Passar um tempo com Francisco está sendo muito melhor do que pensei que seria — não só pelo fato de termos acabado de transar de novo no sofá dele — ele é divertido, carinhoso, inteligente, parece saber debater sobre qualquer assunto e seu beijo é algo verdadeiramente viciante.
— Uma pena você ter que ir embora — Francisco curtiu minha companhia tanto quanto curti a sua.
— Infelizmente sim, mas se você topar, gostaria de trocar telefone com você — proponho torcendo para que ele aceite.
— Claro, ia sugerir o mesmo, podemos ir nos falando e quem sabe quando você estiver por aqui de novo possa dar uma passada por aqui.
— Vai ser meu primeiro destino isso eu te garanto — beijo sua boca até perder o fôlego.
Depois de nos despedirmos umas três vezes entro no meu carro e dou uma última conferida no celular pra me despedir do Raylan também e pegar a estrada, logo depois de falar com meu amigo aparece na tela uma notificação do Mauro.
— Podemos nos ver antes de você viajar? — Leio sua mensagem duas vezes.
— Sim, onde você quer me encontrar?
Ele ainda está de serviço então me pergunta então marcamos na rua mesmo perto de onde estou. Chego primeiro que ele então fico esperando dentro do carro mesmo, depois de uns minutos ele estaciona o carro atrás do meu.
Quando ele entra no meu carro sinto seu perfume tão família e isso me ativa muitas memórias, ele parece um pouco mais animado do que estava quando o vi na padaria — admito que vê-lo de farda me faz fraquejar um pouco — ele se inclina e me dá um selinho, retribuo porque estava sentindo falta do gosto do seu beijo também, mas permaneço forte no meu canto esperando o que ele tem a dizer.
— Senti sua falta — sua escola de palavras me irrita um pouco, já que foi ele quem sumiu.
— Era só não ter me bloqueado — não resisto e vou direto aí ponto.
— Olha eu surtei, meu filho me perguntando o que estava acontecendo não soube lidar com isso tudo — não é um pedido de desculpas, mas mesmo assim consigo entender seu lado — precisava de um tempo pra pensar.
— Olha Mauro eu sei, você podia ter falado comigo, mesmo assim consigo entender seu lado — ele parece aliviado ao ouvir isso — teve problema no trabalho?
— Não, graças a Deus essas história morreu antes de chegar na delegacia.
— Então só sua ex e seu filho sabem? — Pergunto.
— Um pessoal da família dela, mas já está tudo certo, e consegui contornar com o Júnior também — ele deu um jeito de reduzir os danos e continuar sua farsa pelo jeito — pensei em te ligar várias vezes, mas fiquei pensando que você devia está puto comigo.
— Nunca cheguei a ficar, talvez um pouco chateado, mas no fundo o que senti mesmo foi preocupação e você não me deixou falar com você, só me bloqueou, não ter notícias foi a pior parte — ele baixa a cabeça.
— Desculpa, eu entrei em completo pânico, nunca tinha sentido nada assim antes.
— Tudo bem, como te falei antes, o importante é que você está bem — ele me lança um meio sorriso.
— Você está com aquele cara? — Reconheço seu tom de ciúmes.
— Não, Francisco é só meu amigo.
— Mas você trepou com ele? — Ele insiste.
— Sim transei com ele, mas somos só amigos — Mauro fecha a cara e otr mais que me doa resolvo lhe responder — você não tem até se chatear com isso Mauro, perdeu esse direito quando saiu da minha vida abruptamente.
Fui um pouco duro agora, só que a ideia dele com ciúmes de mim é meio contraditório, ele foi embora, ele saiu da minha vida então perdeu o direito de sentir ciúmes ou até mesmo de querer me cobrar algo.
— Tudo bem, só que eu quero você Ricardo, única devia ter te deixado ir embora — não estava esperando por essa agora.
— E como a gente te fica, o que você vai dizer pra sua ex, pro seu filho, prós atua amigos, não mudei de ideia Mauro não vou ser seu segredo.
— Eu vou te assumir, mas vou precisar de tempo — conheço esse filme e seu muito bem com ele termina.
— Não dá Mauro.
— Você não gosta de mim, olha nos meus olhos e diz que não sente mais nada por mim, que não pensa mais na gente — seus olhos cheios de desejo e saudade.
— Sinto e acho que nunca vou parar de sentir, as coisas que você me desperta Mauro nem mesmo eu entendo, então responder sua pergunta sim eu gosto de você — seus olhos agora se enchem de esperança — mas não posso fazer isso.
— Por que não, você não acabou de dizer que sente algo, que gosta de mim?
— Sim eu gosto Mauro, mas acontece que eu gosto mais de mim — o brilho some de seus olhos por fim — eu não vou ser seu segredo, Mauro, ainda mais agora que eu sei que posso ter mais, que mereço mais.
Ficamos em silêncio por um tempo, ele me olha nos olhos e se inclina na minha direção, não fujo ao invés disso me inclinei em sua direção também até que nossos lábios se toquem, não sei se esse é nosso último beijo nessa vida, mas sei que vai ser por um tempo. A boca do Mauro sempre foi uma tentação, porém dessa vez me mantive forte, depois de uns beijos nos despedirmos e ele voltou para seu carro e para sua vida de segredos enquanto segui meu caminho para trilhar um novo capítulo na casa do meu pai no Rio Grande do Norte.
Uns anos atrás estava indo embora por causa do meu pai e agora de certa forma estou indo embora de novo por causa dele, só que é diferente agora, eu quero ir, acho que posso até dizer que estou voltando pra casa, depois de muito tempo esse dia finalmente chegou. A viagem é longa e tenho muita coisa no que pensar.
É estranho pensar em tudo que vivi esse ano, depois de tanto tempo parece que tudo se resolveu e o nó que tive no peito por tantos anos não está mais aqui, também sinto que finalmente estou me priorizando, não estou me jogando na frente da bala sem pensar como fazia antes, mas o principal pra mim e saber que estou bem com meu eu da infância, hoje consigo me perdoar e isso é libertador.
Minha amizade com Dan acabou, mas pelo menos conseguimos conversar, suas palavras ainda doem um pouco, ele achar que não é o suficiente foi de cortar o coração, mas não se trata disso, desde sempre eu o vi como alguém que precisava ser protegido, meu sentimento por ele era de irmã mais velho e me apaixonei pela sua irmã, isso não seria justo com Isa e nem com ele. Meu maior consolo é que ele encontrou alguém que realmente se importa com ele, alguém que o ama como eu não pude e que hoje Dan não é mais aquele moleque fraquinho, ele aprendeu a se defender muito bem sem mim.
Cícero é uma pessoa muito especial e por mais que eu odeio admitir Téo tem razão, mas como não se apaixonar por ele, não digo pela grana e nem pelo fato dele ser o cara mais bonito do mundo, Cícero tem um charme único, ele conquista a todos ao seu redor, mas nem se dá conta disso, seu sorriso ilumina a sala e seu jeito moleque suavisa qualquer ambiente, ele é gentil, atencioso, apaixonado, é alguém com quem você quer passar o resto da vida.
Ele se tornou meu melhor amigo e isso basta para mim, Cícero é apaixonado pelo Dan que é o cara certo para ele, talvez em outra vida teríamos ficado juntos e visto onde isso nos levaria, mas não nesse, acho que a distância vai me ajudar a superar esse sentimento, ele vai continuar sendo meu amigo e vou ficar feliz por ele está feliz e é assim que as coisas devem ser, vai ver sou uma dessas pessoas que está sempre amando as pessoas que não pode ter.
(Dois anos depois)
— Tem certeza disso? — Pergunto ao Téo que está está na tela do meu celular enquanto espero meu namorado sentado no banco da rodoviária.
— Tenho, seu mentor está apaixonado pela primeira vez na vida, é de verdade agora e o fato dele ser espanhou ajuda um pouco na descrição de me casar.
— Você não tem jeito Téo, agora que você não volta mesmo — o que era pra ser seis meses virou dois anos e ele ainda está lá.
— Mas mudando de assunto você já resolveu se vai voltar pra Fortaleza ou se vai ficar em Natal?
— Macho meu pai é outra pessoa estando sóbrio, te falei ele vai as reuniões até hoje e tem mandado indiretas pra mim ficar desde que cheguei, acho que ele tem medo de se eu for não volte mais.
— Bem já passou dois anos e vocês estão se dando bem né e de qualquer forma você tem que se firmar primeiro antes de ir embora.
— Sim, por falar nisso recebi uns convites pra jogar em um time profissional depois de ter vencido o interclasse na faculdade dois anos seguidos, então acho que estou mais inclinado a ficar em Natal.
— Caramba que notícia boa, sempre solbe que você iria longe Ricardo — Téo diz cheio de orgulho.
— Eu entendo que sua vida esteja se construindo aí e isso é ótimo, mas acho que parte do seu plano de não voltar pra Fortaleza é por causa dele — Téo insiste na ideia de que Cícero e eu temos algo.
— Você não desiste né, macho o Cícero tá morando junto com Dan, eles voltaram dos Estados Unidos mais unidos do que nunca e outro Cícero e eu somos só amigos.
— Se você diz — Téo é muito irritante quando ele quer pegar no pé de alguém — e o PM parou de te procurar? — Mauro manda mensagens de vez em quando.
— Ele parou depois que voltou com a Ex mulher.
— Puta que pariu, ele não era gay? — Téo ficou tão surpreso quanto eu.
— Às vezes as pessoas vão tão fundo para proteger seus segredos, não sei como isso está funcionando, mas sei que estou feliz por não está no meio — Mauro sabe o que faz e ele é grandinho o suficiente pra saber que esse relação vai magoá- lo.
— Então é isso você está oficialmente com o Barman — Téo diz se recusa a chamar o Francisco pelo nome, segundo ele por torcer pelo meu verdadeiro amor.
— Francisco, quando você vai superar essa birra? Se você conhece ele vai ver como ele é gente boa.
— Ele é dono de bar e vocês namoram a distância a quase dois anos, o tanto de chifre que ele já deve ter te colocado não é possível de calcular — Téo tende a achar que sua régua moral é válida pra todos.
— Eu adoraria continuar nessa conversa que vai nos levar a uma briga de novo, mais meu namorado acabou de chegar — o ônibus vindo de Fortaleza para na plataforma e começa seu desembarque.
— Diz pra ele que mandei um abraço — Téo é cínico, mas gosto desse cretino.
— Tchau Téo.
— Adios mi amigo.
Francisco cumpriu sua promessa e continuou trocando mensagens comigo, aos poucos fomos criando uma rotina e quando percebi estávamos nos falando todos os dias o tempo todo, menos quando estou em aula ou ele atendendo no balcão, quanto mais o conheço mais meus sentimentos por ele crescem, Francisco teve umas desilusões amorosas assim como eu, mas ainda é um romântico incurável, gosto nisso nele, como ele me faz me sentir especial.
Nesses dois anos nos vimos algumas vezes pessoalmente, ele trabalha muito e eu com o futsal e as aulas quase não tenho tempo, mesmo assim deu umas escapadas para vê-lo e ele também conseguiu vir algumas vezes — na verdade mais até do que eu. Dessa vez ele está vindo passar o fim de semana comigo por que esse é nosso aniversário de dois anos, estou empolgado até comprei um anel de compromisso para dar a ele.
Enquanto espero as palavras do Téo me vem a cabeça e penso no que Cícero deve estar fazendo agora, depois vou lhe mandar uma mensagem, a gente se fala toda semana e mesmo a distância é como se ele estivesse aqui, ele até já tentou vir me ver, mas Dan não quer viajar, sempre coloca alguns empecilhos e entendo ele não querer me ver, ele superou e nossa amizade acabou.
— Uh que recepção mais gostosa — Francisco me tira dos pensamentos com um abraço.
— Fez boa viagem?
— Fiz sim, você tinha razão, o leito é mais caro, mas vale mais a pena.
— Francisco, eu te amo — digo isso toda vez para que ele nunca duvide o quão feliz ele me faz.
— Que bom, porque eu ainda te amo também — ele me beija e é sempre nesso momento que esse moleque de meio metro que apareceu na minha dívida do nada me faz esquecer de tudo e apenas viver o momento.
No carro ele pega o celular pra chegar se está tudo ok, não posso nem julgar afinal é o trabalho dele e sei o sacrifício que é vir me ver, então temos esse combinado dele ter liberdade de verificar as mensagens dos bares desde que não faça isso a viagem inteira.
— Amor estava pensando em ficar na praia esse fim de semana — digo.
— Tem aquele hotel de frente para a praia que ficamos naquela vez gostei de lá — ele responde ainda com os olhos na tela, mas não seria melhor ficamos na sua casa, seu pai ficou chateado da última vez que não fizemos nada com ele — meu pai aceitou o Francisco tão rápido que nem acreditei.
— Já falei com ele para almoçarmos juntos amanhã.
— Que maravilha, a amor, você pode passar em um lugar antes de irmos pro hotel então? — Olho para ele e seu que está me escondendo alguma coisa.
— Tudo bem, onde você quer ir?
O hotel fica na praia de ponta negra e esse endereço misterioso também então nem foi preciso desviar muito o caminho. Quando finalmente chegamos é só um ponto fechado que fica em uma esquina bem de frente para praia, o lugar é grande e tem uma decoração meio de praia mesmo com umas madeiras e taus, olho pra ele sem entender e então finalmente ele revela o mistério puxando uma chave da mochila.
— O que é isso? — Meu coração acelera.
— Não é um pedido de casamento e nem precisamos morar juntos agora — ele começa a se explicar mas tudo que quero e beija esse moleque lindo.
— Você não fez isso — esse é o melhor presente que ele podia me dar.
— Vendi o The Voice e comprei esse ponto, vou ter que reformar algumas coisas mais já consegui as licenças e os fornecedores então logo logo essa esquina vai se tornar o novo Buteco do Chico.
— Amor você tem certeza disso, olha não quero que você pense que — estou feliz mais parte de mim preocupado de que ele dê esse passo.
— Olha Ricardo você tem sido a melhor coisa que me aconteceu e tipo as pessoas que mais amo no mundo não moram mais em Fortaleza, não tem porque continuar lá se meu futuro está aqui.
— Eu nem sei o que dizer — estou em choque olhando nos seus olhos, completamente tomando por uma felicidade genuína.
— Estou com você Ricardo, quero fazer isso, essa distância entre a gente já estava me matando, e pesquisei essa esquina é um ótimo investimento, no mais o André vai ficar administrando o Buteco do Chico e o The Voice que agora é oficialmente dele, e eu vou cuidar dos dois butecos, vou precisar viajar pra lá de vez em quando, mas é melhor do que só te ver uma vez cada três meses.
— Vou te ajudar, vamos tornar esse lugar o pont de Natal — passo meu braço pelo seu ombro o abraçando.
Às vezes a vida não acontece como se espera, e felizes surpresas aparecem no seu caminho, não sou mais o moleque que defendia a todos pra não pensar nos próprios problemas, tenho uma família que me ama e um namorado incrível, a parte de mim que estava apegada ao passado se foi, eu me mudei e escolho ser feliz agora.