Evan, O Escravo do Rei - Prólogo
Prólogo
Nada é definitivo, talvez nem a morte.
Eu achei que estava morto, senti o frio me dominar, a paz, tudo foi igual como quando descrevem a morte, o que é engraçado, ninguém poderia ser capaz de descrever o ato de morrer.
Mas eu acordei, sem noção de tempo nem de local. O lugar desolado no qual eu estava parecia com um deserto, a areia que eu pisava era fina e fofa mas eu não via muito além, na verdade meu campo de visão era de no máximo dois metros ao meu redor, a luz que iluminava vinha de cima, mas eu não sabia dizer de onde, além daquele circulo abençoado de luz só haviam trevas densas, eu não faço ideia de quanto tempo passei ali, mas quanto mais tempo passava aquele lugar se tornava movimentado, primeiro foi uma leve brisa que soprava de vez em quanto, depois eu passei a escutar sons, como aqueles carregados pelo vento, e então a areia começou a vibrar, como se algo grande tivesse dado um passo em algum lugar bem distante.
Nas trevas, algo começou a chamar meu nome. A princípio eu achei que fosse o vento, que soprava mais alto, mas depois foi distinto.
“Evan... Evan...”
“Quem está ai?” não me movi, desde quando cheguei estava sentado na areia, abraçando os joelhos e com a cabeça baixa.
“Posso ir até você? Não vou te fazer mal.”
Eu escutava coisas se movendo mais perto de mim agora, no escuro.
“Se eu for até ai Evan, elas não vão chegar perto.” A voz que falava comigo do escuro era amigável, sedutora, suave, masculina.
“C-como eu posso confiar em você?” algo frio respirou em minhas costas, eu não quis virar para ver. Eu desconfiava que isso fosse o inferno ou algo parecido.
A voz pareceu ponderar por um tempo. “Eu sou família Evan. Sou seu sangue.”
Meus olhos devem ter saltado da orbita. Eu nunca me preocupei em procurar minha família, Margo e Tom sempre foram o suficiente, sempre me deram amor incondicional.
Enfim a curiosidade me venceu. “Se aproxime, deixe-me vê-lo”
A criatura saiu das sombras, por um segundo achei ter visto asas de plumagem vermelhas, mas elas sumiram em um milésimo de segundo, ele tinha o torso desnudo, era alto, e tinha o físico de um nadador, com músculos esguios mas nada exagerado.
Ele caminhava de maneira engraçada, como se não fosse acostumado. Tinha os mesmo cabelos encaracolados que os meus, mas seus olhos eram violeta, de uma cor que eu nunca havia visto antes, sua pele era branca, a boca pequena e vermelha, era mesmo muito parecido comigo.
“Wow, eu achei que iria ficar eternamente como vapor nesse lugar.” Então abriu um sorriso que se espalhou pelo seu rosto, não veria ter mais que dezenove anos. “Olá Evan, eu sou seu pai. Não tente entender. Eu vim para te ajudar, nosso tempo parece ser curto. Você não está morto. É um erro você estar aqui, você se convenceu que está morto, mas você tem um elo no mundo real, seu elo te mantem ancorado.”
“Então....”
“Esse parece ser o limbo, um lugar entre planos, eu estou morto, mas sua presença aqui parece ter me atraído. Eu vi seu mundo, eu posso afirmar que você não está morto Evan.”
“Como você morreu?” a curiosidade sobre o passado do homem que dizia ser meu pai foi instantânea.
Ele deu outro sorriso. “Como sempre preocupado com os outros, sempre curioso, não se esqueça disso Evan, isso vai te salvar nos tempos vindouros.”
Ele tomou folego e seu rosto aparentou tristeza. “Eu vi um pouco do seu futuro, parece que aqui o tempo realmente não é fluido. Por isso vim, você não está morto, mas precisa sair daqui Evan ou nunca vai acordar.”
Eu olhei ao redor, seja lá que lugar fosse esse começava a ficar perigoso, eu sentia cheiros de coisas não agradáveis.
“Me responde primeiro, como você morreu? Quando?”
“Eu não te abandonei Evan, eu fui assassinado antes de você nascer, meu pai me matou.” Sua tristeza se aprofundou. “Eu não teria sido um bom pai de qualquer maneira, sua infância foi feliz, normal, sua família substituta tornou você um homem vencedor.” Seu tom mudou e ficou mais urgente. “ Aqui você tem acesso a asas Evan, as use e vá em direção à luz.” Então ele apontou para cima, quando tentei olhar a luz brilhante me ofuscou.
Algo grande começou a se aproximar, ao nosso redor tudo tremia.
“Vá Evan.” Meu pai falou em meio ao vento que agora rugia.
“E você? O que vai acontecer com você?”
Ele apenas sorriu para mim. “Não se preocupe comigo Evan, eu tenho uma ultima carta na manga. Eu preciso que você vá, agora!”
E antes que eu percebesse já flutuava, sentia asas nas minhas costas, a luz que me circundava me seguiu. Meu pai ficou lá embaixo e logo sua forma sumiu na escuridão, eu subi até a luz ficar cegante, era como se eu me aproximasse da superfície de um lago profundo.
Eu tinha que voltar a vida, eu tinha que ver Max outra vez.