O ajudante de ferreiro e o aprendiz de feiticeiro - Capítulo 10

Um conto erótico de TitanKronous
Categoria: Gay
Contém 3873 palavras
Data: 24/02/2023 08:31:30
Assuntos: Fantasia, Gay, Homossexual

* Olá leitores, esse capítulo terá Delvin como personagem principal e começa logo após Bran e Lanna deixarem a torre.*

Assim que seus amigos saíram pela porta, Delvin sentou no chão frio e de pedra lisa do salão principal, onde horas antes seus colegas de classe estavam transando. Esse pensamento o fez ficar com nojo e ele decidiu sentar no pé da escada. Ele estava em uma situação muito ruim. Sabia que se deixasse a torre, seu mestre suspeitaria que ele estava envolvido com o roubo. Por outro lado, se Salazar fosse mesmo o assassino, como Delvin tinha praticamente certeza, ele não queria ficar perto de uma pessoa assim.

Ele sempre vira seu mestre como uma pessoa fria, mas não imaginava que fosse capaz de matar alguém de forma tão violenta. O Feiticeiro sempre fora duro com os alunos e não se importava muito com eles. Ele dava as ordens do que deviam fazer, mas se não fizessem, pouco lhe importava. Mas isso não queria dizer que ele era um assassino.

Havia ainda o problema de Geldwin e Peter. Ambos tinham visto Delvin chegando com Bran e Lanna. Peter provavelmente ficou constrangido demais com a situação que não falaria nada, mas Gledwin com certeza perguntaria para o meio-elfo sobre tais pessoas. Delvin estava em dúvida sobre mentir ou não para o elfo. Ele era bom em perceber quando os outros mentem para ele, e apesar de todo o histórico ruim entre os dois, havia uma certa cumplicidade também. “Pelo menos”, pensou Delvin, “não foi Felícia quem estava na entrada quando os 3 chegaram.” Ela com certeza o teria delatado.

Delvin tentou pensar em coisas melhores, e lembrou-se do beijo que ele e Bran tiveram. Foi incrível. Ele já havia beijado muitos outros caras, alguns muito mais experientes que ele próprio, mas o beijo que deu naquele humano, ainda que amador, tinha algo de diferente. Ele não sabia explicar o que era, mas era tão bom que Delvin não via a hora de repetir. Só de pensar nisso, sentiu seu pênis ficando ereto e começou a massageá-lo por cima da roupa. Estava prestes a tirar seu pau para fora da calça e se masturbar, quando ouviu uma das portas se abrir no andar superior. Delvin praguejou mentalmente, mas se endireitou e ajeitou suas roupas para disfarçar o volume. Segundos depois ouviu passos descendo as escadas e a voz de um sonolento Geldwin chegando aos seus ouvidos.

- Bom dia De.

- Bom dia Gel.

O elfo se juntou a Delvin no pé da escada, sentando ao seu lado. Por uns instantes nenhum deles falou nada. Cada um pensando em como conversar e se abordavam o ocorrido da noite anterior. Até que Geldwin cortou o silêncio.

- De, eu ... eu espero que saiba, que o que você viu ontem, entre mim e Pete ...

- Fica tranquilo Gel. Não vou contar nada pra ninguém. Assim como fomos discretos quando nós dois estávamos juntos, vou ser agora.

- Eu e Pete não estamos exatamente juntos. Só estávamos nos saciando, entende.

- Claro que sim, mas porque você não vai no bordel, é muito mais fácil, sabe. Você poderia escolher alguém muito melhor que o Pete.

- Eu sei, mas eu não gosto de ficar pagando pra ter sexo, sei lá, só não acho legal. Você vai com frequência, né? Aquelas pessoas que estavam com você ontem vieram de lá? – Falou Geldwin, com um velado tom de deboche em sua última frase.

Era mesmo incrível como aquele cara conseguia estragar uma conversa que estava sendo agradável. Delvin acreditava que a cumplicidade da noite anterior poderia fazer com que os dois tivessem conversas mais amigáveis, mas o cara precisava falar de uma maneira ofensiva de seus amigos. Delvin suspirou e respondeu:

- Não Gel, eles não são do bordel.

- E quem eram então?

- Prefiro não compartilhar esta informação.

- Você sabe que eu poderia muito bem falar ao mestre que você trouxe estranhos para cá ontem à noite, não é?

- Você não vai falar, por que se não eu conto o que vi quando cheguei, e você sabe que se confrontado diretamente sobre o assunto, Pete não vai conseguir mentir. Ontem ele não falou nada por milagre, e por que o mestre perguntou se ouvimos algo. Mas se o mestre pedir se você e ele treparam no salão principal, é capaz dele começar a chorar.

- Eu sei, eu sei. Só estou brincando, não vou contar pro mestre. Quero continuar sendo aluno dele. Acho que ainda preciso de mais tempo pra me considerar um verdadeiro feiticeiro. Eu só estou curioso quanto as pessoas que vieram com você, não me importo se vocês transaram ou não, se você namora um deles ou os dois. Ou mesmo se foram vocês que roubaram o que quer que tenha sido roubado do mestre.

Delvin não queria compartilhar nada com Geldwin, mas não falar nada seria suspeito demais. E mentir para o elfo era impossível, ele era um detector de mentiras ambulante. O meio-elfo decidiu então apenas omitir os fatos relevantes.

- O Bran trabalha na ferraria, conheci ele quando fui fazer a encomenda para o mestre e chamei ele para sair comigo ontem à noite. Acabamos conhecendo a Lanna na taverna, e depois de umas andanças pela cidade, viemos pra cá.

- Hum, me parece que estão faltando coisas aí nesta história, mas se você não quer me contar tudo bem. Me dou por satisfeito. Porém aquela gnoma poderia ser a ladra, pois quando ela me ameaçou, eu não percebi ela se movendo na minha direção e nem vi de onde tirou aquela adaga. Eu estou preocupado que você tenha trazido a ladra pra dentro da torre e nem percebeu. Falando nisso, a que horas eles foram embora? Pois o mestre nos chamou pouco tempo depois que fomos deitar.

- Eu me despedi deles hoje pela manhã, logo depois que assumi o posto da Fe. – Delvin preferiu apenas responder a pergunta e não comentar nada com Geldwin, e tentou mudar de assunto. – Agora então a Felícia é a única que não transou com você?

- Sim, é, e não mude de assunto. Acho que você deveria informar o mestre sobre os amigos que trouxe aqui. Ele estava visivelmente transtornado ontem à noite, nem parecia ele. Estava mais frio que o normal.

Sabendo que seria difícil dissuadir Geldwin do assunto, Delvin resolveu tentar uma abordagem diferente. Seria arriscado, mas tentou mesmo assim:

- Gel, você acha que o mestre é capaz de matar?

- Como assim? O que quer dizer com isso?

- Eu sei que ele tem magias poderosas e que com elas pode ferir e matar outras pessoas, mas você acha que ele seria capaz de matar alguém a sangue frio?

Geldwin ficou observando Delvin e demorou um pouco para dar sua resposta:

- Sim, eu acho que ele seria capaz disso sim, mas o que isso tem a ver com o que estávamos falando?

Delvin resolveu não responder, ao invés disso, resolveu deixar Geldwin de vigia e foi se deitar. Em seu quarto, enquanto se despia, viu o ferimento causado pela ferroada do diabrete. Quase não sentia mais dor. A magia que usara tinha tido um efeito milagroso em sua recuperação. Ele nunca aprendeu tal magia, nem nunca viu seu mestre usando magias de cura. Pelo que sabia, essas magias eram comuns apenas para os clérigos e paladinos, pessoas ligadas a alguma religião ou devotos de algum deus. O que tornava tudo muito estranho, pois Delvin, apesar de respeitar os deuses, não era devoto de nenhum. Entretanto, decidiu deixar para pensar nisso em outro momento, pois ainda estava muito cansado. Deitou-se e logo adormeceu, porém seus sonhos não o deixaram descansar devidamente. Primeiro sonhou que o irmão o perseguia e por mais que corresse, Delvin não conseguia se afastar dele, então o irmão se tornou o seu mestre dizendo que deveria eliminar todas as testemunhas. Quando finalmente se afastou do feiticeiro e se aconchegou nos braços fortes de Bran, a voz do outro jovem, soando extremamente fria, disse-lhe, “odeio gente promíscua” e desferiu-lhe o mesmo golpe que usara para matar o diabrete. No momento que foi atingido no sonho, Delvin despertou.

Delvin ficou sentado um pouco na cama, lembrando do pesadelo que o acordou. Não era comum ele ter pesadelos, muito menos um capaz de acordá-lo. O dia anterior havia sido intenso demais. De um encontro para uma tentativa de furto, de uma perseguição para testemunha de assassinato, de uma invasão a uma luta contra um diabo. Coisas demais para um dia só. Delvin queria simplesmente tomar um banho e esquecer tudo, mas sabia que seria impossível. Principalmente Bran, o jeito inocente e gentil, a pegada forte dele e o seu cheiro característico. Delvin não se sentia assim por outro homem a muito tempo. Estava feliz por tê-lo conhecido e esperava que o outro também estivesse.

Decidiu não demorar-se mais, pois a manhã já avançava muito e talvez seus colegas saberiam de algo a mais. Tomou seu banho, colocou roupas simples e desceu para tomar o desjejum. No salão principal encontrou Peter sentado numa almofada que ele provavelmente trouxera de seu quarto lendo um livro. O rapaz levantou os olhos, mas assim que viu Delvin os baixou com vergonha. Delvin o cumprimentou, mas não recebeu resposta. Na cozinha encontrou Felícia, comendo uma fatia de pão com geleia. Ela o cumprimentou com um gesto, pois estava de boca cheia e Delvin retribuiu o cumprimento. Os dois ficaram ali por alguns instantes, cada um comendo sua comida, sem trocar uma palavra. Quando terminou, Felícia usou um truque mágico para limpar seu prato e talheres e voltou a se sentar, como se esperasse Delvin terminar para falar algo. Quando o jovem terminou de comer, algumas frutas e uma fatia de pão, a garota lhe inquiriu:

- E então, como foi sua vigília?

Delvin, que não conseguia usar o tal truque mágico, recolheu suas louças sujas e se dirigiu à pia para lavá-las e respondeu:

- Foi tranquila, sem incidentes. E a sua?

- Também, monótona. Gostaria de saber o que foi roubado do escritório do mestre. Eu achava que ele deixava as coisas mais valiosas no cômodo secreto no topo da torre e no escritório só ficava a papelada dos estudos. O que você acha?

- Talvez foi algum dinheiro. - Delvin respondeu simplesmente enquanto lavava a louça.

- Dinheiro? haha. Quem seria louco de invadir a torre de um feiticeiro para roubar ouro ou prata? Não, com certeza foi algo valioso para ele. Ele até voltou usando teletransporte, odeio quando ele faz isso, sempre acabo escutando e me acordando assustada. Sério De, o que você realmente acha que foi roubado?

- Não sei Fe, algum item mágico, mas talvez não seja nada muito importante, pois estava no escritório. - Respondeu o meio-elfo secando as mãos

- Pois é, isso que é estranho. Estava no escritório e não na sala secreta. Como você acha que se chega à sala secreta?

- Ai sei lá, deve ter alguma porta escondida no corredor dos quartos com alguma senha mágica ou que só abra para o mestre. Porque? Está interessada em descobrir os segredos dele?

- Bem, como uma futura rival dele, sim estou. - respondeu a tiferina, e depois de uns instantes continuou: - o que há com você De? Está tão estranho, normalmente você é mais falador que isso.

- Só estou cansado.

- Sei, aventuras noturnas, suponho. - falou ela com um sorriso malicioso no rosto.

Delvin pensou em Bran, olhou para a colega e sorriu. Ela captou a mensagem que ele quis transmitir e disse:

- Você é um safado, sabia? Ainda não consigo entender porque continua aqui. Você se daria muito melhor lá fora, usando seus dons.

Delvin ficou intrigado. O que ela queria dizer com aquilo? Por isso, questionou:

- Como assim?

- Oras, você é péssimo nos estudos, sei que você não consegue memorizar magias diferentes do seu grimório. Em relação a mim e aos outros meninos, é como se você estivesse um ano atrás. Em compensação, você é ótimo em lidar com pessoas, fala muito bem, e canta bem também.

- Canto bem? De onde tirou isso?

- Não se lembra? Ano passado depois que todos passamos no teste e o mestre nos deu duas semanas de folga, nós fomos na taverna beber. Você foi o que mais bebeu e em um momento, você pegou o alaúde do bardo que estava lá se apresentando mas nem tocou, só cantou, não lembro a música, mas a taverna inteira parou pra ouvir e te aplaudiu no final. Foi bem bonita a canção. Você deveria seguir carreira artística e usar as magias que sabe pra te ajudar nisso.

- Nossa, não me lembro disso. - Revelou Delvin, genuinamente surpreso.

- Bem, não me surpreende, pois logo depois disso você vomitou em cima do bardo que estava tentando pegar o alaúde de volta e você foi expulso de lá. Foi hilário, os meninos tiveram que te arrastar de volta pra cá. Sério Delvin, sei que não somos amigos e tal, mas se quer um conselho, não continue aqui, isso não é pra você.

- Eu… obrigado Fe. Eu realmente ando pensando no que fazer, tenho quase certeza que não passo do próximo teste.

Os dois continuaram conversando sobre o assunto, o que animou Delvin e o fez pensar em coisas diferentes. Depois de um tempo, Geldwin entrou no recinto e os avisou que o mestre os estava chamando no salão principal. Ambos se levantaram e foram até o local.

- Peço perdão por tê-los acordado tarde ontem a noite e por preocupá-los com assuntos pessoais meus. Entretanto o que me foi roubado é um item de extremo valor.

Interrompendo o Salazar, Felícia inquiriu:

- Mas o que foi que roubaram, mestre?

- Um livro ritualístico que eu estava estudando. - respondeu o feiticeiro, um tanto a contragosto por ter sido interrompido. - O que eu quero dizer é que vou precisar que vocês fiquem nos andares inferiores da torre durante o restante do dia. Usarei uma magia poderosa de localização de objetos e não quero ser interrompido. Avisarei quando puderem retornar a seus quartos.

- Sim mestre. - os quatro responderam em uníssono.

Assim que Salazar começava a se afastar para os andares superiores, Delvin o interpelou.

- Mestre, será que posso sair para me encontrar com alguns amigos?

- Até que essa situação se resolva, eu peço que fiquem na torre. Todos vocês. - O feiticeiro aproveitou que todos ainda estavam próximos e os avisou.

- Posso utilizar uma das cartas mágicas para avisá-los da minha ausência? - perguntou Delvin.

- É tão importante assim?

- Sim, mestre, é uma questão muito importante.

- Hunf, tá bem, permito, mais alguma coisa?

- Quando o senhor terminar, eu gostaria de ter uma conversa séria, se possível. Sobre meus estudos.

Salazar mudou a postura, de aborrecido para curioso, e observou seu aluno com interesse. O Feiticeiro assentiu com a cabeça e não esperou mais ninguém se manifestar, caminhando calmamente em direção à escadaria.

Mais que depressa, Delvin dirigiu-se à biblioteca. Um cômodo enorme, que parecia impossível de existir dentro daquela torre. Livros e pergaminhos enrolados estavam dispostos nas mais variadas estantes das mais variadas alturas. Tomos de conhecimento antigo, grimórios de magos e feiticeiros muito poderosos que há muito tempo já haviam morrido ou desaparecido. Uma coleção grandiosa de conhecimento que parecia infinita. O que acabou fazendo Delvin pensar, “porque o mestre não guardou aquele livro aqui?” De qualquer forma, o que o jovem queria não estava nos livros, mas sim em uma grande mesa de estudos, que era normalmente usada pelo mestre e os alunos nas aulas teóricas. Era um dos lugares que Delvin mais detestava, embora ele entendesse o valor de todo aquele conhecimento.

Assim que se sentou, Delvin apanhou uma das folhas de papel e escreveu uma carta. Ele decidiu que a enviaria para Lanna, pois queria preservar Bran. Imaginava que ela seria difícil de encontrar, mas ele tinha seus contatos nas ruas da cidade e tinha certeza que um deles seria capaz de encontrá-la. Colocou uma mensagem escondida, esperando que seus amigos a encontrassem e qualquer outra pessoa que pudesse vir a ler o conteúdo da carta, não. Ele escreveu também um bilhete, para o seu contato, informando onde Lanna poderia ser encontrada.

Delvin precisava ser rápido, pois logo seu mestre iniciaria o ritual e ele sabia que levava uma hora para funcionar. Ele sabia que o ritual de localização podia encontrar um objeto específico nomeado pelo autor da magia. Sendo assim, o seu mestre encontraria facilmente o livro. Entretanto, esse ritual só encontrava um item por vez, e o que estiver mais perto da pessoa que usar a magia. E se o tal item estiver dentro de uma daquelas bolsas mágicas, era como se ele estivesse em outra dimensão, portanto, inalcançável para a magia do ritual.

Por sorte, o mestre permitiu usar a carta mágica. Assim que terminou de escrever, colocou a carta e o bilhete dentro do envelope mágico e escreveu o endereço do seu contato. Assim que terminou, a carta flutuou no ar, dobrou-se na forma de pássaro de papel e voou em direção a uma das janelas da biblioteca, por onde saiu e ganhou o céu, na direção do endereço. Delvin sabia que em poucos minutos a carta chegaria ao destino, e torcia para que alguém a recebesse e a entregasse a quem deveria realmente ler a carta.

Delvin retornou ao salão principal e esperou, junto de seus colegas de classe. Nenhum deles conversou muito, era notável a apreensão no ar. Uma hora se passou e todos ouviram o som mágico do ritual se completando. Mais apreensivo do que nunca, Delvin ficou aliviado quando ouviu um xingamento proferido pelo seu mestre. Todos os alunos olharam para cima alarmados, exceto Delvin, que fingiu que estava também preocupado, mas por dentro estava aliviado que seu mestre não encontrou o livro. Ele sabia que o feiticeiro nem tentaria fazer o ritual para localizar os outros itens, pois apesar de incomuns, tanto as poções quanto a bolsa, seriam encontradas na própria torre.

Outra coisa que lhe ocorreu era que se os três quisessem decifrar o que estava no livro, teriam que retirá-lo da bolsa. Por azar, o raio de ação do ritual era grande o suficiente para encobrir a cidade inteira, o que os obrigaria a deixar a cidade. Se tudo corresse bem, Delvin seria capaz de ir com eles para outro lugar, pois pretendia se desligar dos estudos de feitiçaria. O que lhe daria liberdade de viajar para onde quisesse, quando quisesse, porém precisava dar um jeito de fazer o seu nome. Fosse como fosse, ficar aqui não era mais uma opção, ele precisava sair.

Enquanto pensava nessa coisa, ouviu o ritual terminar uma segunda vez, desta vez não houve xingamentos após a conclusão, mas como não houve nenhuma outra comoção, Delvin e os outros deduziram que o mestre ainda não encontrou nada. As horas foram passando, os jovens gastavam seu tempo estudando na biblioteca, comendo e, vez ou outra, trocando algumas palavras, porém nada mudou. Quando a noite caiu, enfim o Feiticeiro desceu dos aposentos superiores. Apesar de estar com a roupa bem alinhada, como sempre estava, seu rosto mostrava derrota. Era claro que ele não havia conseguido localizar o objeto roubado.

Ele liberou os alunos para utilizarem seus quartos e todos, exceto Delvin, subiram para tomarem seus banhos e fazerem o que quer que cada um fizesse dentro de seus cômodos particulares. O meio-elfo ficou a tarde inteira ensaiando mentalmente a conversa que teria com seu mestre e agora era a hora.

- Mestre, sei que o senhor deve estar cansado, mas será que podemos conversar?

Salazar acenou com a cabeça afirmativamente e ambos seguiram para a cozinha. O feiticeiro conjurou uma magia e comida começou a ser preparada, como se alguém invisível a estivesse fazendo. Ele sentou-se à uma das mesas e fez sinal para que Delvin se juntasse a ele. Era muito raro o professor comer com um aluno, mas aparentemente, Salazar estava tão cansado que não se importava. Delvin sentou-se e duas taças voaram até a mesa. Depois, uma garrafa de vinho surgiu e serviu ambas as taças. Salazar apreciou a bebida com um longo gole, mas Delvin, ansioso e nervoso com a situação, quase virou a taça toda de uma vez. Salazar o olhou com certa desaprovação, mas mesmo assim falou:

- Você me deixou curioso hoje cedo quando disse que tinha algo sério a tratar comigo, Delvin. Pensou a respeito de sua situação aqui? Quer algumas aulas a mais para alcançar seus colegas?

- Na verdade, mestre, eu estou pensando em encerrar meus estudos com o senhor.

- O que quer dizer com isso? - perguntou Salazar, pois não tinha certeza se entendeu direito.

- Eu estou desistindo dos estudos com o senhor. Levei muito tempo para perceber que não fui feito para esse tipo de magia. Agradeço por todo o tempo que o senhor me acolheu aqui e por tudo que aprendi, pois aprendi muito. Sinto como se esse não fosse o meu caminho e que devo encontrar o caminho certo, do meu próprio jeito.

Salazar deu mais uma longa golada no vinho antes de responder.

- Então é isso? Tem certeza do que está fazendo? Imagino que sabe que terei de comunicar a seus pais sobre isso e que com isso, você deverá retornar para casa, a menos que decida ficar por aqui, mas sei que perderá o patrocínio deles.

- Sim eu sei disso e já sou um adulto, pretendo enviar-lhes uma carta assim que possível informando minha decisão, e creio que uma carta do senhor também se faz necessária.

- Bem, é uma pena Delvin, você era realmente promissor, mas se está decidido, não o impedirei. Quero que saiba que não o aceitarei de volta. Assim que você sair por aquela porta, deixará de ser meu aprendiz e se tornará um cidadão comum para mim. Se decidir voltar atrás, procure por outro professor de magia.

- Sei disso mestre, e tenha certeza que não o procurarei por este assunto. - Mesmo nunca tendo uma relação boa com seu mestre, essa última fala dele acabou abalando um pouco o rapaz

- Posso perguntar o que te fez tomar esta decisão?

Delvin então contou ao ex mestre sobre as preocupações que já o rodeavam fazia algum tempo e sobre conversa que tivera com Felícia naquela mesma tarde. Obviamente o meio elfo omitiu que acreditava que o feiticeiro fosse o assassino do Conde e que isso também fora um fator importante na tomada de decisão. Os dois ainda trocaram algumas palavras sobre o assunto da saída de Delvin e quando a comida ficou pronta, o jovem deixou o feiticeiro jantar sozinho, mas antes de sair pediu se podia dormir uma última noite na torre.

- É claro, não imaginei que fosse partir ainda esta noite. Pretende deixar a torre amanhã?

- Sim senhor, ainda não sei exatamente para onde ir, mas não pretendo prolongar minha estadia aqui.

- Ótimo, então amanhã lhe entregarei o que sobrou do seu dinheiro deste mês. Boa noite.

Delvin subiu as escadas sentindo que um enorme peso deixava o seu corpo. Finalmente estava livre daquele lugar. Ele sabia que tinha uma vida boa ali, mas não era o que ele almejava. Precisava se arriscar, precisava botar a cara a tapa e encontrar o que precisava encontrar. Seja lá o que seria. Assim que chegou em seu quarto, Delvin se despiu, tomou um longo banho, sem pensar em outra coisa a não ser na liberdade que teria a partir do dia seguinte.


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feiticeiro não desconfiou da repentina exclusão do delvin?

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