O amor vai nos separar XXI
Por ser final de ano, tirei dez dias de férias no banco, tendo portanto os dias inteiros para fazer o que eu quisesse, ou não fazer nada.
Mas sozinho tudo era sem graça. Tony me fazia falta, mas era uma falta mais sexual do que qualquer outra coisa. Ficar sem sexo nenhum, sem homem, me irritava, nada me sossegava ali no apartamento, nada prestava.
Eu tinha os números de telefone de alguns caras da faculdade, com os quais tinha transado e passei a descaradamente procurá-los. Alguns trabalhavam, tinham compromissos de namoro e nao podiam sumir assim, de repente. Outros topavam vir à minha casa sem titubear. Chegavam no começo da noite e ficavam até às dez, onze horas, depois eu me despedia deles satisfeito, de humor renovado.
Na parte da manhã e começo da tarde Alex nao me deixava. Vinha todo dia, conversava, assistia televisao comigo, me ajudava com o almoço... Nossa amizade era quase como antes, com a excessao de que as vezes ele se mostrava meio grudento, sorrindo ao me olhar em silencio, me namorando como que de longe, daquele jeito doce e de colegial que ele tinha. Numa noite em que fomos ao cinema ele nada viu do filme porque ficou me olhando o tempo inteiro, teimando em segurar minha mão, insistindo tanto que me venceu e vi metade do filme de dedos entrelaçados aos dele como dois namorados. Fiquei com vontade de bater nele nessa noite por isso.
Outra vez insistiu até me fazer ligar para meus pais e comunicar onde eu estava e como passava. Eu tinha contado a ele que só me assumira lá em casa porque nao queria mais esconder Vitor deles.
- Você o amou muito, Marquinhos_ disse Alex, serio.
- Por um tempo, sim_ respondi com franqueza_ Mas depois tudo foi acabando, sabe? Depois de Tony... Eu quis viver essa vida com ele, nao por paixao, pois nunca amei o Tony, mas antes por uma sede de viver tudo, de ter essa liberdade plena e maravilhosa que eu nunca teria com o Vitor. Ele é todo quadrado, Alex. Um careta.
O telefone lá da casa dos meus pais chamou, e ouvi a voz de minha mãe atendendo num tom despreocupado.
- Alô?
- Mãe?_ falei com o coraçao na boca, tomado duma saudade súbita dela_ Mãe, sou eu...
No meio do silencio que se fez ouvi o som da respiraçao irregular do outro lado, uma fungada como que de choro e o telefone bateu na minha cara. Fiquei perplexo, sentindo toda aquela mágoa de volta.
- O que disseram?_ indagou Alex.
- Nada!_ falei, enraivecido_ Bateram na minha cara. Eles me odeiam. Vocé nao tinha que me fazer passar por isso de novo, Alex!
- Desculpa. Nao fiz com má intençao_ falou, vindo me consolar, sentando do meu lado, me abraçando por tras e cheirando meus cabelos_ Queria que se reconciliasse com eles, só isso.
- Nem tenho esse sonho. Quero esquece-los, assim como me esqueceram_ falei, percebendo os braços dele me rodeando pela cintura, apertando- me contra si, e notei o quanto ele estava excitado_ Até num momento desses voce nao sossega, garoto?
- Não deu pra controlar. Desculpa_ disse ele rindo, e me fazendo rir tambem.
Nessa noite, para fazer eu me sentir melhor, me convidou a jantar com ele num restaurante francês caríssimo, nos Jardins. Comida excelente, ambiente refinado, e Alex me dizia para escolher o que eu quisesse, já que ele estava bancando tudo. Acabamos levando um vinho caro para casa, junto de uns docinhos finos. Nos embebedamos um pouco ali na sala, ouvindo discos, e ele, na certa se aproveitando de meu estado de embriaguês, me roubou um beijo e quando me dei conta estávamos naquele amasso no sofá, ele com a camisa já aberta, excitadissimo, me segurando em seu colo, sussurrando palavras apaixonadas no meu ouvido, me beijando a boca, o rosto, o pescoço, naquela devoçao de fanático dele.
- Não, Alex, não_ murmurei, me afastando e indo lavar meu rosto no banheiro; estava rubro de bebedeira, a boca vermelha e inchada dos beijos do outro .
Na sala ele já estava recomposto, e me olhou, parecendo chateado.
- Não transa comigo, mas transa com esses babacas, esses aproveitadores_ disse ele, sisudo_ Acha que nao sei que tem vindo homem aqui, na ausência do Tony? Converso sempre com o porteiro quando vou embora e ele me falou isso, perguntando se eram nossos amigos, o que confirmei, para nao ficar feio para o teu lado. Mas nao são seus amigos de faculdade, pois você já disse que não tem amigos lá, e com os rapazes fora da cidade, portanto...
- Isso não é da sua conta, Alex!_ exclamei, furioso_ Cuide da sua vida!
- É da minha conta sim, Marquinhos! Eu te amo, caramba!_ disse ele, impaciente ,me encarando_ Me corta o coraçao saber que qualquer um coloca as mãos em você, que se aproveitam, gozam, saem contando vantagem, talvez, quem sabe até te desprezando... E eu que sou louco por você, mal consigo um beijo roubado, e você só se entrega se estiver meio bêbado. Como acha que me sinto?
- Como o idiota que você é! _ gritei, enfurecido.
Ele ficou me olhando, sério. Sacudiu a cabeça e se levantou.
- Certo. Acho que sou mesmo o maior idiota da face da Terra. Mas não vou desistir de você. Sabe, nao gosto de brigar, mas caso eu tope com algum desses caras aqui no seu apartamento, sou bem capaz de expulsar o infeliz a socos e pontapés.
- Você?_ dei uma risada alta, incapaz de imaginá-lo agressivo_ Essa eu queria ver!
- É sério_ disse ele já abrindo a porta para sair_ Boa noite. O idiota aqui precisa descansar. Até amanhã!
Fechou a porta, batendo. Grandíssimo filho da puta, pensei, com ódio do atrevimento dele. Tomei um banho para curar a bebedeira e tirar de mim o cheiro daquele perfume amadeirado dele que impregnou minha pele, como se tivessemos transado. Ele transa com amor, pensei ,num sorriso
debochado. Mas antes de dormir fiquei numa inquietaçao estranha, achando que se o toque dele no meu corpo ainda formigava, como coisa viva, porem era bem capaz que fosse um efeito persistente do vinho.
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Obrigado a todos, desculpem os erros, que nao sao poucos!
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