Eu e... Meu irmão? Parte 19
Dois dias haviam se passado desde que eu havia apanhado na faculdade, eu estava em casa. Meu rosto bem melhor, quase não se via os hematomas, mas ainda doía um pouco. Minha costas doíam, mas nada como antes. Porém eu não estava tão preocupado, estava ocupado pensando em outras coisas. Como quem poderia ter me atacado. Quer dizer, não foi um maluco qualquer que havia me batido. Até porque teria sobrado pra Lisa também se fosse o caso. Mas quem? Porque?
A campainha tocou e eu me levantei do sofá. Estava usando pantufas em forma de patas de dinossauro que ganhei de Lucas na última vez que fomos a Disney juntos. Abri a porta e me surpreendi. Meu pai, Christopher e a mãe dele estavam parados ali, meu namorado era o único que sorria para mim.
- Oi amor. Disse ele vindo até mim e me envolvendo num abraço de urso. Minhas costas doeram um pouco, mas deixei que ele me abraçasse.
- Oi Filho. Falou meu pai. Voltei para a sala e eles me seguiram. A mãe de Christopher me olhava curiosa, o que fez pensar que talvez, só talvez, ela não me odiasse mais. Porém ninguém parecia exatamente feliz ali.
- Porque todos esses semblantes? - perguntei me jogando no sofá ao lado do meu namorado. - Alguém morreu?
Todos trocaram um olhar nervoso ou curioso, mas ninguém negou. Meu coração começou a acelerar.
- Caramba, alguém morreu mesmo? Perguntei agora diretamente para Christopher.
- Não amor, relaxa. Só queremos... Hum, eles querem conversar com você.
Me virei para meu pai e sua mulher.
- Bom, filho - meu pai começou a falar. - Christopher chegou em casa atordoado no dia em que você se acidentou e conversamos sobre essa situação. Vocês dois estarem juntos.
A mãe de Christopher resolveu intrometer.
- Isso não é o que eu queria para meu filho. De jeito nenhum, mas depois de ver como ele ficou por quase perder você... Não posso e não consigo ver meu filho se sentindo assim de novo. Por mais que seja estranho, eu prefiro ele com você do que perdido por aí.
Meu coração palpitou. Eles estavam mesmo, tipo de verdade, dizendo que apoiavam meu namoro? Era bom demais para ser real.
- E isso quer dizer...? Perguntei.
- Que meu filho não vai mais ir morar com o pai. - Continuou a mãe dele. - Falarei com ele hoje. Ele não vai ficar muito feliz, mas é a minha decisão.
Christopher apertou minha mãe e então nos beijamos. Meu corpo todo tremia de felicidade e eu já estava chorando. Ele também pelo visto. Finalmente uma notícia inteiramente boa...
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Momentos mais tarde, abri a porta para ver um Lucas sorridente segurando uma garrafa de refrigerante de cítrus (meu favorito) e um DVD do filme Nem Que A Vaca Tussa. Seu cabelo loiro estava despenteado e caia sobre testa e seus olhos brilhavam. Mais parecia um gato de uma Boy band, mas tudo bem, ele pode.
- Pra que isso? Perguntei deixando ele entrar.
- Porque eu te conheço e te... Ele olhou para o chão, constrangido. Eu te conheço e te amo era algo que ele costumava dizer desde o dia em que disse que me amava. Claro que não durou muito pois eu estraguei tudo.
Fomos para a sala e ele colocou o filme, e eu peguei os copos na cozinha e nos sentamos grudados como sempre fazíamos. Parecia estranho fazermos de outro jeito. Mas aposto que Christopher não gostaria nem um pouco disso.
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Lucas
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Gabriel concertou a postura e sua cabeça se encaixou perfeitamente no meu ombro. Era quase como se até mesmo nossos corpos fossem feitos um para o outro. E fora o fato de que com ele eu sentia uma ligaçao que não tinha nem mesmo com meus pais.
- Você já me esqueceu? Perguntei a ele tentando não parecer possessivo ou maluco. Mas ele sempre me deixava meio nervoso.
Ele não se mexeu.
- Não, mas... Ele começou e eu já sabia o que viria.
- Tem um namorado. Completei um pouco desapontado.
- Eu amo Christopher. Desculpa se dizer isso te magoa, mas eu amo ele de verdade, como amei você a tempos atrás. - Ele respondeu me arrancando um sorriso. - Acho que ainda não superei você porque não tem como, você foi o primeiro cara que amei e isso algo que ninguém vai mudar.
- Primeiro amor é pra sempre. - Respondi, começando a pensar em algo. - Tem um cara, rolou uma coisa bacana e no princípio achei que fosse só sexo, mas ele é um cara bacana, acho que pode rolar algo a mais. As palavras escaparam da minha boca antes de eu pensar. Falar de outro cara iria eliminar de vez ninjas chances com Gabriel, mas eu gostava de contar tudo para ele.
Gabriel se levantou num pulo, me olhando alegre como sempre. Ele era realmente lindo.
- E porque tá rolando ainda? Ele disparou.
- Hum, não sei, porque eu ainda sinto vontade estar com você? Sei lá cara, às vezes parece que posso largar tudo pra ficar contigo.
Ele revirou os olhos e caiu no sofá ao meu lado.
- Eu também sinto isso. Acontece porque já nos conhecemos e nos amamos, é mais fácil ir até você do que querer arriscar com alguém novo. Mas temos que seguir em frente.
Sorri e o abracei, me sentindo apenas amigável dessa vez.
- Agora me conta tudo sobre o tal cara ai. Ele falou rindo e eu sorri de volta. Gabriel estava certo, eu o amava, sempre amaria, mas poderia ser feliz só de te-lo como amigo.
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Christopher
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Meus pais estavam sentados juntos num sofá para dois lugares. Meu pai estava em outro maior junto comigo, ele me olhava engraçado.
- Tem certeza de que é isso que você quer? Ele me perguntou pela milésima vez.
- Sim pai. E você pode confiar em mim, ainda vou seguir nosso acordo e tomar um rumo na minha vida. Respondi confiante.
- Sabe que lá fora as oportunidades são maiores certo? Retrucou ele.
- Acredito que nós criamos nossas próprias oportunidades, e depende de nós aproveitá-las ou não. - Falou minha mãe em minha defesa.
Ficamos todos em silêncio, esperando o veredito.
- Tudo bem, você que sabe. Falou meu pai antes de eu pular no pescoço do meu velho amado. Eu não iria me mudar, iria ficar com Gabriel e seríamos felizes pra caramba! Mal
Podia esperar para contar pra ele.
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Carlos
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- Toma. Falou Lisa me passando um refil com uma bebida forte dentro. Peguei e tomei um gole maior do que devia. O líquido desceu rasgando minha garganta.
A aula na faculdade havia terminado mais cedo, eu e alguns amigos estávamos na porta de um barzinho que fica perto do campus. Gabriel deveria estar aqui, entretendo todo mundo, mas ainda estava em casa... Sendo paparicado como um bebê. Até Lucas estava todo se jogando para cima dele de novo. Que se dane os dois.
- O que você tem? Perguntou Lisa se sentando ao meu lado na calçada.
- Nada. Porque?
- Porque te conheço bem demais para saber. Agora fala.
Eu tive que rir. Ela e Gabriel eram mesmo muito parecidos. Até no jeito irônico de falar.
- To meio bolado com umas paradas ai. Respondi.
- Quer conversar? Perguntou ela gentilmente.
- Não. Quero esquecer.
Tomei outro gole da bebida e então outro é outro. Aquela seria outra longa noite. Então, um carro Sport branco se aproximou devagar e parou ao nosso lado. O vidro desceu e eu vi Lucas sentado no banco do motorista, sorrindo para mim.
- Opa, beleza? Falou ele para mim, já que Lisa havia se levantado e saído, ignorando ele totalmente. Eu devia fazer a mesma coisa.
- O que está fazendo aqui? Perguntei frio.
- Queria ver se ainda alcançava você aqui. - ele falou simplesmente. Olhei para ele, surpreso. - Tá afim de dar uma volta... Ou ir lá pra casa ou beber, sei lá, fazer qualquer coisa, nos dois?
Suspirei forte. Lucas estava mesmo me convidado? Caramba, talvez a vida não fosse um saco total. Mas...
- E o Gabriel? Falei.
Lucas deu de ombros.
- Ele está bem, com o namorado dele.
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Gabriel
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Lucas já havia ido embora há poucas horas e eu estava me preparando para dormir, quando a tela do meu celular acendeu com uma mensagem de Christopher.
ME ENCONTRE NOS FUNDOS DA CASA.
Era o que dizia a mesagem. Sorri sem nem pensar no motivo, provavelmente era alguma surpresa fofa ou algo do tipo. O lado ruim era que tudo estava com cara de despedida entre nós dois. Fui o mais rápido que pude, ignorando as dores do meu corpo. Abri a porta e sai para a escuridão, não tinha nada e nem ninguém, só silêncio.
- Chris? Chamei, mas não houve resposta. Suspirei e me virei para entrar, foi então que o vi, parado na porta e usando um capuz preto. Com certeza era meu agressor da outra noite. Tentei correr, mas ele pulou em cima de mim. Não houve tempo nem de gritar, algo pesado acertou em cheio minha testa e isso a ultima coisa que senti.