Tomando no cu várias vezes ao dia
Deixei meu carro na zona azul e um cara já veio me abordando. Já foi avisando o fato de estar a partir dali vigiando o carro. Eu não disse nem sim, nem não. O local era um tanto perigoso. E eu precisava ir à loja. Então, apenas o vi e segui meu caminho.
Tava de boas na loja quando de repente uma moça bem simpática me perguntou se eu já era cliente. Eu disse não. Então ela, cheia de charme, me questionou se eu fazia compras lá com frequência. Eu ia desconversar, mas acabei indo na dela porque ela parecia estar com muito tesão. Não demorou muito, eu estava sentado em cadeira, outra cadeira ao meu lado, diante de outra moça, atrás da mesa. Assinei contrato sem ler. Fui convencido a fazer cartão fidelidade, o qual eu deveria pagar anuidade diluída em doze meses.
O produto procurado por mim estava em falta.
Saí de lá e fui abordado por moça, muito elegante e bonita, com prancha na mão. Ela me questionou se eu morava por ali. Eu disse não. Então ela me convidou a visitar escola de informática ali perto. Visitei a instituição, não vi nada demais e logo estava eu falando com o coordenador do curso. Eu já havia feito informática, mas ele me convenceu a “reinventar” meus estudos. Assinei contrato sem ler. Acabei saindo de lá matriculado, num curso de três anos e fiquei de voltar lá com o valor necessário para fazer compra do material escolar.
Saí de lá e vi rapaz distribuindo revistas. Peguei uma e saí lendo. Logo, logo estava ele tocando meu ombro. Bem vestido, me explicou o fato de ele estar cursando jornalismo e estava vendendo as revistinhas a valores simbólicos e ressaltou o fato de qualquer quantia bastar. Abri a carteira. Havia duas cédulas de cem e uma de dois reais. Puxei e dei a de dois. Ele me questionou se eu não podia ajudar com pouco mais, olhando seco para a de cem. Puxei e dei a de cem também. Ele, feliz, me agradeceu e saiu andando aos pinotes. Segui meu rumo. A revista era de 1998. Estamos em 2020.
Decidi ir até ao banco fazer depósito. A fila estava enorme. O jeito seria ir até o caixa com a opção de depósito imediato. Seis pessoas na minha frente. E mais chegando. Duas pessoas estavam com envelopes para depósito, uma com pilha de boletos e uma senhora bem idosa a todo momento virava para trás e me fazia perguntas do tipo “como deposita cheque?”, “o que faz se o banco credita valor diferente do colocado?”, “por que o gerente nunca está na agência?”... E a hora passando. Um homem, meia idade, ficou fazendo malabarismo com as cédulas. Tentou vertical, horizontal, dobrado, engomado e nada fazia o caixa receber todas as cédulas. Uma sempre saia, dançava no ar e escorregava no chão para canto ao longe. Quando chegou a vez da senhora à minha frente, o sistema do banco caiu.
Precisei ir até a boca do caixa. Deixei todos os meus pertences com metal na caixinha e tentei passar. Bloqueado. Voltei. Lembrei do relógio no pulso. Fui entrar outra vez. Bloqueado. Voltei. Lembrei do telefone celular. Bloqueado. Voltei. Procurei por itens me meus bolsos traseiros. Dianteiros, bolsos da camisa. Nada. O segurança fez sinal para eu entrar. Bloqueado. Voltei. Tirei os óculos. Fui outra vez. Bloqueado.
Quando finalmente voltei ao carro, na zona azul. O vigia estava lá, já de mãos abertas. Puxei uns trocados, creio eu no fato de ser dois ou três reais em moedas. Ele pegou e desapareceu. Ao chegar no meu carro, lá estava risco: quase de um lado a outro. Entrei, dei partida e voltei para casa. Trânsito.