Ruivo

Um conto erótico de Jader Scrind
Categoria: Homossexual
Data: 18/08/2020 00:58:34
Assuntos: Gay, Homossexual

RUIVO

Essa é a minha versão de uma lenda muito famosa.

1.

Por dentro da noite, o carro estacionara literalmente no meio do nada. Fazia parte de um longo trajeto que de tanto fazerem juntos, os dois já conheciam passo a passo: primeiro se desvia da estrada principal alguns quilômetros após o último posto de gasolina, entrando numa via de terra alternativa ladeada por arbustos agrestes; depois, até desse descaminho se afastam, testando a força dos pneus na poeira solta do chão do sertão; logo chegam ao pé da colina que desponta, íngreme, na imensidão solitária, e sob a sombra dela, desligam os faróis do carro e se misturam com a escuridão intercalada de vagalumes.

Arthur e Ruivo olham um para o outro enquanto o motor se aquieta, dando voz aos pássaros noturnos. Sorriem, os dois, tão sincronizados quanto os girassóis que se curvam às seis. Saem do veículo, sobem no teto, olhando para o céu que, apesar de poluído, afiava seus diamantes.

– Você ainda consegue ver as estrelas? – perguntou Arthur, absorto em pensamentos.

– Consigo – além da fina camada de sujeira, Ruivo podia sim enxergar os pontos brancos espalhados por todas as direções, não eram muitos, isso é verdade, apenas as estrelas mais brilhantes continuavam visíveis, e ainda assim pouco nitidamente. – Por quê? Você não?

– Não muito. Miopia, você sabe...

Das constelações prateadas, os olhos de Ruivo desceram para uma outra imensidão, a dos olhos do seu namorado, que ainda estava distante, fitando o céu. Seus dedos deslizaram pelas linhas suaves, relevos do rosto de Arthur. O outro também se voltou para ele, pegou a mão do mais velho nas suas, beijou. E Ruivo sentiu que não haveria nenhuma maneira possível de amá-lo mais do que o amava naquele instante.

– Sinto muito...

Arthur abriu um pequeno sorriso, na mesma medida que inocente, charmoso.

– Não é nada demais, hoje em dia quase ninguém no mundo consegue vê-las mesmo... que importa a razão, não é?

E então beijou o rosto cheio de pequenas sardas do Ruivo, escorregando para os seus lábios, a jornada das mãos, dos corpos.

– Me responde uma coisa, Arthur – disse ele dedilhando os fios do cabelo do namorado algum tempo depois. – O seu cabelo, castanho desse jeito, é herança da sua mãe?

Ruivo conhecia o pai de Arthur, seu Osmar, o dono daquele carro que pegara escondido, e também uma das pessoas mais importantes de Vila Alta, a cidade em que viviam, e com certeza não era dele que o rapaz herdara a cor do cabelo, uma vez que seu Osmar é negro.

– É sim. Os olhos também, e segundo meu pai, o nariz, a boca, as orelhas e a capacidade discutir por qualquer coisa...

Lá estava de novo o assunto que uma vez os aproximou: ambos órfãos, um de mãe, o outro de tudo.

– A senhora sua mãe ficaria muito orgulhosa de ver a cópia dela aqui no meio do nada com outro cara – brincou, para levar um soco de leve no braço.

– E você, nunca ficou curioso para saber dos seus pais, de onde você herdou o único cabelo ruivo num raio de mil quilômetros?

O Ruivo soergueu-se, sentando sobre a lataria que amassava de leve com o peso dos dois jovens.

– Você não sabia? Eu sou filho da floresta – falou, os dentes do lado direito perigosamente à mostra no seu sorriso malicioso. Ele sempre fazia essa piada, como se Arthur fosse acreditar algum dia numa crendice dessas.

– Engraçadinho...

Ruivo deitou-se sobre ele. E sobre tudo o mais, não houve palavras.

2.

Arthur amarrotava com força três ou quatro peças de roupa na mochila, revirava o colchão para tirar lá de baixo todo dinheiro que juntara na vida. Tentava abrir uma gaveta emperrada, força, força, raiva. Quando o ferrolho se partiu, ela foi lançada contra a parede mais distante. Ele sabia que se parasse, choraria. Mais coisas na mochila, apressado.

Osmar surgiu no quarto, assustado. Mas ele não precisou perguntar nada para saber o que estava acontecendo ali, conhecia muito bem o filho que tinha, e que Arthur não deixaria barato.

– O que está pensando em fazer?

– O que você acha, pai?

– Eu acho que você está de cabeça quente – mesmo quando eles se calavam não havia silêncio, a cidade rugia atordoada do lado de fora do quarto. – Arthur – o garoto continuava circulando pelo recinto, pondo o que pudesse ser útil na mala. – Arthur! Me escuta! Olha para mim! Você tem que ter alguma ideia, algum plano. Ou você acha que vai chegar lá, a dois mil quilômetros, enfrentar a porra do Exército sozinho e trazê-lo de volta?

Osmar se aproximou do filho, segurou-o pelos ombros.

– Você está me escutando, Arthur?

O garoto parou, os olhos pela primeira fixos nos do pai. Pouco a pouco, a raiva foi se transformando em dor na fisionomia do filho. Pouco a pouco, o nervosismo foi se transformando em compreensão nos olhos do pai. Pouco a pouco, os dois se abraçaram.

– Eles o levaram. Eles levaram o Ruivo... – as defesas ruindo na represa do rapaz, droga, Arthur jurou que não iria chorar.

No meio do abraço o turbilhão foi refreando, as coisas voltando para o seu lugar, Arthur lembrando do que acontecera algumas horas antes, e que parecia ter sido há dois minutos.

Quando eles foram embora não restou porta com ferrolho, não restou janela com vidros intactos, não restou cama ou armário que não tenha sido vistoriado. Os tanques chegaram no meio da noite, imponentes como rochas que rolam a montanha. Os soldados em marcha, os rifles em riste.

A cidade sabia o que era aquilo, todos foram previamente avisados pela TV. Eles chegavam sem trocar uma palavra com a população, em nome do Estado, em nome daquela tal ordem, daquele tal progresso. Vistoriavam as casas, principalmente essas das pequenas cidades do Norte e do Nordeste, e levavam algumas pessoas com eles. Os negros e ruivos, principalmente. Ou qualquer um em quem pudessem pendurar a culpa pelo que vinha acontecendo.

Se fosse de um dia para outro, o absurdo da situação chocaria a todos, mas tudo acontecera de maneira gradual, tão lenta que ninguém percebeu o aumento do calor da água que agora fervia.

Primeiro a chuva parou de cair em qualquer canto do país, quinze, vinte dias e todos diziam que era normal. Depois do primeiro mês, as vozes oficiais do governo começaram a criar teorias sobre o que causava aquilo. As respostas, mesmo as que muitas vozes importantes defendiam nas grandes redes sociais, não respondiam à questão, não faziam a chuva voltar. Dois, três meses, e o desespero fez até algumas pessoas taxadas de exageradas quererem de volta os antigos modelos de informação, baseados em ciência. Mas isso era coisa do passado, não se encaixava ao país atual.

Buscou-se a resposta primeiro na Bíblia, mas de nada adiantou o jejum, as incontáveis orações. Oito meses sem chover e os vastos campos de soja definhando exigiam uma resposta mais urgente, de preferência, uma que não incluísse o fato de já não existir floresta no país.

Se a resposta não veio de Deus, ei-la ao Diabo. Se falava da maldição que assolava o território nacional, as tais religiões de origem afro-brasileiras, as tais crendices indígenas e qualquer traço de cultura que fugisse da regra descrita no livro santo do novo Brasil devia ser censurada, proibida, silenciada, e só então Deus voltaria a abençoar a terra e a chuva voltaria a cair sobre as cabeças de todos, homens, bois e campos.

Depois de um ano sem uma gota de água cair do céu, as coisas se tornaram mais ferrenhas. Não se falava mais em silenciar, mas em exterminar. Dizia-se que algumas regiões no interior do Brasil ainda acreditavam em certas manifestações demoníacas, Saci, Iara. Essa era a razão da chuva que não vinha.

O surreal virou a nova verdade, isolados sob aquele céu enevoado de sujeira e presos a uma internet que só funcionava dentro das fronteiras da grande nação, acima de todas as outras.

Naquela região da cidade de Vila Alta entre os mais velhos ainda eram correntes as histórias sobre certas entidades que nasciam na floresta, cuidavam dos rios e até controlavam as nuvens de chuva. A maioria das pessoas ouvia as histórias e só sorria em condescendência, até porque, como Arthur bem sabia, não passavam de lendas, histórias da oralidade para ensinar as crianças que deviam se manter afastadas das antigas florestas.

Mas como explicar isso para as tropas que varreram, cidade após cidade do Brasil profundo, todo homem que fosse conhecido por contar uma história dessas, toda mulher que pudesse ser meramente confundida com a rainha dos rios, do menino negro com a risada alta que alguns diziam ser manifestação de Exú ou Saci, e que dirá então, do rapaz ruivo que a cidade toda falava que fora abandonado pela mãe desconhecida por entre as copas das árvores.

A loucura ditava as regras, e tinha mão pesada. Arthur sabia que precisava fazer alguma coisa, que aquela histeria coletiva levaria Ruivo à morte. Quanto tempo até o governo decidir que sacrifícios seriam necessários para que a chuva voltasse, que sangue precisava ser derramado?

– Pai, eu tenho que ir.

Osmar não soltou do abraço logo de início. Os músculos sempre teimam. Mas Arthur tratou de se desvencilhar dele, precisava se apressar, cada segundo era tão precioso quanto água.

Afastou-se enquanto falava, indo na direção da estante na sala de estar.

– Cadê a chave?

Osmar não respondia, a mente com milhões de ideias girando em turbilhão. Arthur emendou:

– Você não pode me impedir de ir. Se não me der a chave, vou arranjar outro jeito, mas você sabe que vou atrás deles.

Frente a frente, mesmo com a diferença de idade, eram inegavelmente iguais, duas silhuetas com a mesma altura contra a luz poeirenta que vinha da janela, ambos lutando para proteger as pessoas que mais amavam.

– Ca-dê-a-cha-ve?

Osmar levantou a mão, por entre dois dedos, o molho prateado tilintava. Arthur tentou puxar, mas seu pai ainda o segurava com força.

–Eu vou tirá-lo de lá.

Osmar, com seus grandes olhos fixos no filho, fechou a mão, escondendo outra vez os metais brilhantes por entre os dedos.

– Não. Nós dois vamos tirá-lo daquele lugar.

3.

As folhas primeiro balançavam, num farfalhar que os mais antigos diziam ser o suspiro da árvore que mata a sede, depois pesavam com as fartas gotas de chuva e, pouco a pouco, deixavam escorrer por entre seus galhos a água corrente, como veias de sangue transparente, se espalhando, vivíssimas, pela madeira da árvore. Quando passava do segundo dia de chuva, toda a vastidão marrom se preenchia de um verde intenso, vívido, e era quase palpável a maciez da vida nas plantas que renasciam.

Era um costume muito antigo, em dias assim, homens e mulheres se embrenhavam na mata, cuidavam das plantas que de tão pequenas não recebiam sua porção de chuva, limpavam os caminhos secos que logo voltariam a verter seus riachos, abrigavam sabiás e araras desacostumados com o escorregadio sabor da época chuvosa. Uma das mulheres mais velhas a praticar esse costume era Dona Aparecida, a parteira mais requisitada do local. Ela sabia muito bem onde a água entrava com mais intimidade nos sulcos da terra e que no futuro seria o lugar ideal para fazer poços cartesianos, sabia das árvores mais frutíferas que de tão carregadas, derrubavam seus cajus e carambolas, além de muitos segredos da floresta.

Foi ela quem tomou o caminho mais longo, mais de trezentos metros para dentro da mata, sem guarda-chuva nem capa, deixando-se encharcar sem medo. Foi ela quem ouviu então o pequeno ruído, insistente, agudo, e foi se aproximando, guiada pelo som. Até que já não era mais só um ruído, era alto, mais forte que trovões, como se viesse de muito perto, acobertado pelas folhas do chão sob os pés descalços de Dona Aparecida.

Até que ela finalmente achou a fonte daquele barulho, dentro de um tronco grosso como se fosse uma toca, um abrigo, o menino chorava. Ele era tão indefeso que qualquer outra pessoa pensaria ser impossível estar vivo ali, ao ar livre e sob a chuva forte, mas ela não se surpreendeu por nenhum instante. Pegou-o com cuidado nos braços, acalentou-o contra o peito – Shiuuu... shiuuu... passou... passou... – até que parasse de chorar, e seus bracinhos envolvessem o corpo dela.

Quando ela voltou para a Vila, a notícia se espalhou mais depressa que as garras dos raios no céu. Uma criança abandonada na floresta. A casa de Dona Aparecida nunca vira tantos visitantes, curiosos como se em romaria. O que mais se ouvia era sobre a insensatez de uma mãe que tivera a coragem de fazer uma coisa dessas, abandonar um bebê para a morte na mata daquele jeito.

Mas o que não se falava em voz alta, mas que ficava facilmente subentendido, era que não havia nenhuma mulher grávida na vila, a cidade mais próxima ficava a muitos quilômetros dali, e aquela criança, mesmo ainda bebê, não deixava dúvidas de que os poucos cabelinhos eram vermelhos, radiantemente vermelhos.

– Posso pegar no colo, Dona Aparecida? – uma das mulheres mais jovens pedia. Várias delas, na verdade.

Balançavam um pouco o bebê, fingiam brincar com ele, de apertar a barriguinha, a mãozinha, mas no fundo, todos sabiam que elas só estavam interessadas em ver os pezinhos, que felizmente eram normais, e não voltados para trás.

4.

Era tanta poeira que a palheta estava ligada, limpando o parabrisa do carro no meio da ventania seca. Arthur sabia que se olhasse para cima, ainda veria as marcas no teto do carro, a lataria um pouco amassada do lado de fora como recordação daquelas noites em que passavam se amando sob as estrelas, e um lembrete do que Arthur estava indo fazer naquele dia.

As vilas e cidades naquela região ficavam separadas por vastidões de deserto, onde as vezes se levantavam verdadeiras monções de poeira, quase como as tempestades do Saara. Alguns povoados restaram apenas nas poucas casas abandonadas, esperando o dia de serem engolidas pela terra. Outras resistiam com pouquíssimos habitantes, desde que a chuva parou de vez, viver em certos lugares naquela região se tornara insustentável.

Osmar dirigia desde o início da tarde, e trocariam de turno dali a pouco, quando o sol se pôr sob as altas montanhas. Devido a absoluta monotonia da paisagem do lado de fora, pai e filho não tinham muito assunto para conversar. Primeiro porque buscavam evitar puxar a tromba do grande elefante no recinto, o que fariam quando chegassem em Segunda Brasília, a capital do país desde que fora ordenada a destruição da anterior? Segundo porque também não era uma opção falar do clima, afinal, fazia mais de um ano que ele não mudava.

Arthur recostava a testa no vidro do carona, não propriamente olhando para fora, mas era outra coisa, como se olhasse além, para dentro de si mesmo.

– A gente precisa reabastecer – avisou o pai, diminuindo a velocidade.

Ele saiu do carro, dirigindo-se para o porta-malas. Arthur saiu também, fazia horas que não esticava as pernas. Pensou em ajudar o pai com o pesado tonel de gasolina, mas Osmar pediu para que voltasse para dentro. O garoto não entendeu de primeira, e nem obedeceu a ordem, mas foi só quando chegou na traseira do veículo que compreendeu o motivo: dentro do porta-malas, ao lado dos grandes recipientes de combustível, havia duas grandes armas com seus canos apontados para a escuridão do início da noite.

– Que merda é essa, pai?

Osmar permaneceu em silêncio, pegou a gasolina e começou a encher o tanque.

– Onde você conseguiu isso?

– Na primeira loja em que passamos.

Encheu o tanque, guardou as coisas e bateu o porta-malas com mais força do que faria normalmente.

– A gente vai precisar daquilo.

Osmar sempre fora completamente contrário às armas, e assim ensinara o filho a ser. Esse foi o principal motivo do choque de Arthur ao ver aquilo justo no carro do pai. Era um paradoxo que ele sabia que o velho Osmar, sempre tão calado, vinha enfrentando esse tempo todo e agora ele mesmo precisaria enfrentar também, porque Arthur entendia os motivos do pai, e entendia que quando chegassem lá alguma coisa precisaria ser feita. Talvez, quando chegasse a hora, para salvar Ruivo, outro sangue precisaria ser derramado, e ele tinha que começar a entender isso.

A noite engoliu os tons de marrom da paisagem ao redor, tornando tudo cinza azulado. Agora o filho era quem dirigia por detrás dos imensos cones de luz dos faróis.

– Arthur, você quer falar alguma coisa sobre as armas?

– O que eu falaria? – havia um constrangimento confuso entre eles, os atos de Osmar eram justificados pelo momento, mas ao mesmo tempo, mudava em alguma medida a imagem que Arthur tinha dele. Quando a vida precisou se travestir de filme de ação?, o garoto pensou. – Você sabe usar aquelas coisas?

– Vieram com um vídeo informativo...

No silêncio que se seguiu, até a poeira que chicoteava o carro se fazia presente.

– Pensei que você nunca tocaria no gatilho de uma arma – sua voz abaixou dois tons, sem querer soar desrespeitoso, mas dizendo o que sentia que precisava ser dito – Depois do que aconteceu com a mãe.

Arthur não olhou para o lado, mas sabia que os olhos de seu pai pesavam sobre seus ombros. Depois se voltaram para frente, ambos testando até que ponto eram capazes de se magoar mutuamente enquanto buscavam as palavras corretas.

– Eu te passo o vídeo depois – Osmar se limitou a dizer.

Abriram dois dedos da janela, deixando o ar mais fresco entrar. Arthur sabia que seu pai estava certo, que apesar de todos naquela família terem jurado que nunca usariam uma arma e correr o risco de atirar num inocente, também sabia que aquela jornada em si era uma grande concessão em qualquer princípio que pensassem ser perenes, tanto no pai, que estava disposto a atirar em alguém mesmo depois de ver a esposa sendo morta por uma bala perdida quinze anos antes, quanto no filho que estava seguindo para o que talvez fosse a sua morte mesmo depois de ter jurado ao Ruivo que se manteria em segurança.

Todas as provas de amor têm seu quê de chama acesa, ao mesmo tempo que aquece, fere.

Arthur sabia que devia agradecer ao pai, mas também que era incapaz de fazer isso, simplesmente aceitar o quanto o velho Osmar estava sacrificando a si mesmo por ele, porque parecia injusto demais e não fazia ideia de como aliviar isso, a culpa.

Então, o garoto se limitou a acenar com a cabeça, concordando, enquanto seu smartphone baixava o vídeo intitulado “estourando melancias com uma bala só”.

Lá fora, para além da estrada, o céu opaco era povoado por figuras surreais nas nuvens de poluição.

5.

Apesar de tudo, do fato de ter perdido sua mãe de criação ainda na infância, ter se tornado órfão e diferente de todos ao redor, Ruivo não podia dizer que se sentia abandonado. Todos em Vila Alta cuidavam do menino desde seus oito anos, quando Dona Aparecida, já com uma idade bem avançada, acabou falecendo.

Na adolescência as coisas ficaram mais claras para Ruivo, a história de como fora encontrado na floresta nunca foi um segredo entre a comunidade, o próprio Ruivo cresceu sabendo que a sua aparência física não se encaixava na de Dona Aparecida, nem na de ninguém mais que conhecesse, os olhos verde e mel se tornaram mais acesos com o passar do tempo, assim como vermelho dos fios de cabelo ficaram cada vez mais profundos.

Muitos faziam piadas com a antiga história de ele ser filho da floresta, aconselhavam os mais novos a não provocar o pequeno ruivo, se não ele podia aprontar uma das suas traquinagens durante a madrugada, como se o garoto fosse levantar no meio da noite para fazer seja lá o que consideravam ser essas tais traquinagens.

Na maioria das vezes ele levava com bom humor o que as crianças diziam, o que o magoava mesmo não eram as piadas de alguns, que visivelmente não acreditavam naqueles boatos, mas sim a maldade e o medo de outros, os que acreditavam – aqueles que desviavam o olhar quando ele passava, faziam sinal da cruz quando ele se aproximava rápido demais, não por ignorância, mas por preconceito. Na verdade, Ruivo sempre lutava para distinguir quem eram as pessoas que o ajudavam por gostar dele, e as que o ajudavam por temê-lo.

A única exceção era Arthur.

Desde que começaram a ser amigos, ainda na pré-adolescência, Arthur era a pessoa que Ruivo mais confiava. Brincavam juntos pelos galhos secos da floresta, que naquele tempo já existia apenas como um punhado de esqueletos de madeira, dormiam na casa um do outro nos fins de semana erigindo fortalezas de lençol contra os exércitos inimigos de Max Steel dirigindo carros à controle remoto. Trocaram suas primeiras confidências quando chegou o tempo dos segredos e das espinhas.

– A Bruninha gosta de você, Ruivo. É só ver o jeito que ela te olha...

– Mas eu não sei se gosto dela.

A lanterna na mão de Arthur saiu do teto do forte, e foi na direção do rosto do amigo, que parecia mais corado, os tons de vermelho se sobressaindo uns nos outros.

– E tem alguém de quem você gosta?

– ...

– Ruivo?

– Ter, tem, mas eu não sei se a pessoa gosta de mim também, do mesmo jeito.

A pessoa. O gênero indefinido que sempre foi a chave do segredo de certos meninos. Arthur pegou aquela chave, girou primeiro uma vez na fechadura, hesitante, temendo ter compreendido errado as senhas.

– Como a gente faz para saber se é correspondido ou não? – Ruivo perguntou, os olhos meio abaixados, um pouco envergonhado, um pouco tímido, extremamente adorável aos olhos de Arthur.

O filho do seu Osmar se ergueu, ficando sentado no castelo de lençóis, olhando de cima para o outro, que parecia cintilante de tão vermelho assim sob a luz da lanterna.

– Eu não sei... acho que tem alguns sinais.

Ruivo olhou para cima, encarou-o de volta ao notar que não estava sendo rejeitado ou repelido pelo que vinha tentando dizer, ao contrário. Talvez, talvez, talvez, fosse reciproco.

– Continua...

– Se você se aproxima da pessoa, puxa assunto com ela e a conversa bate, sabe? Os assuntos vão fluindo sempre...

Check.

– Que mais?

– Se a pessoa sorri pra você... um sorriso não educado, mas aquele outro tipo de sorriso, de felicidade mesmo, sabe? – Arthur falou isso e a voz tremeu um pouco, nervoso também, e ele percebeu, e percebeu que Ruivo também percebeu, então ele sorriu, desconcertado. Exatamente aquele sorriso.

Check.

– Hmm, entendi... Que mais?

– Ah, eu não sei... se todos esses sinais apareceram, você devia perguntar para a pessoa... saber dela se ela também gosta de você desse jeito...

Ruivo também soergueu a coluna, ambos sentados no pequeno espaço, frente a frente, as coxas em contato mesmo com o tecido fino das roupas de dormir.

– Arthur... e se eu te disser que queria saber de você. Que queria saber se você gosta de mim desse jeito... se você sorriria para mim assim...

A última frase por pouco não ficava interrompida, porque logo depois de sair a última sílaba os lábios de Arthur se tocaram aos de Ruivo, calmamente naquele primeiro momento. Visto de fora do castelo de lençóis era até bonito, as duas sombras se beijando sob a luz da lanterna, como se a partir daquele momento fossem uma coisa só.

Poderia ter acontecido antes, afinal, nenhum dos dois vivia em lares preconceituosos, mas havia medo, um medo maior que vinha de muito longe, de outras famílias que nunca chegaram a conhecer pessoalmente, mas que comandavam as coisas no país e não gostavam nada daquilo, pessoas se beijando. No entanto, não era o caso de falar sobre eles, de sequer pensar neles. Tudo se encaixou perfeitamente bem. Girou de novo, agora com mais força, duas, três vezes, até que o cadeado deu seu click. E foi assim, simples e verdadeiro como os não ditos que sempre aproximaram os dois amigos.

Desde então, namorados.

Osmar sempre gostou do Ruivo, talvez pela proximidade que tinha com Dona Aparecida, a parteira que auxiliou sua esposa a dar à luz a Arthur, mas também porque ele era um bom rapaz e que passara por muitas coisas na vida, o que era visível no seu olhar. Havia uma humanidade intensa no olhar do garoto ruivo, uma sinceridade que Osmar reconhecia nas pessoas cujo caráter fora bem forjado pelo mundo.

Quando o filho lhe contou do namoro não ficou surpreso, na verdade o que surpreendera mesmo era o que vinha sendo manchete no noticiário nos últimos tempos, a última parte da floresta fora queimada, e a data foi transformada em feriado oficial como comemoração. Também as primeiras notícias sobre ataques a religiões afro-brasileiras, a criminalização de cerimonias indígenas, a proibição das lendas brasileiras nas escolas do primário.

– Pai, me empresta o carro essa noite?

– Arthur, eu prefiro que vocês não saiam sozinhos desse jeito da Vila. Você sabe o que anda se espalhando por aí, que eles estão levando pessoas suspeitas para serem interrogadas, e elas não voltam mais. E eu sei que isso é uma bobagem, mas se eles vierem para cá, com certeza alguém vai contar do Ruivo, tem gente que acredita nessas coisas...

– Eu sei, pai, mas a gente só vai andar um pouco, não vai acontecer nada...

Osmar não respondeu o que era um sinal de que não ia insistir naquela discussão, tampouco atender o pedido do filho.

Mas claro que os vídeos sobre como fazer ligação direta estavam disponíveis na internet, e Arthur sabia muito bem como usá-los.

Quando os tanques chegaram perfurando a noite, Osmar pegou de um armário discreto algumas mochilas que estavam a postos para o caso de seu filho ter que ir embora com o namorado, mas qual foi a surpresa em ver que a cama de Arthur estava vazia, do carro no quintal, restaram apenas as marcas do pneu.

Foi o dono do posto de gasolina que contou para os soldados a história do garoto ruivo que acharam na floresta, e onde ele costumava passar a noite com o namorado.

6.

Quando principal símbolo de força de um governo é um grande e intransponível muro, sabemos que alguém tem medo do que está do lado de fora, então o que dizer das enormes muralhas que cercam Segunda Brasília, a capital brasileira erguida às pressas depois que o governo extinguiu as eleições. Ninguém não-credenciado entra nas dependências do lugar, e para ser sincero, nada se sabe sobre o que existe dentro daquelas quatro paredes de concreto reforçado.

O carro de Osmar parecia minúsculo ladeando essa estrutura colossal, o que também era um ponto positivo, havia alguns postos de vigilância onde soldados esperavam que alguma coisa se movesse para atirar, mas todos muito distantes um do outro.

Osmar desceu do carro e pediu para que Arthur o esperasse no veículo enquanto ele falava com o soldado no posto de vigilância. O rapaz não conseguia ouvir o que os dois conversavam, para falar a verdade não conseguia ver quase nada em meio a tempestade de areia que castigava aquela região também. Depois da longa viagem, o sol já estava a pino outra vez, e alguns pontos do horizonte dançar em ondas de tanto calor.

Quando Osmar voltou, ele foi direto em sua afirmativa:

– Estamos autorizados a entrar. Quando passarmos pelo portão, não olhe para o soldado, não diga uma palavra. Ser conseguir, pareça desesperado.

– Não vai ser preciso muito esforço.

O carro passou lentamente pelos portões, e o soldado quase enfiou a cara dentro do veículo, de tanto que encarou os dois. Arthur não queria olhar no seu rosto, evitando qualquer suspeita, mas ele percebia que não era meramente observado. O soldado parecia entre enojado e debochado ao vê-lo, e isso o incomodaria mais se não estivesse a cada segundo mais próximo do seu namorado.

– O que você disse a ele para entrarmos? – perguntou, quando já estavam a uma distância segura.

– Disse que sou caçador de recompensas e trouxe um homossexual para eles.

– O QUÊ?!?

– Arthur, era preciso. Você sabe que eles trazem para cá...

– Meu Deus, pai. Que desgraça de lugar é esse? Que tipo de gente é essa?

– Uma gente que é tão cega de ódio que nos deixou entrar sem nenhuma revista. Se você pensar no Cavalo de Troia é até simbólico...

O interior da cidade lembrava um grande quartel, suas edificações retangulares e protegidas, seus jardins baixos e visivelmente de grama falsa, uma vez que nada brotava com tamanha seca, seus pelotões de homens fardados marchando em grupos cerrados de lá para cá.

– Ali, “Centro de Detenção” está vendo, pai? É ali que eles devem mantê-lo preso.

– Algum plano?

– Para o carro e faz tudo que eu fizer...

E então aconteceu, tão depressa quanto a nova nuvem de poeira que chegou com força e encobriu a tudo da maneira que já era habitual. O carro freou na frente do tal centro de detenção. O rapaz desceu, abriu o porta-malas e pôs sobre os ombros os cintos das duas grandes armas, enquanto enchia o elástico da calça com pistolas menores, vendo que o pai fazia a mesma coisa ao seu lado.

Quando eles seguiram para dentro do edifício, Arthur não pensou se era ou não um bom plano, se iria morrer ou sair ileso daquele lugar, se as centenas de soldados os fuzilariam na primeira tentativa. Ele não pensava em nada propriamente enquanto gritava na entrada que aquilo era uma ordem, que queria todo mundo no chão, que queria chegar onde ficavam os detentos. Ele pensava em imagens, em recordações, a sua mão cavando veredas no cabelo ruivo, a luz do sol gerando reflexos ardentes naqueles olhos verde e mel, a boca semiaberta enquanto o Ruivo gemia a um passo dos orgasmos e eles transavam a céu aberto no teto do carro. Era nessas coisas que ele pensava quando atirou no primeiro agente do governo que tentou impedi-los, um disparo bem no peito que o fez ser lançado a metros para trás.

– Eu não estou brincando! Eu mato todos vocês se for preciso, eu destruo esse lugar inteiro se ninguém me disser para onde ir! – lembrava de ter dito até que uma mulher apontasse a direção e jogasse um molho de chaves na sua direção. Mas lembrava de ter dito porque no fundo no fundo sua mente estava longe dali, estava nas tardes em casa, em que passavam horas com o FIFA pausado no videogame e se emaranhavam um no outro no sofá, beijando, lambendo, apertando, amando um ao outro e depois só conseguiam respirar pesadamente enquanto relaxavam o corpo e sorriam por dentro do abraço depois da gozada maravilhosa, sem a menor vontade de saber se o Barcelona venceria ou não o Flamengo.

Vermelho, tudo ficou vermelho no corredor, alguém com certeza disparou algum alarme em algum lugar, logo todos estariam ali e seriam muitos mais que os cinco ou seis soldados que pai e filho tiveram que atirar antes que fossem atingidos, logo estariam cercados, mas Arthur não pensou em nada disso e continuou abrindo cela após cela que encontrava pelo caminho, mesmo que não fosse do seu namorado, cada uma daquelas pessoas era o namorado de alguém, o amor de alguém, e todos presos por alguma diretriz tão irracional quanto a que prendera seu Ruivo.

– Arthur? – A voz o trouxe de volta a aquele momento, a aquele lugar. A voz que tanto reconhecia.

Correu até a cela do fim do corredor, mesmo que ainda não conseguisse ver o rosto do prisioneiro, sua mão por entre as grades já era mais que reconhecível, o braço com os pelinhos vermelhos.

– Ruivo! – as lágrimas fervilhavam, mas não podia chorar agora. – Eu vou te tirar daqui, amor, eu vou te tirar desse lugar...

Apesar de nervoso, conseguia com algum esforço por as chaves uma a uma na fechadura da cela, mas nenhuma parecia destravar aquele maldito ferrolho. Havia cada vez mais gritos ao longe, os soldados que se aproximavam.

– Vai, filho. Depressa!

– Eu não tô conseguindo... Não abre!

Osmar foi mais pragmático naquele momento, pediu para que os dois se afastassem, e disparou, duas, três vezes, até que a cela abriu, cedendo passagem. E eles correram. E eles se abraçaram tão, mas tão apertado, que apesar de todo o caos que explodia ao redor, os dois se sentiam seguros e felizes outra vez.

– Vamos, rapazes! Depressa!

Osmar foi na frente, atirando apenas em quem se punha no caminho e tentava barrar a passagem da família. Logo atrás dele, Arthur corria com uma mão na arma e outra segurando firme a mão do seu namorado, depois de tudo aquilo que passaram não o perderia de vista outra vez de jeito nenhum.

Mas depois que a luz do dia os cegou por um instante assim que pisaram para fora do prédio, os três viram o que os aguardava. Pelo menos trinta soldados tinham os canos de suas armas apontadas em sua direção.

– Vocês estão invadindo uma área segura do Governo – uma voz bradou dos auto-falantes. –, destruindo patrimônio do Governo, causando terrorismo doméstico. Entreguem-se pacificamente ou serão alvejados pela força do Governo.

– Deixem a gente passar e ninguém terá problemas! – Osmar gritou. – São só garotos, caramba!

Apesar de seus apelos, as armas inimigas deram seu estalo, a trava de segurança havia sido desabilitada, estavam todos prontos para atirar. Osmar se pôs na frente dos dois. Arthur fechou os olhos com força e medo. Ruivo sentiu a mão do namorado apertando mais forte a sua.

E foi então que aconteceu. Que o Ruivo sentiu dentro dele também destravar sabe-se lá que trava de segurança e tudo ser liberado, como uma explosão súbita de hormônios, testosterona, adrenalina, e alguma outra coisa, mágica, inominável. E ele soube que era verdade, e ele soube que era mesmo especial, diferente de todo mundo. E ele sentiu que podia controlar uma infinidade de coisas.

Como diziam os mais antigos, até mesmo a falecida Aparecida, o Curupira não existe somente para aprontar traquinagens. Ele controla o tempo, ele protege a mata, as arvores e toda a vida. Ele pode fazer chover, pode dominar o vento, o céu, a terra...

E ele pode mesmo.

E ele fez as grandes nuvens de poeira num raio de centenas metros dali se juntarem numa só gigantesca tempestade, que ergueu uma muralha de poeira maior que qualquer tsunami e veio com força na direção de Segunda Brasília, como se um vento sobrenatural a guiasse precisamente naquela direção. E todos perceberam que algo estava errado. E todos notaram o céu se fechando em pesadas nuvens como não se via em muitos anos, e todos olharam desnorteados porque escutavam o estrondo, o som furioso da nuvem de terra que se aproximava. E passou por cima dos grandes muros, e engoliu a todos com uma força de mais de cem quilômetros por hora, ferindo cada homem em seu caminho. Menos aqueles três, bem no olho do furacão, livres de tudo aquilo.

E Arthur abriu os olhos, instigado pelo fato de não ter ouvido nenhum disparo, de ainda estar vivo, e o que ele enxergou era simplesmente impossível. Toda a tempestade de terra destruía tudo, quebrava vidraças, causava desespero nos soldados, mas não os atingia. E então ele olhou para o seu lado, para o seu namorado, que estava concentradíssimo no que fazia. E Arthur entendeu tudo, assim como Osmar na sua frente. E nenhum dos dois temeu, e nenhum dos dois recuou.

– Vamos – Osmar falou.

O olho daquele furacão de areia os acompanhou e os protegeu de toda a destruição ao redor enquanto os três seguiram caminhando lentamente até o carro, e então saíram em disparada para além dos portões. E foi só então que tudo passou, a areia desceu toda de uma vez, magicamente. E o Ruivo caiu deitado no banco traseiro do carro, a cabeça repousando no colo de Arthur enquanto Osmar dirigia.

– Amor, amor você tá bem?

– Só estou... cansado... – ele fechou os olhos, mas seus lábios sorriam, nunca se sentiu tão feliz, tão realizado enquanto as mãos de seu namorado acariciavam o seu rosto.

Do lado de fora, nesse instante começou a chover. Uma chuva intensa e farta, que acompanhou o veículo na sua jornada de volta, irrigando a terra outra vez, como se não via há muitíssimo tempo.

– Talvez eu seja mesmo um filho da floresta... – Ruivo murmurou, antes de pegar no sono.

Então, depois que a chuva que limpou tudo, as estrelas voltaram a brilhar, nítidas como há muito tempo não ser via. Nítidas como as sardas mais charmosas do seu ruivo.

7.

E a noite era quente e eles eram quentes sobre a lataria fria daquele carro, o mesmo carro de sempre sendo que agora, sob aquela forte chuva que tornara-se tão comum, parecia outro, parecia novo, e eles não ligavam de estarem encharcados, eles não ligavam que Osmar havia pedido para não irem pra longe com essa chuva toda, eles não ligavam e só se beijavam sozinhos naquela imensidão verde, só se tocavam nus naquela natureza toda, e nada nunca pareceu tão certo, nada nunca pareceu tão lindo quando os lábios de Ruivo descendo, dançando pelo corpo de Arthur, provando do molhado da chuva na sua barriga nos seus peitos, nos seus mamilos, nas suas costelas, na sua virilha, no seu pau. O molhado do seu pau, o quente e gelado do seu pau que abocanhou com carinho e fúria fazendo o gemido ser mais alto que o som das gotas que se chocavam contra a lataria de metal. “Que gostoso, amor aaaaaa” a boca esperta não deixava que ele falasse, chupava, mergulhava engolia, apertava, nas horas certas, contorcendo Arthur por dentro e por fora. “Continua, continua, vai...” E ele continua porque era isso, era exatamente isso que ele queria que ele pensava que queria mais que tudo que e por dentro foi deixando todo o resto para trás, foi largando todo o medo e hesitação e deixando escorrer para longe como a chuva como a chuva e só restava aquele momento e só restava Arthur, e Ruivo pensava só resta Arthur e eu no mundo, no universo, só resta Arthur e eu e o que importava era o agora, o reencontro e eu subo outra vez escalando seu corpo, e acaricio seu cabelo e ele beliscou meu mamilo e eu beijei sua bochecha seu pescoço e ele olhava nos meus olhos e sorria seu sorriso mais branco e bonito enquanto sua mão deslizava pelo meu corpo e parou na minha bunda assim como a minha parou no seu pau depois de mover-se pelos seus braços seus ombros seu tórax sua barriga sua virilha, e eu disse Te amo e ele disse Te amo e a gente não cansava mais de se beijar mas era preciso parar um pouco e se afastar para poder olhar o rosto um do outro e como eu estava com saudade do rosto dele, de cada traço, do exato tom da sua pele, do seu penteado arrogante, que menino arrogante esse que eu fui me apaixonar, do seu sorriso sincero, e levantei as pernas ficando em frango assado para não perder de vista seu lindo rosto que um dia viraria uma foto, com certeza, e ele sabia que eu iria fotografá-lo quando chegasse o momento, mas o momento não era agora e que bom que não era porque a foto seria pornográfica já que agora seu pau entrava em mim e ele não parou nem quando a entrada se afunilou e eu senti a dor que não me faria, não me faria, não me faria, jamais, pedir para que parasse e ele não parou e o pau entrou e eu gemi e ele sorriu ao ouvir o meu gemido, ao lembrar do meu gemido e estava completo dentro de mim, sempre esteve inteiramente dentro de mim, na mente, no corpo, na alma, e eu nele, e por isso era tão normal a gente transando, tão natural, como se tivéssemos como destino de nossas vidas estar assim, juntos, desde aquele dia no interior da árvore, desde aquele dia em que declarei meu amor no seu quarto, desde aquele dia que um átomo se chocou contra outro átomo e houve uma grande luz, e que os dias, meses separados só serviam para ressaltar isso, a falta que ele me faz. Beijei seu braço, ele beijou meu cabelo e ia e voltava dentro de mim pela minha porta aberta para ele, e entrava como se fosse sua casa dentro do meu corpo, e eu amava tê-lo comigo e eu amava tê-lo ali sob a minha chuva, sobre o seu carro, e nós íamos mais rápido mais forte e ele urrava por entre os dentes e eu abraçava as suas costas deslizando os dedos pelo suor que começava a brotar e cheirava a Arthur tão forte que eu me senti completo e meu pau ia crescendo, latejando, anunciando e ele também, e fechou os olhos e nós juntos explodimos num gozo só, que vinha de duas vias mas não deixava de ser um só. Mas um gozo não foi o bastante e nós rolamos na lataria quase quase caindo do carro e sorrimos de medo e alívio e voltamos a nos embolar a nos beijar, nos querendo ali sobre lençóis de água, de gotas, de estrelas que sobre as nuvens começavam a despontar no início da noite, brilhando para nós, brilhando para dois meninos, não deixávamos nunca de ser dois meninos e que mesmo assim nos amávamos e não devia ser errado não podia ser crime ou pecado amar alguém assim e querer o bem de alguém assim e querer estar com alguém assim e depois de algum tempo com a luz de alguma lua ou lanterna de alguma fortaleza de lençóis, ou farol de carro ou de ilha brilhando longe para nós que recomeçávamos o caminho duro e eu o beijava e o lambia e o chupava, o chupava e ele gemia por dentro dos seus beijos também e segurava minha cabeça enquanto olhava para mim e eu olhava para ele, seu corpo disposto sob a meia-luz, disposto para mim e enquanto o chupava arranhava suas coxas apertava seu peitoral e depois subia nele e me deixava invadir por ele e cavalgava nele que agora olhava para mim só pra mim e segurava no meu quadril enquanto eu subia e descia gemendo urrando e nós desejando mais e mais e por muito tempo continuamos nessa posição, nos experimentando até que chegou a hora de se deixar extravasar e depois mais uma vez um gozo que virou raio e cortou o céu de ponta a ponta mas não nos sossegou e no fundo o medo de que nunca nos sossegaríamos da fogueira que ardia aqui dentro de mim e dele e que se alimentava mais a cada dia, a cada instante e por isso não dávamos atenção a esse medo e só continuávamos minutos depois uma terceira vez agora numa outra posição eu ajoelhado de quatro, com os joelhos levemente curvados, e ele metendo em mim, fodendo a mim, e eu deixava que fosse mais fundo, pedia, gritava que fosse mais forte, que acabasse, que nos fizesse exaurir por completo mas mesmo quando parecíamos exaustos e já não conseguíamos mover um músculo após o terceiro gozo mesmo assim queríamos, mesmo sem ter forças para realizar, queríamos mais um do outro e mesmo quando eu fechei os olhos e lembro exatamente do momento em, que meus olhos foram devagarzinho se fechando e eu pensava quero você, Arthur, quero você no meu sonho, na minha vida eu quero você para cada dia nessa nossa nova terra, Arthur.

Fim.


Este conto recebeu 3 estrelas.
Incentive Jader a escrever mais dando dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Entre em contato direto com o autor. Escreva uma mensagem privada!
Falar diretamente com o autor

Comentários

Comente!

  • Desejo receber um e-mail quando um novo comentario for feito neste conto.
18/08/2020 01:44:59
INTERESSANTE. LONGO DEMAIS MAS FOI BOM.


/dia/2022/10/7/XVídeos mulher fazendo cocô e 32 no Condorgey dando pro cavalo enchendo o cu do gey de porraconto gay o meu sonho de consumoContos de irmao gozando dentro da buceta da irmaporno doido so chupança de buceta. com muita fomefrede e barnei pega vilmaFotos da minha madastra peladarabudas brasileiras pedio arego no cu pitudosconros o encanador pauzudo encheu minha mulher de porraMesmo dormindo o negao não dispensou comeufaz sua namorada ir ao ceu so com q sua linqua pornodoidocontos eróticos ginecologistaVideo de duas mulheres tomando banho de biquini e se chupando e gritando de prazeras mas gostozas di chortinhoPage coletanea de video coroas masturbando gozando escorrendo melzinho galadiabinhas não salvo com brtitia batendo punheta sobrinho rola cabeçudacontos sexuais de traição de adulterio o socio do meu narido ta doido pra me comernamorada gostosaconto sou crente casada carente provocando os pedreirocontos de sogras e noras lesbicas se pegandocontoerotico eu,namorada, minha mae e tio jorgeconto de casada putacontos eroticos casadas e morador de ruacontos eroricos mendingo gay e garimulher tem garra para aguentar o dotado no pornodoidoconto erotico viado novinho vira escravo do coroa dominadoralexandres putos poa de calcinhaNovos contos de incesto gang bang forcadoContos eroticos esposa religiosa sendo encoxada/texto/201704806Ler conto erotico de meteno na vizinha virgem com fotosxvidios outros purai favoritoscontos eiroticos leilapornaceitei carona e tive q dar o cu contosPorno veterinaria pega rapaz pueta/texto/2014111128/texto/200909257/denunciaxisvido tia nocolo sobriucasos amad fragra i gosand ponh casaxoxotas gostosas morenas atirar esperma/texto/201204325/denunciaxvideos.com normalista mulata/texto/200501316coroas londrinense tarada bem próximoMULHERES GOZANDO COM FORTES MODISCADAS NA ROLA DO CARA DE MUITO TESAOcontos vi minha mae caga no pauzao do negaoginecologista me masturbou gostoso contoscasada chantageada dá o cu contoscomendi a byceta de labios grandes xvidiisnovinha. inchirida. porlado. dos. homever video de porno brasileiro pedrero peludao suado comendo a patroua safadaconto erotico de espacamentomarciano novinhopeladobonecas enchendo o cu da mariconacontos eiroticos leilapornxvidio ponor esposa traindo marido porque noa da conta de satifaze elaXvideo irma uza massage para seduzirmivimha amostrado a casinhaffudendo a cunhadinha gostosa de 17 aninhoscontos eroticos de tambaba mulheres que deram a dois dentro do matagalcontos eroticos meu padastro tirou meu cabacinho e alem de fuder minha bucetinha novinha agora ele tambem fode o cuzinho do meu irmaozinho bem novonhoPutamamudasapateira da minha tia conto eroticogozando e arfando de prazer no cu xvideosContos eroticos com pintelhudasabaixa video porno no xvideo magrinho cumendo a mae do seu amigogaroto batendo punheta e bolas balancando pornodoidopornomulheres que urináoPapai vio eu de sainha sem calsinha fes eu senta en seu colo pal fora da bermuda semtei gostei dei ate meu cu po meu pai contosContos de incesto dando banho na menina novinhavideos de novinhas perdendo o selinho e chorando na hora que o pau entra na bucetinha viagem delasraboggg pra cima dormindo