Gelo - Almoço

Um conto erótico de Ustir
Categoria: Homossexual
Data: 23/03/2013 15:58:14
Assuntos: Homossexual, Gay

Aquela, inacreditavelmente, foi uma boa noite, sem pensamentos atribulados e vertiginosos sobre Gelo. Dormi tranquilo e acordei com humor digno de um sol brilhante e pássaros cantando, me arrumei e desci para a mesa de café, só para encontrar minha mãe sentada com o mesmo olhar estranho do dia anterior.

— Bom dia, Zangado — disse sentando-me.

— O nome correto é soneca — respondeu me passando uma caneca — O Pastor está me matando silenciosamente com esse trabalho...

Coloquei café puro e olhei sem levantar a cabeça.

— Esse tal projeto é assim tão importante?

— Sim, muito. — e não disse mais nada.

Dei de ombros e agarrei um bauru com uma mão e a mochila com a outra, já que desde a segunda semana de aulas minha mãe não me levava, e eu andava 1km de casa até a escola aproveitando o caminho para pensar sobre a vida e assuntos aleatórios. Cheguei na esquina e avistei uma figura conhecida parada de costas para mim com a mesma expressão corporal de quem vai para a forca.

— Tigo! — gritei, fazendo-o se virar.

— Ah... — ele parecia abstraído — Bom dia, Lu.

Estranhei o comportamento, qualquer coisa fora animação e drama aparentava estranho no garoto.

— Que houve? — perguntei encostando em seu ombro.

—Em que época do ano estamos?

—Ah... Agosto, por que?

Ele suspirou e me entregou um cartão.

— O que tem o Dia dos pais? — devolvi o papel e começamos a andar em direção ao portão.

— Você sabe... — fez um gesto— Presentes para seu pai...

— Sua mãe também é divorciada? — perguntei, me lembrando da época do divórcio de meus pais, não foi nada bonito.

Ele confirmou com a cabeça. Ficamos um tempo em silêncio, até chegar perto da porta da sala.

— Foi há cinco anos, quando voltaram de uma viagem.

— De onde? — entrei na sala puxando a mochila.

— Irkutsk, Sibéria.

Travei onde estava, me lembrando de um certo recorte de jornal e um certo nome abaixo de uma foto, fiquei curioso para perguntar mais, mas algo me disse que não era uma boa idéia.

— Não vai se sentar? — ouvi-o perguntar de seu lugar.

Abanei a cabeça.

— Não, não — apontei para uma carteira à esquerda superior — Vou conversar com a Lara hoje.

Tiago me olhou de início confuso, mas vi um sorriso de compreensão surgir depois de alguns segundos. Sorri de volta e caminhei até a cadeira, com o olhar da garota caindo sobre mim.

— Veio me fazer companhia, caro senhor? — seu tom era divertido.

— Bela dama — repliquei com uma reverência — Companhia, sim, mas devo lhe advertir de que não sou nenhum senhor.

Ela riu e sentei-me, sentindo minha espinha arrepiar logo em seguida.

— Bom dia — ouvi uma voz grave e baixa por minhas costas.

Me virei com o olhar de espanto absoluto de Lara sobre mim e repliquei animadamente.

— Bom dia! — a voz soou baixa o suficiente — Como vai você?

— Melhor, obrigado. — e abaixou os olhos para o livro.

Senti um puxão na gola e os olhos vibrantes de curiosidade.

— O que aconteceu? Porque ele está falando com você? — o puxão ficou mais forte — Porque ele falou? O que aconteceu ontem?

Sorri timidamente e me preparei para responder, mas não foi necessário.

— Sim, eu posso falar — a voz de Leo soou baixa — Lara, ele me acompanhou ontem, tivemos tempo de conversar — seus olhos de abismo caíram sobre mim — Estranho seria se eu o ignorasse hoje — e o velho sarcasmo deu suas caras — Mas se estiver com ciúme, Bom dia para você também.

Ela não respondeu, baqueada com a surpresa, o que me fez virar para frente e sorrir discretamente.

As aulas transcorreram traquilas e durante o recreio Gelo desapareceu, fazendo com que Tiago, Danilo e Mariana me pusessem no tribunal da inquisição para descobrir o que aconteceu na tarde anterior, despistei-os dizendo que havia deixado-o no apartamento e voltado para casa, sem nada mais. Engolindo a história ou não, o resto correu tranquilamente e aproveitei um espaço entre a quinta e sexta aulas.

— Leo — chamei me virando por sobre o ombro — Aproveitando que a Lara saiu, você vai almoçar aonde hoje?

Ele levantou os olhos do livro negro e pensou um pouco.

— Em casa - disse após algum tempo — Está pensando em me convidar para outra coisa?

— Na verdade, sim. - passei a mão para afastar os cabelos, que caíam como uma pequena cortina dourada Está na hora de cortar pensei — Quer ir almoçar na minha casa?

— Bem... — começou, fechando o tomo — Tem comida, então sim — comecei a esboçar um sorriso — Mas não hoje.

O esboço de alegria desapareceu.

— Por quê?

— Lucas...

Interrompi-o.

— Lu.

Gelo me encarou sem expressão por alguns segundos.

— Certo... — disse levantando uma sobrancelha —Lu, mal nos conhecemos, não posso simplesmente ir na sua... — Foi interrompido pelo sinal, avisando que a aula acabara — Na sua casa.

Olhei-o por alguns minutos e sem dizer palavra, retirei meu celular do bolso e disquei, após algum tempo atenderam.

— Diga, filho. — minha mãe estava de folga essa manhã.

— Mãe, lembra daquele amigo meu de ontem? - a pergunta foi retórica, era óbvio que ela se lembrava — Ele vai almoçar com a gente hoje, tudo bem?

Vi Leo gesticular e balançar a cabeça em negação. Coloquei no Loudspoke.

— Mas é claro que sim! — ela estava animada — Eu adoraria poder conhecer outro amigo seu!

Retirei do Loudspoke e vi um brilho de raiva nos olhos negros.

— Trapaceiro... — e voltou ao livro.

Lara chegou e se sentou, perguntando se tinha perdido alguma coisa.

— Só a aula inteira. - disse com um sorriso.

Ao período terminar, esperei Gelo arrumar suas coisas e consegui pela primeira vez um vislumbre de seu caderno, todo rabiscado e escrito com uma caligrafia elegante, mas não exatamente delicada. Tiago se aproximou enquanto isso e brincou um pouco com meu cabelo.

— Daqui a pouco vão te confundir com uma garota - disse enquanto levantava as pontas — Vai ficar no colégio hoje?

Me preparei para responder, mas a voz grave do meu novo amigo o fez primeiro.

— Vamos antes que eu mude de idéia? — disse jogando a mochila nas costas.

Senti os músculos de Tiago se tencionaram, como se alguém houvesse acabado de socá-lo no estômago e ele me soltou. Me virei e me despedi, deixando-o petrificado com a situação.

— O que diabos aconteceu entre vocês dois? — perguntei quando alcançamos o portão do colégio.

— Ele não aceita muito bem o fim do nosso namoro. — Leo replicou como se fosse a coisa mais normal da terra.

Eu, por outro lado, petrifiquei com o pé no ar, atingido em cheio pela informação, demorou algum tempo até que eu pudesse falar outra vez.

— O que? — perguntei incrédulo — Isso é sério? Vocês realmente...

Ele me encarou e revirou os olhos.

— É claro que não. — disse sério — Acha mesmo que sou o tipo de pessoa que namoraria outro cara?

E ficou esperando. Ri um pouco de nervosismo, mas na verdade aquilo doeu um pouco, e eu nem sabia o motivo Foi só um comentário idiota, Lucas, isso não aconteceu pensei.

— Achei que estivéssemos indo comer, não para um show de suas habilidades como estátua.

Acordei e percebi a posição ridícula em que estava, desci o pé que ficara no ar e continuamos andando em direção à minha casa, conversando sobre livros o caminho inteiro. O garoto era incrivelmente viciado em livros, percebi, já havia lido tantos livros que para cada frase que eu falava ele rebatia indicando um título diferente, e me surpreendi ao saber se ele tinha um livro favorito.

— Favorito? — ele pensou um pouco e olhou para cima — Alice no País das Maravilhas.

Ri um pouco e continuamos conversando até em casa. Era tão bom ficar perto dele com esse humor! Brincava, fazia piadas, era gentil e doce como nunca pensei que alguém fosse ser. Quando chegamos, minha mãe nos recebeu com alegria e uma mesa coberta.

— Ahn... Mãe? — apontei para o forro branco que cobria a mesa — O que é isso...?

A réplica foi típica.

— Paciência, vocês vão logo descobrir — apontou para o lavabo debaixo da escada — Agora lavem as mãos.

Leo parecia meio constrangido, mas ajudei-o a se soltar um pouco, depois das mãos lavadas, minha mãe veio com a cena.

— Preparar... — segurou a ponta do forro e puxou para cima, fazendo um floreio antes de puxá-lo para si — Tcharã!

Olhei a mesa com confusão, nunca havia visto nenhum daqueles pratos, muito menos Dona Laura fazer aquilo para alguém. Gelo por outro lado parecia surpreso.

— Uau! — disse encarando a mesa — Faz muito tempo que... — parou e respirou fundo, como se o cheiro daquilo fosse algum tipo de perfume — Dona Laura, onde a senho...

— Fiz isso especialmente para você — o olhar caramelo de minha mãe parecia se divertir — Mas se me chamar de Dona Laura mais uma vez eu te corto, garoto. O nome é Tia Laura

— Como assim fez para mim? — a dúvida era evidente.

— Vamos comer, depois eu explico.

Fiquei olhando de um para o outro sem entender.

— Não vai se sentar? — Leo me perguntou.

— Calma — disse e olhei para a ponta da mesa — O que é tudo isso?

Dona Laura começou a se servir de alguma coisa laranja e borbulhante.

— Culinária russa.

Me sentei e comecei a me servir da mesma coisa borbulhante enquanto martelava inquietantemente sobre o porque da escolha de pratos. Desisti ao perceber que a coisa borbulhante era uma delícia, podia comer aquilo durante toda minha vida sem me enjoar ou mesmo ficar com vontade de mudar de sabor.

O almoço correu tranquilo, com poucas perguntas por parte de todos (ocupados demais comendo), até que terminamos tudo que havia na mesa.

— Como estava? — minha mãe perguntou para ninguém em especial.

— Muito bom — respondi.

— Perfeito, com um pouco de gosto de nostalgia - Leo parecia satisfeito, até mesmo um pouco mais corado.

— Ótimo - ela replicou, olhando para o que sobrara — Lu, pode tirar a mesa?

Concordei com a cabeça e comecei a retirar tudo, deixando o garoto um pouco envergonhado, fazendo menção de ajudar, mas sendo impedido. Levei tudo para a cozinha e comecei a guardar tudo em vasilhas de plástico para colocar na geladeira, porém, parei ao ouvir o barulho de uma cadeira sendo arrastada e logo em seguida um trecho cantado em uma língua diferente, que não reconheci mesmo com a melodia sendo tão familiar já ouvi isso em algum lugar pensei. Esperei alguns segundos e fui para a sala de jantar, só para encontrá-la vazia, com duas cadeiras fora do lugar e um objeto brilhante em cima do forro, andei até a mesa e peguei-o: Era um relógio de pulso, uma coisa que minha mãe sempre usava, independente de onde estivesse. Olhei bem para aquilo e comecei a pensar porque ele estava ali, até que virei-o e conferi o lugar onde deveria ficar a assinatura do fabricante, batendo a palma na testa logo em seguida e largando-o onde estava para subir as escadas correndo. Quem diria que Dona Laura gostava de relógios personalizados?

Especialmente personalizados com os desenhos de uma Lua cheia prateada e uma folha genérica verde?

Hail, persona! Como vão vocês? Estou morto de cansaço com as primeiras provas da faculdade e tenho certeza de que tomei no meio do... Com a primeira prova de harmonia, mas fazer o que... C’est la vie! De qualquer forma, lamento não responder os comentários hoje, a net daqui esta caindo o tempo todo e tenho que usar esse espaço de tempo pequeno para posta o capítulo novo^^

Certo, agora que arranjo tempo para escrever não tenho internet para postar... Oh céus! Mas o que posso eu fazer? é a vontade dos deuses. Bene, tenho que encerrar por aqui, e como já deixei meu contato aqui, quem quiser conversar é só me colocar nos contatos, juro que não vou reclamar^^ Abraços a todos.

Gratzie.


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Comentários

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27/03/2013 02:18:41
Muito bom! Seu conto é meu favorito. Maravilhoso... Incrivelmente cativante! Sou seu fã, e para provar vou matar o the crow hehehe brincadeira! Estou vibrando de emoção. Muito bom. Très bian mon ami! Continua logo.
26/03/2013 10:11:59
Esse conto me lembra algumas coisas estranhas da minha vida... Ansioso pra saber o significado do símbolo e que Leo e a mãe de Lu tem haver com isso.
25/03/2013 22:29:31
Estou altamente ansioso para a continuação, não demora viu?!
25/03/2013 19:45:13
muito bom esse toque de mistério.
24/03/2013 15:02:08
Aií está muito bom né, é viciante. Que peninha o lance da net porque eu estou louca pra saber que coisa é essa da mãe do Lu com o Gelo. Boa sorte.
24/03/2013 03:04:29
Ótimo capítulo, é tenso quando a mãe demonstra algo que o filho não sabe sobre ela de interessante, é um sentimento quase de traição kkk. Boa sorte com suaa provas, embora isso não possa mudar o resultado delas rsrs
23/03/2013 21:41:35
Muito bom o conto, muito bem escrito. Também to meio com medo do que vai acontecer, mas na verdade estou mais para incerto mesmo...espero a continuação!
23/03/2013 20:49:49
10
23/03/2013 19:40:40
To meio com medo do que vai acontecer
23/03/2013 18:34:36
meu caro ustir, comecei a ler seu conto hoje, e devo afirmar que ele e simplesmente perfeito, o enredo e fantastico, os perssonagens são interessantes, os misterios são emocionantes e intrigantes, e o modo com o qual voce narra da uma harmonia perfeita a sua historia, com tudo isso so posso dar-lhe um 10 e dizer que me encontro ancioso pela continuação , a qual espero eu que seja o mais rapido possivel !!!
23/03/2013 18:11:16
Muito bom.
23/03/2013 17:43:36
Va benne, seu conto é no mínimo maravilhoso, estou ansioso pela continuação, não demore, acho que teria um ataque cardíaco kkk'.
23/03/2013 17:36:37
Essa historia e perfeita eu viajo lendo ela e senti sua falta meu lindo
23/03/2013 17:35:44
Maravilhoso
23/03/2013 16:46:39
Adoro o seu conto, cara. A história me prende e sua escrita é ótima. Ps: Boa sorte na provas!


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