Pai, homem, carrasco, amor - pt 12
Aquela decisão de me obrigar a ficar permanentemente nu, sem acesso às roupas, prendendo-me assim em casa, era um ato de loucura. Apesar de ainda assustado, eu, sinceramente, achei que ele estava de sacanagem. Então, ali de pé e sem nada me cobrindo, eu ri um pouco. Quis dar um clima leve à coisa toda, embora por dentro estivesse amedrontado.
Ele ignorou e se sentou à mesa, mandando que eu servisse o jantar.
- Pai – falei, fazendo uma expressão bem humorada.
- Mandei servir.
- Pai, que maluquice é essa...? Isso é porque eu fui...
- Porque tu foi lá para ver aquela porra do Machadinho. Tu foi pra matar saudade de ficar no meio dos machos. Tu foi pra saber se eu estou comendo a Wilka. Tu foi pra infernizar a minha vida mais do que já infernizou. É por isso tudo que tu foi.
- Não, pai; não foi nada disso.
- Serve o jantar.
- Pai... Isso é maluquice.
- É. É maluquice, sim. É maluquice. Tu ainda não percebeu que teu pai é maluco? Eu sou maluco! Teu pai é maluco! Por isso que ele come o próprio filho; por isso fez do filho amante dele. É um depravado; um tarado. É maluco! Eu sou um maluco; está bem assim? Pronto!
Parecia ainda mais exasperado, num efeito oposto ao que pretendi com minha tentativa de bom humor. Aproximei-me.
- Não fala assim não, pai.
- Já falei para ir pegar as coisas. Vamos comer.
- Assim? – espalmei os braços, mostrando o corpo.
- Hoje é assim, pra tu aprender. Mas quando eu estiver em casa pego as roupas e tu te veste. Hoje, não – fez uma pausa. – É bom pra tu acostumar. Agora vai ser assim. Só vai se cobrir comigo aqui e quando sair comigo. Vai ficar em casa pelado para não poder sair.
- E quando tia Amélia vier?
- Daí eu te visto.
Fiquei olhando.
- Vai ficar aí parado? Eu tenho fome.
- Eu não gosto... Você sabe que eu não gosto de ficar assim.
- Sei muito bem. Cheio de frescurinha. Um calor do cão e tu ficava de camisa dentro de casa. Todo mundo querendo arrancar tudo e você todo envergonhadinho; camisa toda suada. Então é bom parar com essa frescura agora.
Eu ri novamente, acho que de nervoso. Eu realmente me sentia mal se tivesse de expor o corpo. Era por conta disso que, apesar de muita vontade, nunca havia ido a uma sauna gay, na capital. No colégio, me escondia pelos cantos do vestiário para me trocar. Nem mesmo agora, adulto e com o grau de intimidade que tinha com ele, eu ficava sem camisa.
- Tu tem o corpo legal; magro, mas legal. Por que tanta frescura? Nem tem pau pequeno – fez uma pausa, e irritantemente completou: – Nem isso eu fiz em você; sou um merda pra fazer filho mesmo. Ainda bem que tua mãe quis parar em você.
- Pai, eu não vou ficar assim! – eu comecei a me impacientar. – Você não pode me prender em casa!
- Posso. E vou.
- Isso é cárcere privado!
- Foda-se. Eu sou teu pai. É minha obrigação cuidar de você.
- Não me trata feito criança, pai! Eu sou maior de idade!
- Mas é menor de pau. Então, obedece teu macho.
Comecei a pôr as travessas na mesa, indo e vindo da cozinha e tentando me acalmar e entender melhor a situação dali para frente. Assumi um ritmo propositadamente lento, tanto porque queria pensar quanto para dar tempo para que o troglodita se acalmasse. Ele permanecia à mesa, sem qualquer atenção à indisfarçável aflição que eu estava sentindo.
Fumava, completamente alheio. Agora, parecia menos assustador; seu semblante já não estava tão alterado. Fiquei ainda com a esperança de que aquilo fosse passar logo; que fosse apenas uma explosão de irritação. Prender alguém em casa assim era hediondo. Por ciúmes...! Aquilo era além de qualquer limite. E me mantendo nu, sabendo o quanto aquilo me angustiava.
Não demorou para que eu tivesse de lidar com as consequências vexatórias daquele castigo. Elas vieram, concretamente, assim que voltei à mesa pela primeira vez, trazendo parte da comida. Pela própria ação que fazia, estava totalmente vulnerável diante dele. A travessa do suflê fumegante me obrigava a manter os antebraços suspensos, quase abertos, e a postura ereta: com isso, minha nudez era ostensiva. Não tinha como me safar; nem me encolher eu podia. Indo em direção à mesa, caminhando frente a ele, estava totalmente devassado e sabia que aquela nudez acabaria expondo mais do que meu corpo.
E ele vestido, numa evidente vantagem! Na confusão de sua chegada, nem tinha se trocado; não tinha tomado banho; manteve-se tal como passara o dia todo no trabalho. Eu forçado a ficar pelado, completamente pelado andando pela casa, e ele daquele jeito: composto, coberto pelas roupas, resguardado, fortalecido por elas. Sentado, como se nada estivesse acontecendo! Fumando o cigarro dele na maior tranquilidade, enquanto eu percorria a casa obrigado a mostrar a bunda, o pau; coagido a me exibir sequer com pelos que pudessem proteger minha intimidade, depilado como ele havia me mandado estar sempre. Tinha que me sujeitar a ter o corpo todo descoberto pela simples razão de que ele queria assim – e tinha que ser assim porque era ele quem mandava. Não tinha esse direito, nem como pai nem como amante! Nem como meu macho, como ele se proclamava, todo orgulhoso. Macho por que? Porque pode impor assim a vontade dele e me deixar com vergonha desse jeito? Porque me faz tirar a roupa toda, não poder vestir nada, ficar nu à força o tempo todo, preso dentro de casa a mercê da vontade dele? Porque é maior do que eu, mais viril do que eu, então pode mandar em mim, me largar numa situação degradante assim? Porque...
Eu me mantinha ensimesmado em minha revolta muda, ao mesmo tempo agoniado por não poder controlar o que percebia acontecer sob meus olhos, fitando o chão. Mesmo mantendo a cabeça baixa, vi de soslaio que ele me olhou. O desgraçado deixou escapar uma risada baixa na segunda vez que voltei, com o arroz. Inclinou a cabeça, ainda rindo em silêncio, e deslizou o cigarro na borda do cinzeiro. E ainda debochava; todo ali vestido! Aquilo de estar vestido era proposital, só podia ser; era para mostrar que ele podia se cobrir, e eu não. Desgraçado.
Eu resmungava silencioso, tentando a todo custo desviar minha atenção do que involuntariamente acontecia comigo. Aquela incapacidade de dominar minhas reações me irritava, mas me envergonhava mais ainda. A fisionomia divertida dele tornava tudo pior. Não via a hora de desaparecer, mas não tinha como fugir dali.
De volta à cozinha, tomei coragem e encarei, ruborizado, o que me denunciava. Tentei manter a calma. Pensei em me esconder ali até que aquilo acabasse, mas a situação parecia cada vez mais grave, sem retorno.
Cheguei à sala, desta vez com a bandeja com o feijão e a carne, que mais uma vez me obrigava a manter os antebraços suspensos. Esforcei-me para fingir que nada ocorria. Fingi também que iria convencê-lo disso. Pus as travessas na mesa e depositei a bandeja no aparador. Ele voltava a rir.
- Esse teu pau durinho é uma gracinha, Mateus.
Empalideci e fiquei algo trêmulo. Mas o olhei duramente, torcendo para que minha cara pudesse ameaçá-lo e contê-lo. Ele continuava com aquela expressão divertida, displicente diante do meu tormento. Desceu os olhos e depois os subiu de novo, encontrando meu rosto. Puxou-me e enlaçou-me pela cintura.
Tentei me afastar, mas ele me manteve preso. Ele, ali, vestido, tranquilamente sentado, me prendendo de pé ao seu lado, sem nada com que pudesse me esconder.
- Bem bonitinho – disse, sorrindo, olhando para meu pau que insistia em se manter ereto.
Quis desviar o assunto, escolhendo um foco que poderia sensibilizá-lo, fazê-lo consolar-me por uma besteira; solidarizar-se comigo. Talvez eu conseguisse que, com pena de mim, sua atenção se desviasse daquela ereção escandalosa. De início, afetei a voz nos diminutivos, demonstrando irritação:
- Não é durinho, não é gracinha nem é nada de bonitinho – falei, em seguida simulando um tom fragilizado, para sensibilizá-lo: - Você fala como se meu pau fosse pequeno. Ele não é pequeno. Você acha pequeno, pai?
- Não; é normal, comum. Mas inútil.
Seu sorriso me ridicularizava. Ele não voltou a olhar meu pau, que parecia prestes a gozar. Fulminou:
- Dá no mesmo.
O monstro mantinha a cabeça inclinada para me encarar, sorrindo na maior cara de pau. Eu procurava deixar a minha aprumada, num fracassada tentativa de dignidade. Mas não o olhava era mesmo por não ter coragem para enfrentar a situação. Aquela maldita ereção não passava; pelo contrário, parecia cada vez ficar mais forte. Parecia ser eterna! Ele acariciou minha bunda.
- É uma gracinha, assim espetadinho – disse, inclinando-se agora para baixo.
Então, fiquei assombrado com o que fez: sem tirar o sorriso do rosto, aproximou-se do meu pau e deu dois beijinhos na ponta, muito carinhosamente.
Voltei-me para ele, absolutamente surpreso. A única vez que tocara no meu membro fora quase de relance, dando um tapinha para me sacanear, quando pus o short feminino. Agora, repentinamente, dava beijinhos. Nunca esperei que ele um dia fosse ter tal proximidade, e de modo tão relaxado. Era como se não tivesse pudor algum naquilo: ele tinha acabado de encostar os lábios num pau e o fazia sem qualquer solenidade!
A verdade é que não me incomodava o fato de ele deixar meu pau à parte em nossas trepadas. Não me fazia falta ele sequer encostá-lo. Talvez até eu preferisse. Mas, agora, o que parecia ser um tabu, ele lidava como algo banal.
Não sabia se devia achar bom ou ruim; não sabia nem o que pensar de nada. Estava morrendo de vergonha por mostrar uma ereção quando deveria estar totalmente broxa, sem vida. Não devia estar com pensamento algum ligado a sexo. Ao mesmo tempo, me via perplexo, assustado com aquela iniciativa, aqueles beijinhos. Tripudiava de mim, mas temi também que indicasse a possibilidade de querer usar meu pau. Aterrorizei-me; podia ser o início de um processo que culminasse comigo sendo forçado a ser ativo. Mas havia ternura naquele gesto; eu a reconhecia e me encantava. Eu me assustava, estarrecia, acovardava, mas me derretia todo. E tinha que disfarçar tudo isso. Era muita coisa junta para resolver em três segundos!
Ele não terminou aí. Como da outra vez, deu uma batidinha no pau, porém ainda mais leve. Usou apenas a ponta de um dedo, para ver aquela desgraçada daquela ereção fazer com que ele quicasse como um brinquedo; como uma miniatura de João Bobo. Agia como se lidasse com algo que não tivesse de levar a sério; com algo sem nada de ameaçador. Tocava em meu pau como se não fosse um pau.
Eu não sabia se me irritava ou me acalmava. Não sabia nada de nada ali em pé, exposto daquela forma. Só meu pau sabia; e só o que sabia era me envergonhar, ereto sem hesitação.
Papai se levantou, segurou minha cabeça entre as mãos e me beijou. Aí, como por encanto, descansei. Amoleci de vez. Encostei-me nele; senti o calor de suas roupas. Repousei em seu pescoço, relembrando seu cheiro. Percorri com as mãos a maciez da camisa, o tecido morno encostando-se na minha pele nua, minhas coxas e a cabeça do pau rijo roçando a aridez da calça jeans. Deixou que eu repousasse mais um pouco nele, silencioso.
Intensificou o abraço e depois me soltou, dando uma apertadela em meu queixo. Entendi que começaríamos o jantar.
- A partir de hoje, você só vai se vestir quando eu voltar pra casa e liberar sua roupa.
Deu uma parada, mas logo emendou:
– Estamos entendidos, certo?
Foi difícil me acostumar. Ele não deixou à vista sequer o avental na cozinha, mesmo com o risco de que eu pudesse me queimar: mandou que eu tomasse mais cuidado, e pronto. Naquela noite e ainda na manhã seguinte – “para você se acostumar logo” – não me deixou vestido mesmo consigo em casa, quando não havia perigo de eu sair. Devidamente vestido, ele parecia ainda maior perto de mim. Ou, vendo de outro ângulo, estando todo descoberto eu me sentia tão pequeno como se todo o tempo estivesse percorrendo a palma da sua mão.
O café da manhã prolongou aquela atmosfera confusa de excitação misturada a sedição, a desonra. Meu pai pareceu minimizar o que significaria agora o hábito de não me lavar imediatamente após ele me fuder. Desfez do meu acanhado apelo de desconforto em preparar o café e sentar à mesa sentindo sua porra melando meu cuzinho – e, como ocorria às vezes, também o interior das coxas. Vestido, isso não me constrangia, bem ao contrário: era excitante; como um pacto de cumplicidade. Eu e ele sabíamos que por baixo do short, enquanto tomávamos o café, eu guardava o que ele tinha me legado e assim ficaria até quando pudesse contê-lo. Mas, sem roupa alguma, aquilo me parecia excessivamente promíscuo; obsceno mesmo.
Tornou-se uma rotina: quando chegava do trabalho, abria o quarto e liberava a roupa para mim. Eu já havia tomado banho e me preparado todo, então rapidamente me vestia. Ele havia me trancafiado sem precisar trancar a casa: eu só podia sair na sua companhia. Até as compras passou a fazer, a partir de uma listinha que eu lhe entregava. Nos fins de semana, me mandava pôr roupas novas para ficar bonito para ele e me levava para passear.
Apesar de tudo, eu não reclamava. E ele sabia por que. E eu fingia que não sabia que ele sabia.
Difícil mesmo era quando estava sozinho, porque aquele embaraço que eu sentia desde criança se mantinha, mesmo sem ninguém para testemunhar minha nudez. Eu ficava meio paranoico: mesmo a casa sendo em centro de terreno, recuada da rua por um jardim e rodeada por muros cuja altura se expandia em arbustos e folhagens, era como se eu pudesse ser pego a qualquer momento em flagrante. Saindo para o quintal, uma vez cheguei a me flagrar tapando os genitais com a mão.
Mas foi no dia da chegada de tia Amélia que, sem me dar conta, me deixei desmascarar de vez. Ele a pegaria na rodoviária e a levaria ao hotel, para depois trazê-la para jantar. Acabou desistindo de hospedá-la conosco, tanto pelo risco de ela perceber algo ou de eu poder vestir-me na sua ausência quanto pela liberdade de me sodomizar sem sobressaltos.
Naquela manhã, deixou uma muda de roupas, para que eu me arrumasse na hora prevista para sua chegada com ela. Eram roupas novas, porque ele me queria embecado: camisa social, calça, cinto, sapatos lustrosos. Não teve dúvidas de que não precisaria estar presente para que eu cumprisse sua determinação. Foi, obviamente, o que eu fiz, só me vestindo à noite. Mas ele chegou sozinho.
- Tentei te avisar, mas não consegui sinal e acabei desistindo. Tua tia me ligou da estrada. Deu um problema no ônibus, então está vindo muito devagar. Não tem muita previsão da hora que chega.
- Então ela não vem mais jantar?
- Vai ficar tarde; a gente janta só nós. Avisei lá ao Manezinho que providenciassem uma refeição para ela. Vou convidar pro almoço, amanhã. Tu capricha de novo na comida.
Imediatamente, comecei a tirar a roupa, como se a ausência da tia me liberasse dela. A essa altura, já era comum eu estar nu em qualquer canto da casa, pois era como vivia o dia inteiro. E ele não havia destrancado o quarto para que eu pudesse pôr short e camiseta, em vez de me manter vestido socialmente.
- Não entendi, pai. Você vai deixar ela sozinha lá na rodoviária? – quis saber, enquanto dobrava as peças e punha sobre o aparador.
Eu agi sem notar que não havia sentido no que fazia: sua ordem não era que eu me mantivesse nu, mas que fosse assim apenas na sua ausência. Ele aguardou um pouco antes de responder, sem despregar os olhos de mim:
– Ficou de ligar quando estivesse na entrada da cidade. Não vou deixar tua tia esperando à noite, sozinha, na rodoviária. Quando ela avisar, saio correndo daqui. Nem vou me trocar.
- Então você vai continuar aqui assim, todo vestido? – quis confirmar, com uma evidente agitação.
A pergunta era estúpida e a resposta óbvia. Ele apenas me olhou, sem muita expressão. Era como se visse através de mim. Levantou-se e pegou o maço de cigarros. Tirou um e acendeu.
Olhou-me de volta; parecia pensativo. Não entendi muito o que se passava; apenas continuei calado, como se à espera do que fazer. Cheguei perto e me encostei nele, sentindo seu cheiro do trabalho. Ele correspondeu, me fazendo um cafuné. Deu um tapinha na minha bunda:
- Anda. Põe logo a comida, antes que eu tenha que sair.
- É só servir, porque está tudo quente – eu disse, indo para a cozinha.
Quando retornei, ele ainda estava de pé. Depositei as travessas na mesa e não resisti em abraçá-lo de novo, roçando meu corpo nele. Aquele homem era irresistível, mais ainda porque o havia pegado coçando vagarosamente o bigode – um gesto que fazia de quando em vez e que me seduzia. Ele me beijou e eu saí para pegar a jarra de suco.
Quando voltei, ele ainda não havia sentado. Permanecia encostado ao aparador. Novamente, fui até ele. Dessa vez, encaixei-me entre suas pernas meio arqueadas, sentindo o calor do seu corpo, e aninhei-me nele.
- Mateus – ele disse, vagarosamente desvencilhando-se de mim.
Apenas movendo os olhos, indicou minha ereção.
- Você está assim desde que se despiu. E continuou desde que veio da cozinha a primeira vez.
Fiquei meio atônito.
- Não percebeu?
Eu realmente não tinha percebido. Ele deu um sorrisinho.
- É que você me dá tesão – tentei justificar.
- Eu sei. E tu fica de pau duro à toa. Mas não costuma acontecer só por estar servindo a mesa.
Ele me encabulou. E não foi só pela pergunta, mas por um breve sorriso malicioso.
Sentou-se, sem dizer nada. Caí em mim. Quis remediar, perguntando se ele não podia abrir o quarto, para eu me vestir antes de jantarmos.
- Não...
Parou, novamente como se refletisse. Encarou-me por um ou dois segundos e falou, num tom mais enérgico e ajeitando a cadeira:
- Melhor comermos logo, antes que ela ligue.
Eu me sentei e comecei a servi-lo. Depois daquele sorriso, a nudez me embaraçava. Ele comeu um pouco e parou. Disse que o purê precisava de um pouco mais de sal. Para mim, não precisava, mas fui à cozinha pegar para ele.
Seus olhos me acompanharam atentamente quando eu voltava, até sentar-me de novo. Entreguei o saleiro, ele o pôs sobre a mesa e continuou a comer.
- Não vai pôr o sal?
Ele sorriu novamente, mais brando. Disse que havia comido mais um pouco e que, na verdade, era desnecessário.
Meu pau ainda não descera. Ao contrário, parecia que ia explodir, de tão excitado.
Ele se ergueu, veio até mim. Ficou de pé, muito próximo.
- Você sabe que também me dá tesão, garoto.
Beijou-me na testa, mantendo seu corpo sem me encostar. Alongou o beijo, com os lábios em minha pele. Sorriu e voltou a sentar-se. Não entendi o porquê de ter se levantado. Até gostei.
- Traz pimenta.
Obedeci. Ele apenas me observava, sem dizer nada e, assim como procedera com o sal, não se serviu da pimenta. Fiquei confuso; receei dizer qualquer coisa. Seu olhar parecia me desnudar mais ainda. A ereção se mantinha, e eu me fiava que, quando tinha a proteção do tampo da mesa, conseguia desviar a atenção dela.
O celular tocou. Ele se levantou, pegou o aparelho, mas só o atendeu quando estava bem perto de mim, de pé. Sua calça quase roçava meu ombro, mas ele a conservava a milímetros de distância. Observava-me do alto, enquanto falava com tia Amélia. Acompanhei a conversa de baixo, erguendo a cabeça.
Desligou. Não aparentou pressa, apesar do que dissera antes. Continuou de pé, ao meu lado, comentando que iria sair. Teclava o aparelho.
- Eu deixo acumular muita coisa aqui... Tem muita coisa para apagar – disse, ainda me ladeando.
Afastou-se um pouco e completou, sem tirar os olhos do celular:
- Mateus, olha aqui pra mim... Como eu faço para tirar isso aqui?
Levantei e fui até ele, meu corpo muito próximo ao seu, tentando ver a tela. Ele se posicionou um pouco mais atrás, agora com suas roupas me roçando. Eu arfei timidamente, seduzido por aquele contato inesperado. Não fora casual, percebi.
Ele guardou o aparelho no bolso e me dirigiu um sorriso ameno.
- Tenho que ir – disse, afastando-se.
Abriu a porta, mas logo a fechou, sem muita pressa no movimento. Voltou-se, mais uma vez percorrendo meu corpo com os olhos, de cima abaixo. Sorriu novamente.
- Tenho que tomar mais cuidado quando abrir com você neste estado.
Sorriu, mais uma vez discretamente. Olhava-me bem no fundo dos olhos, até que saiu.
[continua]