Beth Pernigão, a Trompuda de Cabaceiras. Série: "As Peripécias de uma Biba Caipira". Parte 02
Hoje hei de falar de uma disgrama arretada, muito especial, que chegou em Cabaceiras, a Beth Pernigão, que iria fazer sentir-me uma verdadeira gazelinha de vez. Estava tudo na tranquilidade na rua; os moleques bexinguentos jogando bola, os velhinhos proseando nas frentes das casas, as galinhas picotando junto com das cabras, quando um pau-de-arara estaciona na casa ao lado. Era mudança. Uma família grande, arribada de Chapadinha, seria os nossos vizinhos, os Pernigão. Mas, o que ocasionou um aperreio generalizado, atraindo todos os olhares, foi quando a filha mais velha desembarcou do pau-de-arara, toda cheia de efes e erres, toda faceira. Uma sicrana singularíssima: uma loira cavaluda, que a julgar pelas maneiras, tinha pinto. Sim. Uma travecona, uma aloprada, que pela cara, já fuleca, parecia ter fugido dalguma curutela ou dum baixo merê. A pivetada, um bando de catarrento, amontou-se na traseira do pau-de-arara para ver a dita-cuja descer com sua sainha curta. Quem tinha dúvida, não teve mais: além de colhãozuda, era uma motumba, uma pé-de-mesa, uma trombuda. Chamava-se Beth Pernigão e, durante os primeiros dias, foi o assunto da vizinhança e de toda a Cabaceiras (cês hão de saber como tem gente mexeriqueira nessas cidades interioranas). Agora sim, eu poderia dizer que tinha uma “fada madrinha” para inspirar-me.
Na mesma semana em que os Pernigão chegaram, aconteceu um episódio inesquecível. Cês hão de saber que euzinha vivia usando as tanguinhas da prima, e morria de vontade de ser uma biba; pois bem, costumava dormir tarde, bebericando café e vendo a lua da janela do meu quarto. Vivia sonhando com a nova vizinha, aquela coisa linda, que os moleques da pracinha entortavam o pescoço quando passava, rebolando o bundão porrudo. Não era a única traveca de Cabaceiras, claro, mas certamente a mais chamativa. Numa dessas madrugadas, ouviu uns barulhos estranhos atrás de casa. Temi ser ladrão, mas a cachorra num latiu. Pulei da cama, devagar, peguei uma vassoura para armar-me; cabreiro, abri a porta da cozinha. Saí. O barulho vinha dos fundos da casa dos Pernigão. Arri-égua! Entre as bananeiras deles, alvejei, mirei bem os zolhos, no meio dos canteiros no quintal, na boca da cacimba. A Beth Pernigão tomava banho, peladona, na luz do luar! Por meu Padim! Desde o primeiro dia, eu delirava só de ver a dita trompuda, apombaiado de tesão, só revirando os olhos na janela. Todo bocó, agora, alvejo a coisa toda pelada. De certeza, ela tinha ido na privada largar um barro. E tem jeito? Daquele tamanho, devia comer muito! Depois, tinha ido se assear, e com as noites calorentas do agreste, aproveitado pra tomar banho. A sorte pertence aos enxeridos. Arri-égua da bunda: uma coisa branca monstruosa, toda esparrosa, errosa, mole, flácida, que mexia-se pra lá e pra cá. Os cabelos loiros, longos e molhados esparrando-se pelas costas. Os zolhos meus pulavam das órbitas. Custei crer. Nem falo-lhes o que aconteceu depois. A Pernigão virou-se de fronte, foi aí que vi a trompa da criatura: um salame grosso, rosado. Depois, ficou de cócoras na beira da cacimba e mijou. Ui! Imaginei sentir o cheiro de longe! Adepois, pegou água do balde com a cuia, e começou então a lavar a peida, fazendo aquele barulhinho “floc, floc, floc” de enfartar. Parecia uma visagem àquela hora noite. A biba brechadora aqui, aluada, se alesava toda mole, querendo chupar a coisa. O simples cheiro do sabão que dali emanava era tentação demais. Minha mana! Tinha que ser uma comitiva de boiadeiro pra satisfazer aquilo! Os seios! Cada bicão grosso! Uma mamalhuda! Aí vem o melhor. Ela começou a bater punheta, fazendo aquele barulhinho “floc, floc, floc!”. Êh bronha porreta na madrugada! Bateu à vera! Punhetando o berbigão com gosto, já gemendo, já descontrolada. O que eu num daria pra chupar aquela mandioca rosada! A modo uma banana rosada, roliça, de uns 20 centímetros, que babava. Fiquei zarolho! Ela olhava para as bananeiras, mas num podia ver eu. E ficou na punheta. Quando ela gemeu “Ain!”, eu também gemi “Ain!” junto; já quase batendo a cachuleta! Minha mana! Que ajeguada, que tripé de loira! No “floc, floc, floc”, a sicrana já revirava os zolhos, naquele luar mágico. No meio daquele arerê, comecei também a bater punheta, pingando gosma. Então eu, um rafamé, um baita dum bexinguento querendo ser mulherzinha, num aguentei-me! Qui achegar-me em riba da cacimba para admirar melhor. Mas, piso em cima do rabo da cachorra que, coitada, tinha seguido eu. Nisso, a diaba late. A Pernigão quase gozando, num esperando qualquer surpresa, solta um berro: “Quem tá aí?”. Depois foi a vez da cachorra deles latir, acordando tudo quanto é galinha num aperreio só. Pronto. O motim no quintal estava armado. Pernigão enrola-se numa toalha, no meio do arruaceiro de galinha e o diacho. Depois, rapei fora dali. Isso foi na primeira semana. No dia seguinte, o vizinho constrói um banheiro decente dentro da casa; fiquei com a gota serena! Fui mancoso, tabacudo, afudegado; se tivesse esperado mais, teria visto aquela delícia gozando gostoso.
Enfim. Por hoje é só; espia a próxima peripécia; minha irmã Dinoráh vai travar amizade com dona trozoba, no que eu, pela primeira vez, irei roubar uma tanguinha dela. Continua.
Da Série: As Peripécias de uma Biba Caipira, por Luana CDzinha.