHEGA PERTO DE MIM SEU ESCROTO! – Luciano tentou se aproximar de mim, mas eu me esquivei dele que me olhou assustado, meu grito foi alto, mais alto do que imaginei.
- Ihhh, a bicha surtou – André debochou de onde estava me fazendo o fuzilar com meu olhar.
- CALA A BOCA! – Berrei, seu eu pudesse mata-lo eu faria - a única bicha aqui é você seu imundo, você nunca valeu nada – ele riu, mas logo se calou quando viu que Luciano ficou calado e não o defendeu – não se ache tanto André, não sou eu que dou de calcinha para qualquer um que aparece com um pau duro na minha frente – ele então levantou o pôs as duas mãos na mesa, visivelmente irritado e surpreso.
- Você realmente acha que é melhor que eu? – Perguntou debochado, eu odiava quando vinham com superioridade para cima de mim – você pode até ser mais machinho, mas é sem graça e é tão gay quanto eu – ele me analisou de cima abaixo.
- Claro e você deve ser muita coisa, não é mesmo? Eu sou gay sim e não tenho problema nenhum com isso, apenas sou melhor que você, convenhamos André, você só não dá para o sapo por que não sabe qual é o macho – o fitei, Luciano apenas observava, ele não era homem de se intrometer.
- Você não passa de um veado que tomou um chifre, aceita querido, o Luciano caiu na minha... – A reação dele foi patética assim como ele mesmo era, olhei para ele e Luciano que coçava a cabeça e comecei a gargalhar.
- Isso é sério?! Caiu na sua? Aceitar?! – André não entendeu o meu deboche, Luciano fechou a cara e tentou se aproximar – não se aproxima de mim – ele entendeu e parou a um braço de mim - desde quando você começou a mostrar suas unhas? Você é patético pegando meu resto, acorda! Você realmente acha que me venceu, isso não é um jogo André, a sentimentos envolvidos aqui – berrei fazendo ele se encolher e Luciano ficar consternado.
- Fabrício... – Luciano tentou mais uma vez investir para cima de mim, mas parou ao ver que estava ficando patético. Eu olhava horrorizado, era muita informação na minha cabeça, eu não imaginava que ele chegaria tão baixo, me apunhalaria da pior maneira possível e então como de supetão a raiva veio, fiquei cego e me aproximei de Luciano. Minha mão pesou em seu rosto, a bofetada foi mais forte do que imaginava e só não dei outra por que ele me segurou, mas então me soltou.
- POR QUE LUCIANO? TINHA QUE SER COM ELE?! – Apontei para André por detrás da mesa sorria sem nem ao menos disfarçar, era visto que ele estava adorando a situação, mas ele não sairia dessa tão fácil, esse veado ia pagar, não só por ter transado com Luciano, mas por tudo que ele fez.
- Me desculpa, eu errei... – ele tentou argumentar.
- Errou?! – Comecei a rir de nervoso, será que só eu estava achando aquilo tudo errado.
- Fabrício eu posso explicar – a clássica frase de quem é pego no ato, tão cliché como a cena que presenciei, o macho fodendo a bicha que se oferecia e que foi somente usado, mas ao contrário eu não aceitaria e nem seria o mais fraco.
- Explicar o que Luciano? – perguntei cansado - que você estava transando com um qualquer no seu ambiente de trabalho por que estava na seca, ou por que estava carente e precisava de sexo, ou então no melhor das hipóteses, era por minha causa? – Ele me olhou envergonhado – esqueci, você não precisa me explicar nada, nós não temos nada, somos apenas amigos e pelo que eu vi você tem tanta consideração por mim quanto tem por ele, ou seja, de quatro e com seu pau enterrado dentro da gente somos iguais – apontei para André que estava abaixado atrás da mesa observando a cena.
- Cala a boca! – Luciano explodiu dando um tapa na mesa, seu rosto ainda estava vermelho por causa da bofetada, mas logo isso não importou mais, eu apenas o encarei, estava com raiva dele – André, vaza daqui – sem ao menos olhar para ele Luciano esbravejou.
- Mas amor... – ele tentou se aproximar e acariciar o Luciano me fazendo ter nojo do ato.
- Eu não sou teu amor – ele segurou André pelos pulsos com certa agressividade o afastando e apontou para mim – meu amor é ele e parece que nem isso eu tenho mais, e tudo isso é culpa sua – ele me olhou triste, seu tom de voz saiu conformado – vaza daqui e nunca mais me procura, você conseguiu o que queria, agora arranja outro macho para te comer – Luciano então empurrou André que olhou com ódio para ele e para mim.
- Você só me usou?! – Ele pareceu falar mais para ele do que para Luciano.
- Mas é claro, ou você achou que eu ia cair de amores por você? Acorda André! você é um veado rameiro, nunca que eu ficaria contigo, aliás, eu nem sei por que trepei com você na minha mesa – Luciano debochou e por dentro eu ri, mas logo percebi que talvez poderia ser eu no lugar do André sendo subjugado e então comecei a ver as coisas com mais clareza, eu também já tinha sido fodido por ele várias vezes.
- Você me fodeu por que estava carente, você mesmo disse isso ontem quando te encontrei no bar – após essa revelação olhei para Luciano que não soube como reagir.
- Vocês se encontraram? – Perguntei pasmo.
- Eu acabei indo com o pessoal do escritório para um happy hour e... – Luciano foi interrompido.
- E acabamos bebendo e conversando e o pior que o assunto quase todo foi você – André apontou para mim com raiva, eu sabia que ali não foi apenas uma transa para ele, André estava apaixonado por Luciano e acho que não era reciproco para - a noite toda ele se lamentando...que sentia sua falta e que estava perdido sem você – Ele revirou os olhos.
- Estava tão perdido que acabou encontrando você, não é mesmo? – Encarei Luciano, ele estava nervoso e tentava a todo custo se manter calmo.
- Eu ia te buscar no aeroporto... – ele então me encarou, sentou em uma das cadeiras e baixou a cabeça, seu olhar frio e indiferente, o primeiro em anos.
- Mas você preferiu foder o primeiro cu fácil que apareceu na sua frente... – olhei para os dois com nojo, minha cabeça era uma confusão de sentimentos.
- Me escuta Fabrício! – Ele alterou a voz que saiu como um trovão, havia urgência em me explicar.
- Eu não quero mais te escutar Luciano, eu estou farto de acreditar em você, confiar em você e quebrar a cara - as lágrimas começaram a rolar novamente, eu estava cansado fisicamente e psicologicamente, mas acima de tudo estava cansado de sofrer e quebrar a cara por causa de alguém que não tinha consideração por mim.
- Eu te amo – ele disse baixinho, agora ele também chorava.
- Ama?! – Tive que me virar e o encarar, ele só podia estar brincando comigo.
- Por que Luciano? Por que você não foi sincero comigo desde o começo, eu teria entendido que você não queria nada sério, nós éramos amigos, você devia ter confiado em mim... – André olhava tudo com superioridade, o que me deixava com mais ódio ainda.
- Por isso...– ele então abriu a gaveta de sua mesa e de lá tirou uma foto a jogando em mim, quando a peguei para ver do que se tratava quase cai para trás. A foto mostrava eu e Sergei no restaurante onde nos conhecemos e dava para ver que estávamos em um momento bem descontraído.
- Como você conseguiu isso? – Ele então me olhou com raiva.
- Então é verdade? Você passou a noite com ele? – Me perguntou com raiva.
- Passei sim... – olhei para ele, não tive pena de responder, André arregalou os olhos.
- E você diz isso assim... – Ele então levantou, veio até mim e antes de qualquer coisa olhou para André – vaza daqui – André entendeu o recado, pegou suas roupas e quando estava saindo pus o pé na frente, ele que prestava atenção na gente não viu e tropeçou caindo no chão e dando com o nariz na quina da porta, quando se levantou um filete de sangue escorria dele.
- Não mexa comigo André, eu posso ser seu pior pesadelo – em tom de ameaça deixei bem claro que ele não era páreo para mim.
- Você irá se arrepender de ter feito isso... – Com a mão no nariz ele saiu e sumiu de nossas vistas.
Alguns minutos se passaram, na verdade pareceram ser horas, mas foram apenas minutos. Luciano sentou em uma cadeira e de cabeça baixa parecia pensar. Eu estava encostado em uma parede e lá fiquei. Era tudo tão novo para mim que em nenhum momento pensei em dar escândalo. Eu apenas respirava e tentava ficar calmo.
- Agora a conversa é entre eu e você – Luciano levantou e veio até mim, parecia até que algo o possuiu, ele segurou em meu braço eu me esquivei, então não aguentou e me pegando de surpresa, me puxou, me prensou contra a parede e me beijou, minha reação foi a de cuspir em seu rosto, peguei o cinto da minha calça sem ele perceber e dei uma cintada que pegou em seu braço, dei outra e mais outra e mais outra, quando me dei conta tinha acertado seu rosto, braço e pernas, havia uma mancha vermelha em sua bochecha, foi merecido – vocês dois se merecem mesmo...os dois não prestam, e antes de você falar qualquer coisa eu fui para cama com o Sergei sim e só tenho a elogiar ele... – fui calado por Luciano que me deu uma bofetada, seu olhar de ódio para mim quase me desestabilizou, alisando o lugar onde tinha sido acertado apenas ri, ele devolveu a agressão.
- Você não podia ter feito isso comigo... – disse com pesar – eu amava você Fabrício, eu faria tudo por você... – ele era hipócrita, só podia.
- Não fez o principal, não me respeitou e nem confiou em mim, muito menos foi fiel, acho que você não está em condições de me julgar, você foi infiel antes que eu – ele me olhou e assentiu.
- Por que fez isso? Foi tesão? – Perguntou.
- Foi, mas foi longe de ser uma foda, ele foi carinhoso, me respeitou e ainda por cima foi compreensivo...ele é bem melhor que você... – Luciano se surpreendeu.
- É esse o preço que eu tenho que pagar – ele então me encarou, eu quase tive pena.
- Nossa história acabou Luciano, ou melhor, nem começou, não é mesmo? – Ele fez menção de falar, mas se calou e baixou a cabeça, meu sarcasmo e decepção foram maior do qualquer critério que ele poderia usar a favor dele.
- Por favor...Fabrício...eu sinto muito... – Luciano tentou barganhar, mas já era tarde demais, apesar de tudo eu o amava, mas não me submeteria a isso.
- Eu que sinto por ter me deixado envolver por você... – doeu, então me quebrei, fui forte enquanto pude.
- Não diz isso, eu errei mas eu te amo – Luciano não entendia que não dependia só de amor, dependia de confiança também e isso já não tínhamos mais – foi um erro eu deixar me envolver por uma transar, mas entende meu lado, eu estava carente - quem ama também deixa ir e pensando nisso deixei ele para trás, as marcas das cintadas iriam ficar por muito tempo. Antes das portas do elevador se abrirem ainda olhei para trás, ele estava me olhando, aquele baita homem com cara de criança carente.
- Sabe o que é foda Luciano, eu estava disposto a tentar um relacionamento sério com você, admitir para mim mesmo que você é o homem que eu amava, mas você conseguiu acabar com tudo, não segurou o pinto dentro das calças e não teve o mínimo de respeito por mim... – respirei fundo, as lágrimas caiam tanto do meu como do seu rosto – no fim você e o João não são tão diferentes... – dei as costas a entrei no elevador. A última visão que tive de Luciano foi ele me encarando com olhar de súplica, eu não ia cair, não mais, estava na hora de seguir em frente.
Ao sair do prédio não sabia mais o que fazer, se eu iria para um hotel, se iria para casa, mas em hipótese nenhuma eu voltaria para a casa de Carmem e Valmir, eu não tinha mais cara para fazer isso, mas ainda tinha que pegar minhas malas, era necessário que eu agisse de cabeça fria.
- Fabrício – Assustado olhei para o lado, era Valmir que me olhava preocupado – o que aconteceu? Você estava chorando? – Então não deu mais para segurar e em um impulso me abracei nele.
- Valmir...eu preciso pegar minhas malas na sua casa, tenho que ir... – deixei Valmir para trás, a uma coisa que vi foi ele entrando no edifícioDesembarquei no aeroporto de Caxias do Sul sem ninguém estar à minha espera, afinal eu não havia avisado que chegaria naquele dia, meus pais me esperavam só dois dias depois e não queria preocupar ninguém com os meus problemas. Ao sair do saguão para o acesso aos táxis senti o vento gelado, mesmo com sol era comum em uma manhã de início de julho e vento minuano cortar e pela primeira vez sorri desde que passei pelo ocorrido com o Luciano. Eu estava em casa, e queria desesperadamente abraçar meus pais, precisava muito da minha mãe.