Os caminhos da vida 10
Peguei o primeiro ônibus que passou e fui para casa. Liguei para Marina e disse que não poderia ir até lá, pedi que mandasse um mecânico ir olhar meu carro que depois eu pagaria pelo conserto. Ainda era cedo, coloquei um filme e praticamente desmaiei.
No outro dia o jeito era ir de ônibus, quando tranquei a porta de casa, vejo Marina buzinando. Cheguei próximo ao carro e disse:
-O que você tá fazendo aqui?
-Primeiramente bom dia Tarine. E como você não foi buscar seu carro ontem, imaginei que precisaria de uma carona hoje.
-Não precisava se incomodar.
Entrei no carro e fomos a caminho do trabalho, ela olhou para mim e perguntou:
-Porque não foi buscar seu carro ontem? Fiquei te esperando.
-É que não estava muito bem, resolvi vir embora, mas hoje eu busco tah?
Eu não precisava explicar nos mínimos detalhes o motivo pelo qual não fui a casa dela. Afinal o que tínhamos era uma “amizade colorida” nada sério.
Cheguei no trabalho e novamente Fernanda estava no portão e viu quando cheguei com Marina. Senti a boca secar na hora. Me despedi de Marina e fui até a cozinha buscar um copo de água. Quando cheguei Fernanda estava sentada, falei:
-Bom dia.
-Bom dia.
-Queria te agradecer pela carona de ontem.
-Ownt, relaxa. Se precisar posso te levar hoje de novo. A não ser que você vá com Marina...
Eu não queria falar de Marina, mas também não queria que a conversa terminasse ali então:
-Não vou com a Marina hoje.
-Tudo bem então. (Sorriu)
-Sua filha é linda.
-Ela é sim.
-Ela não se parece muito com você. Deve ser a cara do pai.
Ela abaixou a cabeça e disse:
-Não. Ela é a cara da mãe biológica dela.
Fiquei sem palavras e não respondi. Ela pareceu triste. Senti uma pontada no peito. Quando ia abrir a boca Marina entrou na sala. Fernanda pareceu se incomodar com a presença dela:
-Vou indo lá Tarine. No fim do expediente te espero.
Marina olhou pra Fernanda saindo olhou para mim e disse:
-O que vocês vão fazer no fim do expediente?
-Vou embora de carona com ela.
-Você não vai comigo pra buscar seu carro?
-Vou é que preciso resolver um problema da empresa antes (Menti).
Marina pareceu engolir, mas saiu pisando alto. Ela é muito gata e tal, mas a situação estava começando a fugir do meu controle e eu não me sinto confortável com isso. Eu iria começar a evitar Marina, não tinha outra solução.
O dia foi produtivo, mas eu não parava de pensar no rostinho de Fernanda triste quando falei de sua filha. No fim do expediente fui encaminhando para o portão e Fernanda estava dentro do carro me esperando e Marina na porta. Entrei e ela falou:
-Vamos madame, hoje to a sua disposição. Sem Marido, sem filha...
Não entendi o porquê daquela frase, mas compreendi quando Marina me fuzilou com o olhar e saiu pisando alto. Ela colocou um pen drive e as pastas eram todas da Rihanna (Minha divaaaaaa) , começou a tocar e sabe quando você não tem assunto com uma pessoa? Eu estava desse jeito, só mexendo os lábios cantando ao som de Rihanna. O trânsito parou. Acidente na principal e as outras vias já estavam entupidas de carros. Um silencio se estabeleceu no carro e eu resolvi quebra-lo e consertar as coisas:
-Desculpe por mais cedo. Não sabia que a Laurinha não era sua filha.
-É uma história complicada.
-Não precisa falar disso se não quiser, só me senti mal porque você ficou triste.
-Eu sou uma manteiga. Se preocupa não.
-Se eu puder ajudar em alguma coisa.
-Vai se resolver, pode ficar tranquila.
O transito pareceu fluir, nas vezes em que ela passava a marcha do carro esbarrava com as mãos em minhas pernas, eu estava de calça, mas o calor das mãos daquela mulher pareciam penetrar o tecido e tinham o poder de fazer minha pele se arrepiar. Ela quebrou meu pensamento:
-O lance entre você e Marina está ficando sério.
Aquilo foi como uma pancada. Eu não esperava aquilo. Não ali. Não tinha como eu fugir, não tinha ninguém pra me salvar do assunto. O negócio era gaguejar pra ver o que saia.
-Não. Não estamos tendo um lance sério. Aliás quem te falou que estamos tendo um lance?
-Vocês estão chegando sempre juntas e Marina não para de suspirar toda vez que falamos seu nome. Além de nos falar até os detalhes dos encontros entre vocês.
Com que direito Marina estava me expondo daquela forma? Aquilo poderia me prejudicar muito. Até mesmo no meu emprego. Teria que dar uma basta nela.
-Ficamos algumas vezes, mas já acabou.
-Humm, para você, não para ela. Hoje ela pareceu bem enciumada quando estávamos conversando na cozinha. Quando cheguei na sala me perguntou o que faríamos depois do expediente e eu disse que ia te dar uma carona pois você estava sem carro e eu já tinha te dado uma carona no dia anterior. Ela não falou nada comigo o dia inteiro. Agora ali o carro me perguntou se você tinha dado em cima de mim.
Putz! Coube aquele ditado de que mentira tem perna curta, mas eu já nem estava me importando com o que Marina pensava.
-Não me preocupa o que ela pensa. Minha consciência está limpa, nunca dei esperanças a ela.
-Nossa! Você é sempre assim pulso firme com suas companheiras?
-Marina não é minha companheira. E ela bem que está merecendo um gelo.
Ela apenas sorriu e estávamos próximas do centro. Ela olhou no relógio e falou:
-Vai para casa?
Eu estava mexendo na mochila e respondi sem pensar:
-Não. Vou pra casa de Marina.
Ela não falou nada. Pareceu surpresa por eu estar indo para a casa de Marina.
-Você está com muita pressa? Falei.
-Não muita. Por que?
-É que meu carro está na casa da Marina. Você poderia me levar até lá. Se eu for sozinha ela vai me agarrar. Gargalhei.
-Como se você não gostasse.
Eu a olhei com as sobrancelha levantada e ela disse:
-Te levo lá. Piscou.
Que piscadinha safada era aquela? Ai Tarine você é muito mente poluída. Pensei.
Quando estava chegando na casa de Marina eu liguei e disse que estava chegando para pegar o carro. Pedi a Fernanda que me esperasse na esquina. Eu voltaria rápido. Mas que se eu demorasse mais que 5 minutos era pra ela ir atrás de mim. Ela sorriu, mas mesmo assim concordou. Quando cheguei na garagem Marina veio só de roupão e abriu o portão. Dei uma volta no carro para ver se estava tudo certo. Quando levantei a cabeça para perguntar quanto tinha ficado o conserto Marina abriu o roupão e estava nua por baixo. Me jogou no capô do carro e já atirou no meu ponto fraco... Orelha x Pescoço. E com todo o meu poder de impulsividade troquei de lugar com ela e deitei-a no capô já estava com a cabeça entre suas pernas quando escuto um barulho e percebo que a portão da garagem estava aberto. Olhei no espelhinho do retrovisor que estava a minha frente e meus olhos se encontraram com os de Fernanda. Soltei Marina e Fernanda correu. Eu disse:
-Não... Não posso... Desculpa. Tenho que ir.
-Mas o que aconteceu?
-Nada... Só tenho que ir.
Entrei no carro e Marina ficou me olhando. Quando sai da garagem o carro de Fernanda estava parado na frente da casa. Quando Marina a viu. Entrou para casa e nem se despediu. Com o carro já na rua, sai e fui até Fernanda.
-Desculpa por ter demorado.
Ela estava de braços cruzados:
-Eu não precisava ver aquilo.
Fez cara de nojo!
-O erro foi todo meu.
-Pra quem queria distância da Marina ein...
-Isso não vai se repetir.
-Claro que não. Eu nem sei por que inventei de te trazer aqui.
Ela estava sendo grossa. Mas eu não tinha vontade de me defender, não contra ela. Ela pareceu perceber minha decepção e se desculpou:
-Ai, me perdoa, eu to cheia de problema e to descontando em você. Meu dia tá uma merda e você não merece ouvir essas coisas. Já passou vai.
Eu sorri e falei:
-To morrendo de fome. Só te desculpo se pagar uma pizza.
-Que? Eu gasto gasolina te trazendo até aqui e ainda tenho que pagar uma pizza?
-Você tem razão. Eu estou te devendo e não aceito não como resposta.
Ela apenas sorriu e assentiu com a cabeça.
Combinamos dela me seguir com o carro. Chegamos na lanchonete e inicialmente ela pediu uma dose de whisky. Estranhei e pedi só uma água. Pegamos o cardápio e ficamos conversando amenidades. Não chegávamos a nenhuma conclusão de sabor. Ela queria camarão e eu não curtia. Ela já estava no terceiro copo de whisky e sorria mais alto que o normal. Chamei o garçom e pedi metade camarão para ela e metade calabresa para mim. Ele saiu percebi ela cabisbaixa:
-O que houve?
-A Laurinha adora calabresa.
-E você está triste porque ela gosta de calabresa?
-Não. Ela...
Começou a chorar. Eu a abracei pois me corta ver qualquer pessoa chorando e se tratando da Fernanda aí que o trem despedaçava de vez. Ela se acalmou um pouco eu disse:
-Quer conversar?
-Não... Quer dizer... Você nem me conhece direito. Não vai querer ouvir minhas lamentações.
-Tá... Não nos conhecemos direito. Mas você já me viu transando hoje. Quer mais intimidade que isso?
Parecia que ela queria desabafar, mas eu não queria força-la a nada. Fiquei em silencio até que ela começou:
-Eu me casei com ele a 5 anos. Nos conhecemos no escritório dele quando fui fazer uma entrevista de emprego. Fui contratada para o cargo de recepcionista. Ele me tratava super bem e acabamos engatando um relacionamento. Ele era casado, mas mesmo assim ele parecia apaixonado por mim. Ele se divorciou da mulher e me pediu em casamento. Minhas amigas diziam que relacionamentos que começam com traição não terminam bem, mesmo assim nos casamos. Quando estávamos fazendo dois anos de casamento ele vinha falando frequentemente em termos um filho, eu amo crianças. Fui filha única e sempre achei um tédio. Dizia que teria vários filhos para que a casa nunca ficasse vazia e infeliz. Até que um dia ele me levou para jantar e me deu uma gargantilha. E depois desse momento de romantismo ele me disse que teria uma filha. Eu não entendi até que ele me disse que tinha engravidado uma mulher. Mas disse que era só sexo e que me amava e queria que eu criasse essa criança como nossa filha. Eu era boba e o amava então aceitei. Quando a criança nasceu nossa casa estava pronta para recebe-la. Eu havia preparado tudo como se eu fosse dar à luz. A mãe registrou a criança e recebeu um bom dinheiro para desaparecer no mundo. E desde então tenho criado Laurinha como minha filha. Só que a alguns meses a mãe biológica apareceu e quer reivindicar os poderes de mãe. Contra minha vontade meu marido apresentou ela a Laurinha. E desde então tenho a sensação que a qualquer momento podem tirá-la de mim. Meu marido me trai e não faz questão de esconder isso. Hoje a mãe de Laurinha foi busca-la na escola e meu marido viajou, deve estar em alguma cama com outra mulher, me sinto sozinha e impotente. Se eu não estivesse aqui, estaria em casa curtindo minha solidão.
Eu estava boquiaberta. A pizza já estava na mesa e eu nem tinha me dado conta. Não estava preparada para sabe com tantos detalhes da vida de Fernanda.
-Você aguenta muito. Se fosse eu já tinha mandado ele pastar.
-Se eu me separar, ele me proíbe de ver Laurinha.
-É complicado, mas vamos tentar esquecer esse assunto e bola pra frente.
Aquilo não me saia da cabeça. Mesmo assim tentei fazê-la rir enquanto estávamos ali. Eu poderia ficar a noite toda ali vendo aquele sorriso. Paguei a conta e fomos embora. Insisti que deixasse o carro lá e eu a levaria, mas ela era teimosa. Então falei:
-Vamos fazer assim, quando você chegar em casa me liga pra eu saber que chegou bem e não ficar preocupada.
Pedi o celular dela para anotar meu número. Quando comecei a digitar, meu nome apareceu. Ela já tinha meu número salvo na agenda. Soltei um sorriso e acreditam que me senti feliz só com aquilo?
Ela arrancou com o carro e eu peguei o meu. Cheguei em casa e estava no banho preocupada por ela não ter chegado em casa até que chega uma mensagem no whats:
“Cheguei, vou dormir & obrigado pela noite”
Normalmente as mulheres me agradeciam pela noite quando esta era regada a sexo e não apenas por minha companhia comendo pizza. Ri do meu pensamento, mas ter Fernanda ao meu lado a noite toda mesmo que só conversando me satisfez muito mais que as noites inteiras de sexo selvagem com Marina. Apenas respondi:
“Ótimo, boa noite”
Tomei um banho e dormi pensando em como encararia Fernanda amanhã e teria outra treta para resolver... MARINA.