Estocolmo 8 [Parte3]
PARTE 3
-Eu já te disse um milhão de vezes, Marcus. Eu não posso te dar endereço.
Estava ficando cansativo, tanto para mim quanto para Wes. Mas ele era meu ultimo recurso para voltar a ver Phil. Já se passara uma semana desde o interlúdio na praia e ele havia sumido, eu cheguei a montar guarda por dias em frente à academia, o que não era nada mal para Wes, visto que o policial continuava rondando em busca do visitante misterioso que Wes mantinha no segundo andar.
-Eu te imploro Wes, no estado que estou eu posso ate ajoelhar se você quiser cara.
Eu estava horrível mesmo, a dias não dormia direito, comia besteiras e fastfood, só não descuidava da minha higiene por que... bem, nunca se sabe quando ele iria aparecer. Eu nunca havia sentido nada igual, era como se eu estivesse viciado, eu precisava de outra dose, algo horrível em mim não iria se acalmar enquanto eu não tivesse outra dose de Phil.
Nesse momento a porta da academia de abriu em um estrondo e o policial gigante adentrou, ele estava tão furioso que poderia espumar pela boca, foi inevitável que tanto eu quanto Wes recuássemos um passo diante daquele monstro.
-Já chega bombadinho, eu já esperei o suficiente! Eu quero ver ele agora!
Dar a volta no balcão e barrar o caminho do policial foi um dos atos mais heroicos que eu já vi na minha vida.
-Ele ainda está em choque, eu tenho autorização da família para cuidar dele aqui, e isso é propriedade privada, eu vou pedir que você se retire, agora!
Os dois estavam frente a frente, wes era grande, mas não chegava ao nível do policial. Antes que a coisa se complicasse eu entrei no meio dos dois.
-Hey, hey, sem brigas, ok.
O policial olhou para nós e seus olhos reluziram em desafio.
-Não vai haver briga, eu só vou passar por cima de vocês.
-E ai vai fazer o quê, tirar ele daqui e levar para onde? Onde o cara que fez isso com ele vai achá-lo? Isso aconteceu por culpa sua, você apresentou ele a seus amigos perigosos e depois abandonou ele a própria sorte, some André, você já machucou ele demais.
E eu pensando que minha vida era complicada, aquilo parecia coisa de novela.
-Você não vai me afastar com essa balela de novo, o que acontece entre eu e ele não é da sua conta. Ele só ficou aqui com você esse tempo por que eu permiti, porque precisava de mais tempo para consertar as coisas, agora eu quero ele de volta, eu preciso dele do meu lado. Seu tempo acabou playboy.
-Olha só o jeito que você fala dele, parece que ele é uma marionete sua, um objeto que você possui!
Estava cada vez mais difícil controlar os dois, iria sair porrada ali na certa. O policial avançou e eu agarrei seu braço, torcendo para trás, ele tentou uns três movimentos para sair mas eu consegui detectar e impedir todas, antes que ele sucedesse em se livrar de mim sai arrastando ele para fora.
-GIL!!!!!! GIL!!!!!!!!!!!!
Ele gritava a plenos pulmões e eu tinha certeza que o prédio todo tremia com sua voz. Do lado de fora eu soltei ele.
-Olha cara, eu sei que agora você tá com vontade de partir minha cara...
-Voce não faz ideia.
-Mas se o cara que você está procurando está mesmo em estado de choque é melhor você deixar isso para depois, volta com a cabeça fria e conversa com ele. Invadir a casa do Wes não vai te trazer nenhum beneficio, você é policial cara, tu sabe disso melhor do que ninguém, que tipo de exemplo é esse que você está dando?
-eu já tive paciência por tempo o suficiente, você não faz ideia do que é estar afastado de alguém importante para você, saber que ele está sofrendo e que você não pode fazer nada para ajudá-lo.
Eu pensei em Phil se levantando da mesa, como a face dele se entristeceu quando pensou no que sobrara da família.
-Ai que você se engana meu velho, eu sei muito bem como é isso, nesse exato momento eu estou afastado de alguém que eu gosto muito, ele sumiu e eu gosto muito, eu nem onde ele mora ou qual o telefone dele. Eu só tenho uma certeza cara, o que é meu vai estar sempre no meu caminho, eu não vou poder fugir dele e nem ele de mim se for para acontecer realmente. Só tenha paciência, deixa o cara se recuperar e tomar a própria decisão dele.
O tal Andre me olhou por alguns momentos, como se estivesse me avaliando. Então finalmente soltou.
-Você é idiota?
Eu fiquei de boca aberta.
-Na era da internet e você não consegue achar o endereço e telefone de uma pessoa? Tem que ficar montando tocaia na frente da academia?
Eu iria me espancar mentalmente, isso não tinha passado pela minha cabeça.
-Eu vou embora mesmo por enquanto, sua burrice pode ser contagiosa ou algo assim.
Eu fiquei vermelho como um pimentão. Quando ele já estava a alguns passos de distancia ele parou e sem virar para trás perguntou.
-Qual seu nome, rato de academia?
-M-marcus.
Ele fez um sinal positivo e deu um quase quase sorriso.
De volta para academia Wes estava terminando uma ligação.
-E o babaca do André?
-Ele vai voltar, mas não por enquanto, acho que você me deve uma, Wes.
Ele respirou fundo, meio derrotado.
-Eu já te disse Marcus, eu não posso te dar o endereço dele, ou o telefone.
-Não, não precisa, eu só preciso saber o nome completo dele.
Wes me encarou perplexo, então anotou o nome no papel e me passou.
Assim que peguei o pedaço amarelo do papel ouvimos um barulho no andar de cima, olhamos ambos para o teto, quando olhei de volta para Wes seu rosto carregava um misto de emoções, felicidade, ressentimento.
-Ele não estava em choque, Wes, você me disse que ele estava catatônico.
Era obvio que havia alguém caminhando atrapalhadamente no andar superior.
-Parece que ele acordou.
Sim, era definitivamente ressentimento na voz dele. Sem mais nenhuma palavra Wes saiu em direção às escadas, me deixando para trás imaginando se quem estava lá encima não havia acordado por causa do chamado de Andre, eu tive pena de Wes por estar no meio do fogo cruzado de um amor tão poderoso assim.
***
Achar o endereço dos Ivanov na net não foi difícil, o difícil mesmo foi descobrir que Phil era herdeiro de uma das famílias mais ricas do pais, seu pai havia sido morto em um acidente a menos de um mês e a mãe de Phil havia assumido o comando da herança até os filhos estarem prontos para assumirem, enquanto eu tentava convencer os seguranças a me deixarem entrar uma suntuosa limusine chegou também, os seguranças ameaçaram me remover dali mas eu não iria a lugar nenhum sem falar antes com Phil.
Foi quando uma das portas do carro se abriram e ele desceu. A visão dele nos trajes de academia eram de tirar o fôlego, mas vê-lo trajando terno e gravata...
Eu senti uma coceira na mão, eu tinha que tocar nele, fazê-lo meu. Seu olhar foi minha deixa. Ele estava feliz em me ver, apreensivo, mas era obvio que ele sentira minha falta tanto quanto eu senti a dele.
Em poucos passos eu o alcancei, segurei pela lapela do terno e o puxei para mim, tirando lhe o ar com o melhor beijo que eu já dei em toda minha vida, antes de fechar meus olhos vi-o gesticulando para que os seguranças se afastassem.
O tempo parou para mim, por uma eternidade só havia eu e ele, eu o fazia derreter sob mim, se agarrando aos meus braços e ombros como se estivesse afundando no mar.
Quando finalmente o deixei ir seus olhos estavam meio fechados, seus lábios inchados e com um sorriso ameaçando emergir.
-Eu te disse que eu não posso...
-Não pode o que? Tentar ser feliz, me conhecer, viver sua vida? O que aconteceu com seu pai foi horrível, mas não me puna por isso, eu preciso de você e você precisa de mim do mesmo jeito.
-Eu tenho que seguir o caminho do meu pai...
-E fazer o que? Casar, ter filhos? Negar que você gosta de mim? Era isso mesmo que seu pai iria querer para você? Viver uma vida de mentiras? -é muita pretensão sua achar que eu gosto de você...
Mas ao falar isso ele virou o rosto e fechou os olhos, ele já era meu sem nem ao menos saber, ou sem querer admitir para si mesmo. Mesmo me negando ele não me largou, suas mãos continuavam me apertando contra si firmemente.
-E sua mãe, ela sabe do que você está abrindo mão?
Nesse momento a janela da limusine deslizou para baixo, se abrindo bem ao lado de onde nós estávamos, do lado de dentro uma mulher elegante, com os olhos e cabelos de Phil sentava elegantemente no assento, nos encarando. Ali ela teria ouvido toda nossa conversa.
Eu fiquei dividido entre ficar aliviado por ela ter ouvido aquilo e agora forçaria Phil a tomar uma decisão ou com medo pela sua reação.
-Se a mãe dele não sabia antes, ela sabe agora.
Eu fiquei pálido, tentei me afastar mas Phil me manteve grudado a ele.
-claro que ela já sabe, a muito tempo, bem antes de você saber.
Então ele encostou a cabeça no meu peito e começou a rir.
-Voce deveria ter visto sua cara.
-Entrem rapazes, temos que conversar.
Dentro da limusine que agora tomava o rumo da mansão eu e Phil sentávamos lado a lado, de mãos dadas do lado oposto a sua mãe, que nos olhava com um sorriso nos lábios.
-Eu suponho que você seja o novo namorado do meu filho.
Ao meu lado Phil revirou os olhos.
-Não começa mãe, eu já disse que não posso, eu tenho que seguir outro caminho.
-E quando você for seguir esse caminho você ainda pretende segurar a Mao desse rapaz?
Phil olhou para nossas mãos interlaçadas com surpresa e tentou retirar, mas eu o segurei com firmeza e depois de duas tentativas ele desistiu.
-Phil, seu pai já sabia da sua orientação, antes mesmo de você me dizer, ele estava ok com isso, estava esperando você estar preparado para conversar com ele.
-Mas, mãe...
-Sem mais, eu vi você se esforçando desde criança para ser digno do seu pai. Você conseguiu Phil, seu pai tinha mais orgulho de você do que de qualquer outra coisa no mundo.
Phil respirou fundo e seus olhos começaram a lacrimejar.
-Agora honre a memória e o sacrifício dele, o dinheiro da família não significa nada, ele fez isso tudo para que você e sua Irma fossem felizes.
Abriram a porta para ela e ela se preparou para sair.
-E é claro que você ainda vai assumir as empresas, escolher o caminho que você escolheu não te incapacita para nada.
Phil acenou afirmativamente, mordendo o lábio inferior.
-E você rapaz, acho melhor passar essa noite conosco, acho que você tem muito o que conversar com Phil, espero te ver no café da manha.
-S-sim senhora.
Dito isso ela saiu, nos deixando a sós.
-Me desculpa por não ter te procurado. Parece ridículo agora, mas eu realmente achava que estava fazendo a coisa certa.
Eu me inclinei sobre ele , puxei sua cabeça para trás expondo seu pescoço e apliquei suaves beijos, arrancando dele um gemido.
-Você obviamente precisa de mim para te dizer o que é certo e errado, meu bebê.
-Fala sério, bebê?
A cara de indignação que ele fez foi tão linda que eu com certeza iria provoca-lo mais vezes.
-Então... seu quarto...
Lancei meu melhor olhar safado e balancei as sobrancelhas.
***
A conversa com a irmã de Phil na noite anterior foi iluminadora. Não por conversar com ela, mas por me relembrar de fatos e de contatos.
Os sequestradores exigiram que a policia não fosse acionada e a mãe de Phil acabou por cumprir a exigência, mas eu tinha meu próprio contato.
Há alguns meses atrás eu havia lido que aquele policial era agora delegado responsável por um distrito próximo.
Para minha sorte ele estava de plantão naquele momento, fui levado até sua sala.
-Doutor André, eu preciso da sua ajuda.