No colo dos cowboys - I
(PARTE 1/7: OS DEVASSOS DA ESTÂNCIA ALVORADA)
MINAS GERAIS, 1975
ERAM TRÊS. Joabe, André e Jean. Devassos do jeitinho que o diabo gosta. Desses tipos simples, caipiras, criados nas roças, embora ao mesmo tempo desejados, mulherengos. Não havia uma naquelas redondezas que já não tivesse sentido o coração palpitar por um deles. Até a dona Joana, coitada, mulher séria, metida a religiosa, tinha um fraco pelo trio de peões.
O primeiro, Joabe, era desses morenos de pernas grossas e curiosidade aparente. Não escondia de ninguém a sua vontade de crescer dentro da estância. Mas era ainda muito moleque — diziam. Tinha que ter paciência. E foi tendo paciência que o rapagão de olhos cor de mel, peito saltado e braços rijos conheceu as camas de todas as moças que já haviam passado por lá — e sem ser esquecido por nenhuma!
O segundo, André, fazia o tipo alto de tronco forte e fisionomia pouco simpática. Sempre calado, o par de vívidos olhos verdes é que falavam por ele. E como falavam... Nunca deixava de ser assunto e despertar a curiosidade das moças, este rapaz. Talvez por ser misterioso. Ou talvez por ser mais do que fazia questão de mostrar. Nunca descobriram efetivamente, porém. Mas bonito, isso o danado era. Tinha mais coxa e bunda que peito e braços. Dentro de jeans e botas, aquele peão era mais que macho: era uma pintura!
Já o terceiro do trio, Jean, era o mais velho e também o capataz da estância. Trinta e poucos anos, ou algo perto disso. Via-se logo mais experiência nele, e justo por isso, as moças cochichadoras lhe dedicavam menos fofocas e fantasias. Diferente dos outros dois mais jovens, também mais ingênuos decerto, esse não era o tipo de homem que parecia se deixar seduzir por qualquer uma. Cabelos negros reluzentes e um olhar azul enlouquecedor, Jean era o tipo que, com toda certeza, tiraria o juízo da patroa ou da 1ª dama, por exemplo. O corpo era a própria visão do pecado: o mais robusto dos três, fosse pelo trabalho mais duro ou pelo acúmulo de experiência, o peão tinha o tronco todo desenhado. Do peito, uma trilha de pelinhos descia pela barriga rija até desaparecer dentro dos jeans. A bunda era comentadíssima. E as pernas, bem, deixa pra lá... Não é difícil imaginar como eram as pernas dele.
Eram, portanto, três. Três belos homens, belos dotes nos jeans justos. Três corpos suados da faina no fim do dia para tomar banho no ribeirão.
Isso que vos vou contar, claro, foi na Fazenda Alvorada. Ficava bem no alto de uma das serras que exaltam o panorama de Minas. Era uma fazenda de gado leiteiro, coisa fina.
Pela manhã, a dona Joana, uma senhora magricela e de competente culinária, saía do curral com um balde de leite fresco, a alça numa mão e a ponta da saia na outra, toda sorridente, a preparar o café para seus três meninos. Esses mesmos que acabamos de conhecer.
Não demorava, pela porta da cozinha, quase que de surpresa, surgia o trio de peões, sempre descamisados, vestidos só das ceroulas, com seus membros eréteis incorrigivelmente marcando na roupa. A primeira vez que isso aconteceu, porém, a dona Joana estava tão distraída em sua tarefa que, quando os viu, “Jesus!”, não pôde evitar o espanto e a exclamação!
Dita devota e acostumada à discrição, a velha logo se precipitou ao susto. Chegou mesmo a sentir as pernas bambearem diante da visão. E, desse jeito, aparentando passar mal, aproveitou-se da situação dos três virem, prestativos, acudi-la, para deixar-se deslizar contente em seus corpos nus.
Foi moça Nina, a nossa próxima personagem, quem apareceu na porta e, dando logo um grito (porque era escandalosa), deparou-se com a patética cena na cozinha. Correu até os quatro e, fingindo acorrer a velha Joana, deixou uma mão deslizar por um bíceps, a outra correr por um abdômen... Jesus, que corpos!
E essa confusão de gente passando mal e gente só de ceroula durou até a patroa, a ríspida Janete Laerte, aparecer na cozinha. E foi bem aqui que os cinco criminosos se calaram de súbito.
Na mudez do lugar, foi a voz da própria senhora que imperou:
— Mas o que é que está acontecendo aqui?
— Dona Janete — Jean exclamou, assim meio pálido do susto —, eu posso explicar!
— Calado — ela rebateu, frígida. — Vista-se e suba para o meu quarto! Preciso de você lá. E para o resto — olhou a todos com teatral desprezo — teremos tempo...
O capataz obedeceu. Moça Nina, como costumeiramente fazia nessas situações, escapuliu para a sala, mas ficou de butuca. A pobre dona Joana, muda e dura de vergonha, recuperou a saúde e voltou à pia. Os dois peões, Joabe e André, ainda de ceroulas (mas sem mais nada duro...), sentaram-se para tomarem café. Janete, por fim, lhes deu as costas e subiu as escadarias que davam nos seus aposentos. Encontrou a porta entreaberta e, já lá dentro, estirado em sua cama, Jean.
Ela sorriu.
Fechou a porta rápido. Dessa vez o capataz não estava mais só com a roupa de baixo. Estava nu por completo. Foi ele quem levou as mãos atrás da nuca preguiçosamente, o rosto aceso por um sorriso malandro.
— Agorinha eu tinha mandado que se vestisse, se não me engano — ela falou, mordaz.
— É que faz muito calor, dona Janete.
— Ora! Vamos, bote uma roupa logo! E se alguém entra aqui e te pega assi...
— Entrar no quarto da madame? Duvido.
— Pare com isso e saia já da minha cama!
— Vem cá me tirar, vem...
A mulher, exalando aquele orgulho costumeiro, sem jamais dar o braço a torcer, deu as costas ao risonho capataz que saltou logo da cama e veio cá apertá-la por trás num ardente abraço.
E enquanto ele sussurrava umas doçuras no seu cangote, sobre o quão ainda mais linda ela ficava quando inflexível, Janete sentia algo quente inchar e roçar ca embaixo nas coxas. Começaram a balançar. A bailar. Os pássaros lá fora pareciam cantar o proibido. O beijo dele foi descendo pela trilha da nuca. Os toques arrepiavam. O cheiro do pecado. A mão masculina que, insensata, invadia a virilha, sustentava a opulência dos seios. O pênis e a aventura. Todo um arrepio que veio logo esmaecer sob a voz esganiçada de Joana, que batia à porta:
— Ô, dona Janete! É o seu Jorge, acabou de chegar! A senhora vem para receber ele?
Um suspiro desfeito no silêncio quarto.
Era Jorge lá embaixo. A vontade de ficar mais um pouco foi vencida pelo pavor. O abraço se desfez, embora não a vontade. Janete não podia permitir aquilo. “Meu marido não pode te ver descer as escadas!”, dizia enquanto empurrava o capataz nu janela afora.
Ufa.
Refeita, desceu para receber o marido.
— Oh, Jorge! Bom vê-lo assim, tão cedo!
______
Tem continuação. Os personagens mal foram apresentados ainda... Um capítulo por dia, ok? Ah, me ache lá no WATTPAD também. Essa história e outras estão completas lá: