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Ele diz que é a minha cara e a letra tem tudo haver comigo (acho é porque eu adoro o simply e ele passou a ouvir depois que eu apresentei a ele) Falamos mais um pouco e desligamos, com o “beijo” que está se tornando mais habitual em nossos finais de conversa ao telefone. Dormi me sentindo muito leve, durante a madrugada recebi uma mensagem dele no celular que só vi agora de manhã “baixei umas músicas que você curte para por no mp4, beijo”.
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Amigos, sei que estou caminhado as cegas em um fio e sobre um abismo, sei que Luiza, dia desses está de volta e sei de um monte de coisas, mas irresponsavelmente, hoje, nesta quarta-feira, decidi viver isso do modo que for possível, não sou mais dono de mim e quero simplesmente viver. Amo esse homem sem medidas, sem reservas e quero esse amor que nada mais é uma doce promessa. Sei que estou sendo imprudente, mas não há com arrancá-lo daqui de dentro. Penso em me declarar para ele, mas tenho medos e receios, não quero invadi-lo e vou seguindo assim me alimentando de esperança e sendo açoitado pelo pavor de um dia ter que deixá-lo.
18h30min de ontem quarta-feira, eu estava o esperando na garagem que é o lugar mais seguro em todos os sentidos, ouvi o ronco da moto de Marcelo se aproximando. “Oi, coelhinho” Marcelo me disse num sorriso enquanto me entregava o capacete. Subi em sua moto e me agarrei a ele, durante o trajeto até a faculdade estive feliz e foi com se caminhasse sobre as nuvens. “Você quer comer um cachorro quente antes da aula” Ele me perguntou e respondi que sim, daí fomos a uma barraquinha que fica ao lado da facul. Ele falou que havia conversado sobre uma possível colocação na empresa onde seu amigo é diretor e parece que haverá um posto no próximo mês, uma moça sairá de licença maternidade.
Como sempre rimos e brincamos; umas garotas ficaram nos olhando, acho que uma delas comentou o fato dele ir pegar o sanduíche para mim e me servir; as vezes esqueço que isso não é comum entre homens, mas por outro lado tenho observado que os homens estão mais afetuosos entre si, acho que quem está ficando machista mesmo são as mulheres, talvez elas se ressintam com o fato de que mais e mais homens agora se tratem de forma mais próxima e que elas agora não mais são as únicas a serem servidas e que amigos passaram a se beijar mesmo que sem conotação sexual. Talvez elas estranhem não serem mais tão especiais. Bom, de qualquer forma observo que Marcelo realmente chama atenção onde está, e perco as contas das vezes que a mulherada o paquera.
Depois do lanche, Marcelo me disse que voltaria para me pegar depois da facul e comentou se eu não pensava em trocar de faculdade e quem sabe passar para a dele onde há descontos muito bons, e que daí poderíamos sempre ir e voltar junto e que talvez formássemos uma turma que fosse conosco e pareceu muito empolgado com isso e quis disfarçar dizendo que há uns colegas dele que estão a fim de fazer isso também por segurança e coisa e tal e terminou dizendo para eu pensar nisso, mas que a minha facul era muito boa embora ficasse num lugar onde...
Enfim ele acha que seria melhor para mim mudar para a facul dele. Fiquei de pensar no assunto e ele insistiu mais uma fez dizendo que poderíamos ir e voltar junto. Nos despedimos com um abraço e novamente observei que as mesmas garotas que o fitavam no cachorro-quente novamente o faziam comentando algo entre elas enquanto nos olhavam. Depois da aula, que foi maravilhosa (eu nunca participei tanto) ele lá estava me esperando no estacionamento com o sorriso de quem tem uma ótima notícia a dar.
Depois do abraço, cumprimento nosso, dele ouvi “Guto, André e eu estamos afim de viajar amanhã a tarde e aproveitar o feriado prolongado; voltamos na quarta pela manhã e eu quero que você venha conosco”. Adorei o convite, mas disse que estava sem grana ao que Marcelo respondeu: “Assim você me ofende, Você é nosso convidado, o Guto está contando com você e ele vai ficar muito decepcionado se você não for” “E você vai ficar decepcionado também?” Perguntei ousando ser um pouco mais atirado. Ele me olhou sério e disse “Se você não for, o que eu também não vou” e soltou um sorriso. Daí ele me levou para casa e enrolamos com sempre na frente do prédio, meus pais nos viram da varanda, sorriram e acenaram convidando para Marcelo e eu subirmos.
“ Eu acho que eles querem que você suba” eu disse a Marcelo que respondeu um sonoro “só se for agora”. No elevador Marcelo me enlaçou, de lado pela cintura e me puxou pra junto dele dizendo que gostava muito dos meus pais enquanto nos olhávamos pelo espelho da porta. Já dentro de casa meus pais o receberam de forma calorosa; meu pai cobrou o joguinho de futebol na sexta, mas Marcelo disse que ia me seqüestrar pra um acampamento e conviou meus pais para irem conosco. Minha mãe disse adorar a idéia, mas inventou que não poderia por causa das atividades na igreja e coisa e tal... meu pai disse que teria de ajudá-la também, mas que mais adiante faziam questão de nos acompanhar. Na verdade meus pais odeiam acampar.
Minha mãe tem pavor de mosquitos e meu pai detesta mato, estavam apenas sendo simpáticos com Marcelo. “Claudinho, você deveria ir sim com seus amigos” Disse meu pai, talvez querendo não mais falar no assunto e fazer com que Marcelo desistisse de levá-los, mas Marcelo insistiu mais uma vez e meus pais disseram que adorariam, porém realmente dessa vez não poderiam, mas que estava decidido que eu iria. Acho que eles me negociaram para se livrarem do convite heheheh, eles sabem que eu amo acampar!
Como avançava a hora minha mãe deixou escapar um bocejo Marcelo disse que estava na hora dele voltar para casa, meus pais disseram o velho “fica mais um pouco”, mas Marcelo disse que em outra ocasião, se despediram e fui deixá-lo na portaria. No levador ele me disse: “Viu, coelhinho? Seus pais estão do meu lado, agora você tem de ir” e sorriu. “Bom, diante de tanta insistência eu aceito” Respondi. “Coelhinho, metido você hein???” Disse Marcelo me fazendo cócegas dentro do elevador.
Ao chegarmos na portaria ainda brincávamos quando a porta se abriu e dei demos de cara com o síndico que nos olhou surpreso. O cumprimentamos e saímos. Acho que ultimamente estamos, realmente dando bandeira hahaha, Bom, nos despedimos e Marcelo disse que já estava arrumando as coisas para viajarmos. Ele constou de leve sua cabeça na minha e segurou com a mão minha nuca. “Cumprimento novo? ”Perguntei. Ele sorriu, mordeu o lábio inferior, deu um piscadinha e foi embora. Passou meia hora e ele não me telefonou, fiquei preocupado e liguei para saber se tudo estava bem. “Que bom você ter ligado, coelhinho, eu cheguei e fui direto pro banho, já estava pensando em te ligar”.
Conversamos mais um pouco, planejamos o feriado, falamos e falamos e começamos a ficar sonolentos, mas nem eu tampouco ele queria desligar daí disse para fazermos ao mesmo tempo e ao nos despedirmos eu disse: “Um beijo e durma bem cachorrinho” ao que ele respondeu: “Um beijo, meu coelhinho!” e sussurrou baixinho, quase inaudível, acho que ele não sabia que eu não havia desligado.
Ele disse com uma voz muito abafada, mas que dava para entender: ”sonha comigo” e desligou. Dormi muito feliz e cada vez acho mais que Marcelo gosta de mim realmente. Hoje tudo está tranqüilo, parece que haverá a suspensão de vários contratos e a não renovação dos estágios, eu estou triste com isso, mas feliz com a possibilidade de ser verdade essa promessa junto ao amigo de Marcelo. Espero que as coisas sejam boas daqui para frente.
Nesta quinta-feira Marcelo e eu não almoçamos juntos, nos falamos por telefone rapidamente. “Claudinho, o sistema da empresa caiu e estamos reparando as avarias agora, tudo bem se agente não almoçar junto hoje?” Ele me falou por telefone ao que respondi que tudo bem até porque não havíamos marcado nada. (Fiquei um pouco desapontado, mas pensei que isso não deveria me aborrecer, ele ao menos ligou explicando, embora não tivéssemos marcado nada, achei delicado da parte dele; é por essas atitudes que percebo Marcelo como um cavalheiro e tanto o admiro enquanto pessoa e amigo, acho que ele deve ter herdado isso da mãe que é um amor em pessoa)
Conversamos pouco e ele disse que teve que pedir algo para comer no trabalho mesmo. As meninas aqui e eu pedimos uma pizza e, a exemplo de Marcelo, comi aqui também no trabalho mesmo. (Aqui no estágio o pânico parece ter feito casa e um onde de demissão e não recontratação para estágio é tida como certa). Parece que o problema, na empresa onde Marcelo trabalha foi grande, tanto que por volta das 16h40min, quando liguei para saber dele, ele ainda não havia conseguido inverter a situação. Tentei falar com ele mais tarde por volta das 17h, mas não obtive sucesso daí quando deu 18h fui para a garagem, como se tornou costume, para esperá-lo.
Na verdade não o esperava, mas pensei em ficar um tempo lá, como não nos falamos por telefone havia a possibilidade dele vir me apanhar e se eu saísse antes poderia haver desencontro. Quando era 18h10 ouço aquele ronco que já conhecia. A moto de Marcelo se aproximava. Senti meu coração bater mais acelerado (às vezes fico sem graça com isso, sinto dentro de mim uma alegria que me aquece o peito e temo por não saber se convém demonstrar a intensidade do que sinto por não prever o que isso pode parecer). Eu me preparei para sentir o seu abraço. Estava aflito por não saber como as coisas estavam com ele (fico triste quando ele está aborrecido).
A moto parou e abracei-o antes mesmo antes dele tirar o capacete; senti algo diferente, acho que o cheiro, o corpo estava diferente, estava ligeiramente mais musculoso... sei lá, não era Marcelo. Ouvi com determinado assombro : “Nossa, se eu fosse recebido assim com um abraço desse eu me apaixonaria. Eu prometo que se você me abraçar gostoso assim de novo eu te agarro e te dou um beijo na sua boca, coelhinho”... Fiquei sem chão ao ouvir aquela gargalhada que conhecia bem, não era Marcelo!
Guto tirou o capacete e me puxou pela cintura me dando um beijo no pescoço. “Assim você me mata, meu moreno gostoso!!!” Disse Guto fazendo biquinho e soltando aquela gargalhada deliciosa que parece um trovão, e começou a zoar. Levei alguns minutos para poder entende e Guto sorrindo me explicou que Marcelo estava muito “enrolado” e como ele havia dado uma passada lá Marcelo emprestou a moto para ele me levar pra facul, “Sobe na moto e se agarra em mim, coelhinho” ele disse ao que obedeci - ainda estranhando tudo aquilo.
“Me agarra gostoso senão você cai” disse ele soltando outra gargalhada. Guto, como ele mesmo diz “não dirige, ele pilota”. Ele fez conversões e ultrapassagens que fizeram meu sangue gelar. Como estava com muito medo eu me agarrei o mais que pude a ele, mas nada de ruim ocorreu, ele “pilota” muito bem. “Marcelo disse que se conseguir terminar tudo a tempo ele vem te pegar aqui mais tarde; eles estão sem telefone e o cel dele está sem carga por isso ele não ligou pra você. A coisa ta meio complicada lá e acho que ele nem vai pra facul hoje. Mas se ele não vier eu venho, tudo bem?” Guto disse quando me deixou na facul ao que respondi que tudo bem! Ele me deu um beijinho no pescoço e saiu judiando da moto de Marcelo. “Namoradão hein???” me zuaram umas amigas minhas que estavam perto da gente quando Guto me deixou.
Guto realmente mexe com qualquer um, ele é muito sensual, mas ele não tem a delicadeza do Marcelo que te recebe; Guto, te toma. “É só um amigo gaiato, galera, pára de zuar!” Eu disse meio sem jeito. A galera da facul sempre zoa com todo mundo com brincadeiras como essa; eles sabem que fico envergonhado e por isso fazem sempre; mas observei que depois que Marcelo e eu começamos a ser vistos juntos alguns caras começaram a me zoar mais, porém não de forma agressiva, meio que se aproximaram de mim e conversam mais comigo, fazem brincadeiras e me tratam de forma amigável.
Antes quando um deles fazia uma brincadeira mais próxima eu me esquivava e acho que isso não os deixava se aproximar, contudo como descobri que amigos homens também se abraçam e brincam entre si não estranho mais isso e assim eles não me estranham mais, tampouco eu a eles daí nos tocarmos mais. (Engraçado que fui criado achando que isso era coisa de gay e que tinha que evitar o contato físico com outros homens; meus primos e eu nunca nos abraçamos coisa que só fazia com minha primas – às vezes acho que fui criado numa família machista por demais). Tenho notado que a sociedade está mais complacentes com a questão do toque físico entre homens, observei isso no BBB. Acho que rola isso no meio heterossexual.
Penso que o homem toca outro homem sem culpa e sente, realmente, que está à vontade com outros homens, mesmo que isso não tenha conotação sexual, ou será que tem? Não sou antropólogo, porém passei a observar como os homens se tocam e demonstram apreciar está prática, digo isso baseado nos amigos aqui da facul que talvez não signifiquem uma amostra muito representativa, mas enfim, o que quero dizer é que tenho notado que o homem está mais solto, sem receito de tocar outro homem. Para além das brincadeiras tradicionais cujo foco é a zoação mutua, as demonstrações de afeto físico cresceram principalmente na galera entre os 20 e 40 anos, e acho, e isto é uma conclusão tão somente da minha cabeça.
Acho que isso não implica o cara ser gay ou não simplesmente é o homem começando a fazer o que as mulheres praticam faz tempo que é demonstrar fisicamente que se gostam independentemente de estarem atraídas sexualmente ou não, Amigas se beijam no rosto, se acariciam, se abraçam e até andam de mãos dadas e não vemos isso necessariamente como indício de lesbianismo. E isto é mais comum nas classes onde está menos cristalizado o padrão de macho que temos como modelo brasileiro, em resumo seria assim: onde há maior acesso à educação e onde há maior possibilidade de consumo de alto padrão a vergonha em abraçar ou mesmo demonstrar fisicamente que gosta, sem interesse sexual, de pessoa do mesmo sexo estaria menos presente.
Já percebi que os caras com mais receio e os mais ciosos de não parecer gays não são os que aparentemente possuem mais condições financeiras, mas como disse ( me baseio no que observo aqui na facul). Guto é um exemplo do que falo; ele não tem receio algum de demonstrar que gosta de seus amigos e parentes. Diz “eu te amo” a amigos e primos, Beija no rosto e outras coisas sem constrangimentos. Confesso que às vezes fico sem jeito com tamanho desprendimento. Mas não tenho a pretensão de estabelecer isso como um postulado, não se trata de uma regra.
Bem, isso tudo é apenas uma das minhas muitas divagações que eu com duble de observador social tenho feito, mas não devo me alongar muito nisso, afinal, deixemos isso com a antropologia.
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Esse acampamento vai dar o que falar hein? Na continuação vocês vão se surpreender... Mas postarei somente a noite!! Beijos pra todos e se cuidem :)