Meras formalidades do destino

Olá pessoal, aqui estou eu de novo. Primeiramente eu gostaria de pedir desculpas aos que acompanhavam minha outra série. Ela se tratava da minha história de vida, mas infelizmente eu e André tivemos uma briga feia e terminamos, e não vi mais sentido em continuar postando os acontecimentos. após isso aconteceram uma série de fatores que me levaram a depressão, e uma das coisas que me ajudaram a me recuperar foi o site e os grandes autores que encontrei aqui. Fiz muito amigos aqui e acompanhei a época de ouro do site com histórias surreais e maravilhosas, algumas até me fizeram chorar, outras eu espero pelo final que nunca veio, e acompanhei também o sumiço de alguns autores (o que me preocupa muito até hoje). Mas nas melhor das hipóteses, que eles estejam bem.

Essa nova série que irei postar é fictícia, mas espero que gostem. Não prometo postar regularmente, pois a faculdade me tira muito tempo, mas farei o possível. Apreciem sem moderaçãoSabe aquela sensação de que alguém lá em cima está te testando? Não sou muito religioso, mas também não sou ateu, e por inúmeras vezes eu me perguntei o que Ele queria de mim.

Para explicar isso é melhor voltar um pouco nos acontecimentos. Me considero um cara normal de 25 anos. Me chamo Rafael Bitencourt, tenho 1,80 de altura, 75kg, olhos castanhos claros quase verdes e cabelos castanho escuro. Tenho o corpo em forma, mas não malho, acho que é a genética, fazer o que?! Sou gay e todos com quem convivo sabem disso, claro que não faço questão de sair por aí falando aos quatro ventos e nem dou pinta, mas chamo atenção das mulheres e quando elas chegam em mim eu deixo claro minha preferência, e isso acaba se espalhando. Mas nunca tive problemas com isso.

Quando eu tinha 12 anos meus pais me contaram que eu era adotado. Eu não fiquei chocado com isso, pelo contrário, até já imaginava, pois todos da minha família eram loiros como meu pai ou morenos como minha mãe, e eu não me parecia com nenhum familiar meu. Não sei quem é meu pai biológico, e quanto a minha mãe, meus pais disseram que era uma vizinha deles quando ainda eram recém-casados e ao engravidar não teve condições de criar o filho. Infelizmente meus pais morreram quatro anos atrás em um acidente de carro. Foram vítima da imprudência de um motorista que dirigia bêbado, o qual não chegou a quebrar uma unha sequer. Recebi de herança a nossa casa – não moro nela – e o negócio do meu pai, uma agência de publicidade. Minha família se afastou de mim por causa da minha preferência sexual, com exceção da minha avó Rosa, minha tia Maria e seus filhos Arnaldo e Renata.

Apesar de tudo não reclamo da minha vida. Longe disso! Adoro tudo o que faço. Amo meu trabalho, sou diretor de marketing da agência que herdei do meu pai (preferi colocar a gerencia nas mãos do meu primo Arnaldo que é formado em administração e confio inteiramente), ou seja, praticamente faço tudo por lá, e ainda divido o cargo de administrador do nosso site com o Nelson. Nas horas vagas gosto muito de cozinhar, é a minha verdadeira paixão. Já pensei em fazer gastronomia, mas não é uma área com a qual eu gostaria de trabalhar, para mim, cozinhar é uma arte que deve ser apreciada e compartilhada com pessoas especiais, e não comercializada, não consigo cozinhar sobre pressão (sem desmerecer os chefes de cozinha, sou fã de quem consegue dar conta de um restaurante inteiro).

O sonho da minha mãe era me ver formado (o que consegui antes do acidente) e feliz ao lado de alguém. Ela me fez prometer em seu leito de morte (pois é, ainda tive que presenciar ela morrendo) que seria feliz sem me importar com o que os outros dissessem ao meu respeito, e me pediu para tomar cuidado com as más pessoas, pois o mundo está cheio delas. Infelizmente até hoje eu ainda não encontrei a pessoa certa, na verdade nem sequer tive um namorado, os caras que eu conheço são legais, mas são casos de uma noite, e tomar conta de um negócio tira um pouco do meu tempo, mesmo dividindo a tarefa.

A única pessoa pela qual eu era realmente interessado era meu amigo e ajudante de trabalho Nelson, mas não tenho coragem de chegar nele. Já ouvi dizer que ele é bi, mas não sei se é verdade, e sou muito tímido pra tomar a iniciativa, acho que se os caras não chegassem em mim eu seria BV até hoje.

Nelson é o tipo de cara que não precisa muito para conquistar alguém. É naturalmente bonito, tem a pele bronzeada pelo sol e os cabelos negros com alguns fios grisalhos espalhados, o que o deixa mais charmoso. Tem 26 anos, e uma barba por fazer incrivelmente sexy, já perdi a conta das vezes que me distraí em reuniões da empresa olhando para aquela barba. Ele não precisa de muito pra chamar atenção, o papo com ele flui naturalmente, seja qual for o assunto, e ele está sempre sorrindo, e por sinal seu sorriso é parte do pacote, não há nada que ele não consiga com aquele sorriso. Estudamos e nos formamos juntos, e teve até um caso em que ele se tornou o queridinho de uma professora de economia por conta do sorriso, ele jura que não, mas eu tenho minhas suspeitas.

Enfim, Nelson era perfeito. Porém muito galinha. Já havia saído com metade das mulheres da agência, isso sem contar o que aprontava na faculdade. Apesar da sua fama nunca ouvi da boca dele qualquer caso com algum homem. Éramos amigos, eu poderia perguntar se ele era bi, mas os hetéros tem uma certa implicância com quem duvida da masculinidade deles, e caso as histórias sobre ele não tivessem procedência ele poderia se irritar.

Bom, no trabalho as coisas corriam bem. Éramos pouco mais de 50 pessoas na agência, porém os negócios estavam aumentando e eu já não dava mais conta de ajudar o Nelson com o site, pois além do nosso ainda administrávamos o de dois escritórios de advocacia e o de um jornal, então decidi contratar alguém para ficar no meu lugar.

Eu costumava chegar ao trabalho por volta de 8:00 da manhã. Era uma sexta-feira e meu dia não havia começado bem. Meus vizinho haviam dado uma festa na noite anterior (em plena quinta-feira!) e não me deixaram dormir. Nada contra eles, mas se tem uma coisa que me deixa de mal humor é falta de um bom sono. Para piorar ao preparar o café da manha queimei dois dedos e ainda manchei uma camisa que eu adorava de óleo. Sai de casa já atrasado, e faltando pouco para chegar ao trabalho meu carro ficou sem gasolina e um filho da puta não parava de buzinar atrás de mim e gritar perguntando onde eu tinha comprado a carteira.

Quando cheguei na agência já se passavam das 9:00, e Nelson me disse que já haviam chegado alguns candidatos a nova vaga de emprego. Eu estava sem saco para entrevistar candidatos, mas não podia misturar minha vida pessoal com a profissional. Por sorte tinha o Nelson pra me ajudar.

Entrevista de emprego é muito chato. A agência tem um setor de RH, mas eu preferi escolher que colocaria no meu lugar. O que mais tinha era gente sem experiência nem qualificação nenhuma, mas que queria a vaga. O que me deixou enfurecido mesmo foi um cara que disse: “Bem se é só pra mexer com sites eu tiro de letra. Não tem anda mais fácil do que ficar no computador o dia inteiro, vai ser moleza!” Eu trucidei ele com os olhos e disse que se não saísse da sala em 10 segundos eu mandaria revogarem o diploma dele (diploma de agrônomo ainda por cima). Ele desapareceu dali e o Nelson caiu na gargalhada, o que me fez rir também.

- Desse modo vai ficar difícil. Se você expulsar todos os candidatos desse jeito ninguém procura emprego aqui mais.

- Ah nem vem! Esse aí passou dos limites. Se o trabalho fosse moleza eu mesmo fazia, não contrataria ninguém pra isso.

- Nossa, já vi que você acordou com a macaca hoje. Mas só falta mais um, só que ele ligou dizendo que vai se atrasar...

- Só me falta essa! Se eu tiver que esperar pra ouvir mais alguém dizer que acha moleza só mexer no computador eu nem sei o que eu faço.

Mal acabei de dizer o cara entrou na sala.

- Desculpe pelo atraso. Tinha um idiota num Fode Edge na minha frente e o cara parecia ter comprado a carteira.

Eu reconheci a voz de mais cedo no trânsito. Só podia ser brincadeira que aquele cara estava ali na minha frente.

- Prazer Hugo. – ele disse estendendo a mão.

Nelson ia se apresentar, mas eu estendi minha mão na frente.

- Prazer, idiota do Ford Edge.

Caramba, vi o cara ficar pálido em fração de segundos. Ele se sentou na cadeira e engoliu seco. Nelson se segurava na cadeira pra não rir da situação. Deixei que ele fizesse as perguntas já que estava adorando a cena. Sempre que Hugo ia falar ele gaguejava e olhava em minha direção. Não podia negar que estava adorando a situação.

Por fim, não podíamos negar que apesar da infeliz coincidência ele era o candidato perfeito. Tinha uma boa formação, e ótimas referências. Reparando bem nele, ele era um cara bonito. 26 anos, olhos verdes e o cabelo num tom loiro escuro. Pelo jeito malhava, e era solteiro pelo que constava no currículo. Teria me interessado por ele se não estivesse com tanta raiva.

Como a vaga era para ser companheiro de trabalho do Nelson deixei que ele decidisse, e não havia melhor opção do que Hugo. Seria uma idiotice deixa-lo solto no mercado com um currículo daqueles. Ele começaria na próxima segunda. Nos despedimos e antes de ir embora ele pediu se podia conversar comigo a sós.

- Eu quero te pedir desculpas. Por mais cedo na rua, e por te chamar de idiota. É que eu não comecei bem meu dia, e eu preciso muito desse emprego.

- Pois é, o idiota aqui não comprou a carteira, se é que isso te interessa, só fiquei sem gasolina, mas tudo bem. É melhor não ficar nenhum clima entre a gente já que você vai trabalhar aqui.

Vi que ele ficou bem mais calmo depois de pedir desculpas. Até que ele não parecia ser má pessoa. E qualquer um pode ter um dia ruim, eu era a prova disso.

Enquanto ele saia da sala reparei no corpo dele. “Bela bunda”, pensei comigo.

- Oi?

Meu deus, eu tinha pensado alto demais!

- Ehr.. Até segunda.

Ele deu um sorriso de canto e se foi. Eu fiquei rindo da mancada que havia acabado de dar, e voltei ao trabalho, ou melhor, comecei o meu dia. Estranhamente meu mal humor havia sumido.

Como sempre tudo estava uma bagunça. Eu não tinha o dom para administrar toda a agência, mas era só eu me atrasar um pouco que o pessoal do meu setor já enlouquecia. Realmente não teria como eu dar conta de tudo e ainda por cima do site. O Hugo ia me quebrar um galho enorme.

CONTINUA...