Negócio Arriscado 9 – Orgia na Masmorra
Jessie olhou no fundo dos olhos do Pedro que parecia processar os prós e os contras da pergunta feita segundos antes. Ela o questionou novamente.
— Então, você me acompanha nessa parada ou não?
— Esquece essa vingança, Jessie, os caras são bandidos e cheios da grana… Vamos pra longe antes que achem a gente.
— A única maneira de ficarmos livres dos filhos das putas é nos anteciparmos e acabarmos com a raça deles antes que nos peguem.
— Seria a solução, mas não dá pra brigar com essa gente só com a vontade, é preciso um plano e armas.
— Eu sei como conseguir armas e tenho um plano para pegar o Maciel, mas preciso da sua ajuda.
Pedro continuou pensativo, aquela garota o surpreendia a cada dia. Ele sentia-se impotente diante da determinação e estilo de vida dela, contudo, aquilo só o atraía mais. Ele não a deixaria ir sozinha, estava apaixonado e tencionava protegê-la, mas não queria demonstrar seus sentimentos amorosos, não, ainda. Entrou no clima de comparsa e demonstrou firmeza.
— Tá legal, e onde você conseguirá as armas?
— Vou falar com aquele cara de bigode e rabo de cavalo que não sai do boteco ali da esquina. Ele vende drogas, essa gente sabe quem negocia essas paradas.
— Como você sabe que ele vende drogas?
— Tá na cara né! — você não percebeu que ele não sai dali e muita gente fala com ele rapidão e sai fora?
— Não percebi, mas também não fiquei prestando atenção.
Jessie também não, mas o cara de bigode a abordou um dia em que ela estava sozinha comprando uma bebida, ele lhe ofereceu um baseado de graça dizendo que era uma cortesia para uma mina tão gata. Ela agradeceu e recusou dizendo: “Hoje não estou a fim, talvez outro dia”. Ela não havia contado isso para o Pedro, pois só o deixaria bolado.
— Talvez eu esteja enganada sobre o cara. Vou sondar com cuidado pra ver se rola.
— E você manja de armas? — perguntou o rapaz.
— Não, mas acho que não tem segredo, é só segurar firme, mirar e puxar o gatilho.
— Em tese é isso, mas eu perguntei se conhece tipos de armas, para poder comprar algo apropriado.
— Você manja? — quis saber Jessie.
— Quase nada.
— Então vamos fazer uma pesquisa na Internet pra ver tipos e preços, antes de eu ir atrás.
Uma hora e meia mais tarde, após alguma leitura e alguns vídeos assistidos no YouTube, nós já éramos quase especialistas em armas. Fiquei inclinada a comprar ou uma 9 milímetros ou poderia ser uma 'ponto'40.
Naquele final de tarde, Jessie foi sozinha procurar o cara no boteco. Depois de um papo rápido ela pediu quatro balas (porções de maconha), colocou na mesa o valor a ser pago pela droga, e uma nota de cem reais a mais. Pôs a mão em cima e disse:
— Preciso comprar uma arma, se souber me dizer onde e com quem, te dou mais duas dessas depois que fizer o negócio. Se não sabe, deixa quieto e pega só a grana das balas.
— Eu digo onde, é na Masmorra, fica lá em cima na água dourada. — Manda mais cem que te digo com quem.
Tirei uma das duas notas que já havia deixado separada dentro do sutiã e a coloquei ainda dobrada perto de sua mão. Ele pegou, fechou a mão a escondendo e falou:
— Chega lá de noite e diz que quer trabalhar na casa, pede pra falar com o Salomé, ele é o cara; além de cafetão das meninas é também o dono do pedaço. Daí é com você, tem que trocar umas ideias. E Já vai com a grana.
— Quanto de grana?
— Uns três contos se quiser um cano de responsa. — Não vacila, se desconfiarem que você é cana ou X9, vai sair de lá em um saco de lixo e te desovam no mato. — E traz os meus outros duzentos depois que conseguir o ferro.
Passava um pouco das dez da noite, o som de um salto alto durante passadas lentas se sobressaiam naquele quarteirão ermo. O olhar de Jessie era o de uma águia à espreita, estava quase defronte à Masmorra, um inferninho de quinta categoria com prostituição a preço econômico, drogas, jogos de cartas a dinheiro e bebidas, claro. A festa rolava todos os dias, até de manhã. Jessie estava caracterizada como uma das garotas que ganhava ou perdia a vida trabalhando naquele lugar: vestido tão curto quanto a jaquetinha jeans, salto alto e maquiagem exagerada. Adentrou o estabelecimento e pediu uma tequila pro balconista. Pagou ao ser servida e discretamente perguntou pelo Salomé.
O cara apontou o dedo para um grandalhão dizendo para falar com ele. Tomou sua bebida em um só gole e atravessou o pequeno salão passando ao lado de uma mesa de sinuca. Ouviu gracinhas e convites sem perder o bom humor e simpatia. Recusou a todos com um sorriso e chegou ao homem que literalmente bloqueava a passagem para uma escada que levava ao piso superior.
— É você o Salomé?
Ele deu um sorriso irônico, a seguir fechou a cara e aumentou o meu medo que já não era pouco. Começou um interrogatório sobre quem eu era, o que estava fazendo ali, quem me mandou, etc. Depois ele ligou do seu celular, comentou a meu respeito com o seu interlocutor, abraçou-me pela cintura virando o meu corpo em direção a uma câmera de vigilância em uma parede.
Por fim disse que o Salomé me receberia.
— Está lá em cima no poker — vem comigo!
Fui levada até uma sala, mal conseguia respirar de tanta fumaça de cigarro comum e de maconha. O odor misturado de homens necessitando de um banho com o cheiro de bebidas, também era cruel, porém já estava adaptada a estes odores, são os ossos do ofício.
— Salomé! Tá aqui a patricinha — berrou o fortão.
Uma mulher sentada à mesa com mais cinco homens, levantou. Era a mulher mais alta que já vi em minha vida, mas assim que ela falou:
— Chega aí safadinha!
Eita! Não era uma mulher, era um travesti de quase dois metros de altura e com cara de mau… ou má.
— E aí novinha, você quer fazer parte da família? — você é mesmo tipo patricinha, a gente poderia arrumar umas paradas VIP e faturar uns trocos a mais.
— Desculpe, mas, na verdade, eu queria falar sobre outra parada — poderia falar a sós com você?
Salomé deu uma gargalhada seguida pelos outros puxa sacos, disse que não tinha segredos entre irmãos, ou eu falava logo ou me mandava, pois estava atrapalhando o jogo deles.
Falei que necessitava comprar uma arma, fui jurada de morte e precisava ter algo para me defender.
— Tem muita gente atrás de um cano, vai ter que entrar na fila.
— Quanto tempo seria?
— Como eu não te conheço, uns três meses.
Novas gargalhadas dos cretinos.
— Mas eu posso colocar você como primeira da fila se topar participar de um jogo com a gente.
— Que tipo de jogo?
— De cartas, Blackjack 21, aqui nós chamamos de 21 Suruba. — Ganhando ou perdendo no jogo, você vai para o topo da lista e leva o seu berro.
— E vocês apostam muito alto?
— Não, seria só o que você carrega aí com você, nada mais.
Eu havia levado em torno de uns três mil para comprar a arma, se perdesse tudo, paciência, iria pra casa buscar mais grana, o importante era a arma.
— Tá dentro?
— Estou.
— Então senta aí que vou falar as regras.
Regras do 21 Suruba:
Ela e os seis caras da mesa jogariam o Blackjack 21 usando todas as cartas de apenas um baralho, sendo que o A (Ás) valia 1, todas as figuras valiam 10 e as outras cartas o número marcado.
Ela compraria primeiro e se fizesse 21 já ganharia e acabava a brincadeira, pois a vantagem do empate era dela. Se estourasse teria que transar com todos os seis caras, inclusive o traveco gigante. Era esse o valor apostado, o qual ela carregava… Seu corpo. Ela não ganharia nada na verdade, a não ser a oportunidade de comprar a arma de imediato. E teria que vencer a todos para não ser abusada pelos canalhas.
Ela viu que caíra em um golpe e quis sair do jogo nessa hora, mas foi lembrada que havia dito que estava dentro.
— A palavra aqui na Masmorra é a lei, e o bicho pega pra quem não cumpre o acordo — falou Salomé em tom ameaçador.
Ela lembrou do que o cara com bigode disse no bar, sobre o saco preto. Coube a ela resignar-se para sair inteira daquele antro.
Mais sobre as regras: se ela parasse com menos de 21, manteria suas duas cartas iniciais escondidas e os outros jogariam. Participaria da suruba quem fizesse mais pontos que ela, desde que não estourasse.
Salomé embaralhou, mandou ela cortar e ele deu duas cartas para cada. Ela pegou as suas com cuidado, uma sobre a outra, segurando com as duas mãos bem pertinho do rosto, afastou a de baixo o suficiente para ver… Fez cara de satisfeita, deu um sorriso e disse que não queria mais cartas. Houve um murmurinho entre a turma do mal e expressões de desânimo misturado com revolta, pelo visto teriam que fazer 21 para ganharem a entrada pro bacanal.
— O jogo é jogado gente, bora jogar — falou Salomé.
Os caras foram comprando cartas e tentando o 21. Um deles com cara de perturbado tipo usuário de coisas pesadas, saiu com 20 e ainda assim tentou um ás. Ficou muito puto quando veio um 2, era o quarto a estourar, mas ainda restavam dois jogadores, e o pior é que eram dois monstros.
O quinto cara, do tipo segurança de boate; um negão em torno de um metro e oitenta e pouco e uns 130 quilos de músculos com alguma banha, disse que não ia comprar, ia tentar a sorte. Alguns dos que já estavam fora fizeram piada dizendo que com o empate não teria disputa de pênaltis, ele tava fora e não ia cheirar aquela piriquita novinha. O fortão continuou tranquilo e sem expressar emoção.
O Salomé disse que ia comprar e até virou suas cartas; Q e A. Clamou pela torcida dos outros.
Fodeu, pensei, e fiquei na torcida para não vir um 10 ou figura. Ele comprou um 7, fiquei aliviada, com 18 ele não ganhava de mim, ele deduziu isso e esfregou as mãos e se energizou para tirar outra carta. Veio um 2 e o alarido foi geral, segundo a maioria, com 20 ele empatava em pontos comigo, mas perdia a disputa, e tirar um ás seria difícil, já havia saído dois deles.
Ele olhou diretamente em meus olhos e disse:
— Parei, quero ver suas cartas.
Gelei grandão, acho que não consegui fazer cara de poker. Com desânimo virei minhas cartas, ao mesmo tempo que o outro jogador. Eu tinha apenas um 10 e 8, o fortão peso-pesado parou com um J e 9. Ele deu uma gargalhada assustadora e disse que sabia que eu estava blefando. Um dos perdedores que havia saído com 20 e ainda assim tentou a sorte e estourou, ficou possesso, começou a me ofender e queria partir pra cima de mim. O cara fortão o segurou e o Salomé deu-lhe uma dura por ser um mal perdedor, falou firme impondo sua autoridade de líder e mandou o perturbado sair fora.
Só me restou aceitar a derrota e relaxar ao máximo para suportar o que viria. Fui levada a um quartinho onde encarei aqueles dois gigantes. Os seus membros eram tão desproporcionais quanto, felizmente foi um de cada vez. Contudo, os tarados se entupiram de energético e me deram bombadas por boa parte da noite.
Após a pegada punk eu ficaria novamente em recuperação por alguns dias à base de banhos de assento. Pelo menos consegui a arma, uma pistola (.40) com a numeração raspada, segundo o Salomé, e três carregadores. Daria para começar uma guerra.
Continua…