Tomás e Leonardo - Parte 28
Era manhã. Abri os olhos sem reconhecer o quarto onde eu estava, foi quando me lembrei de ter vindo para a casa dos meus pais após haver dado um últimato em Leonardo para deixar o sótão ainda ontem.
Na luz da manhã aquilo tudo parecia tão irreal. Pensar em voltar para casa sem ter Leonardo era insuportável. Provavelmente ele devia ter ido viver com Miguel. Eu tinha ouvido alguém dizer que ele morava em um lindo apartamento de cobertura duplex, não muito longe do campus.
- Ah, não!
Levantei em um salto. Só sobre o meu cadaver eu ia deixar isso acontecer.
Os casais brigam. Não é mesmo? Quem é que nunca dá um escorregão em uma relação de longa data. Eu mesmo havia tido uma noite com Daniel. Embora nesse caso seja bem diferente. Ou não? Será que todo mundo acha que no seu caso era explicável. Não importa. Eu não iria acabar o meu casamento por causa de uma aventura de uma só vez.
E eu iria cortar isso pela raiz.
Me arrumei beijei meus pais e fui rumo ao CPEER ver se eu encontrava quem eu queria.
Parei o carro no estacionamento e fui até onde eu sabia ser a oficina de experimentos dele. Procurei por todos os lados e lá estava ele.
Miguel me viu e acenou sorrindo.
Deus, como ele era lindo! Não me admiro que Leonardo tenha caido novamente em seus encantos. Eu, mesmo naquele momento, sentia um misto de desejo e ódio.
Mas lembrando da cena que eu presenciei no terraço dois dias atrás, o ódio dominou os meus sentimentos.
Em passos largos caminhei em sua direção, agarrei puxando a frente de sua camisa, aproximei nossos rostos e disse entre os dentes:
-Você fique longe do meu marido, ou eu não respondo por mim.
Miguel me olhava com uma cara realmente assustada. Pelo menos ele teve a decência de não fingir ignorar sobre o que eu estava falando.
Eu continuei.
-Por que? Com tanto lugar para você ir, tinha que vir aqui e estragar as nossas vidas? Será que você não entende que você foi só uma aventura que nós tivemos? E ainda é. Passou. Não tem lugar para você aqui.
Miguel engoliu seco e seus olhos começaram a se encher com lágrimas.
-Me desculpe! Eu nunca quiz que acontecesse assim.
-Aquela semana que nós passamos juntos, foi a melhor da minha vida.
Eu me apaixonei por vocês desde lá. E aquela noite que nós passamos juntos...Nossa! Nunca foi tão especial com mais ninguém.
Eu confesso que foi tolice me apaixonar assim por dois caras que eu havia acabado de conhecer e que já estavam juntos. Mas a gente não manda no coração. Não é mesmo?
Eu não esperava ouvir isso quando vim falar com Miguel. Sem saber o que dizer eu sentei na cadeira em sua frente enquanto eu pensava em como responder aquilo.
Antes que eu falasse qualquer coisa, Miguel prosseguiu:
-Eu fiquei tão feliz quando eu consegui a bolsa para o meu mestrado aqui. Eu só pensava em quão afortunado eu era por poder reencontrar vocês e quem sabe com sorte vocês gostassem de mim do mesmo jeito. Mas aí a primeira vez que eu vi vocês, logo depois que eu cheguei, foi naquela praça, com um outro cara aos beijos. E Deus, ele era tão lindo que eu não sabia se eu invejava ou desejava ele.
Entendendo que ele falava da tarde que passamos com Daniel no gramadoeu dei uma pequena risada triste e disse:
-Éh! Dani causa esse efeito em todos nós.
-Quando eu perguntei ao Leonardo se nós três podíamos sair juntos e ele se mostrou interessado. Eu fiquei cheio de esperanças, mas aí você recusou e mandou ele me avisar que a relação de vocês estava fechada. Eu respeitei e entendi. Respeitei que o amor de vocês fosse assim. E resolvi guardar o meu até encontrar alguém que me amasse assim também.
Por isso que eu não entendi nada quando no início do semestre encontrei o Leonardo arrasado e chorando um dia.
Eu perguntei o que tinha acontecido e ele disse que você estava tendo um caso com outro cara, e foi aí então que nós...
-Pera aí. O que que você tá dizendo? Eu tendo um caso?
-Ora guarde esse ar de surpresa pra outro. O Leonardo já descobriu tudo.
-Me desculpe, mas eu não tenho idéia do que você está falando Miguel. Será que dá pra ser claro?
-Dá Tomás, dá sim. Eu estou falando daquele sonso do Fernado . O cara pra quem você deu a bolsa de estudos que tirou do Leonardo, O cara com quem o Leonardo te pegou trocando juras de amor pelos cantos do CPEER. O mesmo cara que você deu um carro, uma casa e sustenta escondido do teu marido.
-Será que deu pra avivar tua memória?
-Eu não acredito que eu estou ouvindo isso. O Fernando é meu irmão.
-Irmão?
-Olha Tomás, Isso ser uma surpresa pra mim, Tudo bem, mas como é que o teu marido não sabe disso?
-Bem, não é que ele seja meu irmão de sangue. Nós nos conhecemos no colégio interno e eu adotei ele como irmão. Eu sempre quis ter um irmão e quando ele chegou lá precisando de um irmão mais velho, eu assumi o papel. Todo mundo lá acreditava nisso. Até a gente.
-Não tem quem adota um filho? Uéh! Eu adotei um irmão.
Aí então é que a ficha caiu sobre o que ele havia dito.
-Pera aí. Você tá querendo dizer que você e o Leonardo não foi só uma vez? Vocês estão tendo um caso? É isso? Tudo pra se vingar do babaca aqui que vocês acharam que tava tendo um caso?
-Desde quando vocês estão dormindo juntos porra? - Miguel deu um salto quando eu bati esmurrando o tampo da mesa. Ele tinha os olhos cheios de lágrimas quando respondeu. num sussurro:
-Desde agosto.
-Desde agosto? ...Isso são. .. quase.
-Quatro meses - ele completou ainda sussurrando.
Nessa hora me veio a lembrança de todos os momentos que Leonardo dava uma desculpa para não estar comigo, dos insentivos para que eu viajasse sozinho. ..
Derrepente eu me senti muito, mas muito cansado.
Levantei para ir embora. Antes de sair virei para Miguel e disse: Se vocês realmente me amassem como vocês dizem que me amam, vocês deveriam ter vindo falar comigo.
-Me perdoa! - Miguel chorava visivelmente atordoado com o que eu dissera.
No começo da noite voltei para casa, onde Bilóca me informou que Leonardo mudara para um dos quartos do térreo e que seus pais tiveram que ir embora para resolver problemas que surgiram na fazenda.
Olhei para a janela do quarto de Leonardo e vi a luz acesa. Peguei o telefone e fiz uma ligação.
Em poucos minutos Fernando e Renata estavam ao meu lado no jardim.
Fui com eles até a porta do quarto de Leonardo e bati.
Um Leonardo abatido e surpreso ao me ver abriu a porta. Depois fechou a cara quando viu Fernando.
-O que ele faz aqui?
-Leonardo esse, que você já conhece é o Fernando.
-O Fernando é pra mim um irmão. Eu já te disse isso. Eu amo ele como a um irmão. E as vezes, assim como eu acredito que os irmãos fazem, nós falamos um ao outro que nos amamos.
-Essa aqui é a Renata. Renata e Fernando são namorados desde o ensino médio. -Renata sorria constrangida por saber o que estava acontecendo.
-E esse aqui - Eu disse segurando a barriga de Renata - é o pequeno Tomasinho. Meu sobrinho que vai nascer mês que vem e que daqui há pouco mais que um ano, quando estiver andando, vai entrar na igreja levando a aliança no casamento dos pais dele. E eu como sou um irmão, cunhado e tio muito cuidadoso. Fiz questão que eles não ficassem sem amparo financeiro e o conforto de um carro e uma casa desde já.
Fernando deu um passo a frente e meio sem jeito falou:
-Olha! E-eu sou hetero. ...Eu se-sempre...sempre fui.
Renata o puxou abraçando e disse:
-Tudo bem amor! Acho que ele já entendeu. Vamos embora. Eles têm que conversar.
Eu aguardei eles sairem pelo corredor e olhei para Leonardo que entrara no quarto e estava sentado na cama com o cotovelo nos joelhos e a cabeça entre as mãos.
-Eu estava disposto a perdoar uma transa, um momento de fraqueza, mas quatro meses Leonardo? Quatro meses dormindo com outro homem em baixo do meu nariz? Inventando mentirinhas e desculpas para se encontrar com ele?
-Me perdoa Tomás eu... eu te amo! - Leonardo pediu entre lágrimas.
-Vocês dois fazem uma ótima dupla. Vocês são tão patéticos juntos! Como vocês dizem me amar, se tudo o que vocês fazem é me magoar?
-Você me perdoaria Leonardo?
Leonardo respirou fundo e sem erguer os olhos do chão respondeu com uma voz quase inaudível.
-Não. Eu acho que não.
-Então você já tem a sua resposta.
Dizendo isso eu virei as costa e parti em direção ao resto da minha vida. Uma vida sem Leonardo.
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CONTINUA
Mais uma vez quero dar o meu muito obrigado a todos que têm lido, votado e comentado o meu conto.
Resposta aos comentários do último capítulo:
☆MILA★ querida! Que bom que você está por aqui. Não mato não. Aí esta a continuidade pra você. Bjs e muito bem vinda, sua linda!
emersous Que bom que você gostou, meulindo! Agora esse nó ficou mais apertado ainda. Vai ser difícil desatar né? Bjs!
isabela^^ e Geomateus Bom dia, queridos! Justificar não justifica. Mas esclarece o porquê dele haver optado por este caminho. Você tem um bom ponto isabela^^, quando diz que o Tomas não deveria ter escondido a ajuda ao Fernado para o Leo. Eu ñ sou religioso, mas na biblia, no livro de provérbios tem um trecho que diz assim. abstende-vos da aparência do mau. Isso quer dizer que se você não se importa que pensem equivocado de você. Você deve se preparar para arcar com as consequências. Bjs!
Blacksheep Bom dia meu nego! Você Tem razão Faltou comunicação. Saber conversar é tudo em uma relação Nesse quesito, um casal de sapa sempre se sai melhor que nós. Quanto a surpresa influeciar na abertura na relação ou não. Ficou muito na cabeça de cada um deles, por que afinal eles não dialogaram sobre isso também. E o que não é combinado, acaba sendo puxado por cada um para o lado que vai o interesse pessoal. Bjs!
cintiacenteno Tadinho mesmo. Ainda mais agora que ele descobriu que foi traido apenas pela própria estupidez. Beijos amore!
Próximo comentário tem spoiler sobre o livro Bareback, então se você pretende ler ele, melhor parar por aqui.
Que legal saber que você também leu o livro do Owen. Até agora só o Gus*--* havia dito que também leu. Como eu disse no primeiro capítulo eu me inspirei em Bareback para escrever este conto e embora a estória de uma forma geral seja bastante diferente no enredo ( e também por eu não haver posto nem metade do sexo que há em Bareback...rsss), eu resolvi manter os principais elementos que envolveram a traição de Thorn a Jake, com relação a traição de Leonardo a Tomás. Mas como eu prometi será uma resolução um pouquinho diferente. O que já pode ser percebido com a introdução deste, como você mesma disse ,mal entendido. Obrigado linda Beijos!
Amamhãtem mais. Beijos!