A Deusa Taweret - Capítulo 20 - O Apelido de Sarah
Capítulo 20 – O Apelido de Sarah
- Professor Alvo’o, você está aí?
- Sim. Você pagou mais uma consultoria. Você está bem? Sua voz está meio grogue.
- Mais ou menos. Eu estou de ressaca. Eu ando enchendo a cara pra esquecer do inevitável. Eu sei que a Taweret deve estar pra terminar o ritual então não quero estar em um estado de consciência normal quando isso acontecer, prefiro estar em coma alcoólico.
- E quem cuidaria do seu filho? Não seja irresponsável.
- Meu filho já está sem mãe. Nem mais pelo Skype ele a vê. Eu nem sei como ele pode estar tão calmo. Parece até que o garoto ficou mais tranquilo e parou de perguntar pela mãe. Acho que ele já se resignou. Sem nem mesmo saber o que aconteceu com ela.
Eu já imaginava que a Taweret devia completar os 100% em breve. Então eu não estava mais enfrentando ela, e sim me preparando pra aceitar o resultado.
- Você está preocupado que a Deusa complete a transferência dela hoje ou por esses dias? Talvez demore mais.
Como é?
- Oi? Como assim, Professor?
- A sua mulher não começou a ser possuída no dia da Taweret? No festival mensal em homenagem a ela na vila? No dia de lua cheia?
- Sim. Começou com aquele chá e o amuleto no chá. Depois botaram a Estátua lá no barraco dela e tudo começou.
- Talvez ela fique em 99% e só finalize esse 1% no mesmo dia de celebração. E assim fechando os 29 dias do ciclo lunar, a chamada lunação pelos ocultistas, luas tem a ver com fertilidade e partos. Então será em uma nova comemoração do dia de Taweret. Só então essa deusa egípcia milenar irá renascer de verdade. Não deve ser em um dia aleatório e sem peso significativo.
- Faz sentido, Professor Alvo’o.
- E nesse caso você tem ainda alguns dias. O que você vai fazer?
Eu ainda não tinha certeza.
- Eu não sei. Mas eu queria te pedir um favor.
- Diga-me.
- Se algo acontecer comigo, você pode cuidar do meu filho?
- Você vai viajar pra Zâmbia e não vai levar o garoto?
- Não. Eu não posso condenar ele a essa vida dentro da Deusa.
- Mas eu sou só um velho que mora sozinho e tem muitas contas médicas. Muitos processos; hipotecas e gastos diversos...
Que velho mercenário...
- Ok. Eu te dou os direitos do livro sobre a Taweret e a Sarah. Pode lucrar a vontade com isso. Só queria que se algo acontecesse comigo você assumisse a guarda do meu filho e cuidasse dele.
- Tudo bem. Farei esse sacrifício por você. Só aceitarei isso por se tratar do meu melhor aluno.
Você quer dizer o mais lucrativo.
- Tudo bem, Professor. Essa vai ser a última das consultorias que eu irei pagar em vida. Daqui a 2 dias eu vou sair pro aeroporto e deixarei o meu filho no seu endereço postal lá do site do COF. E se eu não voltar eu deixarei meus documentos e a casa tudo no seu nome como tutor legal e responsável da guarda do meu filho.
- Sem problemas. Adeus e boa sorte na sua jornada.
- Até nunca mais, Alvo’o.
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- Filho, papai vai resolver uns assuntos de papelada. Você consegue ficar sozinho?
- Sim, papai.
Meu pai fecha a porta e me deixa.
Pronto.
Está na hora de falar com a mamãe.
- Oi, mamãe, como você está hoje?
- Sim. Estou ótima.
A mamãe estava em uma cadeira grandona e vestida como os homens das cavernas.
Então um homem bem velhinho aparece e dá um pote de madeira de um suco pra mamãe beber.
- Mãe, quem é ele?
- Filho, ele é o chefe da vila. Quando a mamãe fica dodói ele me dá esse remédio e fico melhor. Quem sabe você passe a tomar ele em breve.
- Você está doente?
- Estava. Mas estou bem agora. Falta só um pouquinho pra mamãe ficar completa.
- E essa roupa, mamãe?
- Eu estou brincando de fingir de índio com eles. Vou te vestir assim quando você vier.
- Muito engraçada. Eu ficaria com muito frio.
- Aqui é bem fresco e quente. Não ficaria. Mudando de assunto, eu tenho que te mostrar algo.
A mãe vira o computador pro velho.
- Filho, esse é o chefe que eu acabei de falar. Você vai adorar conhecer ele pessoalmente. Aqui tem várias crianças pra você brincar. Só que são todas escuras como ele.
O vovô de lá era bem preto e idoso. E ele fala pra mim.
- Olá, filhote de Saruah. Você vir aqui. Filhote branco da Sarah. Você será bem cuidado aqui. Bem alimentado. Sim. Será bom menino pra nós.
E a mamãe diz.
- Isso. Quando seu pai viajar pra onde a mamãe está, pede pra vir junto dele. Seremos uma família feliz de novo. Lembra do Natal? A mamãe se vestindo de Papai Noel?
Aquele foi o momento mais feliz da minha vida.
- Sim. Você voltando pra mim como meu presente de Natal!
- Então, querido filho. Venha ser nosso presente. Você e eu seremos os presentes dessa tribo. Você que vir? Não quer isso? Ver sua mamãe?
- Sim!! Quero muito!!
- Se doar de corpo e alma? Como mamãe fez e faz?
- Não sei o que é isso? Mas se for um jogo eu quero! Quero ficar com a mamãe! Estou com muita saudade e estou tão sozinho!
- E para isso acontecer você tem que saber algo. Os indígenas daqui desta tribo tem um apelido pra mim. Eles me chamam de Taweret. Se você me chamar por esse nome sempre e acreditar do fundo do coração nele, a sua mamãe aparecerá no seu sonho. Sua mamãe Sarah agora é a mamãe Taweret. Repete comigo. Mamãe Taweret.
- Mamãe Taweret. Gostei. Engraçado. Pode ser mãe Taw? Ou Tawtaw?
- Não. Taweret. Todas as letras. Senão vai ficar de castigo. – Mamãe fala brava.
- Tudo bem.
- Quem é a sua mãe?
- É a Sa-
- Shhhhh. Taweret. Se me chamar de Sarah eu nunca mais atendo e você vai ficar sozinho com seu pai. Quero SÓ o nome do nosso apelido secreto. Mais uma vez, qual é o nome da sua mãe?
- Taweret. Minha mãe é a Taweret.
- Eu te amo, meu filho albino.
- Não sei o que isso. Albino é meu apelido? Mas eu te amo muito, mamãe Taweret! Você é tudo pra mim!
Mamãe começa a chorar no computador.
- Eu te deixei triste, mamãe?
- Não. É a primeira vez que eu escuto alguém de tão longe dizer que me ama. Filho, mamãe estará sempre em seus sonhos. Deite toda noite e diga meu nome como uma prece. Esqueça o homem na cruz de madeira. Reze só usando meu apelido. Cada vez que você disser Taweret isso vai te acalmar e você vai dormir e me ver lá junto de você. Sempre estarei com você no coração. Agora vai dormir e até logo.
E a tela fica preta.
- Tá bom, mamãe Taweret. O apelido da mamãe é bonito e vou te ver ao mimir.