Sou Fácil

Um conto erótico de Trepo à Toa
Categoria: Heterossexual
Data: 01/04/2016 17:19:26
Última revisão: 27/01/2017 17:43:51
Assuntos: Heterossexual

Traio.

Traio por imaturidade,

Por não saber o que é limite

E tampouco honestidade.

Se tiver juízo, não imite

Tal ingratidão, tal insensatez,

Sem falar nessa desfaçatez

Que já muda a culpa de lugar

Ouse alguém me confrontar.

Sem qualquer remorso,

Pouquíssimo me esforço;

Aposto cegamente na sorte,

Tapo os ouvidos pro buchicho.

Trepo à toa, por esporte.

Traio à toa, por capricho.

Mal começava o carnaval de 2003 e eu, já nos meus 16 anos, perdia o cabaço numa transa casual no banco de trás de um carro. Podia ser virgem, mas não inocente. Meu primeiro anal foi no ano seguinte, num chifre básico de fim de festa. Nem tinha 18 quando aprendi o que é ser amante. Dois meses depois, descobria o ménage com um casal do meu condomínio. Domingão nublado, amigos viajando, nada melhor pra fazer, lá fui eu tomar vinho no apartamento deles como quem vai tomar café na padaria. Fizemos tudo que você pode imaginar e mais um pouco.

Se tenho uma regra na vida, é não pertencer a ninguém. Já perdi a conta das aventuras vazias e encontros anônimos pelos quais arrisquei relacionamentos e até minha segurança. Muito hormônio pra pouco neurônio, ajo duas vezes antes de pensar. Mas, como dizem, é só cuidar pros olhos não verem, e mesmo nesse caso o coração cego ainda pode sentir que a culpa vem de fora. Sei o que você está pensando. Além de fútil, galinha, egoísta, infiel e imoral, hipócrita. Sou cada uma dessas coisas, admito. Nisso todas as minhas ex-namoradas concordam.

Meu nome é Samuel Pinto. Sou um homem baixo, 1,72m, 61kg, cabelos castanhos aloirados pelo sol de tardes ociosas na praia do Recreio, abdome naturalmente chapado pelo metabolismo juvenil, grandes olhos negros com um jeito manhoso, quase sonso de rolar de um canto a outro nas órbitas, em busca de putaria onde, quando, como ou com que mulher for. Dessa vez foi com uma morena de voz rouca, rosto lindo e corpo cuja mera lembrança me deixa daquele jeito nos lugares mais inadequados, se é que existe lugar certo pra coisa errada. Cintura fina, quadril redondo, bunda de torcer o pescoço, coxas no ponto certo entre esguias e rechonchudas, panturrilhas delineadas e as canelas finas que, se o ditado não mente, guardam as mais sedutoras promessas. Um busto volumoso combinaria melhor com tamanha gostosura, mas isso seria pedir a perfeição. E o nome, ou melhor, apelido: Mila, de Camila.

Foi na época em que eu, então estudante de fisioterapia e estagiário de equoterapia, fazia também as vezes de peão num haras em Vargem Grande. Notei-a logo no primeiro dia, quando chegou acompanhada do namorado, homem de família, que ao contrário de mim se vestia corretamente, sem mostrar muito. Perguntados sobre a experiência de cada um, Mila resumiu seu histórico de passeios na fazenda dos avós e anos de escola de equitação, e ele disse nunca ter visto um cavalo de perto. Pra ela eu dei um marchador quente, alugado pros clientes mais habilidosos, e pra ele um trotão manso mas preguiçoso. Antes que o cara perdesse o estribo e começasse a quicar de um lado pro outro na sela, ela passou as orientações básicas: calcanhar pra baixo, rédeas curtas, postura reta. Quanto à preguiça, não havia o que fazer; só pelo jeito torto e vacilante como a pessoa inexperiente monta, o animal já se dá a liberdade de pastar na primeira curva. Aconteceu o que todos ali esperavam, mas também o que não esperavam: Mila não demorou a desfolhar um galho de árvore e com o chicote improvisado tocar a montaria do namorado que já era todo sorrisos, satisfeito por estar com uma mulher capaz de tomar as rédeas da situação. A cena me causou tanto excitação como um sentimento de posse pueril e descabido. Não era a primeira vez que notava aquele olhar de interesse da rapaziada enquanto ela jogava os cavalos pra lá e pra cá, sendo eu mesmo um dos que adorariam ser cavalgados por ela na rédea curta a qualquer hora, se tivesse a sorte de encontrá-la desimpedida; porque, ao contrário de mim, ela parecia fiel. Sei que mulher assim não é pra um leviano, putinho sem valor, biscate sujo como eu, vagabundo sem pudor em ir pra cama no primeiro encontro, muitas vezes até de dia _ ou seja, longe da imagem de homem de uma mulher só _, mas nunca deixei de mirar acima das minhas qualidades. Em cada uma das suas próximas visitas ao haras, usei e abusei de todos os meus truques de homem oferecido: aparecia onde ela estava, conversava alto com meus colegas, tentava puxar assunto com ela. Apesar dos meus esforços, a comprometida passou dois anos sem me notar. Até um dia em que veio solteira, na ressaca do término de um relacionamento de onze meses, como me contou mais tarde.

Mal acreditei quando, no começo daquela tarde de verão, horário de sol a pino, ela saltou do carro desacompanhada, distante e intangível feito miragem causada pelo calor. Fiel a suas escolhas, nem olhou o que havia disponível; pegou o marchador de sempre e saiu a galope. Não perdi a chance de emparelhar com ela a pretexto de lembrar que era proibido galopar ali, medida de prevenção usada pela maioria dos haras contra processos em caso de acidente. Abordagem feita, fui seu acompanhante pela próxima meia hora, insistindo em perguntas indiscretas sobre o tal namoro, que ela ia respondendo com reserva até ser salva pelo tempo em mais de um sentido: o prazo do aluguel acabara e o calor estava de matar. Era questão de sobrevivência um pouco de sombra e água fresca que me aliviasse o sol e o sal dos olhos. Fui reencontrá-la no sofá do alpendre da administração, no colo um livro pesado, no rosto um par de óculos escuros pra filtrar a luminosidade do céu 100% aberto, 100% refletida pelo branco das páginas. Vendo-a ler assim, tão elegante e compenetrada, me arrependi de ter me desfeito do meu único livro, um romance comprado num sebo, que me fazia espirrar de alergia a leitura. Não hesitei em rondar o alpendre, camisa vermelha erguida até o meio do peito como se pra me refrescar, calças caídas até o meio do quadril, visivelmente mal-intencionado. Era mais que anti-ético, mas pra puto esquina é ponto. Dissimulado feito o capeta, parei de perfil e fingi olhar o nada, quando na verdade vigiava a reação dela, que só mudou na hora em que um pombo deu de ciscar na frente de um carro no limite de velocidade. Apertei o passo e espantei o bicho pro alpendre antes que ele virasse um decalque no chão. A boa ação surtiu efeito. As lentes escuras podiam esconder a direção do olhar, mas não o ritmo da leitura; minutos se passaram sem que ela virasse a página. Aproveitei a deixa:

_ Estou indo almoçar. Bora bater um rango na cantina?

_ Obrigada, mas acho que nem vou almoçar hoje. Calor demais. Pouca fome e muita sede.

_ Lá tem açaí.

_ Hum. Boa ideia.

Na cantina, perguntou se serviam granola à parte, pedido que imitei com a prontidão do hábito. Estava indo bem, mas ainda era só o começo. Pilhado com o clima de proximidade e a conversa de primeiro encontro, não pude evitar uma verdadeira lambança com o lanche, o que se provaria a coisa mais idiota ou astuta que poderia ter feito: ela me prestou a gentileza de estender um guardanapo pra limpar minha boca roxa, mas em vez disso preferi lambuzar também a sua num beijo gelado, sabor açaí. Sorri da intimidade roubada e tomei a liberdade extra de pedir uma carona.

_ Por acaso não está indo pro lado do Recreio, está?

_ Por acaso estou... _ murmurou sem entusiasmo, naquele seu jeito caladão.

_ Já acabei meu serviço. Poderia me deixar aqui mesmo em Vargem Grande?

_ Poderia...

Fui logo tirando a camisa pra ela ir conferindo o material pelo caminho. A meio percurso do estacionamento, outra cliente despontou num passeio distraído pela estradinha de terra. Sorri e acenei de longe; teria embicado pra pastar na primeira curva se Mila não tivesse me puxado as rédeas. Ôôôa. Riu da minha cara de infrator pego em flagrante e desceu brevemente os olhos pelos contornos do meu corpo nos jeans surrados, numa conferida discreta mas óbvia o suficiente pra fazer um volume indecente se desenhar lá embaixo. Instinto de cachorro vira-lata. Me inclinei pro segundo beijo, que ela não só correspondeu como finalizou com uma mordiscada no meu beiço inferior. Gani baixinho:

_ Faz isso comigo não que eu estou daquele jeito.

_ Ui. _ Um olhar de canto, um sorriso de canto, como quem diz: É falta? Em vez disso, perguntou apenas: _ Já?

_ Já.

_ Vamos.

_ Agora.

É, eu não me valorizo mesmo. Fui sem camisa, sem cueca, sem classe e sem caráter, de novo reduzido àquilo entre minhas pernas, nada além. Como se não corresse o risco de uma punição dos meus superiores, ainda roubei mais um punhado de beijos pelo caminho, embora Mila mal me dirigisse a palavra. Feito garoto de programa, fui levado quase em silêncio de um estacionamento ao outro, onde reclinei o banco do carona antes mesmo que a cliente tivesse tempo de desligar o motor. Recomeçamos ali, na garagem do meu prédio, eu puxando-a pro meu colo, ela respondendo com um beijo que mesmo casto não demorou a deixar meu corpo faminto por outras partes do seu. Enquanto as mãos buscavam seus cabelos, costas e cintura, os lábios desceram pra beijar todo o seu colo com sofreguidão e o quadril desavergonhadamente tratou de esfregar aquilo naquilo até a boca não mais conter o ímpeto de falar as obscenidades que já estavam na ponta da língua:

_ Olha como fiquei só de me imaginar te comendo em todos os cômodos da casa. _ Peguei sua mão e, cúmulo da ousadia, pus no meu pinto por cima das calças. Ali mesmo já deve ter dado pra ela perceber que além de cara dura tenho língua solta, porque arregalou os olhos e tirou a mão. Me larguei no encosto, dando risada do susto. _ Que foi? Ninguém nunca falou putaria com você?

_ Não com essa desenvoltura.

_ Vou entender isso como um elogio.

Ela me deu um sorriso enigmático, um beijo e um tapinha na cara. Cara não. Rosto. Quem tem cara é cavalo.

_ Está entregue _ anunciou.

_ Pode apostar. _ Reergui o tronco e subi as mãos pelas suas costas, colando nossos corpos.

_ Disso não duvido. Mas não foi o que eu quis dizer. _ Saiu da posição em que eu a colocara, do meu colo de volta pro posto do condutor. _ Pode ir.

_ Não quer subir?

_ Tenho mestrado em poucas horas.

Só foi reaparecer no haras um mês depois, ainda solteira e monossilábica. Me restou procurar pistas no azul frio dos seus olhos, sem encontrar nenhuma. Como na outra vez, não gastou muita saliva até o convite absolutamente previsível.

Tive que fechar a porta de casa com o pé, ocupado em continuar o beijo iniciado no elevador e guiar Mila pela bunda até o sofá. Caí sentado e ela montou suavemente. Sem parar a exploração que fazia com a língua na sua boca, consegui vencer com uma das mãos o fecho das nossas calças e o elástico da calcinha. Era mínima a brecha naquela prisão de brim, mas suficiente pra que ela curtisse, se seus suspiros e o sobe-desce com que ajudou os movimentos da minha mão eram algum indício. Gemeu baixinho e desceu os olhos pro meu companheiro de putaria, que espiava ereto pela fenda do zíper, cabeça timidamente escondida no capuz, como se o safado um dia tivesse tido alguma vergonha naquela cara.

Na mesma hora levei-a pro quarto e fui pegar o gel térmico aromatizado, já revelando a primeira arma do meu arsenal de safadezas. Tirei toda a roupa e ofertei o gel e meu pau pra Mila, que se ajoelhou diante da cama e numa pegada firme lambuzou todo o mastro. A fricção nos aqueceu rápido e ela sorriu da descoberta, um sorriso lento, como se a princípio indeciso, mas que aos poucos se solta e vai tomando todo o rosto com determinação, deixando até os olhos risonhos. Quando já estava tudo quente, pingou mais gel no dedo e aplicou no V da chapeleta com uma massagem leve mas obstinada. Esquentou quase a ponto de arder. Oh, Deus. Que viesse agora o frescor daquela língua ali, tão perto que eu por pouco não queimava com o calor redobrado da respiração dela.

_ Sabor morango. Está sentindo o cheiro? Não quer provar?

Não era uma dúvida, não era um convite. Era uma súplica, e ela tanto sabia disso que começou num passo dolorosamente arrastado, rodeando as bolas sem pressa, mão aprumando o mastro com força até soltar pra dar passagem à língua, que elegeu a chamada terra de ninguém como ponto de largada pro seu passeio até o pico. E percorre toda a borda, e roda no sentido horário, e roda no sentido anti-horário, e colhe o gel aplicado no V, e nada de descer. A aflição gostosa da pontinha cutucando a uretra me fez estremecer com um gemido agoniado e ela resolveu que eu tinha sofrido o suficiente. Sempre devagar, foi engolindo metade da minha carne quente e temperada. Mais que isso não conseguia ou não queria, mas em compensação chupava forte, subia até quase deixar o pau ricochetear no púbis e descia me olhando nos olhos, pro meu deleite visual. Afastei-lhe uma mecha de cabelo pra trás da orelha e afundei nas almofadas, preguiçoso, relaxado, completamente abandonado ao prazer egoísta do boquete. Em menos de três minutos estava pronto pra dar leite com a pressão de uma vaquinha na ordenha matinal, mas a segundos disso a boca parou e ficou só rondando, língua circulando a chapeleta. Reclamou o que era seu de direito e sem demora me dediquei ao prazer da minha fêmea, embora determinado a revidar o suspense da chupada. Vingativo, mesquinho, moleque que sou, fiquei só fazendo graça com a mão na sua coxa até a pele se eriçar, deslizei indolentemente os dedos pra virilha e me demorei o quanto pude nas bordas da calcinha antes de correr, de surpresa, o dedo pra baixo do elástico e pela fenda molhada. Cabeça deitada no vale entre os seios, sentindo as batidas fortes do coração, fui espalhando o gel bem devagar, por cada curva dos grandes e pequenos lábios, todo o grelinho e a entrada da buceta. Mila colou a boca na minha orelha e deixou a respiração no meu ouvido, tão quente quanto a pele lambuzada de mel e gel. Enfiei só a ponta do dedo, depois até a metade. Quanto mais penetrava, mais sua respiração pesava e mais molhada ela ficava pra receber meu dedo inteiro. Sua mão na minha deu o ritmo que queria e que mantive até ela sinalizar pra acelerar. Comecei a só esfregar a boca por fora, afundei o dedo e com a outra mão descortinei seu ponto mais sensível pra uma lambidinha. Ela aprumou o quadril e o grelo se projetou na minha língua, duro e melado. Sorvi o néctar frutado com a ponta da língua, parte supostamente mais sensível aos sabores doces, e mergulhei em busca do resto. Enquanto esfregava o ponto G, palma pra cima, chupava o grelo com leve pressão, até sentir o círculo mais denso e suas mãos na minha cabeça, sinais de que eu estava no caminho certo. Imediatamente enfiei mais um dedo, juntando-o ao que entrava e saía com sons molhados. Eu esfregava e chupava mais forte, ela arquejava e se mexia no ritmo dos meus dedos, tão apertada nas suas contrações e posição inclinada que eu mal conseguia mexer lá dentro, sem falar na minha língua já dormente dos quase quinze minutos de oral. Fraquejei.

_ Fica. _ Puxou minha cabeça de volta. _ Quero gozar na sua boca.

Estava difícil, mas puto tem que sofrer. Pra aprender a deixar de ser tão fácil.

Pra ver se ajudava, catei com a mão livre o frasco de gel, virei nos dedos a metade restante e ousei rondar a entrada proibida. Encaixei um dedo, alisei o buraquinho e tentei enfiar. Não gostou; se esquivou e tirou minha mão com um tapinha, como quem pega um fedelho dedando a sobremesa antes do jantar. Um balde de água fria que jogou por terra tudo que construí até ali. Tive que recomeçar quase do zero, dessa vez conforme o plano B: compressão do ponto G com a palma da outra mão no baixo ventre. Esse funcionou. Não demorou um minuto pra ela enterrar os dedos na colcha, gemer gostoso e estremecer da cabeça aos pés. Depois de se recompor, me pegou de pau na mão e deu uma risada suave do quão além de pronto eu estava.

Sem mais tempo pra descanso, desenrolei uma camisinha, me larguei na cama e chamei-a pro meu colo. Ela ladeou meu quadril com as coxas e ficou lá recostada, mãos no colchão, meu pau pulsante escorado na sua virilha, saltando e aterrissando com tapinhas nos pentelhos. Eu puxava sua cintura com urgência, mas ela desviava e fazia que não. Mais um pouco e se encaixou pra uma descida seguida de uma subida até o topo, num passo 1, 2, 1, 2. Depois do trote elevado, sentou-se e fechou as panturrilhas nos meus flancos. Comando pra montaria passar ao galope. Firmei-a pela cintura e joguei o quadril pra cima e pra baixo em ritmo acelerado, contribuindo pra sensação do que me parecia o dia mais quente do ano, já agravada pela falta de ar-condicionado no quarto fustigado pelo sol da tarde. Eu bufava. Suava. E fedia a cavalo. Não me achava o garanhão?

_ Va-di-o _ ela falou bem devagar, como se agora gastasse com prazer cada sílaba economizada.

_ Sou. _ Sorri de queixo erguido, dando a cara a tapa. O rosto. A cara.

Aquela putaria toda já tinha me deixado perto de gozar. Quando dei os primeiros sinais, Mila firmou a mão na minha cintura e começou a diminuir o ritmo: devagar, mais devagar ainda, devagar quase parando. Meu pau explodindo, latejando, pulsando lá dentro, e ela imóvel. Só pra me fazer pedir mais. Pede, vagabundo.

_ Fode... Ahnn... Fode, vai...

Pedi, capitulei, entreguei. Tirei as duas mãos e simulei perder nas idas e vindas do seu quadril o juízo que nunca tive. Por um momento de tino, ainda tentaria lhe dar o segundo gozo antes do fim, mas aquela era uma batalha que estava fadado a perder, assim como a própria guerra. Gozei feito um devasso, gemendo escandalosamente e gritando todas as baixarias imagináveis, sem que um pingo de constrangimento corresse pelas minhas veias. Derrotado, tonto, fraco, vazio e ainda tentando conter meus estertores, deitei a cabeça de lado e dei meu último suspiro. Mila só olhava; apeou com um compasso de pernas de valquíria e foi se refrescar com uma ducha.

Num piscar de olhos eu já percorria, matreiro, o rastro de roupas deixado pelo chão. Como se fosse a coisa mais normal do mundo, arrumei os cabelos no espelho do banheiro, vesti as calças fedidas a sexo e estrebaria e ensaiei cara de homem decente. Perguntei se Mila queria me ver no próximo fim de semana e ela disse não. Perguntei se queria me ver no próximo mês e ela disse não. Perguntei se queria me ver no próximo semestre e ela disse talvez. Nem mais uma palavra.

Descemos juntos pra garagem. Não contava dez segundos desde que a deixara no seu C3 prata quando uma moradora do condomínio entrou num Sandero branco, emparelhou com Mila e a chamou pelo nome. Queria o acaso que as duas amigas de longa data fossem se reencontrar logo ali no meu quintal. Gelei. A vizinha ia revelar minha fama de traíra pra mulher dos meus sonhos. Mas, embora já os visse frustrados, o que se seguiu foi surpresa, alívio e resignação, nessa ordem. À distância, ouvi a vizinha perguntar:

_ Qual o nome dele?

_ Pinto. Só Pinto.

Sorri e fui assoviando por todo o caminho até o elevador de serviço. Quem nasce pra sapo, princesa nenhuma endireita.


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Comentários

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27/06/2016 22:34:09
Stocker, fico feliz em saber que minha escrita te cativou. Obrigado!
25/06/2016 16:55:35
Eu nem gosto da coisa, porque sou gay, mas seu texto é muito bom! Caí aqui por acaso e, quando já desistia, sua narrativa me segurou. Parabéns pela qualidade, parabéns mesmo!
03/04/2016 17:32:43
E eu adorei seus comentários! Mando o telefone sim! Beijos!
02/04/2016 00:50:47
Que estilo inconfundível! Adorei seu conto e a forma como coloca as situações, sempre com humor e muitos conhecimentos técnicos. Qnd cansar da putaria e abrir sua clínica, mande o telefone....


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