Projeto A.D.A - Capítulo 10 - O Escritor Alvo'o
Capítulo 10 – O Escritor Alvo’o
E finalmente eu tenho alta. Depois de inúmeros e inúmeros exames repetidos com os mesmos resultados.
- Sargento Jules, peço desculpas por essa demora. Eu sei que os procedimentos foram massivos e até redundantes antes de sua alta. Mais precisávamos ter certeza de que você está bem.
- Claro, doutora. Não podemos permitir que alguma contaminação saia daqui e comprometa a missão. São milhões e milhões de euros investidos neste projeto. E o mostrengo que eu virei não pode estragar isso. Haha. – Eu dou uma risada nervosa.
- Não precisa ser tão rígido e se cobrar tanto, sargento. Não foi culpa sua.
Eu tiro os eletrodos e coloco o meu blusão militar azul, com as ombreias e as esparsas mas significativas condecorações que eu tinha. Este projeto era a oportunidade da minha vida de coordenar e ascender na minha carreira como nunca antes me foi possível, independesse do quando eu me dedicasse e batalhasse para tal.
- Só uma última coisa. Onde eu posso encontrar a doutora Molly Simon? Queria conversar com ela e me habituar de em que pé estamos com a pesquisa do espécime.
- É... – A médica fica meio sem graça – Olhe para um dos vidros da câmara da A.D.A e você descobrirá.
Como é?
- Tudo bem. Obrigado.
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Eu então sigo para a Seção B pelos corredores externos e cuidando para não passar pelo vidro por enquanto.
A ao chegar no setor de pesquisa, aí sim eu me aproximo da doutora Mila Virtanen.
- Doutora, desculpe o incômodo. Eu poderia falar com a doutora Simon?
Ela se treme toda e começa a gaguejar.
- O-oi! Você recebeu alta? Que bom! A d-doutora Simon?
Mas que porra é essa?
Eu estava tão feio e monstruoso assim de se olhar?
- Sim, sim.
- Ela aponta o dedo para o vidro.
E eu finalmente entendo a médica.
A doutora Simon estava no chão com a criatura se agarrando nela. Atrás tinha um sofá e uma infinidade de brinquedos e coisas de criança.
- Mas o que é isso?
A última vez que eu vi aquele monstro foram as suas presas quase arrancando o meu rosto, e aquela gosma repugnante caindo na minha boca.
E agora eu vejo a doutora Simon se divertindo com aquilo como se fosse um filhotinho fofo de alguma raça exótica de cachorro.
- A doutora Simon, conforme havíamos informado a você, esteve fazendo incursões internas, como aquela do taser que te acordou.
- Sim. Eu entendo. É só que eu imaginei que estas incursões fossem...
- Menos amigáveis? – A cientista ruivinha e de muitas sardas me completa.
- Isso! Na minha cabeça eu imaginava aquele traje espacial da Seção B e a doutora Simon assustada lá dentro.
A doutora Mila abre um pequeno sorriso (que me encanta na hora por ela) e continua a falar, agora olhando para a doutora Simon e a A.D.A.
- Sargento Jules, no início foi assim. Mas a Doutora Molly Simon fez uma amizade com a criatura. Colocamos um sofá e a doutora passa boa parte do tempo lá dentro agora como alguém familiar ao espécime. A A.D.A chega até a chorar e ficar abalada quando a doutora Simon tem que sair.
- Inacreditável.
E era mesmo.
A minha mente ainda não havia processado que este ser amigável e simpático com a doutora era a mesma criatura violenta e feroz que quase havia me matado.
- E vocês estão conseguindo avançar melhor assim?
- Imensamente! Todo dia a doutora leva algum equipamento como um estetoscópio, medidor de pressão e outros. E estamos conhecendo melhor o espécime. A próxima etapa será a coleta de um pequeno tecido dela para biópsia e sequenciamento genético.
Minha nossa!
Essa doutora Simon é genial demais!
Daqui a pouco se elas progredirem nesse ritmo poderemos mostrar a Seção D para a equipe de pesquisas.
- Perfeito.
E eu dou uma leve batidinha no vidro.
A doutora Molly finalmente nota a minha presença, e no chão ela fica ali meio constrangida e sem graça. E depois de um aceno envergonhado para mim, ela volta a brincar com a criatura.
- Bom, eu vou subir e cuidar da minha reintegração ao meu posto, não sei para onde os meus superiores irão me enviar. Mas posso afirmar que será dentro desta base da DGA, então ainda nos encontraremos. Bom trabalho, doutora Mila. Primeiro Sargento Duas Estrelas da Força Aérea Francesa, Scott Jules, se retirando agora.
E ao me virar depois dessa despedida formal eu sinto a Mila segurar o meu pulso.
- É... Hum... Se... Você... Se você for designado para o setor de pesquisas... P-podemos tomar um café juntos algum dia?
- Claro. Seria um prazer, doutora Mila.
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- Professor Alvo’o, os seus relatos no livro são reais? Ou é só uma literatura fantástica com elementos de realidade?
- Ora, porra! Toda ora a mesma pergunta! É claro que é real! Eu tive um imenso trabalho reunindo os relatos do marido da Sarah e com a minha pesquisa nas Artes Ocultistas.
Eu finalmente havia publicado o livro. 2 anos depois de eu ter herdado os bens do moleque Yuri.
E exatamente como eu tinha previsto, o livro foi um sucesso estrondoso.
Mas havia um porém.
O meu livro não foi definido com uma categoria certa pelos leitores. Alguns leram e achavam que era um conto erótico só que meio esotérico. Outros que era uma ficção quase tolkieniana de deuses egípcios e mitologia ocultista. Poucos realmente acreditaram na obra toda, mesmo eu relatando ponto a ponto tudo o que aconteceu.
As próprias livrarias na Inglaterra estavam confusas de onde botar o meu livro. Ele podia ser visto na seção de literatura nacional, contos eróticos, esoterismo, religião e ficção científica.
- É que alguns críticos dizem que o senhor se utilizou do desaparecimento da diplomata da ONU, Sarah Hayakawa, como uma fonte de polêmica a fim de atrair leitores.
- Olha, eu vou perder a cabeça e cancelar esta coletiva de imprensa e de autógrafos e mandar todos vocês para o quinto dos infernos! Com quem vocês acham que estão falando? Eu sou o Grande Alvo’o! O Mestre das Artes Místicas, seus imbecis! Não me confundam com aqueles polemistas miseráveis que pegam o Holocausto ou Chernobyl e criam fantasias de fantasmas e monstros em cima de tragédias!
- Eu só estava relatando estas críticas online, senhor.
- Pois então eles que venham e eu lhes darei uns bons sopapos na cara. Que desgraça! Eu cuidei do filho da Sarah, o Yuri, e passei perto do terror que é o poder da deusa-você-sabe-quem.
Eu não citava mais o nome dela, tamanho era o meu medo de que ela iria se vingar pelo livro. Aquele nome era quase uma maldição. Não havia Lúcifer, Baphomet, Mefistófeles, Bal, Leviathan ou denominação demoníaca que me desse tanto pavor do que o nome daquela puta ancestral egípcia que havia renascido na África.
- Sim, professor Alvo’o. Porém após o final da sua tutela e transferência dos bens, a nossa equipe de reportagem não conseguiu mais saber o paradeiro dele e nunca mais o Yuri foi visto com o senhor.
- Isso estará em uma parte 2 do livro, ainda estou obtendo material. Ele foi procurar a mãe dele na África, e nunca mais foi visto. Assim como o pai. Agora calem a boca, malditos repórteres abutres, e venham os autógrafos.
E uma fila enorme de pessoas que saiam da livraria e ocupavam a calçada do quarteirão começam a entrar. A minha história e meu jeito direto (e um pouco escatológico) foi conquistando uma enorme fan base entre os mais jovens.
E o lema deles era: ‘’Alvo’o tem razão’’.
Eu amava o slogan.
Porque eu sempre tinha razão mesmo.
- Aqui, outro autógrafo. Não se esqueça de assinar o Custo Online de Feitiços, o COF, do Professor Alvo’o. Quem comprar o livro tem 15% de desconto no primeiro semestre.
E a fila vai andando e andando.
- Alvo’o, Grande Mestre. Pode assinar me mandando tomar no cú?
Esse pedido era super recorrente.
- Claro, malditos jovens degenerados.
E assim a horda de fãs vai diminuindo. Eu estava em cima de uma montanha de ouro que eu iria minerar usando o meu livro como picareta até eu tirar a última pipeta dourada do bolso daqueles pupilos e idiotas úteis.
E uma menina branca de uns 10 anos aparece sozinha com o meu livro na loja.
- Pera, cadê os seus pais? Você não tem idade para ler este livro!
- Aqui! Assina em nome de Taweret! Eu amo Taweret! A Mamãe de todos! Taweret!
E sentindo uma pontada de dor e desespero no meu peito eu grito.
- Chega!! Horário encerrado!! Amanhã tem mais, seus analfabetos funcionais! Adeus e vão para a puta que o pariu!!!
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Muito obrigada!!