Assim que olhei para o celular, Rayssa já começou a falar.
Rayssa— Presta bem atenção, eu vou te mandar minha localização. Se você não chegar aqui em quinze minutos, ela morre. Se você não estiver sozinha, ela morre. Se estiver armada, ela morre. Se você chegar aqui em quinze minutos, sozinha e desarmada, eu troco a vida dela pela sua. Então pense bem e faça sua escolha. Você tem 15 minutos.
Ela falou, saiu de onde estava e encerrou a chamada. Eu não consegui dizer nada, apenas prestei atenção no máximo de detalhes que pude, especialmente no rosto de Rayssa quando ela se aproximou da câmera para desligar a chamada.
O que eu mais temia aconteceu: mais uma vez, Naomi estava nas mãos de Rayssa. Mas dessa vez era diferente. Rayssa estava armada, e seu olhar mostrava que ela estava completamente transtornada. Apesar de estar tão diferente, assim que olhei para a tela do celular, eu a reconheci. Rayssa tinha cabelo curto agora, quase raspado, seu rosto estava sujo e as roupas também. Quem a visse provavelmente acharia que era uma mendiga. Seu olhar era de puro ódio; ela provavelmente estava há muitos dias sem tomar seus remédios, então, com certeza, estava totalmente desequilibrada.
Ela estava em um local que não consegui identificar, mas era grande, pois as paredes estavam distantes. Era um lugar sujo, e dava para ver o lixo espalhado pelo chão. Ela apoiou o celular em algum lugar e fez a ligação. Quando atendi, dava para ver que ela estava de pé, e na frente dela, Naomi estava sentada em uma cadeira com as mãos para trás, provavelmente amarradas. Sua boca estava coberta com uma fita e consegui ver algumas marcas no seu rosto. Provavelmente, Rayssa a agrediu depois de rendê-la, ou então Naomi tentou reagir e não deu certo. Havia também um pequeno corte em sua testa, provavelmente causado pelo cabo da arma.
A ligação foi rápida; Rayssa foi bem objetiva e desligou logo, mas foi tempo suficiente para eu observar tudo isso. Tentei manter a calma durante a ligação e, assim que se encerrou, fui ao quarto, peguei minha arma e as chaves do carro da Naomi. Quando saí do quarto, ouvi a notificação de mensagem do meu celular. Rayssa tinha mandado sua localização. Ao abrir a localização no mapa, já sabia onde era.
Ela estava em um galpão abandonado fora da cidade. Eu tinha que ser rápida para chegar lá em 15 minutos. Saí correndo do apartamento e fui direto para o estacionamento do prédio. Entrei no carro, liguei a chave e olhei o combustível. Havia mais do que o suficiente. Liguei o motor e saí o mais rápido possível dali.
O galpão ficava a uns dois quilômetros da cidade. Ele havia sido usado para separar lixo reciclável há muitos anos pela prefeitura, mas isso não durou muito tempo e foi abandonado. Algumas telhas foram roubadas por moradores, assim como a fiação e tudo que dava para aproveitar. Praticamente sobraram apenas as paredes de pré-moldados e algumas telhas quebradas em cima.
Eu não tinha tempo de pensar em nada muito elaborado; eu tinha que ir e tentar, de algum jeito, salvar a vida da Naomi. Eu sabia o que Rayssa queria. Ela não iria trocar a vida da Naomi pela minha. O objetivo dela era me fazer sofrer, e não me matar. Tirar a vida da Naomi na minha frente com certeza seria a melhor forma de me fazer sofrer. Eu tinha certeza de que era isso que Rayssa faria. Ela iria matar a Naomi e talvez até me ferir ou me machucar, mas me deixaria viva para eu sofrer pela perda da mulher que amo. Então, eu sabia muito bem o que aconteceria se chegasse naquele galpão desarmada.
Eu tinha que fazer alguma coisa para mudar aquela situação, mas não tinha ideia do que fazer. Tudo que eu pensava não era viável por falta de uma arma de longo alcance ou por falta de tempo. Eu não tinha saída a não ser rezar para que um milagre acontecesse ou que eu tivesse alguma ideia brilhante antes de chegar ao local.
Quando cheguei na entrada para o local, que era do fundo de um dos bairros mais pobres da cidade, olhei no celular e vi que tinha quatro minutos para chegar ao galpão. O tempo era suficiente, e até diminui a velocidade; a estrada era de terra e estava molhada, um acidente ali só pioraria as coisas. Quando me aproximei, imaginei que Rayssa já estava ouvindo o barulho do carro e provavelmente estava me observando para ver se eu estava sozinha e desarmada. Antes de chegar, mandei um áudio para o Dr. Paulo, explicando de forma objetiva o que estava acontecendo e pedindo para ele enviar reforço e uma ambulância.
Parei o carro na entrada e olhei no celular; a mensagem tinha sido visualizada. Eu tinha uns 15 minutos para agir antes da polícia chegar. Destravei minha arma e a coloquei atrás na minha cintura, desliguei o carro e desci. O local era todo cercado por tela, mas já havia vários buracos nela, e passei por um deles. O mato estava alto e dificultava uma visão melhor do galpão. Quando me aproximei mais, vi que na frente do galpão o mato tinha sido cortado; a frente estava limpa. Com certeza era ali que Rayssa estava vivendo nos últimos meses.
Havia duas entradas na frente: um portão maior, onde provavelmente entravam os caminhões, e um portão menor que estava aberto. O galpão provavelmente tinha uns 30 metros de comprimento por uns 20 de largura. Pelo vídeo, imaginei que Naomi estava quase no centro, um pouco mais para os fundos. Imaginei que a área estaria praticamente vazia; se eu entrasse sem minha arma na mão, provavelmente não conseguiria pegá-la sem que Rayssa percebesse. Se eu tentasse pegá-la, provavelmente ela iria atirar em mim, e se o tiro fosse fatal, ela mataria Naomi depois. Se não fosse fatal, ela mataria Naomi e me deixaria ali ferida, vendo Naomi morrer. Eu não tinha saída a não ser entrar com minha arma pronta para atirar.
Talvez essa fosse a única chance de eu tentar negociar com ela, mas negociar o quê? Ela já tinha tudo que ela queria nas mãos.
Encostei ao lado da porta, já com minha 9mm nas mãos. Provavelmente, Rayssa estaria com Naomi no mesmo lugar e com a arma na cabeça dela. Entrar e já atirar poderia ser muito arriscado; no susto, Rayssa poderia puxar o gatilho e atirar na cabeça de Naomi. Ela estava com uma arma automática, e eu sabia que era uma arma de verdade. Era uma .765 com a numeração raspada; não sei onde ela conseguiu, mas provavelmente pegou de algum traficante ou comprou.
Não havia muito o que fazer; era entrar e torcer para, de alguma forma, eu conseguir salvar Naomi. Quando fui entrar, passou uma ideia maluca pela minha cabeça. Mas, de todas as ideias que tive, foi a única que fez algum sentido. Eu iria tentar tirar uma das vantagens que Rayssa tinha.
Às vezes, para lidar com uma pessoa louca, você precisa ser mais louca que ela.
Entrei com minha arma na mão e Rayssa estava onde eu imaginei. Elas estavam iguais ao momento da ligação: Naomi sentada com as mãos para trás, com uma fita na boca, e notei que suas pernas também estavam amarradas uma na outra com uma corda. Rayssa estava atrás dela, com a arma na cabeça de Naomi e a outra mão segurando sua garganta. Havia uma barraca de lona no fundo do cômodo, provavelmente era onde Rayssa ficava. Me concentrei em Rayssa, que já estava na minha mira. Daquela distância, a chance de eu errar sua cabeça era quase zero. Quando entrei, ela já arregalou os olhos e fez uma cara de ódio que achei que tudo iria por água abaixo. E ela já começou a gritar.
Rayssa — Eu falei para você vir desarmada. Larga essa arma agora ou eu vou estourar a cabeça dela!
Eu sabia que, se fizesse o que ela pediu, estaria sentenciando Naomi à morte.
Greta — Por mim, tudo bem. Você estoura a cabeça dessa traidora, eu estouro a sua e vou embora receber os parabéns dos meus chefes, sua trouxa. Kkkkkkk.
Eu estava rindo de nervosa, mas precisava parecer o mais convincente possível.
Rayssa — Você acha que eu vou cair na sua conversa? Eu sei que vocês voltaram, eu sei que você a ama.
Greta — Mas é claro que nós voltamos. Você armou para mim, eu quase me ferrei de novo por sua causa. Eu precisava te achar, e como você sumiu, precisei de uma isca para fazer você aparecer. Por que não usar a desgraçada que me traiu, que acreditou em você e ainda te levou para dentro da minha casa? Vocês duas quase acabaram com a minha vida, mas no fim eu fui mais esperta, usei a trouxa de isca para acabar com você de vez. Eu sabia que quando você soubesse que estávamos juntas, viria atrás dela. Eu usei meu erro contra você, que também se tornou previsível. Kkkkkkk.
Eu mal podia acreditar que eu estava dizendo aquilo, mas eu precisava, espero que Naomi me entenda.
Greta — Então, se vai matar ela, mata logo e me dá um motivo para eu estourar sua cabeça. Eu não quero ter que te prender dessa vez. Quero estourar seus miolos, igual fizeram com seu pai. Kkkkkkkkkkk.
Eu via pelas suas feições que o que eu disse tinha feito o efeito esperado. Notei que a mão que segurava a arma começou a tremer. Ela estava perdendo o controle de vez. Ou iria acontecer uma tragédia e só eu sairia viva dali, ou ela iria perder o controle e tentar acabar comigo, e essa poderia ser a única chance de eu salvar Naomi.
Rayssa — Mentira sua! Eu vou atirar na cabeça dela e você vai assistir. Eu vou fazer o mesmo que vocês fizeram com meu pai sua desgraçada! Eu vou acabar com sua vida!
Eu estava com muito medo de que aquilo tivesse sido uma péssima ideia, mas agora era tarde para voltar atrás e eu não tinha mais nada o que fazer. Achei melhor ir até o fim. Eu já estava no inferno; o jeito era abraçar o capeta.
Greta — Eu vou assistir, sim. Mas que você não vai, porque quando você puxar o seu gatilho, eu puxo o meu. Vou fazer o mesmo que fizeram com seu pai e vou te mandar para o inferno para ficar junto com ele. Sabe por quê? Porque eu sou uma policial! Nós fudemos com seu pai e eu vou fuder com você. Ainda vou ficar viva para rir da sua cara, sua trouxa. Vou meter uma bala entre seus olhos, igual fizeram com o trouxa do seu pai! Eu sou policial, sua trouxa, você nunca vai me vencer. Kkkkkkkkkkk.
O ódio dela chegou ao limite e ela perdeu o resto do controle ou lucidez que tinha e deu uma grito de tanta raiva. Ela foi rápida, mas não mais rápida do que eu. Quando ela movimentou o braço para mirar em mim, eu atirei. Só vi sua cabeça ser jogada para trás com o impacto e seu sangue voar. Ela caiu e não se moveu mais, e Naomi simplesmente caiu para o lado no chão. Nessa hora eu me assustei.
Corri até ela e, quando olhei, vi que sua garganta estava vermelha. A desgraçada da Rayssa a apertou, e provavelmente ela desmaiou por falta de ar. Olhei para Rayssa e no lugar do olho havia um buraco por onde saía muito sangue. Tirei a fita da boca de Naomi e verifiquei sua respiração. Ela estava respirando, mas ainda estava desmaiada. Desamarrei seus braços e pernas. O sangue que caiu estava em seu cabelo, rosto e em partes da sua roupa.
Peguei-a no colo e sai carregando-a. Quando estava perto da tela, já ouvi o barulho de carros se aproximando. O primeiro que apareceu no meu campo de visão foi um carro da polícia civil. Fui abrir a porta do carro da Naomi para colocá-la dentro e levá-la para o hospital, mas vi uma ambulância surgir na estrada e fui em direção a ela.
O carro da civil já parou ao meu lado; era o Dr. Paulo e outro detetive. Eu só falei que Rayssa estava morta dentro do galpão e que precisava levar Naomi para o hospital, mas ela estava bem, só precisava de alguns cuidados. O Dr. Paulo apenas disse: "vai logo" e eu fui. A ambulância passou por mim, fez a manobra e voltou. Um paramédico saiu e pediu para eu levar Naomi para a porta de trás. Ele abriu a porta para mim e uma enfermeira que estava na parte de dentro me ajudou a colocar Naomi na maca. O paramédico perguntou o que ela tinha. Eu disse que provavelmente ela desmaiou por falta de ar devido à pressão na garganta.
O paramédico colocou-a no balão de oxigênio e foi aplicar alguma coisa no braço dela, mas quando ele inseriu a agulha, ela mexeu os braços e abriu os olhos assustada. Eu, mais que depressa, fui até ela e disse que estava tudo bem, que ela desmaiou e estava indo para o hospital. Ela me olhou meio assustada.
Naomi— Cadê a Rayssa, amor?
Quando ela me chamou de amor, percebi que ela não acreditou em nada do que eu disse momentos atrás; isso me deu uma sensação de alívio imensa.
Greta— Não se preocupe com ela, amor. Nunca mais ela vai fazer nada contra a gente!
Naomi— Graças a Deus! Eu achei que ia morrer, amor! Eu estava com muito medo.
Greta— Fica calma. Já passou e você não vai morrer. Só estamos te levando para o hospital para o médico cuidar dos seus ferimentos e logo poderemos ir para casa, sem nos preocupar com Rayssa nunca mais.
Ela me abraçou com o braço que estava livre e, pela primeira vez, senti um alívio imenso no meu coração. Rayssa não era mais um problema e nós poderíamos ser felizes sem ela para nos atrapalhar.
Continua…
Criação: Forrest_gump
Revisão: Whisper
( DESEJAMOS UMA ÓTIMA VIRADA DE ANO PARA TODOS NOSSOS QUERIDOS LEITORES! QUE 2025 TRAGA MUITA FELICIDADE PARA VOCÊS!!! ✨🍾🎇🥂🥳)