FIZ MEU AMIGO HETERO SE APAIXONAR POR MIM (HISTÓRIA REAL) - Penultima Parte.
Cheguei em casa. Ícaro já estava de pé. Assim que eu cheguei, ele pulou em meus braços, me abraçando forte, me chamando de “amor”. Que abraço confortante! O cheiro do Ícaro era maravilhoso, e abraçar o seu corpo quente era melhor ainda.
Mas uma coisa me desanimou de verdade. Após sairmos daquele longo abraço, Ícaro me soltou algumas novidades.
– Ôh Théo, você não vai acreditar no que aconteceu...
– O quê? Fala aí!
Achei que ele ia falar algo relacionado a sua memória, mas...
– Falei com uma mulher pelo telefone ainda agora. Ela disse que era a sua mãe... Ruth, o nome dela.
Ícaro falar com a minha mãe era tudo o que não podia acontecer.
– O quê? – perguntei, curiosíssimo e já preocupado.
– Foi isso! Ela é bem legal, cara!
– O que você disse a ela? O que vocês conversaram?
– Ela só perguntou por você, e eu disse que você não estava. Ela falou também que ia vir pra cá, ainda essa semana, comemorar o seu aniversá-rio...
– Ela te disse isso?
– Sim! E você, quando é que ia me dizer que seu aniversário tá chegando?
– Eu não ia te dizer!
– E por que não?
– Por que... Por que... – enrolei bastante – Por que eu queria te testar! Queria ver se você conseguiria se lembrar!
Ele ficou calado, pensando em alguma coisa pra falar. Ele andou pela sala, querendo achar alguma coisa... Virou-se pra mim, triste.
– Me desculpa, Théo!
– Desculpa pelo quê?
– Eu sou um inútil. Eu deveria me lembrar do seu aniversário! Como é que eu pude esquecer, meu amor? Me perdoa, por favor.
Nisso, ele se ajoelhou, chorando e abraçando minhas pernas.
– Quê que você tá fazendo, Ícaro? – me assustei.
– Me perdoa, Théo! Eu não merecia te ter... Me perdoa!
– Ícaro, para com isso, levanta!
– Você vai me perdoar?
– Você não tem culpa! Você não perdeu a memória?
– Mas eu não deveria esquecer coisas importantes! Eu não deveria ter te esquecido assim! Eu nem te conheci quando você foi lá no meu quarto no hospital... Por que, Théo?
– Chega, Ícaro! Levanta!
O puxei pelos braços, levantando-o. Eu o empurrei. Esse “teatrinho” dele tinha me enchido.
– Chega! Já chega! Para com isso! Esse seu teatro já me cansou!
– Que teatro? Do que você tá falando?
– PARA! Não dá uma de fingido! Assume logo que você tá me enganando e para com esse jogo!
– Te enganando? Que jogo? O que você tá falando, cara?
– Eu achei que você ia hesitar naquele dia que nós fizemos amor... Você sempre foi tão machão, não achei que precisaria de um plano pra tentar mudar isso!
– Que plano? Théo...?!
– Você vai continuar com isso?
– Com isso o quê? Eu não tô te fazendo nenhum mal, estou? Só te pedi pra me desculpar por esquecer a data do seu aniversário...
– Você nunca soube a data do meu aniversário!
– Não sabia que lembrar essa data era tão importante pra você... Pelo amor de Deus, me perdoa! No ano que vem eu lembro!
Eu comecei a ficar confuso. O quê que era tudo aquilo? Ícaro estava fazendo um drama de verdade, chorando como nunca havia chorado... Era uma brincadeira dele ou era sério? Essa minha dúvida ficou corroendo na minha mente, até que...
– Eu vou te socar de porrada! Fala logo! Para com isso!
– Théo, por favor, não faz nada comigo! Me fala o que eu fiz!
Uma raiva foi subindo em mim do nada. Olhar pra ele estava me dando nojo, uma raiva, um ódio que eu nunca tinha sentido antes. Ele, ali, continuava mentindo, pedindo para que eu o perdoasse. Minha vontade era de pular em cima dele e enchê-lo de pancada, mas...
– Você vai me perdoar ou não?
– Acho melhor você parar com isso, antes que eu faça uma besteira!
– Por favor, me fala o que eu fiz, Théo! – falou muito nervoso – Vai, me fala. Eu prometo que faço o que você quiser depois disso, mas me fala! Só te peço isso, Théo, me\
Um nervosismo forte deu nele e ele caiu no chão, não terminando o que tinha pra falar. Ele desmaiou outra vez. Fiquei perplexo com tudo. Eu observei o Ícaro ali no chão, de boca aberta, babando... Nada fiz! Pensei em ligar pra alguém, ou socorrê-lo de novo, mas não. O ódio que eu tava dele era maior do que qualquer vontade de ajudá-lo. Pensei naquilo como forma de vingança – tá, confesso que foi uma vingança pesada, mas foi uma vingança justa. Olhei mais para ele ali no chão e passei pro meu quarto como se não houvesse ninguém ali.
No meu quarto, sentei-me à cama e chorei bastante. Um rolo de memórias tinha me vindo à mente, e todas era com o Ícaro! O mais “engraçado” é que todas as lembranças eram ruins. Lembranças do tempo da escola, onde Ícaro fazia comentários preconceituosos, lembrei também das porradas que ele tinha me dado por descobrir que eu era gay... A última recordação foi a mais triste de todas.
Não sei se lembram, mas eu já relatei aqui a história de vida do Ícaro. Resumindo e contando de novo, Ícaro tinha se apaixonado por uma italiana durante o 3º ano do colegial; eles transaram, ela engravidou dele e ele a abandonou com o filho!
Sei que isso não é motivo de lembrança minha, mas eu estava com ele quando tudo isso aconteceu. Afinal, éramos melhores amigos naquele ano e eu sabia tudo o que rolava na vida dele. Bom, eu me lembrei disso porque eu não sabia, de fato, o que o Ícaro era. Não sabia se ele estava fingindo, se ele era do bem, se eu gostava dele... É, eu estava começando a desconfiar se eu gostava dele ou não, se era tudo uma obsessão maluca mal resolvida... Eu estava prestes a descobrir isso!
Não consegui dormir. Era de tarde, eu, às vezes, não conseguia dormir de tarde. Também não consegui dormir porque o Ícaro estava desmaiado na minha sala de estar, isso me incomodava demais. Eu não ia fazer nada pra ajudar, mas também não conseguia ficar tranquilo com tudo aquilo rolando bem debaixo do meu nariz.
Passei muito tempo no meu quarto. Passaria mais, mas tive um susto. Pensava em muita coisa, mas fui atrapalhado. Ouvi um barulho forte, vindo da sala. Era um barulho de alguém quebrando alguma coisa, gritos fortes... Associei e tudo levou ao Ícaro.
Saí rapidamente do quarto e era ele. Ele estava com uma garrafa de Absolut na mão, com as roupas e o cabelo embaraçados. Alguns de meus enfeites da sala estavam no chão, quebrados. Logo fiquei horrorizado com o Ícaro e com o que ele fazia.
– Você ficou louco?
– Você se aproveitou de mim! – quase que não conseguia falar.
– O quê?
– Você se aproveitou de mim! – gritou.
– Você tá bêbado? Tá pior do que tava...
– O que você fez comigo foi sujo! Você fez coisas absurdas comigo!
– Agora você se lembra?! Agora você quer parar de fazer aquele teatro?
– Não estava fazendo teatro, Théo! A minha memória tava falhando!
– Para de brincar com isso...
– Não é brincadeira! Você, como é inteligente, deveria saber que uma pancada forte pode causar isso...
– O seu médico disse que isso seria instantâneo, podiam durar só alguns minutos. Em alguns casos, casos raros, que isso podia se agravar...
– Mas podia! E se agravou em mim! Eu perdi a memória, Théo! Você se aproveitou de mim enquanto isso!
– Eu pensei que você tivesse me enganando...
– Pensou errado! E olha o que você fez comigo? Pra eu me recuperar, tive que tomar bebida! Tive que ficar bêbado... E eu ainda estou!
– Sei que você continua me enganando! Seu teatro ainda não convenceu!
– Acredite se quiser! Não te enganei! Mas se isso não te convenceu, talvez isso vá convencer.
Ele correu até mim e me deu um murro certeiro na bochecha direita que também acertou um canto da minha boca. Eu caí sentado no chão e olhando pra ele, que debochava de mim. Não iria ficar parado e apanhar dele outra vez. Aí, começamos a brigar. Me levantei, rapidamente, correndo e jogando o Ícaro no chão. Sentei-me em cima dele e enchi a cara dele de porrada.
Ele conseguiu reverter a situação, me jogando no chão e fazendo o mesmo comigo. Era impressionante o quanto ele era forte quando estava bêbado.
Não vou falar sobre toda a briga, pode se tornar cansativo e chato, mas nem eu nem o Ícaro ganhamos. Ele acertou o último soco em mim, me fazendo cair encostado à parede, mas ele caiu em seguida, fraco por ter levado tantos murros por toda parte do corpo.
Eu estava com sangue por toda parte do corpo, principalmente no nariz, a parte onde o Ícaro tinha mais me acertado. Ele não ficava fora disso, estava com sangue também.
A sala estava toda com cacos de vidro pelo chão; alguns móveis quebrados e tudo um terrível caos.
Ficamos um bom tempo sentado no chão, distantes um do outro.
– Por que tudo isso? – falou o Ícaro, com dificuldade.
– Porque você é um idiota! – respondi com mais dificuldade ainda.
Parecia que eu também estava bêbado... A partir daí, falamos com muita dificuldade. Eu, particularmente falando, estava naquele estado por que o meu cansaço e as dores que sentia eram tão fortes que me dava certa preguiça pra isso. É, digamos que era preguiça....
– Se eu não fosse um idiota, tudo isso ainda teria acontecido!
– Pelo menos você concorda que você é um idiota!
Ele ficou calado por alguns instantes.
– Vim pro Rio de Janeiro pra tentar recomeçar a minha vida... Tava com esperança de viver bem com a minha mulher... Tudo acabou!
– Acabou porque você é um idiota!
– Tudo acabou por sua causa, Théo! Sua causa!
– Eu quem me casei sem amar a minha mulher. Eu quem bati na minha esposa por nada. Eu quem me separei depois de um mês de casado... É claro que eu sou culpado!
– Você não sabe do que você tá falando, cara!
– Quem não sabe o que fala é você! Essa sua cachaça te faz mal, mesmo!
– Tô ótimo assim! Só tô te dizendo que você não sabe do que fala!
– Então me fala! Me explica!
– Ah, se você soubesse dos meus motivos pra tudo isso...
– Se você me falar, eu vou saber!
– Tudo tem um motivo! Tudo... Nada é em vão!
Me levantei do chão, me dirigindo a porta. Abri-a e encarei o Ícaro.
– Vai! Vai embora daqui! – falei sendo calmo.
Ele ficou me encarando por uns vinte segundos. Era incrível como o seu rosto, mesmo todo cheio de feridas com sangue, conseguia ser tão lindo. Deu certa pena dele, mas não hesitei.
– Você quer que eu vá embora?
– Vá! Vai embora, Ícaro!
Demorou um pouco, mas ele se levantou e veio andando. Mal conseguia fazer isso, mas fez. Ele parou na minha frente e me olhou. Se aproximou de mim e me deu um beijo no pescoço. Assim que ele deu, eu o empurrei pra fora do meu apê. Aquele nojo dele tinha voltado, por isso essa minha atitude.
Pensei numa coisa e estava determinado em fazê-la: A partir do momento que Ícaro sairia da minha casa, nunca mais voltaria; nem pra minha casa, nem pra minha vida. Essa foi a minha decisão.
Olhei praquela sala e bateu uma decepção. Não por vários pertences estarem quebrados, mas sim porque Ícaro não estava mais ali no chão, sentado, me olhando. Era uma dor forte que eu sentia, seguida por um chororô imenso. Eu parecia aquelas menininhas quando perde o namoradinho na adolescência... Mas era isso!
Era isso! Era isso! Era isso! Eu estava determinado! Ícaro nunca mais voltaria para minha casa, muito menos para a minha vida. Eu ia sofrer? Claro! Eu ia chorar? Claro! Mas percebi que, com ele, era só vontade. Era uma vontade louca que eu tinha de tê-lo pra mim, não sei se era amor. Amor, bom, amor... Eu sentia pelo...