Projeto A.D.A - Capítulo 24 - Minha Melhor Amiga

Capítulo 24 – Minha Melhor Amiga

E bem cedinho o Louis vai em uma rua no centro da cidade comprar algumas roupas comigo.

- Então, posso escolher qualquer roupa para a Ada?

- Shhhh!! Adelaide, já se esqueceu?

O agente Louis tinha inventado muitos codinomes para serem usados em público, mas eu achei aquilo extremamente chato e não fiz questão de decorar nenhum deles.

- Que seja, Adelaide então. Eu vou escolher uns looks bem diferentes para ela.

Eu vou parando em diversas lojas e caçando as peças de roupa que eu achava que seriam as mais fofas de se botar na A.D.A. Estranhamente, depois que ela me mordeu, o pouco resquício de medo que eu tinha dela sumiu. E foi substituído por uma simpatia para com ela.

Só que enquanto eu comprava roupas para a minha ‘’suposta filha chamada Adelaide’’, o meu maridão estava cabreiro e taciturno.

- Que foi, Louis? Você parece estar preocupado com algo.

- Não deve ser nada demais. Quando você terminar a compra eu falo no carro.

E assim aconteceu.

Ao terminar as comprar eu jogo tudo no carro (jipe ainda) e o Louis finalmente desembucha na estrada.

- Zoe, ser um espião me fez ter que passar por muitos treinamentos. E um deles foi linguagem corporal. Eu consigo identificar um padrão de comportamento de alguém e determinar com grande precisão se a pessoa está mentindo ou não;

- Amor – Eu já queria forçar essa intimidade com ele – Eu não entendi. O que isso tem a ver com as compras?

- É o seguinte. Eu sei os padrões da Mila, do Jules e os da Simon. Você que ainda é novidade para mim. Mas assim que eu me acostumar ao seu jeito espontâneo, também poderei te ler com facilidade.

- Isso é o que você pensa.

- Enfim, a Simon estava mentindo. Eu conheço o padrão comportamental de quando ela fala a verdade. Ela mentiu quando me disse que uma das Baby Adas caiu da janela.

- Parece algo pequeno. Porque ela mentiria sobre algo tão insignificante?

- É exatamente aí o problema! Porque? Eu estou com um mau pressentimento. Vamos voltar logo para a casa.

Eu estaciono e com a ajuda do Louis eu trago as compras para a casa.

- Querida família, cheguei!

Ninguém.

Nossa, como eles são dorminhocos.

E eu subo com o Louis, que se coloca na minha frente.

- Eu vou na dianteira, por proteção.

- Calma, meu espião cismado. Vamos subir as escadas e não terá nada de errado.

E o que eu vi lá em cima no corredor me fez derrubar todas as compras lá embaixo.

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Eu estava em um trono de ouro.

E nele haviam muitos bebês negros no meu colo e nos meus braços e eu os amamentando com seios fartos.

E ao olhar para os lado eu vejo centenas de homens tribais ajoelhados e rezando.

- Taweret!! Taweret!! Taweret!!

Eu contemplo as alturas e a lua cheia magnífica a brilhar no céu noturno. Um pingo de sangue cai para cima desafiando a gravidade e as leis da ciência e junta-se a um oceano invertido acima de mim, a sua superfície tremula e o céu transforma-se em um reflexo da minha imagem no trono.

E nele eu me vejo sentada. O reflexo na água celestial era a de uma mulher branca e loira com uma enorme barriga gestante. Os seus traços eram um pouco orientais e seu rosto sereno e majestoso, como se contemplasse os limites do tempo e do espaço além deste universo.

E neste espelho que não refletiam a minha imagem, os olhos desta incrível mulher brilham com duas chamas verdes e etéreas. Aquele fogo esverdeado parecia alguma espécie de sopro divino em brasa, que de tão forte e quente precisa ser alimentado com vidas e almas humanas.

E com lábios que não se mexiam, ela fala.

‘’Olá, doutora Molly Simon. Eu fico feliz que a minha Ada tenha encontrado em você a força para continuar crescendo. Cuide bem do meu marido e da minha irmã ao mesmo tempo.’’

- Você é a Sarah Hayakawa? A mãe do Yuri?

‘’Sou e não sou. Pode me chamar de Taweret só.’’

- Tem tanta coisa que eu queria saber de você sobre o passado da Ada.

‘’Isso não irá lhe fazer bem. Há um velho na antiga ilha dos celtas e das antigas fadas de Avalon que poderia lhe ajudar. Não é o Merlin, é só um humano decrépito nojento, porém ele é o único que ousou escrever sobre mim.’’

Ela está falando da Inglaterra?

‘’Meu tempo está acabando. A Terra das Luzes ainda é muito distante para que a influência do meu poder remotamente dure por tanto tempo. Minha intenção era te ver e me certificar de que a Ada cresça bem. Você é um alimento de primeira linha para ela. Cumpra a sua função e dedique o seu amor a isso. Adeus.’’

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E eu acordo.

Só que no lugar das crianças pretas havia exatamente as baby Adas nos mesmos lugares. Era quase como se ainda fosse um sonho. A floresta virou o quarto do QG do Louis. O trono a cama. E os bebês as fofuras das pequenas Adas.

- Ai! Vocês me mordem quando eu durmo? – E dizendo isso eu solto as duas Baby Adas que estavam presas nos meus peitos e me sugando.

‘’Não.’’

‘’Mas eu senti o cheiro da Deusa em você agora a pouco.’’

- Taweret.

‘’Isso.’’

- Agora que você está mais comunicativa e aprendeu a falar por telepatia. Quem é essa Taweret? De onde você a conhece?

‘’...’’

As quatro baby Adas ficam a fazer cara de pensativa em sincronia.

‘’Eu não sei. Eu só lembro de viver em uma floresta. A Deusa era que nem você, Simon. Ela me dava carinho e eu bebia dela também. A Taweret era muito boa. Eu ficava forte e queria sempre mais e mais.’’

Então do mesma forma que eu fiquei viciada na Ada, ela própria era viciada no sangue da Deusa? Será que foi assim que ela virou isso?

- E porque você saiu de lá?

‘’Grande luz vermelha. Os homens cor de carvão me expulsaram. Essa luz me machuca e eu tenho medo dela’’.

Fogo.

Essa era a grande fraqueza do espécime A.D.A.

As informações já estavam todas ali. Eu havia me esquecido que o meu setor de pesquisas mesmo pegou uma amostra fina do tecido híbrido do Jules e aqueceu com um bico de Bunsen. O tecido se tremeu como se quisesse fugir e morreu rapidamente. Como foi inconclusivo o resultado, essa linha de experimentos tinha sido abandonada. Brincar com fogo em laboratório subterrâneo era sempre uma ideia ruim e arriscada.

- Entendi. Mas você está segura agora.

‘’Sim.’’

‘’Mas eu quero a Mila.’’

A Ada não havia esquecido dessa ideia, eu tinha a esperança de que na manhã seguinte ela iria brincar e esquecer dessa vontade.

- Tudo bem. Mas o que eu faço?

‘’Vai para o corredor e chama a Mila.’’

- Só isso?

‘’Só.’’

Tudo bem.

Lá vamos nós.

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Toc-toc.

- Quem é?

- Mila? Sou eu, abre rapidinho. Queria falar com você.

Eu olho para o Jules roncando.

- Tudo bem.

E ao abrir a porta eu me deparo com a doutora Simon.

E com 4 A.D.As em versões infantis trepadas nela como macaquinhas em uma árvore.

- O q-q-que é isso?

E eu aperto nervosamente o meu óculos.

- Calma, Mila. Eu posso explicar. A Ada se dividiu ontem em quatro. Ainda não sei o motivo por trás disso.

E os múltiplos olhos rubis das várias Adas focam em mim. Como vários gatinhos famintos observando a sua ração preferida sendo servida.

- OK. Mas qual seria a questão?

E agora visivelmente nervosa a doutora começa a mexer no seu cabelo.

- Eu sei que irá soar estranho... Mas... Bom... A minha Ada perguntou se podia te provar um pouco.

- C-Como é?!

- Seria só um pouquinho, Mila. Você nem sentiria nada de ruim, muito pelo contrário. Seria só uma picadinha de mosquito, acompanhado de uma tonelada de satisfação e prazer.

- Doutora Molly, eu te respeito e te considero a minha melhor amiga. Mas isso é demais para mim. Não posso aceitar o seu pedido.

E ao tentar recuar eu bato em algo atrás de mim.

E ao virar o meu querido sargento estava bloqueando a minha volta para o quarto.

- J-Jules?

Ele estava com um olhar vidrado e hipnotizado. Jules então me agarra e me imobiliza, para depois falar.

- Demônio Branco, cala a boca. Sua espécie serve de alimento para a Deusa e para os da estirpe Dela. Não lute contra.

- SOCORRO!! SIMON, ME AJUDA!!

E ao olhar para frente desesperada e atrás de apoio da minha melhor amiga, que eu tanto amava e respeitava, a Simon não estava ali para me salvar.

Muito pelo contrário.

Ela estava erguendo uma das Adas bebê na minha cara.

- Desculpa, Mila. Eu espero que você me perdoe. Isso é para o seu e o nosso bem.

- NÃO!!! SIMON!!! PARA!!! POR FAVOR!!!

- Tente aproveitar. Até daqui a pouco, minha amiga.

E a Simon solta aquele monstro, que avança em cima de mim.

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