"Clair de Lune" - Capítulo 7 - Um antiácido, por favor. Esquece! Traz uma caixa...

Um conto erótico de Annemarye (Por Mark)
Categoria: Heterossexual
Data: 19/11/2022 00:04:49
Última revisão: 19/11/2022 16:44:06

Eu os encarava feliz por ver aquele lindo sentimento desabrochar. Também estava um pouquinho curiosa, aliás, muito curiosa, e não escondia minha vontade de saber o que estava escrito naquele cartãozinho. Cheguei a roer uma unha de aflição. Acho que o encarei demais e a Annemarye, ao ver meu interesse, brincou:

- Que coisa mais feia, dona Eugênia! Curiosidade mata, viu!? - Disse e riu.

- Ah, querida, não vai me deixar ler?

- Nã, na, ni, na, NÃO! - Falou e deu um lindo sorriso: - Não tenho coragem! O Marcos foi muito… Ah, deixa pra lá. A senhora tem algum vaso para eu colocar meu buquê?

- Tenho, querida. Tenho. - Sorri de seu jeitinho meigo e a peguei pelo braço: - Vem comigo.

[...]

Capítulo 7 - Um antiácido, por favor. Esquece! Traz uma caixa...

Saí andando de braço dado com a dona Eugênia. Naturalmente, não tive como não olhar para o Marcos que me encarava com um sorriso no rosto, mas também uma carinha… Comecei a relembrar a mensagem que ele escreveu em uma das abas daquele cartãozinho:

“Quer fazer parte da minha vida, para sempre? Porque eu quero você: hoje, amanhã e sempre!”

Achei lindo, romântico, intenso, carinhoso e verdadeiro. Aliás, seu olhar demonstrava toda a verdade contida naquelas palavras. Apesar do medo de me relacionar novamente, eu já estava aceitando os riscos. Já achava que, com ele, a história poderia ser diferente e eu teria, enfim, o meu “felizes para sempre!” Entretanto, a outra aba deixou bem claro que o romantismo não era tudo:

“Ah, e que todos os seus sonhos se realizem! TODOS!!!”

“Safado!”, pensei e comecei a rir enquanto andava com a dona Eugênia, imaginando o que eu poderia ter falado dormindo no hospital, e ela me encarou ainda mais curiosa:

- Ah, Anne. Deixa eu ler? Não sei o que ele escreveu, mas acertou em cheio. Olha pra sua carinha, veja como está feliz.

- Não! Não dá, dona Eugênia. - Falei ao enxugar uma lágrima de tanto rir: - Talvez um outro dia, outra hora quem sabe, mas agora eu não tenho coragem.

- Ah, Anne, poxa… Sou sua amiga!

- Não dá… - Eu sorria feito boba e pedi socorro: - Marcos, me ajuda com a tua mãe, por favor. Ela quer ler o meu cartão.

- Ora, mostra pra ela. Qual o problema? - Falou, rindo.

- “Qual o problema”!? - Perguntei e caí numa gargalhada nervosa, só parando um tempinho depois: - Para, gente! Não faz isso comigo.

- Tá bom, sua chatinha. Pode me deixar curiosa, sem problemas… Se eu morrer sem saber desse segredinho, você é quem vai ficar com peso na consciência… - Ela brincou.

- Ah… Qual é, dona Eugênia!? Chantagem emocional comigo? Eu também estudei um pouquinho dos caminhos do convencimento na psicologia. - Falei, sorrindo: - E a senhora vai viver muito ainda. Tem que ajudar a criar os netos.

- É mesmo, não é!? Quero uns três seus! - Cochichou em meu ouvido, fazendo-me corar: - Estou brincando com você, minha querida. Adoro ver esse seu sorriso. - Me deu um beijo na bochecha: - E o do Marcos, então!? Olha lá que bobo ele está parecendo.

Olhamos em direção a ele que tinha mesmo um sorrisão estampado no rosto, mas que logo se recolheu quando nos viu o encarando. Ela então me pegou um belíssimo e certamente caríssimo vaso de cristal, onde me ajudou a colocar meu buquê:

- Posso colocá-lo na mesa de jantar? - Ela me perguntou.

- Ele é muito grande. Vai ocupar toda a mesa.

- Vai nada! Ficará lindo. - Insistiu e eu assenti que o levasse.

Fui então para a cozinha e tive que me impor porque a Fátima já queria fazer tudo em meu lugar. Não deixei, mas aceitei ajuda para descascar e picar as cebolas. Enquanto isso, piquei quase toda cabeça de alho bem miudinha e dei uma prefritada. Reservei uma boa parte para fazer um arroz branco depois. Coloquei a cebola e o alho na panela de pressão, dando uma leve fritada com um fio de óleo. Depois, coloquei um fundinho de água, um pouco de sal, açafrão, fechei e deixaria cozinhar por uns dez minutinhos, explicando para a Fátima:

- Vai virar um molho, quase uma sopa de cebola. Daí vou colocar a costela, acertar o tempero e deixá-la cozinhar por uns trinta a quarenta minutos.

- Ah! Tipo uma vaca atolada.

- Tipo uma vaca atolada sem mandioca e com cebola.

- Entendi! É a mesma coisa e não tem nada a ver.

- É por aí, Fátima… Acho que é isso! - Comecei a rir, aliás, começamos as duas.

Passado o tempo, deixei a pressão da panela acabar e a abri, inundando todo o ambiente com aquele perfume característico de uma boa sopa de cebola. Acondicionei as costelas e mexi, acertando o tempero e o cheirinho aumentou ainda mais. A dona Eugênia veio curiosa ver como eu estava me virando, acompanhada pelo Marcos:

- Que mulher prendada, hein, Marcos? - Ela brincou, cutucando-o.

- Parece que você sabe mesmo o que está fazendo, hein, caipirinha? - Ele brincou.

- Meu querido… - Falei num tom jocoso e continuei: - Meus pais me criaram para ser independente. Eu cozinho, lavo, passo, limpo…

- Tá vendo, Marcos? Prontinha pra casar. - Dona Eugênia, sempre ela, o cutucou novamente, mas também me atingindo em cheio.

Não sei qual dos dois ficou mais vermelho. Eu me virei para o fogão e a Fátima me encarou, rindo da minha cara. Eu a encarei e sorri também. Então, eu decidi abusar. Virei-me novamente para os dois e o encarei, séria. Depois, fui até a geladeira, onde peguei uma lata de cerveja bem geladinha e a abri, levando-a até ele que prontamente esticou a mão para recebê-la, imaginando que fosse um agrado. Antes que ele conseguisse, fiz uma curva e fui até a panela, despejando aproximadamente três quartos da latinha, depois me voltei para ele e, agora encarando-o bem nos olhos, bebi o restante, soltando no final aquele característico “Ahhh!”. Ele ficou com cara de paspalho e a dona Eugênia surpresa, mas depois riu da cara dele. Dei uma sonora risada da cara de ambos e da minha própria cara de pau por aquela paquerada explícita, voltando a mexer a costela. Fechei a panela para pegar pressão e me voltei para ele novamente:

- Quer uma? - Perguntei, apontando para a latinha vazia.

- Se você me deixar beber, eu aceito, sim! - Fingiu estar chateado.

- Você é que não podia beber, né, mocinha! Está tomando antibiótico. - Dona Eugênia me repreendeu.

Sorri, surpresa e constrangida, porque eu havia esquecido realmente! Agora já era tarde, então, decidi que tomaria outra, aliás, outras. Peguei outra latinha e a abri, bebendo mais um pouco. Quando me virei, o Marcos já estava em cima de mim, disputando comigo a posse da minha latinha:

- Não! Shiu. Para! Essa é minha. Tira a mão daí, abusado. - Brinquei, rindo à beça.

- Você não pode beber. - Disse e conseguiu tomar a minha latinha, se encostando na porta da geladeira: - Minha mãe falou que não pode…

- Me dá essa latinha, Marcos! - Falei e praticamente me pendurei em seu pescoço.

Eu tentava alcançá-la a todo custo, mas ele, bem mais alto que eu, me evitava facilmente. Nessas tentativas, depois de um tempinho notei que a única coisa que eu estava conseguindo era roçar meus seios no peito dele e só aí me lembrei que estava sem sutiã, pois acabei ficando com os mamilos eriçados. Não sei se ele notou, mas, de qualquer forma, eu notei e fiquei sem jeito. Disfarcei:

- Poxa! Deixa eu pegar outra, então.

- Não pode. - Falou e bebeu um longo gole: - Humm… Geladíssima! Quer uma mãe?

- Dona Eugênia! O Marcos está me atrapalhando aqui! - Falei para ela antes que ela o respondesse e fui categoricamente ignorada.

- Vocês dois já são adultos. Já podem resolver isso sozinhos, aliás, juntos. - Falou, rindo e já se dirigindo à região das suítes: - Vou tomar um banho. Ah, Fátima, me dá uma ajudinha aqui dentro?

- Dá minha cerveja, Marcos! - Falei novamente.

- Não dou!

Ficamos nesse embate por um bom tempo. A Fátima havia saído atrás da dona Eugênia. Eu me cansei da disputa e, fingindo estar emburrada, passei a preparar o arroz branco para acompanhar a costela, usando a parte do alho frito que havia reservado para cozinhá-lo com uma primeira água fria. Quando tampei a panela, voltei a brigar pela minha latinha, inexitosamente outra vez. Depois de um tempo, eu já cansada de tanto competir, comecei a choramingar:

- Poxa… Para! Já bebi um pouco mesmo... Amanhã eu volto a tomar o remédio.

Ele olhou para todos os lados e me encarou, pela primeira vez, com uma seriedade que me fez ter um gostoso arrepio:

- Te dou todas as cervejas que você quiser, se você me der um beijo novamente. - E tocou os próprios lábios com o indicador.

- Chantagem, Marcos!? Que coisa mais feia…

- Seria chantagem se você também não quisesse, mas tenho certeza que você quer tanto quanto eu. Talvez até mais…

- Convencido! Foi só um selinho de gratidão. Achei que merecia algo mais especial que um beijo na bochecha por ter me salvado naquele dia. - Fingi.

Ele colocou a latinha sobre a ilha e eu a peguei, triunfante, mas quando olhei para ele, pensando em brincar novamente, vi que ele me encarava, e mais sério ainda, compenetrado, imponente, impositivo. Passou a se aproximar lentamente e cada vez mais de mim. Tomei um gole da cerveja e esse desceu quadrado, triangular, pontiagudo e arranhando todos os lados até atingir meu estômago como um tijolo. Eu fui me recolhendo “de fasto” e encostei a bunda na pia da cozinha. Ele me prensou e me segurou pela cintura para que eu não pudesse fugir pelos lados:

- Marcos, não faz isso… - Pedi sem a menor intenção de ser convincente.

- Diga que não quer e eu paro! - Ele levantou meu rosto, fazendo-me encará-lo: - Mas diga isso, olhando nos meus olhos.

Comecei a tremer. Apesar de eu não saber exatamente se queria um novo relacionamento pelo medo de ser traída novamente, um beijo certamente eu queria e muito. Ele se aproximou mais de mim e comecei a ouvir sua respiração forte e ansiosa, sentindo também seu hálito perfumado e quente perto de meus lábios. Fechei meus olhos. Seus lábios tocaram os meus e abri levemente os meus, me entregando de vez e esperando que ele me tomasse ali, mas aí a campainha tocou, nos assustando. Ele me encarou e eu a ele:

- Salva pelo gongo! - Brinquei, sentindo minha face arder.

- Só adiamos um pouco. - Ele cochichou no meu ouvido, enquanto a Fátima passava do nosso lado, vinda sei lá de onde, nos encarando ainda quase grudados um no outro: - Hoje, você não me escapa.

Ele se afastou e eu fui pegar uma cerveja na geladeira, tentando me acalmar. Eu abri a lata e dei uma bela golada. Eu ainda tremia! E ele me encarava como um lobo. Aliás, ainda tremendo desliguei o arroz e o deixei reservado para finalizá-lo depois:

- LELINHO!!! - Ouvi a Fátima praticamente gritar na porta do apartamento.

- Fala, Fatinha. Rebola pra mim, mulata. Balança o bumbum. Vai, vai, vai, vai… - Alguém falou.

- Sossega, seu abusado! - Ela reclamou, rindo alto.

Logo, um cara alto, tanto quanto o Marcos, bastante parecido fisicamente com ele inclusive, entrou no apartamento e, ao vê-lo ali na região da cozinha comigo, veio rápido e rasteiro cumprimentá-lo:

- Fala, Quinho. - Disse e o abraçou: - Cê sumiu, caralho!

- Tudo bem, Lélio? É só a correria do dia a dia. Estamos precisando tomar umas cervejas para pôr o papo em dia mesmo. Ah, deixa eu te apresentar: essa aqui é a Annemarye.

- Ah, a agregada! - Falou, enquanto se aproximava para me beijar a face, infelizmente a machucada: - Sou Aurélio, Lélio, Lelinho, você é quem escolhe.

- Ai! - Gemi ao contato mais forte.

- Orra! Nem sou tão gostoso assim para você gemer ao primeiro contato, meu! - Falou e piscou um olho para mim.

Quando eu coloquei a mão na face e minha expressão denunciou a dor que estava sentindo, acho que ele se tocou e lembrou o porquê de eu estar ali:

- Desculpa! Eu tinha esquecido. Te machuquei?

- Não. Tá tudo bem. Já vai passar. - Falei e encostei a latinha no rosto.

- Vai com jeito com ela, cara! - Marcos veio ficar do meu lado, olhando para meu rosto enquanto eu segurava a latinha.

- Tudo bem, Marcos. Tá tudo bem. - Insisti: - Já vai passar.

Nisso, a dona Eugênia, sorridente e carente, típica de uma mãe saudosa, chegou e foi cumprimentar seu outro filho. Vendo depois que eu e o Marcos estávamos quietos na cozinha, estranhou e perguntou o que havia acontecido. Marcos explicou e ela deu aquela típica “comida de toco” de uma boa mãe raiz. Depois de um sermão que parecia não ter fim, finalizou:

- E vê se toma cuidado com ela, menino! Ela ainda está se recuperando.

- Eu esqueci, mãe. Não foi por maldade. Só quis dar um beijo e ser simpático. - Ele insistiu.

- Está bem! - Ela disse e veio em minha direção: - Tá tudo bem, querida?

- Tá sim. Não foi nada, não.

- Estão vendo? - Voltou a se aproximar de mim: - Vem cá, agregada. Me dá um abraço…

- Não chame ela desse jeito, Lelinho! Ela é minha convidada… Mais que isso, ela é minha amiga e não quero que a trate dessa maneira. - Dona Eugênia o repreendeu novamente.

- Orra, mãe! Só tô brincando com a moça. - Me encarou agora: - Posso te dar um abraço, pelo menos?

- Pode dar até um beijo na bochecha, mas desse lado. - Indiquei o lado contrário ao machucado.

Ele então me cumprimentou novamente e agora não causou estrago algum. Bem… Nenhum fora um certo clima estranho que se instalou entre ele e o Marcos, com a mineira bem no meio dos dois irmãos. Voltei a beber minha cerveja e encarei a dona Eugênia que entendeu no ato minha mensagem subliminar, levando o Aurélio consigo, dizendo querer “colocar a conversa em dia”. Marcos ainda o encarava de uma forma meio estranha quando ele foi se sentar no sofá com ela:

- Psiu! - Chamei sua atenção para mim e balancei levemente a latinha em sua direção: - Cerveja?

Ele sorriu e passou a bebê-la comigo, enquanto eu aguardava o tempo de cozimento da costela. Algum tempo depois, meu celular deu-me o sinal de que o tempo do cozimento havia se completado. Desliguei a panela e, enquanto esperava a pressão acabar, coloquei mais uma leva de água fria no arroz para terminá-lo:

- Não sei o que você tá fazendo, mas eu quero, hein! - Gritou o Aurélio do sofá: - Posso jantar aqui, né, mãe? O cheiro tá bom pra caramba...

- Não sei. Hoje, a Annemarye é quem comanda a cozinha. Ele pode, Anne? - Ela me perguntou.

- Uai! Pode, não pode? Claro que pode. Por que não?

Fátima veio ver como eu estava me saindo e sorriu, “torcendo o beiço”, ao notar que a doutora mineirinha bonita parecia mesmo saber cozinhar:

- Faz uma salada pra gente, Fátima? - Pedi.

- Faço. Que qui ocê qué? - Brincou comigo, forçando um mineirês chucro de interior.

- Simples mesmo. Alface, tomate e cebola bem fininha.

- Podexá, Aninha. Posso te chamar de Aninha, né?

- Claro que pode, Fátima. - Sorri e lhe dei um abraço.

Marcos se sentou na ilha, acompanhando nossa movimentação, mas sem perder o irmão de vista. Achei estranho. Na verdade, senti uma certa rivalidade entre eles, mas não quis me intrometer nesse assunto, afinal, ali, eu era somente uma hóspede e de problemas eu já tinha os meus. Passei a picar os dentes de alho restantes em lâminas finas e depois os fritei enquanto o arroz ainda secava, para utilizá-los como “crisps” sobre o arroz branco. A pressão da panela acabou e a abri, tirando um pedaço da costela para provar o tempero e o ponto da carne. Marcos continuava distraído:

- Psiu! - Falei com um pedaço da costela num garfo, chamando sua atenção para mim e mandando abrir a boca: - Bocão, vai!

- Hum… Hummmm! - Gemeu gostoso: - Caramba, Anne! Onde você aprendeu a fazer isso?

- Tá bom de tempero?

- Bom!? Melhor costela que já comi na vida. Desculpa aí, neguinha.

- Cheirosa tá mesmo. - Ela emendou.

- Ô, Fátima, desculpa. - Piquei um pedaço e dei para ela experimentar: - Vê se o tempero ficou bom.

- Hummmm! Delícia, menina. Bom demais da conta.

- Só vocês que vão comer? - Dona Eugênia brincou lá da sala: - Eu já estou ficando aguada com o cheirinho, Anne.

- O arroz já tá quase pronto. Marcos, você não arruma a mesa, enquanto a gente termina a salada e o arroz? - Pedi.

Ele balançou afirmativamente a cabeça e saiu em busca dos pratos e talheres, levando-os à mesa. Dona Eugênia veio ajudá-lo e o Aurélio veio bisbilhotar a costela:

- Eu não ganho um pedacinho? - Pediu.

Coloquei um pedaço num pratinho e dei em sua mão, fazendo com que me encarasse inconformado:

- O Marcos você tratou na boca…

- Ele salvou minha vida. Merece um tratamento mais, digamos, diferenciado.

- Deixa as duas terminarem, Aurélio. Sai daí! - Dona Eugênia o chamou.

O arroz ficou pronto e pedi que Fátima me arrumasse duas travessas para colocarmos o arroz e a costela. Feito isso, cobri o arroz com os meus “crisps” de alho e o levei à mesa. Voltei em seguida para buscar a costela e Fátima levou a salada. Aurélio já havia sentado à mesa, ao lado da dona Eugênia. Marcos voltou para buscar algumas cervejas e se sentou a uma cadeira de distância dela. Quando fui me sentar, Aurélio me convidou para ficar do seu lado, mas a dona Eugênia pediu que eu ficasse ao seu lado, entre ela e o Marcos, o que aceitei de imediato. Aliás, se ela não tivesse me convidado em sentaria ao lado dele de qualquer forma. A Fátima estava na pia lavando alguns utensílios e não me senti bem em vê-la separada de todos naquele momento, mesmo sendo a empregada da casa:

- Marcos, a Fátima não pode… - Cochichei e ele encarou a mãe que balançou positivamente a cabeça.

- Neguinha, vem comer com a gente. - Ele falou.

- Precisa não, Quinho. Como depois.

Ele olhou para a mãe e ambos deram de ombros, mas o Aurélio, me surpreendendo, foi até a pia e trouxe a Fátima pelo braço, colocando-a sentada junto à mesa, mesmo ela negando e se recusando. Depois ainda buscou prato e talheres para ela:

- Annemarye fez e será a primeira a se servir. - Decretou dona Eugênia.

- A casa é sua, dona Eugênia. - Falei, encabulada.

- Então, estou dando uma ordem. - Disse e riu: - Brincadeira, querida. Vai lá, vai.

Me levantei e fiz um prato bem servido e variado, entregando-o ao Marcos:

- Assim vou ficar mal acostumado… - Ele brincou.

- É para você ficar fortinho e não deixar ninguém bater em mim da próxima vez. - Retruquei, fazendo-o corar: - Desculpa. Piadinha horrível. Pesei à mão.

- Relaxa, caipirinha. Tá tudo bem. - Ele sorriu: - Pode até ter pesado a mão na piada, mas seu tempero está ótimo!

Todos se serviram e os elogios foram os mais eloquentes e variados, afinal, modéstia à parte, cozinhar era algo que eu gostava de fazer e fazia muito bem. O jantar seguia da melhor forma possível. Conversávamos sobre tudo e o Aurélio começou a monopolizar a conversa, curioso a meu respeito. Até aí tudo bem, afinal, todos tiveram a mesma curiosidade antes dele, mas a forma como perguntava, até dando pequenas indiretas mais íntimas, já estava me incomodando. O Marcos sentiu meu constrangimento e o repreendeu. Daí uma pequena discussão aconteceu e a surpresa acabou sendo toda minha:

- Porra, Marcos! Não sei o porquê de você ficar defendendo a Anne, cara. Ela já é bem grandinha, nem é sua namorada, mermão! Aliás, que eu saiba, você já estava quase noivo da Márcia, ou separaram e não fiquei sabendo!?

Um silêncio tomou conta da mesa naquele instante. Dava para ouvir as pessoas engolindo a seco as iguarias que eu havia preparado com tanto carinho. Me fiz de desentendida, mas acho que entendi bem o que estava acontecendo e não gostei “nadica de nada”! Pela primeira vez, desde que eu cheguei ali, me senti usada e justamente pelo Marcos, e a sensação foi horrível. Acredito que, por mais que eu tenha tentado disfarçar, meu desgosto ficou estampado no meu rosto:

- Ela está bem. - Respondeu o Marcos timidamente para ele: - Continua no Rio fazendo faculdade, mas está muito bem. Obrigado.

- E vocês ainda estão juntos ou já se separaram? - Aurélio insistiu.

- Estamos juntos, mas meio separados. É complicado…

- Esquecemos da sobremesa! - Dona Eugênia entrou no meio do jogo, chutando a bola para longe: - Fiquei tão absorta com o prato principal que esqueci de providenciar uma sobremesa para esse seu banquete, minha querida.

- Também esqueci… - Concordei e olhando para a travessa de carne quase vazia sobre a mesa, me levantei: - Vou pegar mais um pouco de carne para a gente.

Fui até a panela que apurava o caldo no fogo baixo, engrossando ainda mais aquela sopa de cebola em que a costela nadava e, distraída com tudo que havia ouvido, acabei encostando meu dedo na panela fervente:

- Ai, caramba! Hummm! - Falei alto e coloquei rápido o dedo na boca, chamando a atenção de todos: - Estou bem! Só queimei a ponta do dedo, gente. Só isso…

A dona Eugênia veio ao meu encontro e olhou meu dedo já se avermelhando. Apagou o fogo e foi me puxando pela mão:

- Vem. Eu tenho uma pomada para queimadura no meu quarto.

- Não precisa, dona Eugênia. Eu…

- Sem mais, nem menos. Vem comigo. Agora! - Me falou muito mais séria que o necessário.

Fomos até sua suíte e ela fechou a porta atrás da gente, indo até seu banheiro e retornando com uma caixinha de onde tirou uma pomada:

- A resposta do Marcos não foi completa. Você deveria ouvi-lo antes de tirar suas conclusões.

- Não tem nada… Eu… É… Eu não sei o que dizer.

- Sabe! Sabe e quer falar. Eu já te conheço um pouquinho, consigo ver no seu rosto que ficou chateada. - Falou enquanto passava a pomada no meu dedo: - Vocês tem algo muito especial e sabe muito bem do que estou falando.

Eu preferi ficar quieta do que continuar aquele assunto, mas ela continuou:

- A Márcia é uma moça muito inteligente e bonita, mas eu nunca senti neles a conexão que sinto entre vocês. Eles já chegaram a terminar e voltar várias vezes, parecem um ioiô. Acho que estão juntos mais por conveniência que por sentimento…

- Dona Eugênia, eu adoro a senhora, de coração mesmo… - Respirei fundo: - Mas se tem algo que nunca farei na minha vida é atrapalhar o relacionamento de outras pessoas como fizeram com o meu. Nunca!

Ela agora é quem me encarava triste e chateada com o meu semblante. Tentei animá-la:

- Não se preocupe. Está tudo bem. Vou sempre guardá-los no meu coração. - Forcei um sorriso, muito sem graça e comecei a falar algo mais para mim que para ela, mas que interrompi antes de terminar: - Ainda bem que a gente não…

- Que vocês o quê, minha filha?

- Nada, dona Eugênia. Realmente não foi nada. Não aconteceu nada. - E pedi: - Vamos voltar para a mesa antes que eles comam tudo?

- Vamos! Mas me promete que conversará com ele?

- Claro que sim! Estamos na mesma casa, dificilmente eu conseguiria me esconder dele, né? - Brinquei, fazendo-a sorrir agora.

Voltamos à mesa e Fátima já tinha providenciado o reabastecimento da travessa de carne. Voltamos a comer e conversar, mas eu já havia perdido o apetite e comi só mais um pedacinho de carne. Acabei ficando quieta, aliás, acho que me calei mais que o necessário:

- Tá tudo bem, Anne? Você ficou quietinha. - Marcos me falou.

- Ah… Acho que comi demais. Estou com “peso na consciência”. - Respondi, dando uma leve alisada na barriga.

- Não tem sorvete na geladeira, Fátima? - Dona Eugênia perguntou.

- Tem sim, dona Eugênia. Quer que eu pegue?

- Depois. Vamos terminar de comer primeiro.

Eles continuaram comendo, mas eu já estava satisfeita. Na verdade, insatisfeita, chateada e querendo ir para o meu quarto, me esconder embaixo do edredom, mas a boa educação me impunha permanecer ali. Foi a mão da dona Eugênia sobre a minha que me mostrou que meu silêncio já estava “dando na cara”:

- Bolo de caneca. - Disfarcei.

- Como, querida? - Ela me perguntou.

- Vou fazer uns bolinhos de caneca para comermos com o sorvete. É rapidinho, no micro-ondas… - Insisti: - Só preciso de ovo, farinha de trigo, fubá ou chocolate em pó, açúcar, óleo, leite e fermento.

- Você é advogada ou cozinheira, Anne? - Aurélio me perguntou, genuinamente curioso.

- Advogada por profissão e cozinheira por hobbie.

- Vai só dar trabalho para você, menina. Descansa um pouco… - Dona Eugênia me falou.

- Só não faço se não quiserem. É fácil e rapidinho.

Ela me encarou por um tempinho e depois se voltou para a Fátima que se atracava com um bem servido pedaço de costela:

- Fátima, você separa os ingredientes para ela?

- É pra já, dona Eugênia. - Respondeu ao largar o osso, indo rapidinho para a cozinha.

Pedi licença para todos e fui em seguida. Preparei a massa para três bolinhos, porque sabia que eles cresciam bastante e poderia dividi-los em seis partes. Coloquei as massas em três canecas de porcelana e elas no micro-ondas. Alguns minutos depois, estavam prontos. Deixei que esfriassem um pouco, enquanto a Fátima recolhia os pratos, talheres e utensílios da mesa e os levei em pratinhos para todos. Fátima veio logo depois com o sorvete. Passaram a comer com vontade novamente:

- Agora uma deliciosa guloseima!? Quem vai ficar mal acostumada assim, sou eu. - Dona Eugênia brincou.

- Não me viu fazendo brigadeiro de colher ainda… - Resmunguei, sorrindo com uma colher na boca.

Eles comeram e logo se deram por satisfeitos. Tentei ajudar a Fátima, mas a dona Eugênia me pegou pelo braço e me arrastou para o sofá:

- É rapidinho. Só vou ajudar… - Falei.

- Você vai ficar comigo. Por favor, fica pertinho de mim. - Ela insistiu e eu a encarei curiosa: - Você precisa de colo agora.

- Sabe que estou cansada mesmo!? Acho que o remédio com a cerveja não combinaram muito bem…

- Fica um pouco comigo. Depois você vai dormir.

Acabei me rendendo e nos sentamos num sofá. Os irmãos se sentaram em duas poltronas próximas. Ela foi dando um jeito de me empurrar para o lado e quando vi ela estava literalmente me colocando para deitar no seu colo. Eu a olhava e tentava resistir, mas ela me encarava e carinhosamente empurrava, indicando o caminho de seu colo. Acabei cedendo. Eles ficaram conversando assuntos de família e eu fiquei na minha, calada. Depois de um tempo, realmente comecei a ficar com sono e acho que cochilei mesmo. Acordei assustada com o Marcos tentando me pegar no colo para me levar para a minha suíte:

- Não. Não, Marcos! Pode deixar. Já acordei. Eu vou andando. - Falei.

- Eu te levo. - Falou.

- Não! Não quero. - Falei e já fui me levantando.

Dei um beijo de boa noite na dona Eugênia e me despedi dos demais formalmente, inclusive dele. Fui até a cozinha beber um pouco de água e dei um beijo na Fátima também, escancarando que eu não estava confortável com os dois homens da casa. De lá para minha suíte foi um pulinho e, pela primeira vez desde que chegara ali, tranquei a porta. Me joguei na cama de roupa e acabei chorando magoada com ele e comigo mesma por ter me deixado ser enganada novamente. “Poxa! Namorada!? Por que ele fez isso comigo? Aliás, como você fez isso com você, sua idiota!”, pensei, enquanto chorava baixinho para não alertar ninguém. Fiquei ali, deitada, chorando, me lamentando e, não sei a que horas da noite, ouvi mexerem na fechadura da porta, tentando abri-la, em vão. Ninguém me chamou e se tivesse feito, eu não atenderia, nem mesmo se fosse a dona Eugênia. Depois disso, dormi, aliás, cochilei, ou melhor ainda, rolei na cama fechando e abrindo meus olhos durante toda a noite. Uma noite que parecia não ter fim...

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.


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Comentários

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Caraca Mark,este irmão do Marco e um sem noção,deixou-o numa situação com Anne sem explicação,e logo após de tê-la pedido em casamento,coitada agora vamos ver qual será a explicação,bjs para os dois

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Bianca, minha querida, fico feliz que esteja curtindo.

Entretanto, não teve pedido de casamento algum ainda!

Talvez tenha no futuro, quem sabe...

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Mark, se é que vc já não escreveu mais para frente, seria interessante fazer um resumo da "ficada" dos dois protagonistas no exterior, como começou e porquê não foi para frente. Fiquei curioso. Torço para que os irmãos não disputem o amor da mineirinha... prefiro família unida e se apoiando. Apenas um gosto meu, mas sei que a história já está traçada. No mais, tudo perfeito!!!!!

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Haverá essa passagem, Alexandre.

Infelizmente, não posso me adiantar muito nos detalhes ou estaria dando um baita spoiler.

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Já imaginei que fosse Lélio o irmão o algoz da história, como pode na mesma família uma cara tão legal e outro tão abusado e babaca! Não seria surpresa nenhuma pra mim que tenha sido ele a tentrar entrar no quarto da moça!

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Não é a criação, mas sim a personalidade que os difere tanto.

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Putz... já estava amando o casal. Agora chega o irmão sacana pra atrapalhar. Pqp

Mark, sua escrita é foda, incrível como consegue transcrever tanto sentimento pelas mulheres que acabamos nos apaixonando por elas. Foi assim com a Nanda, está sendo assim com a Annemarye.

Um legítimo romântico e apaixonado pelas mulheres. Parabéns!

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Digamos que eu seja realmente um apaixonado por esses seres maravilhosos do sexo feminino que tanto me deslumbram e me deixam louco, pois a Nanda é um universo a parte.

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Essas coisas da vida que nos pega desprevenidos acabam com a gente, mais é vida que segue ne Mark párabens amigo nota mil só no aguardo parceiro.

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Valeu, amigo.

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O inimigo íntimo. Mas foi bom ele ter falado a respeito do namoro do Marcos.

Agora cabe a ele convencê-la da sinceridade dos seus sentimentos.

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Exatamente!

Ele pode ter sido indiscreto, mas não foi mentiroso.

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Estou com medo, será que a vida da linda e meiga ( como é o nome dela mesmo) Annemarye ( eita nome complicado) vai virar um inferno? Esse irmão veio pra atrapalhar o casal mais fofo do CDC. E eu achando que o cirurgião plástico que iria atrapalhar tudo.

Marcos você também deveria ter dito que tinha um rolo com alguém, isso foi muito feio.

Agora eu não posso deixar de dizer que dei muita risada, eu nunca imaginaria que entraria em um site de contos eróticos e pegaria uma receita de vaca tolada a mineira.

hhahahahaha quando fazer ela venho avisar se fiz certo mas como não sou um bom cozinheiro.....

Obrigado por essa obra prima Mark.

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Kkkkk. Bem isso Marcelo, até receita tem no conto. E isso, essa aproximação com o leitor, além do talento para escrever, faz com que o Mark esteja entre os autores que leio com muito entusiasmo. Sempre interagindo com os leitores de forma respeitosa e inteligente, mas com o toque da simplicidade mineira.

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Uai! E num é qui é, sô!

Brincadeira.

Grato pelos elogios, amigo.

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Grato, amigo.

Pode fazer a receita que dá certo. Eu adoro, aliás, todos aqui adoram.

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Primeira, de novo?

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Lélio... Isso cheira a problemas.

⭐⭐⭐

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Bem mais do que podem imaginar.

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Listas em que este conto está presente



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