Negócio Arriscado 15 (Final) – Jura e Pacto na Catacumba

* Três meses depois *

O casal guatemalense, fugitivos do Brasil, cavalgava durante um passeio em um vilarejo afastado. Eles faziam um tour até o Vulcão Pacaya, uma região de população humilde, topografia íngreme e o acesso por terra era possível somente em lombo de cavalos. Ainda tinham que caminhar no final do percurso.

Uma cerração chegou forte durante a tarde, nada de anormal naquela localidade e naquela época do ano. Contudo, a visibilidade do grupo ficou prejudicada durante o retorno.

Em um trecho mais acidentado do percurso ocorreu um acidente: a sela da montaria do empresário se soltou e ele despencou do cavalo rolando morro abaixo. Foi um tremendo alvoroço. Quando o socorreram ele estava com os olhos esbugalhados, mas não se mexia, nem falava. Às pressas o levaram para o único posto médico da localidade.

As condições inadequadas de transporte só agravaram as condições físicas do ferido durante a remoção; ele acabou tendo um novo ataque de catalepsia, isso veio bem a calhar ajudando no plano da esposa, uma vez que o homem sobreviveu à queda; o esperado era que morresse no acidente ou que ficasse muito mal. O médico local seria o encarregado de tornar aquele acidente fatal. O doutor era um antigo namorado da mulher no terceiro ano do ensino médio, além de ser desafeto do marido. Ela o procurou semanas depois que voltou ao país, iniciaram um relacionamento amoroso por iniciativa dela, posto que a esposa amargurada tinha um plano e contava com a participação do médico de caráter duvidoso. A mulher pretendia tornar-se viúva o mais rápido possível. Foi o médico o articulador da sabotagem na sela em que o homem montaria no passeio programado por ela.

* No dia seguinte *

Óbvio que a mulher tinha conhecimento dos ataques de catalepsia do marido e que ele poderia “reviver” a qualquer momento. Por essa razão ela ordenou o sepultamento o quanto antes, pouco mais de vinte e quatro horas depois. Baseou-se na declaração de óbito proferida pelo doutor, seu amante, e com a aceitação de um médico responsável do IML local; o mesmo estava em conluio com o casal e recebeu uma gratificação generosa para confirmar que a morte foi por câncer em fase avançada e não necessitava de uma necrópsia.

Todavia, o plano poderia ir por água abaixo, posto que minutos depois o legista pediu para ter um particular com a viúva e as coisas complicaram. O cadáver corria o risco de não ser liberado para o enterro. A mulher teria que administrar uma chantagem do legista que dificultou as coisas fazendo ameaças veladas de última hora. Ele também era um conhecido de sua juventude e tinha uma tara por ela. Não hesitou em aproveitar a oportunidade de tê-la em seus braços e satisfazer a um de seus desejos mórbidos: transar com a mulher na sala de necrópsia. Ela relutou e até ofereceu mais dinheiro ao homem doentio, porém o sujeito de atitudes estranhas estava inflexível.

A mulher educada, graciosa e de gestos delicados, foi madura o suficiente para entender que aquilo não tinha mais volta, iria até o fim e pagaria o preço, antes que fosse tarde demais. Concordou em se entregar ao homem naquele ambiente, porém não o faria jamais sobre a mesa gelada e fúnebre como era o desejo dele. Ela foi irredutível.

A transa aconteceu ao lado do marido chifrudo. A mulher ficou em pé, debruçada em uma maca e com seu vestido erguido deixando exposto seu bumbum maravilhoso. O homem de calças arriadas a pegou por trás. Após dois ou três minutos de uma pegada mais suave, o legista começou a acelerar e estocou forte anunciando seu gozo. Foram três gemidos no ritmo do pulsar da sua ejaculação, sendo o último mais longo. Ofegante ele reduziu seus movimentos lentamente até cessá-los.

O suposto defunto, estirado nu e descoberto na mesa fria, foi testemunha de um tipo de pagamento de propina, pois segundo algumas publicações científicas: O ataque cataléptico pode durar de minutos a alguns dias e o que mais aflige quem sofre da doença é ver e ouvir tudo o que acontece em volta, sem poder reagir fisicamente. Se for real, ele ouviu cada urro e gemido daquela cópula incomum.

A rapidez do enterro foi justificada pelos médicos por causa do processo rápido de decomposição em virtude da alta temperatura e a câmara refrigerada da localidade ter apresentado problemas (devido a uma sabotagem de autoria do médico legista).

***

A noite chegou anunciando uma tempestade tropical de raios e trovoadas. O barulho despertou o homem quando já era madrugada. Passaram-se quarenta horas após a suposta morte do industrial. Ele despertava lentamente, sua consciência retornava pouco a pouco. A dor em sua cabeça era de enlouquecer, em razão da pancada sofrida durante a queda do cavalo. Sua cova, ligeiramente rasa, coberta com uma mistura de terra e cascalho, permitia a entrada de ar suficiente para mantê-lo vivo, no entanto, esse seria seu pior castigo. O desespero chegou ao sentir as dimensões do objeto que o mantinha preso na posição deitado. Ficou aterrorizado e, mesmo com visibilidade zero, por conta da escuridão do interior do seu caixão, ele sabia que o pior havia acontecido, foi sepultado vivo após um novo ataque.

Durante um dia inteiro ele travou uma batalha contra a morte, estava debilitado pelo acidente, mas lutou desesperadamente com as forças que lhe restavam tentando sair do seu sepulcro; debateu-se e gritou por ajuda até ficar sem voz, porém a chuva torrencial que se estendeu pelo dia todo não permitia que alguém o ouvisse e nem que pessoas transitassem pelo local. Como última alternativa: ele rezou, chorou e fez promessas de que caso conseguisse sobreviver, seria um ser humano melhor e usaria sua fortuna para ajudar os menos favorecidos… Ele não foi ouvido pelos céus. Em desespero clamou ao inferno na tentativa de um pacto com o diabo… Tampouco foi ouvido.

Ao amanhecer de um novo dia o homem estava no limite do esgotamento físico e mental, prisioneiro na escuridão de sua sepultura. A chuva se foi e junto com ela as suas forças para lutar. Suas mãos, cotovelos, pés, joelhos e cabeça estavam em carne viva de tanto golpearem a madeira na tentativa de sair da catacumba. Sua mente beirava à loucura e os pensamentos eram delírios.

Horas depois, com a falência múltipla dos órgãos, sua vida expirou... E dessa vez era em definitivo.

* Enquanto isso, no Brasil *

Naquele meio de semana, assim como nas últimas semanas, o sol brilhava em um céu azul sem nuvens. A nudez de um corpo feminino, natural e não agressivo, de curvas suaves que pareciam que foram esculpidas, competia com a beleza da paisagem. Ela relaxava deitada de bruços na proa de um barco. Para muitos, era um dia normal de trabalho, mas não para Jessie e Pedro, eles navegavam pelo litoral baiano, ancoraram no mar próximo a Porto Seguro.

Ele voltou da cabine com uma nova rodada de drinks, entregou um dos copos para a companheira, brindaram e deram um gole. Continuaram a fazer amor como se o mundo em terra firme ou além mar não existisse.

Nem parecia o mesmo casal que viveu grandes momentos de tensão e perigo meses atrás. Depois que chegaram a Salvador, decidiram curtir a vida e a pequena fortuna. Juntos compraram uma lancha de 29 pés com cozinha, banheiro e cabine para quatro pessoas dormirem. O barco e um ancoradouro em Salvador ou em alguma outra parte do litoral do país, tornaram-se a residência de ambos. A embarcação era uma maneira segura de percorrerem o Brasil sem que precisassem passar por rodoviárias, aeroportos e estradas monitoradas por câmeras, posto que Jessie, mesmo tendo se apaixonado e estando curtindo uma relação a dois, não perdeu o seu vício por adrenalina e de quebrar regras, ela ainda curtia o lance de seduzir e de apropriar-se dos bens de homens privilegiados e safados que saiam em busca de momentos de diversão e perversão. Seria mais divertido se o seu parceiro também decidisse participar da brincadeira. Ela trabalhava dia a dia tentando induzi-lo. “É só uma questão de tempo”. Pressentia a jovem.

Durante a pausa de mais um momento de pegação, Jessie levantou e puxou o Pedro pela mão.

— Vem, amor! Vamos dar um mergulho.

Os jovens nus se lançaram ao mar de mãos dadas e dando um grito de liberdade.

— UHUUUUUU!!!

Fim

Quero agradecer a todos que tornaram esta obra possível, direta ou indiretamente. Agradeço a atenção e carinho de todos vocês que estiveram presentes durante a história. Agradecimentos especiais ao meu amigo Caio Renato Gadelha que mais uma vez disponibilizou seu tempo ajudando com suas opiniões precisas para o desenvolvimento dos personagens e narrativas.

Agradeço em particular o carinho da miga VIC_PROVOCANTE que acompanhou e incentivou-me durante a série. E a você também Xoquito. Beijos para todos!


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