O caminho das borboletas. 60
Comemos algo por ali mesmo e fomos andando para o Centro histórico de Recife. Putz, que lugar lindo. Cruzamos a ponte caminhando, entre risos, beijos e fotos. Chegando no centro, ligamos pra Aline, a prima lésbica de Ci. Ela iria nos encontrar lá. Fomos andando em direção ao Marco Zero e sentamos na frente do rio, do lado de um Centro Cultural lá. Algo assim. Ficamos olhando o entardecer. Deitei a cabeça no ombro dela e sua mão fazia carinho em mim. Até que Aline chegou e fomos para a Rua da Moeda, acho. Sentamos num barzinho e Ci pediu cerveja. Não tomo, mas não queria nada também. Mais duas amigas da Aline chegaram. E o papo rolou solto.
Mayara - Amiga da Aline: Vcs são um casal fofo ^^
Eu: Rs... Obrigada.
Mayara: Como vocês se conheceram?
Eu: Xiiii... longa história, rs...
Ci: Mas eu vou contar rapidinho.
Levantou a perna, apoiando no outro joelho e pegou a tornozeleira.
Ci: Primeiro eu vi a Mah tocando violão. Mas nossas vidas tomaram rumos diferentes e eu fui embora pra São Paulo. Nunca mais a vi. Até que um dia a reencontrei no Facebook. Olha o F aqui =D Meses depois eu peguei um avião e nós nos conhecemos. Essas são as iniciais do nosso nome: M e C. A chupeta é dos nossos planos de ter filhos no futuro. E esse aqui é o coração dela, que agora é meu.
As três olhavam de boca aberta.
Elas: Menina, que lindo. Adorei isso. A ideia foi sua, Mah?
Eu: Da tornozeleira sim. Mas havia assistido um filme que a ideia era com uma pulseira e os pingentes eram outros. Adaptei pra nossa história.
Elas: Qual filme?
Eu: Antes que termine o dia.
Ci: Isso eu não sabia?
Eu: Rs... Vc nunca perguntou, rs.. Vou baixar para assistirmos.
Ci: Tá bom.
Ficamos ali entre papo e riso. Muito gostoso aquele lugar. Tava tendo show ao vivo de samba. Tocou Canto das três raças, da Clara Nunes. Adorei! Ci me olhava com cara de espanto.
Ela: Não sabia que você gostava de samba.
Eu: Gosto de samba de raiz. Tem muita coisa sobre mim que você ainda não sabe.
Ela deu risada.
Aline insistiu para voltarmos para o Marco Zero e fomos. Delícia de lugar. Havia diversas tribos sentadas no chão, cada uma na sua vibe. Tinha a galera do rock, a galera do skate, a galera do patins, gays, lésbicas, heteros, crianças, idosos, a galera que curte maconha, enfim... Tinha pra tudo. Sentamos entre nós. As meninas haviam levado um vinho e abriram lá. Ci sentou atrás de mim e abriu as pernas. Eu reclinei meu corpo sobre ela e descansei o corpo no dela. Tomamos vinho entre risos e muita conversa. Até que Ci desastrada que é, derramou vinho na minha blusa branca.
Putz, fiquei uma arara. Odeio roupa suja, e ainda iríamos demorar ali.
Eu: Putz Ci, olha o que você fez?
Ela: Amor, desculpa.
Eu: Meu, tu é de lascar. Parece que não enxerga direito.
Ela: Mah, foi sem querer.
Eu: Tá, mas o seu sem querer manchou toda a minha blusa.
Ela: Eu compro outra blusa pra vc, se é essa a questão.
Eu: Tô pouco me lixando pra blusa. Quero saber é de agora. Como vou ficar aqui suja desse jeito?
Ela: Troque comigo. Fique com a minha.
Eu: Não. Não quero.
Ela então pegou o resto do vinho que havia no meu copo descartável e jogou por cima da blusa dela.
Ela: Pronto então. Agora somos duas sujas.
Eu: Tá doida?
Ela: Não. Quem sabe agora vc não pare de besteira.
Fato é que fiquei de cara amarrada geral.
Aline: Meninas, vamos pra Praça do Arsenal? Tá rolando show essa hora lá tbm. E sempre tem muitos casais gays lá.
Ci: Quer ir, amor?
Eu: Tanto faz.
Tava emburrada mesmo.
Fomos e eu era só frieza com Ci. Sou muito fresca com limpeza, cheiro, roupas... Gosto de estar sempre com boa aparência. E aquela blusa suja tava me matando. Chegamos na praça do arsenal e tava tendo um show de uma banda baile. As meninas foram dançar e eu encostei numa grade, ainda chateada.
Ci: Amor, vc vai ficar com essa cara?
Eu continuei calada.
Ela: Putz, acha que fiz de propósito? Foi um acidente.
Ficamos em silêncio e eu cai na real. Ela tava ali com a blusa suja tbm. Fazia de tudo pra me agradar. Lembrei do tempo em que sonhava com sua presença, então não iria encrencar com algo tão pequeno quanto aquilo. Então fiquei na frente dela, coloquei os braços por cima do seu ombro e cruzei as mãos atrás dela.
Eu: Me perdoa? Eu te amo.
Ela continuou de cabeça baixa.
Eu: Eu sou idiota. Sério! Isso não é motivo pra gente brigar. Esperei muito pra viver isso contigo.
Ela me olhou e eu a beijei. Esqueci completamente que estava ali e num local público. Mesmo que tivesse outros casais de lésbicas e gays e beijando ali também, eu ainda tinha aquele pudor preconceituoso interno. Mas naquele momento... que se dane tudo. A beijei e a beijei com gosto.
Ela sorriu e disse: Só te perdoo se você dançar comigo.
Eu: Kkkkkkkk amor. Vc sabe que não sei dançar.
Ela: E quem disse que precisa saber?
Saiu me puxando até o tablado onde todos dançavam. Abrimos um pouco de espaço e dançamos muito. Aliás, pulamos, rs... sei lá. A Aline e a Mayara começaram a dançar igual, eu e Ci nos juntamos a elas, e do nada todo mundo tava fazendo coreografia junto, rs... Foi muito engraçado. Era uma banda baile, então tocou Do you wanna dance? do Roupa Nova. Tocou muita música dos anos 80 e 70, Girl just wanna have fun, da Cyndi Lauper e umas duas músicas antes do final, tocou True Colors, da Cyndi também. Mas numa versão mais calminha, pra dançar juntinho. Ci me abraçou e dançamos agarradinhas, como se só existissemos nós ali.
Tem um trechinho que diz:
...
Mas eu vejo
Suas verdadeiras cores
E é por isso que eu te amo
Então não tenha medo
De deixa-las aparecerem
Cores verdadeiras são lindas
Como um arco-iris
...
Sentindo seu perfume com meu corpo bem junto ao seu, todo céu e todo aquele povo foi testemunha do amor que havia entre nós. Nossos corações eram apenas um, assim como desejavam ser nossos corpos.
.
Continua =P